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Detox Literário.

O Dilema da Aranha (Paulo Damin)

Nós (quando eu era hippie era nós) tínhamos um cipó mucho loco que entrou dentro da casa e saiu do outro lado, pra fora. Foi muito importante porque quando o telhado caiu, se não fosse o cipó… Só que ele um dia cresceu tanto tanto que a gente precisou (pedir perdão pra Pachamama) cortar ele fora.

A gente gostava muito de bicho também e recebia de boas todos os que apareciam. Na maioria era cachorro e gato e aranha, muita muita aranha lá naquela casa. Aranha e mosquito, essa cadeia alimentar, sendo que nós fazíamos parte da cadeia, cedendo sangue pras mosquitas prenhas.

As aranhas gostavam sobretudo de ficar nas quinas das portas: a porta da cozinha tinha teias tão grandes que dava pra morar dez aranhas ali bem na paz. Aranha é assim: paz. A gente tinha que se abaixar pra entrar na cozinha, evitar de arruinar as teias perfeitas que inspiravam os nossos artesanatos. Tudo uma grande harmonia olho-de-deus.

Mas um dia deu uma crise: um de nós pegou um mosquito e, tomando cuidado pra não esmagar, jogou o mosquito numa teia. A aranha se atracou. E um de nós se atracou no outro de nós:

— Tu tá interferindo no ciclo natural!

— Eu só quis dar um presente pra aranha!

Daí a gente entrou num debate: era justo pegar mosquitinhos e atirar na teia? Não seria mais politicamente correto ensinar a aranha a pescar? O ato de jogar mosquitos pras aranhas não seria uma atitude paternalista de ser humano dominador controlador do universo?

Um mal-estar insustentável e logo a nossa comunidade ruiu.

O cara que atirou o mosquito pra aranha foi trabalhar de equilibrista no semáforo. Dos outros nós é melhor não falar porque não quero falar mal. Um virou vereador, a outra continua sendo cantora. Eu, de minha parte, segui encucado com o dilema.

Só me restou fazer uma pesquisa, praticamente um projeto de iniciação científica, no quartinho em que fui morar sozinho.

A pergunta que guiou o experimento era: devo jogar mosquitinhos nas teias ou devo deixar que as aranhas capturem seu próprio alimento?

Os argumentos que militavam a favor da primeira opção (alimentar as aranhas) giravam em torno de agradecer pelo serviço prestado e, ao mesmo tempo, diminuir ainda mais o nível de mosquitedo no meu quarto.

Os argumentos a favor da segunda opção (não alimentar as aranhas) eram no sentido de não interferir na natureza mais do que o necessário. Isso não iria desorganizar o cosmos? E pior, será que as aranhas não iam ficar mimadas demais com os presentes?

O estudo consistiu em observar as aranhas durante um mês. Percebi que cada uma (três teias, uma aranha cada, sendo que na metade do mês uma das aracnídeas revelou estar grávida), cada aranha parecia passar muito bem com um mosquitinho mensal.

Um mosquitinho por mês, isso que é frugalidade.

Fiz outro experimento no mês seguinte: joguei um mosquito vivo em cada teia. As duas primeiras aranhas ignoraram o presente, mas a terceira, que recém tinha dado à luz, se atracou vorazmente no bichinho.

Estamos buscando fundos para viabilizar a continuidade da pesquisa, mas a hipótese, até o momento, é que a melhor maneira de resolver o dilema é alimentar somente aranhas mamães.

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

19 comentários em “O Dilema da Aranha (Paulo Damin)

  1. Thales Soares
    29 de março de 2025
    Avatar de Thales Soares

    Considerações Gerais:

    Este é um conto sucinto. Em um desafio com textos longos e, às vezes, prolixos, o autor aqui foi econômico. Isso, por si só, pode ser uma virtude… mas não quando o conteúdo entregue é tão vazio.

    ***

    Pedradas:

    Este conto não atende à proposta do desafio. Não há nada de assustador, nem mesmo surreal o suficiente para provocar estranhamento. E, quanto ao humor, o autor parece acreditar que usar “sotaque caipirês + falar de hippies + aranhas = algo engraçado”. Mas não é. A tentativa de comicidade baseada apenas no tom da narração e em um conflito ridículo (dar ou não mosquitos para uma aranha) não se sustenta. Não há ritmo cômico, surpresa ou timing.

    A linguagem afeta um tom “alternativo” que soa forçado. A escolha de palavras como “muito muito aranha” e “cipó mucho loco” até tenta criar um universo linguístico próprio, mas fica no superficial, como se o texto dependesse disso para ter personalidade. Esse “estilo hippie zé-ninguém” até pode funcionar em um texto mais introspectivo ou poético, mas aqui é usado como uma bengala para cobrir a falta de desenvolvimento narrativo real.

    A história não tem estrutura, e nem propósito. O “conflito” é jogado como se fosse uma alegoria pseudo-filosófica (interferir ou não na cadeia alimentar das aranhas), mas não evolui, não se aprofunda, e não entrega resolução impactante ou crítica relevante. O final, com o “experimento científico” e a hipótese de alimentar apenas aranhas mamães, é apresentado com ares de conclusão reveladora, mas soa mais como uma piada totalmente sem graça.

    Este conto parece uma desculpa para divagar sem direção. Há quem goste desse tipo de texto em crônicas urbanas ou blogs pessoais, mas em um desafio de contos de ficção com temas claros, esse tipo de proposta é muito fraca.

    ***

    Conclusão:

    O Dilema da Aranha é um texto que tenta parecer esperto, alternativo e fora da caixa, mas na verdade é uma enrolação existencialista boba e vazia, sustentada por um sotaque caipira forçado e um “conflito” que consegue sustentar o conto.

    O melhor elogio que se pode fazer a esse texto é: “Graças a Deus, é curto!”

  2. Pedro Paulo
    29 de março de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    COMENTÁRIO: Olha, José, a princípio desgostei da voz narrativa, concluí que se tratava de um conto escrito de uma só vez, sem revisão… mas a primeira pessoa legitimou o estilo, como se fosse o modo caótico de narrar do protagonista. Todo o cenário, embora estereotipado, ainda assim é engraçado, por exemplo,  imaginar a preocupação desproporcional da dita comunidade com a cadeia alimentar e a harmonia com a natureza. E então parece que o conto vai ao seu problema principal, nos deixando a sós com o protagonista e a sua investigação… e então o texto acaba, sem desdobrar, sem resolver, sem dar mais espaço à sua narrativa bem-humorada.

    Mandou o arquivo errado?

  3. Luis Fernando Amancio
    28 de março de 2025
    Avatar de Luis Fernando Amancio

    Olá, José Silva e Silva,

    Seu conto tem a virtude de ser curto. Não estou sendo irônico aqui, tampouco criticando o texto. A média dos autores entendem que o limite de palavras é o piso e se alonga até chegar perto das 3000 palavras.

    Seu conto é de humor, embora não seja  um humor de gargalhadas. É um texto leve, sem grandes pretensões. No princípio, temi estar diante de uma narrativa muito estereotipada, pela conversa hippie e o “mucho loco”. Mas você acerta o rumo e traça uma narrativa menos “afetada” ao longo do texto.

    É engraçado imaginar a comunidade alternativa discutindo sobre a ética, se dar mosquitos para uma aranha é ou não correto. Hoje não se fala muito nisso, mas ainda há pessoas que tentam abdicar de tudo que é moderno e viver da forma mais natural possível. Em comunhão com a natureza, o que leva à inevitável tolerância com as aranhas e insetos que apareçam pelo caminho.

    Mas os rumos do conto, a dispersão dos amigos e os estudos científicos do narrador, não dão  uma conclusão forte ao texto. Não acho que era o objetivo. A gente espera finais mais marcantes em contos, mas não é uma obrigação. Textos leves podem terminar de maneira mais leve. Só não espere que todo leitor valorize isso.

    Boa sorte no desafio e parabéns pelo conto.

  4. danielreis1973
    27 de março de 2025
    Avatar de danielreis1973

    Comentário inicial (válido para todos os contos):
    Prezados participantes: este meu comentário NÃO É UMA CRITÍCA, É A MINHA IMPRESSÃO PESSOAL sobre o seu conto – e não é sobre você, como escritor ou ser humano!  Espero que os comentários possam ajudá-lo a aprimorar sua história ou sua escrita, num sentido mais amplo. Outra coisa é que não está sendo fácil é comparar os contos participantes, já que apesar do desafio estar  restrido a DOIS TEMAS (que inclusive tem fronteiras tênues, e às vezes se misturam entre si, em diferentes proporções), as diferenças dos gêneros literários escolhidos pelos participantes tornam muito difícil dar um valor absoluto entre os contos, quando colocados lado a lado. Então, o melhor humor não tem o mesmo efeito que o melhor terror, e um terror com elementos realistas pode ter um efeito mais impactante para mim que um horror com elementos de fantasia ou ficção científica – por isso, digo que é MINHA IMPRESSÃO, ok? As notas não representam “média para aprovação”, mas O EFEITO FINAL que me causaram.

    Dito isso, vamos ao:

    COMENTÁRIO ESPECIFICO:

    LOGLINE: memórias de um hippie – sobre a dúvida se obedecer a cadeia alimentar, entregando mosquitos pra aranha, é uma atitude moralmente aceitável dentro dos princípios do “hippismo”.

    TEMA ESCOLHIDO: Comédia (na verdade, um humor com baixos teores, uns 10% só)

    PREMISSA: a experiência dos hippies como combustível para uma dúvida “científica” sobre a alimentação das aranhas.

    TÉCNICA E ESTILO: a técnica usada no conto, da narrativa em primeira pessoa, torna a história leve, praticamente uma crônica. Não há muito desenvolvimento, nem nos personagens, nem na ação, sendo a principal delas a experiência sobre quanto seria suficiente em mosquitos para alimentar uma aranha. O texto, apesar de simples, é facilmente entendido, ainda que não tenha um desfecho (puchline) esperado no caso de humor.

    EFEITO FINAL:  texto simpático, ainda que não tenha atingido o objetivo de fazer comédia – parece uma derivação daquela anedota do cientista que treinou a aranha para pular, ao dar o comando “pula, aranha!”. Assim que estava treinada, foi arrancando pata a pata, enquanto a aranha continuava a obedecer. Depois de arrancar a útima patinha, ao gritar o comando, a aranha não se mexeu, e ele conclui em seu paper científico: “aranha sem pernas fica surda”.

  5. Mauro Dillmann
    26 de março de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Um conto curto, bem escrito, mas que não tem absolutamente nada de horror, sequer de comédia. Como não senti esforço nesse sentido, parece que o texto estava guardado e foi simplesmente enviado. Se o tema fosse sátira estaria aprovadíssimo; se fosse humor, haveria uma tentativa; mas o tema do desafio é comédia (o que implica certo riso, ainda que interno), e, nesse sentido, ficou devendo.

    A ausência de vírgulas entre algumas palavras me pareceu proposital.

    Senti falta de uma conexão entre o início e o fim. Parece que o conto foi para outro lugar, e de modo apressado.

    De toda forma, tem em si uma interessante construção.

    Parabéns!

  6. leandrobarreiros
    25 de março de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Olá, autor.

    O texto é bem humorado mas não chega a se desenvolver muito para além disso. Os poucos personagens são meio caricatos e o próprio final sobre a resolução do dilema não parece fazer muito sentido, já que o fato da aranha grávida comer o mosquito não refuta o “não interferir na natureza além do necessário”

    Talvez o texto ficasse mais divertido se o autor(a) apresentasse as coisas que menciona.

    Por exemplo, porque mencionar isso

    “Daí a gente entrou num debate: era justo pegar mosquitinhos e atirar na teia? Não seria mais politicamente correto ensinar a aranha a pescar? O ato de jogar mosquitos pras aranhas não seria uma atitude paternalista de ser humano dominador controlador do universo?”

    Ao invés de de fato mostrar o debate? A impressão que fica é que o autor pensou que esse seria um diálogo divertido, mas na hora de escrever teve preguiça de escrever o diálogo rs

  7. Amanda Gomez
    25 de março de 2025
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem?

    Depois de uma segunda leitura, passei a gostar do seu conto. Na primeira, ele me deu sono e nada mais… Que mau gosto falar isso, né?

    Prosseguindo. Achei interessante a forma como você contou essa história: é curta e indireta. Um humor bem particular, nada óbvio. E sim, tem toda essa crítica social, mas não me incomodo com ela. Imaginei esses “malucos” reunidos, vivendo da sua arte, até que essa atitude despretensiosa causou esse enrosco todo. Causou esse ápice mental do personagem, ao ponto de transformar isso em estudo — para si mesmo. Mas tudo bem.

    É um papo de louco que faz sentido. Não é algo engraçado, mas é… divertido. Não sei explicar.

    Parabéns pelo trabalho.
    Boa sorte no desafio.

  8. claudiaangst
    25 de março de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Para este desafio, utilizarei o sistema de avaliação TERRORIR:
    T(ítulo) — O DILEMA DA ARANHA — Se o leitor tiver medo de aranhas, só o título já funcionará como gatilho. 🕷️🕸️
    E(nquadramento ao tema) — Depois de ler o conto, continuo sem saber se o terror foi abordado. Parece ser mais uma reflexão do que uma narrativa aterrorizante. (Isso porque eu não sou o mosquito, claro). 🕸️🦟😱
    R(azão de gostar do conto) — Conto curto, leve, com abordagem de tema que leva à reflexão: alimentar a aranha artificialmente interfere na ordem natural, tornando o animal dependente? É correto impor controle sobre outro ser vivo, mesmo com a intenção de ajudá-lo?🤔👍
    R(evisão) — Um texto tão curto pressupõe uma revisão mais apurada.
    – muita muita aranha lá naquela casa > muita, muita aranha lá naquela casa
    – Só que ele um dia cresceu tanto tanto que a gente > Só que ele um dia cresceu tanto, tanto, que a gente […]
    – mosquitedo > essa palavra existe?
    O(utras questões técnicas) — Por ser de tamanho bastante limitado, o texto permite uma leitura mais dinâmica. 👍
    R(azão de desgostar do conto) — A possibilidade de não ter sido abordado o tema proposto pelo desafio. 🤔🙄
    I(ntesidade da narrativa) — O conflito sobre alimentar ou não a aranha talvez seja o ponto mais intenso da trama. Pode-se considerar esse momento como o clímax da história: o impacto que o dilema das aranhas tem sobre os personagens. 🕸️
    R(esumo da ópera) — O conto trata de um problema aparentemente banal, mas capaz de provocar questões filosóficas mais profundas, tais como a relação do ser humano com outras espécies animais. 🤦‍♀️🕸️🤷
    Parabéns pela sua brilhante participação no desafio e boa sorte!

  9. Marco Saraiva
    24 de março de 2025
    Avatar de Marco Saraiva

    Pô… acabou? Não esqueceram de mandar o resto do conto não?

    Será que, ao invés de enviarem o conto, enviaram sem querer o texto de chamada para o Vakinha.com.br pra arrecadar dinheiro pro experimento da aranha? Se sim, então o conto está agora em alguma descrição louca de alguma vakinha por lá? Espero que seja de comédia. Se for conto de terror os contribuintes vão ficar chocados.

    Mas sério, sem brincadeira agora: este texto não é bem um conto. É um pequeno texto que levanta uma questão e vai embora. Para ser conto ele precisa continuar, trabalhar a trama, ir até o final, trazer o clímax, uma resolução.

    Sigo aguardando o resto da história!

  10. jowilton
    24 de março de 2025
    Avatar de jowilton

    O texto narra o dilema de ex-hippie sobre facilitar a alimentação da aranha ou deixar que ela cace seus alimentos

    Achei que o conto não cumpriu em nada o tema do desafio. Não achei que o texto é de comédia. Há, claro, uma ironia no texto, que acho que captei, que seria relacionar o dito dilema da aranha com as ações sociais do nosso país, mas, que para mim, não funcionou como humor.

    Não curti muito.

    Boa sorte no desafio.

  11. andersondopradosilva
    23 de março de 2025
    Avatar de andersondopradosilva

    O DILEMA DA ARANHA foi meu conto preferido. No EC, prevalece a preferência por contos longos, próximo ao limite máximo permitido. Eu mesmo costumo escrever próximo ao limite, isso quando não uso exatamente o limite. Críticas no sentido de que poderia ser mais desenvolvido, poderia ter se aproximado do limite máximo etc. são comuns. Existe uma ilusão de que contos longos demandam mais esforço ou de que contos curtos são subdesenvolvidos. É um equívoco. A verdade é que os contos longos, no contexto do EC, acabam por mascarar micro-romances, como já foram vários dos meus contos, ou acabam sendo mesmo só prolixos ou exaustivamente cansativos quando o autor não possui técnica suficiente para alcançar fluidez narrativa. Quando o conto é longo e ruim, inicio uma torcida para que acabe logo, enquanto contos curtos, ainda que ruins, acabam conquistando alguma simpatia ou menos antipatia, o que é praticamente o mesmo. Contos longos acabam também distorcendo uma série de características que um conto deveria ter, como narrativa curta, concisão, enredo único e sem ramificações e sem subtramas, número limitado de personagens, cenário restrito e limitado no espaço e no tempo, dentre outros. Nesse contexto, O DILEMA DA ARANHA se destaca. É um conto curto, talvez o mais curto do desafio. É preciso coragem. Mas não é apenas curto, é bom, revelando um cabedal de habilidades que poucos autores demonstraram. O conto é criativo, perspicaz, ácido e crítico. Contos que possuem boa introdução são valiosos. O primeiro parágrafo é importante. O DILEMA DA ARANHA tem um primeiro parágrafo único, em que um parênteses aparece logo após a primeira palavra. Nenhum outro conto usa parênteses, que é um recurso mais comum em textos técnicos, por isso exige habilidade para ser usado em textos lúdicos. Primeira palavra e parênteses caracterizam muito bem a comunidade hippie. Esse primeiro parágrafo tem um elemento de realismo mágico interessantíssimo, com um cipó atravessando a casa e segurando o telhado num momento de precisão. O cipó poderia ser um elemento estranho ao conto e seu enredo, mas empresta humor à obra e faz dela quase a única do desafio a beber na fonte do realismo mágico. O conto também tem um uso muito interessante dos dois pontos a emprestar concisão na construção de conclusões. Metaforicamente, o conto envereda por um debate em torno do assistencialismo, enquanto os demais contos do desafio quase se esgotam em si mesmos, apenas divertindo ou apenas aterrorizando. Em uma comunidade alternativa, era de se supor que todos seriam favoráveis ao assistencialismo, mas alimentar as aranhas inicia um debate que leva o grupo à ruína. O texto desvela nossas hipocrisias. O narrador é um homem do meio, um interessado, um curioso, um estudioso, um pensador, um filósofo. Fica preso no debate. Os que são contra o assistencialismo deixam a comunidade hippie e se tornam políticos e outras espécies de homens práticos. Os que defendem o assistencialismo viram equilibristas de sinal e outras sortes de desajustados. O narrador, nosso cientista, permanece encucado e, para evitar conflitos, propõe, de maneira debochada, alimentar apenas uma classe de aranhas, as mais necessitadas, as aranhas mamães, talvez as únicas capazes de despertar alguma sensibilidade unânime. O conto não oferece respostas. Como bom conto, propõe perguntas e reflexões, por meio de um humor ácido, por meio do escárnio. É um conto que convida a releituras, cada uma revelando novos significados. O conto fugiu do óbvio e agradou. É único no desafio. Um conto não precisa ser longo, precisa ser bom. É um conto politicamente engajado. Revela o poder da concisão e da sátira. Faturou nota 5 e o primeiro lugar na minha lista.

  12. José Leonardo
    22 de março de 2025
    Avatar de José Leonardo

    Olá, José Silva e Silva.

    Tendo em vista as minhas limitações técnicas para apreciar melhor o seu conto e de modo a tentar esquentar meus comentários que acho um tanto insossos, decidi convocar, por meio de um ritual de fervura de miojo de tomate com leite coalhado e digitação de Zerinho-um no MS-DOS, a FRIACA® (Falsa Ruiva Inteligente Auxiliar para Comentários e Avaliações) para me ajudar nessa bela empreitada e proporcionar a melhor avaliação possível acerca do seu texto (dentro da minha perspectiva de leitor).

    FRIACA: Do que se trata o conto?

    R.: Relato em primeira pessoa de um hippie pertencente de uma comunidade que ruiu após uma briga feia decorrente de um dilema: alimentar ativamente as aranhas ou deixar que a natureza se encarregue (os mosquitos se prenderem em suas teias)? Mesmo assim, nosso protagonista fica encucado e mergulha em pesquisa, em investigação científica sobre a matéria.

    FRIACA: Como você vê a narração, o estilo, a estrutura, a técnica?

    R.: Um conto curto e aparentemente escrito por um(a) autor(a) que acabou de bater a cabeça num poste. E isso é bom, apesar do primeiro parágrafo ainda estar meio difícil de entender… Ainda assim, o estranhamento, o uso diferente de algumas palavras ajudam o leitor a montar um cenário despretensioso e casual. 

    FRIACA: E quanto à adequação ao tema, à criatividade e ao impacto?

    R.: O texto parece mergulhado num ambiente de frugalidade, com atitudes de personagens tais quais o imaginário hippie oferece (digo de modo geral, dos estereótipos que temos de pessoas que assim se identificam). O enredo pode parecer supérfluo mas se o leitor minimamente se der ao trabalho de refletir sobre a “hipótese” da pesquisa, ao final do conto… 

    Em resumo: creio que não se adequou ao(s) tema(s). Mas proporcionou uma boa experiência de leitura.

    FRIACA: Indo um pouco mais a fundo nesse particular e apesar do aspecto subjetivo do que a história pode causar no leitor, é um conto para dar risadas ou aterrorizar-se?

    R.: É curioso pela maneira como está contado, as frases que causam certo estranhamento e a abordagem de um assunto ou tema com a aparência de ser menor. Não sei se é suficiente para considerar comédia.

    FRIACA: Qual sua posição final sobre esse conto?

    R.: Seu conto não me atraiu, José Silva e Silva. Espero que tenha melhores avaliações com os demais comentaristas, principalmente junto aos que irão atribuir notas e indicações.

    Parabéns pela estória e boa sorte neste desafio.

  13. MARIANA CAROLO SENANDES
    20 de março de 2025
    Avatar de MARIANA CAROLO SENANDES

    Técnica: Bom… Eu não sei muito bem o que dizer. A escrita não é ruim, eu me senti escutando uma história. A questão é que acaba quando começa a engrenar, o conto está curto e poderia ter sido desenvolvido. Tá, a pesquisa e aí? O que acontece, o que isso foi importante para o personagem ou para o leitor? Eu entendo que nem sempre tudo tem um propósito, mas o texto me pareceu sem finalização (coisas diferentes). Como um papo brisado de hippie, mas eu não tenho paciência pra paz e amor não 0,8/2

    Criativdade: Como eu falei antes, a história acaba quando começa. A pesquisa sobre aranhas é uma ideia legal, mas ela é deixada no ar. A hipótese se mostrou correta? O que isso significou? Quem é o protagonista? 0,8/2

    Impacto: Só me fez lembrar o quanto papo de gente hippie é algo para se virar a esquina e dizer que não, não está interessada na arte deles. 0,4/1

  14. Givago Domingues Thimoti
    17 de março de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    O Dilema da Aranha (José Silva e Silva)

    Bom dia, boa tarde, boa noite! Como não tem comentários abertos, desejo que tenha sido um desafio proveitoso e que, ao final, você possa tirar ensinamentos e contribuições para a sua escrita. Quanto ao método, escolhi 4 critérios, que avaliei de 1 a 5 (com casas decimais). Além disso, para facilitar a conta, também avaliei a “adequação ao tema”; se for extremamente perceptível, a nota para o critério é 5. Caso contrário, 1 quando nada perceptível e 2,5 quando tiver pouco perceptível. A nota final será dada por média aritmética simples entre os 5. No mais, espero que a minha avaliação/ meu comentário contribua para você de alguma forma.

    Boa sorte no desafio!

    1 – ruim 😓 / 2- abaixo da média😬  / 3- regular,acima da média,   😉/ 4- bom 😇/ 5- excelente!🥰

    • Resumo:

    Se eu entendi bem, esse deveria ser um conto de comédia (bem sem graça…) que aborda a fixação de um hippie (não sei bem dizer se ex-hippie) por um dilema ético responsável por desmantelar a comunidade de 4 hippies.

    O Anderson (a quem eu considero um dos melhores comentaristas do EC), no grupo do WhatsApp, alertou para as analogias políticas (assistencialismo) por trás do conto. Ainda assim, não me convenci muito com essa explicação.

    Dito isso, eu diria que 2,5 tá de bom tamanho.

    • Pontos positivos e negativos: 

    Positivo: o autor/ a autora demonstrou um relance criativo interessante

    Negativo: execução de uma forma geral! Contudo, o que mais se destacou negativamente para mim nesse conto foi a escrita em si.

    • Correção gramatical – Texto bem (mau) revisado, com poucos (muitos) erros gramaticais. 3

    Bom, esse conto de certa forma coloca esse aspecto num teste de fogo. Se eu optasse por ser extremamente criterioso, creio que a nota seria a menor possível, em decorrência do início do conto, com uma linguagem extremamente coloquial.

    Entretanto, me pareceu ser uma escolha do autor/ da autora; iniciar a história com uma linguagem coloquial, indicando o narrador-personagem como um hippie, avesso às regras sociais tradicionais e às da linguagem e, conforme o personagem vai se interessando e adentrando no campo da pesquisa, sua linguagem vai se adaptando e moldando.

    Dito isso, para evitar dinamitar demais a nota, eu preferi analisar somente a correção gramatical a partir dessa mudança. Mas, já aviso ao autor/à autora (adiantando o próximo quesito), achei PÉSSIMA essa escolha.

    Bom, digamos que a parte da iniciação científica está simples (nada acadêmico), mas dentro do esperado. Observei algumas repetições de palavras e construções frasais estranhas, que ficaram confusas na minha cabeça: 

    O estudo consistiu em observar as aranhas durante um mês. Percebi que cada uma (três teias, uma aranha cada, sendo que na metade do mês uma das aracnídeas revelou estar grávida), cada aranha parecia passar muito bem com um mosquitinho mensal.

    • Estilo de escrita – Avaliação do ritmo, precisão vocabular e eficácia do estilo narrativo. 1

    Aqui está o meu grande problema com esse conto. A escolha por um estilo predominantemente coloquial e que tenta se transformar em algo mais culto/acadêmico foi muito estranho para mim, incomodando bastante. Por mais que, por um lado, possa se encaixar com o ambiente do conto e do personagem, com uma tentativa de uma pessoa comum em descobrir algo científico, acabou mais empobrecendo a história do que contribuindo. Essa inconsistência pode ser exemplificada em diversos momentos, mas o que mais me incomodou foi realmente a frugalidade, jogada assim durante o texto. 

    • Estrutura e coesão do conto – Organização do conto, fluidez entre as partes e clareza da construção narrativa. 2,5

    Do jeito que o conto está organizado, deu para entender. Temos uma linearidade, a história vai do ponto A até o ponto B.

    De negativo, achei a narrativa muito pequena. Como eu disse no resumo, é até difícil encaixar esse conto como uma comédia. A sensação que tive foi a que sobrou (e muito) espaço, o que demonstrou ou um problema de articulação ou um problema de concisão. 

    Além disso, a premissa do problema do narrador-personagem não é sequer de fundo biológico, e sim ético, o que corrobora com a tese das críticas assistencialistas. Tomando isso como verdadeiro, eu realmente acho que ficou jogado demais essa “crítica”.  Tá mais para uma alusão bem singela. E isso acabou prejudicando demais; afinal, comédia precisa de um contexto, de uma boa construção por trás da narrativa. E não foi o que aconteceu aqui.

    Enfim, a sensação que tive foi a de ter lido um salseiro total!

    • Impacto pessoal – capacidade de envolver o leitor e gerar uma experiência memorável. 1

    Por todo o exposto, infelizmente, a nota somente poderia ser 1. Impacto pessoal bem ruim. 

    Nota Final: 2😓

  15. Kelly Hatanaka
    17 de março de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Oi  José.

    Antes, um aviso geral: li seu conto com toda a atenção e cuidado e meu comentário, abaixo, expõe minha opinião de leitora, com todas as falhas que tal opinião possa ter. Os quesitos que uso para a pontuação são: Tema, Escrita e Enredo, valendo 2 pontos cada e Impacto, valendo 4. Parabéns pela participação e boa sorte no desafio!

    Tema

    Dentro do tema, comédia. Apesar de não achar especialmente engraçado (não ligue, a graça é algo muito pessoal, o que não funcionou muito comigo certamente funcionou muito bem com outros leitores), é inegável que o objetivo do autor foi escrever humor.

    Escrita

    Muito boa. A escrita em primeira pessoa mostra muito da personalidade do narrador protagonista. Há uns errinhos, como vírgulas faltando, mas vou considerar isso um recurso de estilo, afinal, enxergo aí a voz peculiar do narrador.

    Enredo

    Um ex-hippie relata sua dúvida moral sobre alimentar ou não aranhas.

    Impacto

    O impacto não foi muito alto, mas dava para ser. O texto é bom e parte de uma premissa interessante. Há graça na escrita e nas críticas ao politicamente correto e à militância. Mas senti que faltou desenvolvimento. Havia espaço para desenrolar a história e aprofundar o humor. Do jeito que está não está nada mal. Mas parece que faltou um pouco de tudo.

  16. Antonio Stegues Batista
    16 de março de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    O conto iniciou bem, achei  que seria um drama hippie dos anos 60/70, mas é uma comédia envolvendo uma pesquisa sobre aranhas e mosquitos. Uma comédia absurda que teve um bom início, mas caiu na frugalidade. Não há muito o que analisar, o conto é curto, sem grandes suspense ou mistérios.

    ENREDO – Interessante

    ESCRITA – Normal, simples

    FRASES- Boas

    NARRATIVA – Em segunda pessoa. Normal, simples

    PERSONAGENS – Sem destaque

    DIÁLOGOS – Narrador anônimo dialoga com leitor

    AMBIENTAÇÃO – Boa

    IMPACTO – Fraco.

  17. Gustavo Araujo
    16 de março de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    A impressão que me deu foi de que o autor teve uma ideia muito boa, mas não teve fôlego para levá-la muito adiante.

    A maneira descompromissada de narrar não esconde a forte crítica social embutida no conto, especialmente em relação a meritocracia. Dar ou peixe (ou o mosquito) ou ensinar a pescar (ou a capturar)? Esse tema daria muito pano para manga, mas creio que o autor preferiu permanecer só na sugestão, evitando maiores delongas.

    De fato, é um tema interessante e que podia ter sido aprofundado. Uma vez que não foi, gerou em mim frustração, sobretudo porque a pessoa que escreveu parece ter bastante munição para provocar o leitor.

    Nota: 2,5

  18. Luis Guilherme Banzi Florido
    15 de março de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Ola, amigo(a) entrecontista! Tudo bem por ai? Esse conto faz parte das minhas leituras obrigatórias.

    Resumo: um ex hippie se encontra num dilema sobre alimentar ou não aranhas e decide fazer um experimento para chegar à conclusao

    Comentário geral: um conto bem curtinho, direto ao ponto, e bem escrito. Pela correção e precisão da sua escrita, dá pra ver que domina a escrita e parece um veterano por aqui. Dá pra perceber até mesmo como utiliza sua tecnica de escrita para criar uma sensação de humor na leitura, que acho que foi sua aposta pra enquadrar o conto em comédia. Pra ser totalmente sincero, nao sei se chega a enquadrar. Eu percebo a forma como voce trabalhou, e por isso nem vou ficar xaropando sobre tema e nem descontar nota, mas acho que seu conto vai receber muitos comentarios sobre isso. Eu acho que o tom satirico e bem humorado com que o conto é narrado basta, mas por bem pouco. No geral, é um conto interessante, que apresenta uma metafora social para falar sobre um assunto relevante. Mas devo dizer que não gostei tanto assim (gostei da metafora, nao gostei tanto de como ela foi entregue). O conto não é tao poderoso na comedia, entao eu nao me diverti nem ri lendo (no sentido humor), e é um pouco curto e acaba subitamente (eu ate desci a pagina pra ver se tinha mais), entao nao cheguei a mergulhar, me envolver com a leitura, sabe? Nao sei explicar exatamente o motivo. Achei que foi muito tempo contextualizando a situação em que o dilema começou, e pouco tempo falando sobre o dilema em si, que é a parte mais interessante do conto. Desse modo, o conto acabou antes de eu realmente me envolver com ele. Uma pena. Resumindo: um conto inteligente e bem escrito com uma critica social pertinente, mas que carece um pouco de impacto e ago que deixe o leitor mais envolvido ou entretido, se tornando uma leitura de qualidade, mas um pouco monotona.

    Sentimento final como leitor: uma sensação de que o conto podia mais e entregou pouco do potencial.

    Recomendação do meu eu leitor: não sei, ja falei muito ali. Acho que reduzir o começo e investir mais tempo e energia no dilema, que é onde o conto realmente brilha.

    Conclusão: encontrei um artigo cientifico sobre um dilema de uma aranha. A principio, estranhei quando vi que tinha sido escrito por um mestrando de ciencias sociais. No fim, quando entendi qual era a verdadeira intenção do estudo, ele acabou meio de repente, e eu fiquei meio sentindo que faltou algo.

  19. Priscila Pereira
    13 de março de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Sr Autor! Tudo bem?

    Então… Não consegui embarcar no seu “conto”…

    Não vi terror, não vi comédia, percebi que o conto não é sobre hippies e aranhas, mas não atinei com a intenção do conto. Não gosto do viés político disfarçado, muito menos escancarado, não gosto de viés político. Claro que isso é um gosto pessoal, que não prejudicará sua nota.

    No mais, achei sem pé nem cabeça, não entreteve e imagino que o autor julgue que o conto é inteligente e revolucionário, eu entendo isso, muitas pessoas devem achar isso também, mas como disse no começo, não consegui embarcar…

    Gostei da forma despretensiosa da escrita, meio debochada. Obviamente sua escrita é muito boa e sua criatividade é excelente.

    Parabéns pelo conto e boa sorte!

    Até mais!

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Publicado às 9 de março de 2025 por em Liga 2025 - 1B, Liga 2025 - Rodada 1 e marcado .