EntreContos

Detox Literário.

Boa Menina (Amanda Gomez)

— Você entende por que precisamos fazer isso, meu amor?

— Não, mamãe.

— Você lembra o que prometeu?

— Que seria uma boa menina.

— Você foi uma boa menina?

— Hoje não, mamãe.

— Por que não?

— Não dá para ser boa o tempo todo.

Os adultos se entreolharam longamente, e o homem suspirou, tentando conter a fúria. Amanda, de castigo em seu quarto, ouviu a discussão que se arrastou por todo o dia. Havia um intenso movimento pela casa: passos apressados, vozes exaltadas, sirenes. Queria voltar para a festa, mas não havia mais festa, nem bolo, nem doces, nem coleguinhas. Havia falhado e, por isso, era punida. Precisava ser perfeita, educada, agradar ao papai… ou melhor, ao tio Olavo, já que ele não gostava mais que o chamasse de “pai”. Não era… qual era mesmo a palavra? “Legítima.” Mas ela nunca obedecia. O desgosto pela menina surgiu ao mesmo tempo que o filho deles na barriga da mãe. Desde então, sua presença parecia levá-lo a um lugar perturbador.

Amanda nunca o tinha visto tão raivoso. Lembrou-se de Pulga, que costumava lhe mostrar os dentes com frequência — exatamente como o pai fazia agora. Queria lembrá-lo de que também tinha dentes, assim como fizera com o cão, mas, obediente, o escutava com exímia atenção.

Falavam sobre o mundo dos adultos, onde pessoas más eram trancafiadas em gaiolas, proibidas de conviver em sociedade. Achou aquela descrição semelhante ao que lhe prometiam naquele momento. O pai estava especialmente exaltado: uma veia pulsava em sua testa, refletindo a amargura do dinheiro gasto para resolver o incidente.

— Sou um passarinho, então? — indagou

— Não, meu amor… é para lhe proteger… e proteger as… — A mãe hesitou.

— Gaiolas são para passarinhos.

— Ah, pelo amor de Deus! — esbravejou Olavo, voltando a discutir com a mãe.

Abaixou a cabeça e alisou o vestido branco que escolhera para a festa. Mas, ao fazê-lo, seus dedos encontraram uma mancha pequenina e vermelha. Vacilou por um instante e, com um movimento rápido a escondeu.

— Tudo bem, Papai. — Seus grandes olhos azuis, atentos e analíticos, se voltaram para os dois adultos à sua frente. — Mas vocês estarão presos nela junto comigo.

***

Mudaram-se para uma bela casa no sítio até as  coisas se acalmarem e o bebê nascer. Amanda passaria a estudar em casa, sem contato com outras crianças. Lamentou, gostava de ter pessoas. Mas, pelo menos, ali teria contato com animais. Passava os dias acompanhando a labuta do caseiro e seus afazeres, que a deixavam fascinada.

Outra coisa, porém, lhe causava um terror silencioso: o bebê na barriga da mãe. Em sua imaginação, ele crescia como uma criatura faminta. Achava repulsivo ver a pele esticada, era como uma fruta apodrecendo de dentro para fora. Não ousava tocá-la.

A mãe lhe ensinara o poder da beleza, mas como exercê-lo estando tão feia? Enchia-a de perguntas desconfortáveis. Aline aprendera cedo que precisava controlar a filha e moldá-la. Não podia admitir ou demonstrar que a menina a assustava e temia perder a boa vida que conquistou ao se casar com Olavo, que ignorava seu passado.

***

Amanda observava os adultos à mesa comemorando a descoberta de que o bebê seria um menino, como desejava o pai. A princípio, seria uma surpresa no parto, mas estavam precisando comemorar alguma coisa. Até a mãe dele resolveu dar uma trégua e reunir-se com a nora. Ela os encarava e concluía que nenhum deles era “seu”, nem mesmo a mãe, que agora era somente metade sua.

— Admito que, pelo menos, sabe fazer filho bonito — comentou a senhora, referindo-se à aparência de Amanda, que, prontamente satisfeita por ser incluída na conversa, sorriu e agradeceu. Mas a mulher a corrigiu:

— Não sou sua avó, meu anjo. E seu vestido está sujo. Por que essa menina só usa branco? Vê-se que não tem modos à mesa. Deve usar preto.

Amanda encarou a mancha de molho em seu vestido, estarrecida e envergonhada.

— Só tenho um, para velórios… Talvez eu possa usar no seu, vovó.

O mal-estar sufocante se formou, e Aline apressou-se em afastá-la da mesa, liberando-a para que fosse ver os animais e fizesse o que quisesse durante o restante da tarde. Só voltasse quando as visitas fossem embora.

Já era noite quando voltou.

Aline acordou assustada, levantou-se com dificuldade, sustentando a barriga cada dia mais pesada. O marido havia ido levar sua mãe embora e a casa estava… silenciosa demais.

Abriu a porta e, de imediato, notou as manchas no chão. Pegadas da mesma cor subiam as escadas. O coração apertou.

— Amanda? — chamou.

— Aqui, mamãe!

Subiu o mais rápido que conseguiu e se deparou com a filha no final do corredor, completamente banhada em sangue.

— Não se assuste, mamãe. Não estou machucada.

O choque percorreu o corpo de Aline como um raio. O cheiro ferroso do sangue tomou suas narinas, e a visão de Amanda, parada ali, com os olhos brilhando na penumbra, fez seu estômago revirar. O vestido branco estava encharcado. Os fios de cabelo loiros também estavam manchados, colados ao rosto, e pequenos respingos tingiam sua bochecha redonda.

Sentiu a bile subir pela garganta.

— Filha… o que você fez? Quem você machucou?

A menina piscou devagar.

— A Lili.

O coração de Aline se comprimiu.

— Quem… é Lili?

Amanda inclinou a cabeça para o lado, e um sorriso brando se formou em seus lábios.

— Mamãe bobinha. Esqueceu?

Aline avançou, agarrou os ombros da menina e a sacudiu com força.

— Me diga agora, Amanda! O que você fez?!

Mas Amanda apenas riu. Uma risadinha curta.

— A porca, mamãe. Aquela com uma barriga gigante igual à sua… tirei todos de dentro dela. Eles estavam comendo-a viva. Assim como meu irmãozinho está fazendo com você.

A resposta veio com uma frieza cortante. Aline sentiu a respiração falhar. Então, sem pensar, sua mão se ergueu sozinha e estalou contra a bochecha da filha. Amanda sequer se moveu. Apenas inclinou o rosto com o impacto, depois voltou a encará-la com um olhar vidrado.

— Menina má, má!!

Os olhos da menina se arregalaram. Ela balançou a cabeça freneticamente.

— Perdão, mamãe… vou ser boa, só queria ajudar — falou, aproximando-se para abraçá-la.

Aline deu vários passos para trás em pânico, vendo a faca na mão pequenina da filha encostar em sua barriga. Então escorregou no sangue. O pé falhou no degrau seguinte.

O mundo girou em um segundo violento.

Um grito saiu de seus lábios. O barulho seco da barriga contra os degraus ecoou pela casa. O corpo rolou, desgovernado, parando no chão com os membros retorcidos e a barriga afundada. O chão tingiu-se com o líquido quente que escorria entre suas pernas.

***

Amanda alisou o vestido preto e observou, fascinada, o caixote sendo engolido pela terra vermelha. O pai chorava. A mãe, ao contrário, parecia fascinante. Olhou para ela, segurou sua mão, puxando-a para sussurrar em seu ouvido:

— Agora você vai ficar  bonita de novo, mamãe.

Aline voltou o olhar ferido para a filha. Não via mais ali a menina que se esforçava para cuidar, mas um pequeno demônio que, se permitisse, lhe arrastaria para o inferno. Mentiu para o marido, omitiu o sangue. A culpa era unicamente sua, por ter sido descuidada. Pediu que limpassem qualquer vestígio que dissesse o contrário.

Os dias no hospital lhe deram clareza. Não se arrependia, mas tudo mudaria. Precisava engravidar novamente. Tornou-se uma obsessão. Naquele mesmo dia, que enterrara o filho natimorto, tentava — mesmo sob os protestos do marido — enterrar um novo em seu ventre.

Estava tão empenhada nisso que desistiu da filha. Não dizia nada quando Amanda chegava em casa, suja de terra e sangue. “Estava apenas ajudando o caseiro com os animais”, justificava-se. Também não interferia quando o marido, com violência, tentava moldá-la e forçá-la a ser obediente. No fundo,  sabia que Amanda precisava ser contida, precisava pagar por sua natureza cruel — e, se ela própria não conseguia fazer isso, aceitava que ele o fizesse. Mesmo sabendo que nada adiantaria, Amanda muitas vezes se postava de joelhos diante dele, pronta para receber a punição, sem emitir um único som quando ele, frustrado, a castigava. Sufocou até mesmo algo inquietante e incômodo como a forma que o marido passou a olhar para a filha.

Amanda não tinha mais aulas, não via outros seres humanos além dos que iam e vinham naquele sítio. Aline se entregou aos vícios. O tempo passou e a esperança definhou, assim como seu corpo e mente.  Até que, enfim, algo voltou a crescer em seu ventre.

Nasceu, era uma menina, mas ela não era perfeita.

Amanda contou três meses e três dias de espera até finalmente poder ver sua irmãzinha. Saíram do carro: a mãe, que passou por ela sem ao menos olhá-la; o pai, que parecia extremamente cansado; e uma mulher que carregava a criança no colo como um pacotinho frágil.

 A babá lhe sorriu e agachou-se para que ela pudesse vê-la melhor. Amanda fitou aquela criatura com genuína curiosidade, passando os olhos por cada traço exótico da irmã, que a encarava de volta, sorrindo.

— Ela gostou de você — comentou a babá.

Demorou mais um tempo observando, então virou as costas e saiu.

***

O choro da bebê ecoava pela casa, atravessando as paredes como uma lâmina afiada. Longo, persistente, irritante. Aline enterrou o rosto no travesseiro, tentando ignorá-lo, mas o som parecia crescer, martelando seus ouvidos. Resignada, levantou-se a contragosto, arrastando os pés pelo corredor escuro.

Ao chegar à porta do quarto da bebê, parou. O coração acelerou.

Amanda estava ali, diante do berço, imóvel como uma estátua, observando a irmã que se debatia e chorava tão alto que parecia que o som saia de todos os lugares da casa.

Aline não se moveu, ficou ali, congelada.

— Você a ama? — a voz de Amanda cortou o ar.

A pergunta a atingiu como um golpe. O silêncio que se seguiu foi insuportável.

— Não… – sussurrou.

Amanda virou-se lentamente, encarando-a sem piscar.

— Quer que eu faça ela se calar?

Aline sentiu as pernas fraquejarem. Seu corpo inteiro gritava em negação, mas sua mente… Ah, a sua mente. As lágrimas cederam.

— Sim…

Então, saiu abruptamente, fechando a porta atrás de si. Entrou no quarto, jogou-se na cama e tapou os ouvidos, afundando o rosto entre os travesseiros, os soluços começando a sufocá-la.

O choro continuava.

E continuava.

E então… cessou.

Por um segundo, sentiu um alívio irracional, um peso saindo de seus ombros. Mas então:

O horror.

Saltou da cama, os pés descalços tropeçando no carpete enquanto corria pelo corredor. Seu coração parecia prestes a estourar dentro do peito. Escancarou a porta do quarto da bebê.

Amanda estava sentada na cadeira de balanço, segurando a irmã nos braços, dando-lhe a mamadeira.

— Ela é minha agora. — disse, sem olhá-la.

A mulher levou a mão à boca, ofegante. O queixo de Amanda descansava suavemente contra a cabeça da irmã, os olhos fixos nela — os únicos traços que tinham em comum.

Então, começou a ninar a bebê, murmurando baixinho:

— Você não precisa dela… mamãe é má. Mas você… será uma boa menina.

***

— É melhor você se esconder, Rebeca…

A voz de Amanda soou suave, quase brincalhona, mas algo na entonação fez a irmã se encolher no esconderijo. A música explodia nos alto falantes e Amanda dançava no ritmo da música. Tinha agora quinze anos, seus vestidos estavam curtos e apertados em seu corpo juvenil.

— Ooonde será que você foi? — cantarolou.

Abriu uma porta.

O quarto da mãe. Lá dentro, Aline jazia afundada no colchão. Uma garrafa tombada no chão, comprimidos espalhados sobre a mesa de cabeceira. Observou por um instante, depois fechou a porta e seguiu adiante.

Passou pela cozinha.

O pai estava lá. A calça arriada, o corpo pressionado contra o da babá no balcão de mármore. Os dois gemiam baixo, sem se importar com sua presença. Enquanto se empurrava no corpo da mulher o pai a fitava com uma expressão delirante de desejo.

Passou por eles e subiu as escadas, os pés descalços mal fazendo barulho.

— Já sei onde você está…

Deslizou os dedos pela maçaneta do armário no fim do corredor e abriu de súbito.

Um grito agudo explodiu.

Amanda gargalhou.

— Te peguei!

A criança arfava, o peito subindo e descendo rápido, os olhinhos irregulares arregalados. Amanda apenas sorriu e bagunçou seus cabelos, satisfeita.

— Hora do banho!

Girou a torneira, deixando a água encher a banheira. Pegou a irmã no colo e colocou-a na água morna, começando a esfregar sua pele com um sabonete perfumado.

— Vamos ver quanto tempo você consegue ficar dessa vez?

Os olhinhos da menina se arregalaram, mas antes que pudesse reagir, Amanda empurrou sua cabeça para baixo.

As bolhas subiam devagar à superfície.

Amanda sorria.

A mão firme.

A água se aquietando.

Então, puxou a irmã de volta.

A menina tossiu, engasgou-se, os olhos arregalados e chorosos. Amanda jogou a cabeça para trás e riu.

— Você está melhorando.

A irmã piscou algumas vezes, o choro logo cedeu.

Quando saíram do banho, o pai e um homem estranho conversavam no escritório. Esgueirou-se para escutar a conversa, atenta a palavras-chave como divórcio, reabilitação, colégio interno e CDI. Rebeca fez barulho e foram descobertas. Provocou-o envergonhando-o frente a visita. Quando ele foi castigá-la, não correu, deixou que ele a marcasse por inteiro.

***

—   Sua presa está escapando, mamãe — sussurrou. – Vão nos separar.

A mãe apenas murmurou algo ininteligível. 

Amanda afastou gentilmente os cabelos do rosto dela, observando a pele pálida e ossuda.

— Mentiu pra mim. A fraca era você o tempo todo.

Pegou o vidro de remédios, esmagou todos os comprimidos e os dissolveu na água. Então, ergueu a cabeça da mãe com delicadeza e a fez beber.

— Pode ir. Eu assumo agora.

A mãe sorriu, os olhos vazios, e murmurou:

— Seja uma boa…

Amanda pressionou os dedos nos lábios dela, silenciando-a.

— Hoje não.

***

A penumbra dominava o quarto quando Amanda entrou. O homem dormia pesadamente, o cheiro de álcool e suor impregnado nos lençóis. Passou o dia todo entregue aos vícios.

Amanda usava uma camisola de Aline, que acentuava suas formas. Aproximou-se da cama sem pressa, os pés descalços deslizando silenciosos pelo chão frio.

— Olavo — chamou em um sussurro.

O homem acordou, confuso. Os olhos semicerrados demoraram a focar nela. Por um instante, viu sua esposa quando ainda era loucamente apaixonado. Mas, ao piscar, percebeu quem realmente estava ali. A enteada.

O ar lhe faltou. O desconforto subiu pelo peito e queimou sua garganta, não conseguia frear a reação do próprio corpo diante da visão dela. Lutava contra isso há tanto tempo, e se não fosse o pavor que sentia daquela menina, talvez já tivesse sucumbido.

— O que… o que está fazendo aqui?

Amanda não respondeu. Subiu na cama, mantendo os olhos fixos nele, hipnóticos. Então se deitou ao seu lado, a cabeça virando ligeiramente, como um convite. O homem engoliu em seco. Sua mente era um borrão de álcool e desejo proibido. O que estava prestes a fazer?

Amanda permitiu que ele a sangrasse. Deixou que ele arrancasse a própria máscara, mostrando sua verdadeira face. Então foi a sua vez de mostrar a sua.

— Sabe qual é a melhor forma de matar um porco, papai? — sussurrou, o tom quase didático.

Ele não percebeu o movimento.

O homem arregalou os olhos, confuso, sentindo algo escorrer quente pela garganta. Tentou engolir, mas só conseguiu engasgar-se com o próprio sangue. A dor veio rápida e quente.

— Precisa ser rápido. Um corte limpo. Sem alarde. Se o animal se assusta, o sangue envenena e endurece a carne. O estresse arruína o sabor.

Olavo levou as mãos à garganta, o sangue jorrando pelos dedos. Tremores descontrolados tomaram seu corpo enquanto caía da cama, arfando. Amanda rolou na cama e o observou em agonia muda.

— Eu preferia fazer você gritar como o porco imundo que é… — Amanda sussurrou, inclinando-se sobre ele. — Tão fraco… previsível. Queria que chorasse e implorasse… mas não quero assustar Rebeca.

Ele tentou soltar um som, mas tudo que veio foi um gorgolejo grotesco e borbulhante. Ela deslizou a lâmina fria contra a pele dele, como um açougueiro testando a maciez da carne antes do abate. Então, em êxtase, afundou a faca várias vezes.

***

Rebeca dormia tranquila. Amanda a pegou no colo, levou-a até a cadeira de balanço e começou a embalá-la suavemente. A menina acordou, aninhando-se à irmã, sem se assustar com o rosto tingido de vermelho.

— Eles vão te engaiolar também… vão te tirar de mim…

Amanda olhava fixamente para o vazio. O único som era o do balanço. Ela voltou sua atenção para a irmãzinha, agora com o pijama manchado.

— Meninas boas não sujam as roupas… Hora do banho!

A água morna enchia a banheira, vapores leves subindo no ar, perfumados com sabonete infantil. Pequenos brinquedos flutuavam ao redor, criando um ambiente acolhedor e sereno. Observava cada detalhe do seu rosto imperfeito.

— Ma… mamãe… — Rebeca balbuciou.

Amanda Hesitou. Os dedos que seguravam a menina afrouxaram por um segundo. A surpresa a atingiu.  Sentiu um calor estranho no peito. Algo que não sabia nomear. Sorriu.

— Você é tão perfeita!

Inclinou-se e beijou as bochechas molhadas da criança. E então, afundou-a na água.

Seus bracinhos se ergueram, esperando que, como sempre, Amanda a puxasse de volta. Não daquela vez. Começou a se debater, os braços e pernas agitando a água. Amanda manteve a pressão firme, admirando a força e resistência com que a irmã lutava. Logo, tudo cessou. O espelho d’água se acalmou, refletindo seu rosto inexpressivo. Uma única lágrima caiu.

3 anos depois…

Amanda despediu-se do abrigo que fora seu lar nos últimos anos. Executou seu papel de vítima do padrasto assassino e abusador perfeitamente. Recebera toda a assistência que uma órfã marcada por traumas, perdas e abusos poderia ter, além da herança. Agora, aos dezoito, estava livre. Passou pela porta imaginando simbolicamente que fosse aquela gaiola. Nunca fora um passarinho — era uma ave de rapina.

Caminhou sem pressa, sentindo o calor do sol roçar sua pele, misturando o cheiro da cidade com o gosto da liberdade. Parou na calçada, observando o fluxo constante de pessoas, carros, luzes piscando como um organismo vivo.

Havia tanta vida… tantas pessoas.

Sorriu.

Estava ansiosa para tê-las.

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25 comentários em “Boa Menina (Amanda Gomez)

  1. Gustavo Araujo
    16 de abril de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Creio que como conto de terror a história funciona bem. Lá está a criança angelical que na verdade é um demônio pronto a arregaçar com todo mundo, um clichê do gênero que aqui ganha novas cores por conta da boa ambientação. A mãe relapsa e egoísta, o pai severo e cheio de pecados e, claro, a irmãzinha inocente. Elementos bem trabalhados e que resultaram numa trama de leitura fácil, fluida e, como demanda o gênero, por vezes repugnante. Há pontos ótimos, em que o suspense fica bem evidente, apressando a leitura, mas há outros, talvez intencionais, que fazem a leitura arrastada, provavelmente para dar tempo ao leitor para digerir o acontecido. Uma boa experiência de leitura. Parabéns pelo conto!

  2. Bruno de Andrade
    6 de abril de 2025
    Avatar de Bruno de Andrade

    Oi, Amanda!

    Vou dividir meu comentário em pontos positivos e negativos:

    Positivos: A escrita é muito limpa, muito correta. E a condução é segura, equilibrada. A entrada de Rebeca na história e a forma como Amanda a toma para si trouxe um toque de novidade a um enredo que se apoia numa figura já muito explorada, a da criança sinistra/psicopata. As cenas mais “pesadas” são descritas com elegância, sem cair no grotesco, mas sem higienizar a violência. Não é difícil entender porque o conto ficou bem posicionado no desafio.

    Negativos: Indo direto ao ponto, tenho que dizer que achei a leitura enfadonha. E tem uma razão muito clara pra isso: a completa ausência de consequências dos eventos narrados.

    Nada do que Amanda faça, por mais terrível que seja, traz algum tipo de consequência concreta para ela. No máximo ela toma um corretivo do pai, mas o texto deixa claro que ela sequer se importa com isso. Então ela vai lá, mata bicho e nada acontece. Faz a mãe rolar escada abaixo e perder o bebê, nada acontece. Rouba a irmã pra si, nada acontece. E no final isso vai ao extremo quando Amanda faz um pequeno massacre dentro de casa e simplesmente fica tudo bem. Nem mesmo com os problemas de ordem prática o texto parece se preocupar: os crimes foram investigados? Como ninguém chegou até ela? Ela fez algo pra se livrar das provas? O que aconteceu com a babá? Ela só sumiu da história?

    Lógico que há consequências para os outros personagens, afinal eles morrem, rs. O problema é que nenhum deles é cativante o suficiente para que o leitor se importe com eles. Ao contrário – a mãe é passiva e larga mão de ambas as filhas em momentos diferentes da narrativa; o padrasto é um filho da puta de marca maior; a babá tá ali só pra cumprir função. A irmã talvez ganhe alguma simpatia por nossa tendência a nos preocuparmos com crianças. Mas é só.

    O problema que isso tudo gera é que não há por quem temer. Numa história de terror, é crucial que nós temamos pelo destino dos personagens. Sem isso, não há tensão. E aí cai no enfado sobre o qual falei lá no início: quando entendi que nada aconteceria com Amanda – e com os outros personagens podia acontecer o que fosse que eu não me importaria -, o texto perdeu força. Fui até o fim sem esforço, porque a escrita é fluida, mas também sem muito interesse. E o final apenas confirmou essa sensação.

    Acredito que, em parte, esse problema seja gerado por uma questão comum a muitos contos que aparecem por aqui: eles são estruturados como se fossem espécies de micro romances. É muita coisa sendo contada, muito enredo tentando se encaixar em pouco espaço. Então fica tudo meio jogado, sem muito desenvolvimento de algum evento em particular. Acaba então se desperdiçando o que de melhor o conto oferece como gênero: o conflito único, a tensão crescente e condensada, o tal nocaute de que tanto se fala.

    Sobre a escrita, meu único reparo é um certo excesso de ênclises. Em alguns momentos soaram estranhas. E têm ênclise até no diálogo. Mas não sou a melhor pessoa pra falar sobre regras e apontar se há erros nesse aspecto.

    Conclusão: Como já ficou claro, achei o texto algo monótono. Meio chato mesmo, usando uma palavra mais direta. Mas chato é diferente de ruim. Aliás, algumas obras são muito chatas e muito boas, mas essa é outra discussão, rs. O que importa é que o texto aqui não é ruim. É bem escrito, ágil e se utiliza bem de algumas convenções do gênero. Mas falta tensão, o que é essencial para o terror. No contexto do desafio, eu tiraria alguns pontos por isso.

    Nota de zero a cinco: 3,8.

    • Amanda Gomez
      6 de abril de 2025
      Avatar de Amanda Gomez

      Oi, Brunooooo. Obrigada por vir!

      Sim. Não sei escrever contos. Considero todos micro-romances. É meu estilo, e gosto de escrever assim: textos mais cinematográficos. Fiquei surpresa por você achar chato e enfadonho — a vantagem de escrever dessa forma é que o texto dificilmente se torna maçante. Mas tudo bem.

      Bom, eu não tinha como colocar uma investigação forense no texto, tanto pelo limite quanto pela forma como escrevo. Mas o que não é dito pode estar subentendido. Se ela se livrou, é porque houve meios para que isso acontecesse. O principal — o que deixei mais claro — foi o fato de que, para todos os efeitos, ela sofria abuso físico e sexual do padrasto. Ela se deixou “sangrar” antes de matá-lo. Esse seria seu álibi. Agiu em legítima defesa para se proteger de um abuso que era constante. Nesse mesmo dia, ela o provocou para que ele a espancasse, e ela ficasse com marcas.

      A mãe pode ter se matado ou sido morta. Mas por ele. Não por ela. Dadas toda a cena do crime e as circunstâncias, ele ter matado a filha deficiente também não seria nada estranho. Enfim… diante do que não foi dito, no meu entendimento, fica muito mais fácil entender o que aconteceu para que ela estivesse bem, do que supor que nada tem lógica só porque não foi “mostrado”. Ela esteve em abrigo… ficou retida por 3 anos. Não foi exatamente sair ilesa.

      Sobre as outras questões, pode ser. Isso de identificação é uma coisa que acho importante. Não concordo que, em histórias de terror, os personagens sejam só carne. Acho importantíssimo criar um background para eles. Pode até não gerar identificação com o leitor — isso depende muito dele também. Mas dizer que os personagens são desimportantes para a história, aí já discordo.

      Que mais você falou….Ah, novamente sobre nada ter acontecido com Amanda. Independe de sua natureza, a negligência com sua criação. O isolamento, as surras. Isso não é “nada” na minha opinião. 

      Apesar do tema batido ( criancinha má) defendo que meu texto conseguiu trazer vários elementos originais. E cenas que me orgulho de ter criado dada a complexidade. E muito mais sobre tensão  que terror em si. Embora esteja farto de ambos. 

      As vezes o texto é chato ou o leitor é. 

      Mas enfim, valeu pela leitura!! Gostei de saber seu ponto de vista. ( de verdade) ganhar comentários pós desafio é um privilégio. 

      Mas vou sempre defendeeer minha Boa menina! 😁

  3. Priscila Pereira
    31 de março de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Arrasou, amiga ! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

    Muito orgulho de você! 😘

    Conto sensacional!❤️

  4. Bia Machado
    29 de março de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Enredo/Plot: 1/1 – Ótima história, que traz as violências do cotidiano para o texto. E ainda assim surpreende.

    Criatividade: 1/1 – Muito criativo. Criou uma personagem que, embora seja tudo aquilo que é, me fez torcer por ela. Mas que fique bem longe de mim, claro.

    Fluidez narrativa: 1/1 – Boa fluência narrativa, daqueles que não dá para parar de ler, até chegar ao final.

    Gramática: 1/1 – Não vi nada de mais passar na revisão.

    Gosto/Emoção: 1/1 – Eu gostei bastante. Conto de terror com personagem cativante e outros bem repugnantes.

  5. Fabio D'Oliveira
    29 de março de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas, Menina Má.

    Esse conto me surpreendeu. Positivamente, claro. O começo lento e clichê me deixou ressabiado. Fiquei realmente desconfiado. Mas, quando Rebeca nasceu, o conto ganhou uma guinada impressionante. Antes, a loucura estava apenas na Amanda. Depois, a loucura se espalhou pra família toda. Tornou-se algo doentio e esquisito. A Rebeca se tremendo toda, com medo da irmã, que a trata como uma boneca. O padrasto infiel e sujo, desejando Amanda. A mãe desconectada da realidade.

    O final não atendeu todas minhas expectativas, mas não ficou ruim. Esperava algo mais doentio, como estava sendo produzido. Matar todos pareceu, digamos, misericordioso da parte de Amanda, rs.

    É um dos meus favoritos, certamente.

  6. Andre Brizola
    29 de março de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Menina Má!

    Um conto que envereda pelo terror, tendo como tema o assassino psicopata, aqui retratado desde a infância, na figura de Amanda. Ao contrário de uma história policial, o tema terror permite uma história de vitória do assassino sobre aqueles que tentam suprimir o pensamento que o difere de uma pessoa sem a doença.

    O conto está muito bem escrito. Acho que há um equilíbrio entre diálogos e narrativa em terceira pessoa e, num conto em que o leitor precisa de uma certa quantidade de descrição, pois o cenário é parte integrante do enredo, conseguir dosar esses dois itens mostra habilidade. É muito fácil escorregar e pesar em um dos dois, deixando o outro um tanto quanto vazio. Não é o caso aqui.

    O enredo não é exatamente original e parece uma mescla de diversos contos e romances de Stephen King, mesmo sem o conteúdo sobrenatural. Não sei se é realmente o caso, mas eu li muitos livros do cara, e é difícil não fazer certas comparações, com o cenário, e a cena da garotinha com a faca na mão, semelhantes ao que ocorre com o garoto em O Cemitério, por exemplo.

    Mas é um conto interessante. Está certamente dentro do tema e é bem escrito o suficiente para angariar sua parte de boas notas. A minha deverá ser positiva também. Vamos ver como ele amadurece até o dia de votar efetivamente.

    É isso, boa sorte no desafio!

  7. claudiaangst
    28 de março de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Assustador! Muito bom o seu conto de terror, viu? Só achei estranho a frase “correu pelo corredor”. A narrativa é cheia de ação e suspense, a leitura flui muito fácil. Final impactante. Forte candidato ao pódio (na minha humilde opinião).

  8. Raphael S. Pedro
    28 de março de 2025
    Avatar de Raphael S. Pedro

    Até aqui o melhor conto do desafio.

             Terror na medida certa com uma pitada de suspense que te faz querer terminar a história pra saber logo o final.

             A personagem principal possui um magnetismo característico, típico de grandes antagonistas. Obviamente, também se percebe a habilidade do(a) autor(a) em nos prender e nos fazer esperar pelo próximo parágrafo.         

    Então, considerando a qualidade do produto, não há muito o que comentar, apenar parabenizar mesmo. Acredito que é um dos grandes favoritos ao título.

  9. Thiago Lopes
    27 de março de 2025
    Avatar de Thiago Lopes

    Parece evidente que a inspiração veio de filmes de terror, o que me desagrada um pouco, confesso. Mas gostei que o tom tenha sido daqueles filmes dos anos 80, pelo menos é o que me pareceu. 

    Esse também entra na minha lista de preferidos, a única coisa que me incomodou um pouco foram as frases clichês, que podem ser excluídas ou modificadas. Dou o exemplo de um trecho: “atravessando as paredes como uma lâmina afiada”, “imóvel como uma estátua”, “a voz de Amanda cortou o ar”, “pergunta a atingiu como um golpe”.

    Há várias frases assim e momentos cênicos típicos de filmes aos quais tanto estamos cansados de assistir.

    O que me ganhou no conto é a ideia de uma menina cruel, achei inteligente usar esse tema para o gênero – usou a versão mais interessante para o terror, que foge um pouco do sobrenatural.

  10. Leo Jardim
    27 de março de 2025
    Avatar de Leo Jardim

    📜 TRAMA (⭐⭐⭐▫▫): uma família disfuncional e uma filha psicopata. A menina terrível acaba matando a mãe, o padrasto FDP e até a irmãzinha que ela tinha adotado. A narrativa é boa e funciona bem para ambientar a história e descrever as cenas grotescas. O único porém é que parece ter mais coisa que o necessário para a história ser contada. O fato dela adotar a irmã, treinar ela a não ser afogar e depois matar ela afogada. Ficou sobrando muita coisa aí. Pra que serviu ensinar ela a não ser afogar? Só pra mostrar a crueldade da menina? Acho que isso já estava bem colocado antes. Enfim, tirando um pouco a gordura e, talvez, encerrando mais cedo (reduzindo o longo epílogo pós assassinatos da família), é uma boa história.

    📝 TÉCNICA (⭐⭐⭐⭐▫): é muito boa. Conduz bem a narrativa e descreve ótimas cenas. Fiquei realmente tenso no cena da mãe grávida na escada.

    ▪ A música explodia nos alto falantes (alto-falantes)

    • Amanda Hesitou (hesitou)

    🎯 TEMA (⭐⭐): terror na essência!

    💡 CRIATIVIDADE (⭐⭐▫): boa, dentro da média do desafio.

    🎭 IMPACTO (⭐⭐⭐⭐▫): como adiantei, o conto transmitiu uma angústia grande em várias partes. Achei bem satisfatório nesse quesito. Acho que foi o conto que mais funcionou pra mim no gênero de terror.

  11. Fabiano Dexter
    24 de março de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    Estou organizando os meus comentários conforme irei organizar as minhas notas, buscando levar para o autor a visão de um Leitor regular e assim tentar agregar algum valor. Assim a avaliação é dividida em História (O que achei da história como um todo, maior peso), Tema (o quanto o conto está aderente ao tema), Construção (Sou de exatas, então aqui vai a minha opinião geral sobre a leitura como um todo) e Impacto (o quanto o produto final me impactou)

    História (1,5)

    Aqui temos a história de uma pequena psicopata e sua vida com a mãe e o padrasto.

    Mas o que poderia ser uma história simples ou óbvia não o é menos pelas reviravoltas na história, a grande maioria óbvia para quem lê muito terror como eu, mas pelo modo como elas são descritas e se desenrolam, de forma clara e objetiva, sem correrias e com as descrições feitas no tempo e detalhamento certos.

    As citações dos vestidos brancos, por exemplo, são muito bem-feitas. E colocam que o fato deles estarem sempre sujos (seja de comida ou sangue) mostra a indiferença dela em relação ao que aqueles que estão a sua volta pensam dela.

    Tema (1,0)

    Terror. Muito bem descrito e elaborado, inclusive.

    Construção (1,5)

    O modo como os acontecimentos vão se desenrolando, cena a cena, é muito bom e faz a história ser fluida e dinâmica, ainda que com alguns buracos principalmente em relação ao passado da protagonista e sua mãe, assim como detalhes referentes à pequena Rebeca, muito provavelmente devido à limitação de palavras. Mas nada disso impacta na experiência, já que o foco é em Amanda e seu desenvolvimento.

    Impacto (1,0) Alto. Uma história que nos puxa e nos faz imaginar não apenas como pode uma criança ser capaz de tantas atrocidades mas também o que a mãe deveria fazer em relação a isso.

  12. rubem cabral
    24 de março de 2025
    Avatar de rubem cabral

    Olá, Menina Má.

    Um bom conto de terror, com uma protagonista com gosto por matar, uma pequena e linda psicopata.

    A escrita é correta e entrega bem a história, sem entraves, mas também não ousa muito.

    Achei alguns diálogos estranhos para a criança quando pequena, por exemplo: “A porca, mamãe. Aquela com uma barriga gigante igual à sua… tirei todos de dentro dela. Eles estavam comendo-a viva. Assim como meu irmãozinho está fazendo com você”. Aqui o “comendo-a” soou estranho… Crianças não costumam falar assim.

    Embora não seja completamente inverossímil, achei que os pais foram muito passivos com as atitudes da filha, mesmo o padrasto tendo aplicado “corretivos” frequentes e tal.

    Abraços e boa sorte no desafio!

  13. bdomanoski
    23 de março de 2025
    Avatar de bdomanoski

    Visceral! Poderia terminar meu comentário aqui e seria a perfeita descrição do conto. “Desde então, sua presença parecia levá-lo a um lugar perturbador.”, que descrições inspiradas! Pior que essa história não deve ser apenas ficção, certamente há por aí histórias similares, de padrastos que detestam seus enteados, e outros que desejam cometer abus0s e as vzs tudo isso, como no seu conto. As doses de realismo da história tornaram-a ainda mais perturbadoras. A aparente “inocência” das falas da criança, ao mesmo tempo em que ela demonstra uma sabedoria além da idade, fizeram com que a Amanda não fosse uma vilã odiosa, mas uma antiheroína, que pode até salvar o dia no fim das contas – embora não do jeito politicamente correto. “Mas vocês estarão presos nela junto comigo.”, o tom de ameaça na fala da criança, que supimpa! Esse conto devia virar filme de Hollywood, e se virasse, tornar-se-ia um clássico instantâneo, do tipo “A Orfã”. Voltando ao enredo, ele me traz a revolta de saber que existem por aí Amandas e Amandos, psicopatas e cruéis, contra as quais nada é feito, e no máximo podem ser presos apenas aos 18 anos, sendo geralmente soltos em saidinhas e cometendo mais atos bárbaros.

  14. Kelly Hatanaka
    21 de março de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Bem aterrorizante esta história de uma pequena psicopata. Achei ótima a forma como Amanda sempre parece distante emocionalmente de tudo, com uma frieza nada infantil. Sua ações são narradas de forma direta e crua. Combina com ela. Gostei muito.

  15. Jorge Santos
    20 de março de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá autor ou autora. Gostei bastante deste seu frenético retrato da perversidade humana. É um retrato perfeito de um ser hediondo, não importa que seja uma criança. É especialmente cruel exatamente por isso, por brincar com os nossos preconceitos de pureza. O conto é elegante, bem escrito. Não se perde em devaneios descritivos, dando privilégio à linha narrativa que o leitor sorve de um trago e, no final, ainda pede mais. Se é verdade que o escritor coloca muito de si próprio nas suas obras, neste caso isso toma contornos preocupantes… ☺

  16. paulo damin
    20 de março de 2025
    Avatar de paulo damin

    A vantagem desse texto é que, no fim, a personagem continua má. E tem bastante dinâmica, muitos acontecimentos, as descrições são vívidas, mas pouco explícitas. Acho que é isso aí, um terror violento. A gente fica com a certeza de que a jovem, agora que saiu da primeira prisão, vai entrar logo em outra, antes de completar 19 anos. Vamos torcer pra ela encontrar algo mais na vida, tipo a literatura. Que ela queira ter personagens, figuras de linguagem, corpos literários em vez de corpos literais.

  17. Cyro Fernandes
    19 de março de 2025
    Avatar de Cyro Fernandes

    Conto criativo e com boa técnica.

    A menina má espelha algo do que recebeu da mãe e do padrasto.

    A narrativa explora a tensão e deixa o final pronto para uma continuação.

    Apenas como leitor, a maldade com grávidas e crianças me incomoda. Fica a ressalva que não desmerece a qualidade do conto.

  18. Rodrigo Ortiz Vinholo
    17 de março de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    História bem escrita, que explora bem caminhos psicológicos complicados e peculiares. O enredo, em si, não me conquistou muito: achei similar a outras histórias, tanto no clichê da criança assustadora e psicopata, quanto na montagem de certas cenas. As motivações dos personagens são por vezes dúbias, de maneiras que por vezes mais confundem do que qualquer coisa… e não da maneira que ocorre na realidade, também. As próprias motivações da protagonista parecem por vezes desconexas, e ainda que eu entenda que a narração e a fala dela sugere uma desconexão dela com as outras pessoas, que trate-as como propriedade, isso poderia ter sido explorado de mais formas.

    O trecho final também me pareceu muito abrupto. Daria para omitir a passagem de tempo final e indicar a ideia do futuro dela de outras formas.

    (E talvez não seja um ponto tão sério, mas me confundi em alguns trechos com o nome das duas personagens, já que as duas começam com A, hahahaha.)

  19. Thiago Amaral
    15 de março de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Conto irretocável.

    Contado pelo ponto de vista da menina, entramos na mente de uma psicopata mirim, que está muito bem caracterizada. A autoria fez um ótimo trabalho compreendendo a mente de um psicopata. Pela imagem e título, achei que haveria surpresa ao longo da leitura – talvez ela não fosse má, afinal, apenas parecesse.

    Mas não, as coisas são exatamente como pareciam. E isso não é demérito, pois a história se desenrola fluida, os personagens completos, tudo perfeitamente explicado.

    Engraçado notar algumas semelhanças com o meu próprio conto, onde temos uma gravidez, e até um bebê chamado Rebeca. As suas metáforas brilharam, como a comparação entre a bebê no ventre e uma fruta apodrecendo.

    A cena da queda foi a mais desconfortável, terrível, mas todas foram muito bem contadas, com precisão.

    É isso, não tenho muito mais a dizer senão que você fez um excelente trabalho. Parabéns!

  20. toniluismc
    14 de março de 2025
    Avatar de toniluismc

    O conto é forte, provocador e eficaz no gênero terror psicológico. Possui uma narrativa habilidosa e um desfecho perturbador e memorável. Pequenos ajustes em ritmo e concisão poderiam elevar ainda mais o nível técnico, mas no geral, é excelente.

    Gostei da coragem e da criatividade em fazer da vítima uma agressora fria e inteligente.

    Todas as cenas fazem a gente guardar algo na mente, aumentando a pressão e a vontade de ver o desfecho.

    Parabéns!!!

  21. José Leonardo
    13 de março de 2025
    Avatar de José Leonardo

    Olá, Menina Má.

    Tendo em vista as minhas limitações técnicas para apreciar melhor o seu conto e de modo a tentar esquentar meus comentários que acho um tanto insossos, decidi convocar, por meio de um ritual de fervura de miojo de tomate com leite coalhado e digitação de Zerinho-um no MS-DOS, a FRIACA® (Falsa Ruiva Inteligente Auxiliar para Comentários e Avaliações) para me ajudar nessa bela empreitada e proporcionar a melhor avaliação possível acerca do seu texto (dentro da minha perspectiva de leitor).

    FRIACA: Do que se trata o conto?

    R.: O tema da sociopatia que parece inata à menina. A manipulação calculista. O fato de isolá-la dos demais não eliminou sua índole (seu impulso frio – aparentemente desconhecido até então pelos pais), pelo contrário. Embora em determinado momento tenha um pequeno lapso sentimental (pequeno mesmo, ínfimo), sua frieza a torna implacável, determinada.

    FRIACA: Como você vê a narração, o estilo, a estrutura, a técnica?

    R.: O estilo nos faz transitar entre a aparente (falsa) pureza e as intenções escondidas da menina. Algumas atitudes da mãe me soaram um tanto estranhas (da forma como conhecia Amanda, suas atitudes), mesmo assim, creio que o(a) autor(a) se saiu bem em expressar verossimilhança a partir da construção dessa protagonista.

    FRIACA: E quanto à adequação ao tema, à criatividade e ao impacto?

    R.: Adequado ao tema de terror. A estória flerta um pouco com o Complexo de Electra (tem um filme baseado em contos de A Vida Como Ela É, do Nelson Rodrigues, chamado Traição, cuja história me veio de novo à memória ao ler o seu “Boa menina”). Embora psicopatia/sociopatia pareçam motivos batidos, creio que você soube nos mostrar com uma escrita bem elaborada e diálogos expressivos.

    FRIACA: Indo um pouco mais a fundo nesse particular e apesar do aspecto subjetivo do que a história pode causar no leitor, é um conto para dar risadas ou aterrorizar-se?

    R.: A ideia de uma pessoa ser assim com tão tenra idade é apavorante. Creio que a história tem a capacidade de causar temor no leitor, posto que é um horror mais próximo da realidade do que o usual. A protagonista conseguiu desgraçar a vida de todos ao seu redor e sair por cima da carne seca ao final.

    FRIACA: Qual sua posição final sobre esse conto, inclusive sobre a nota?

    R.: Infelizmente o seu conto não me atraiu muito, mas ressalto novamente a capacidade literária e a forma como dispôs, nesse espaço curto, uma genuína história de sociopatia juvenil. Nota: 3,9.

    Parabéns pela estória e boa sorte neste desafio.

  22. Leandro Vasconcelos
    12 de março de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Opa! Um conto de terror clássico e muito bem urdido. A grande estrela é a protagonista Amanda, que realmente impele a leitura e o enredo. Personagens fortes e malignos são assaz difíceis de conceber, mas aqui o autor (ou autora) conseguiu construí-lo de forma exemplar, mesmo com a limitação de palavras do concurso. Aliás, todos os personagens secundários também o foram. Aos poucos, a estória os impeliu para um desfecho trágico, e tudo correu de forma natural dentro do contexto criado. Outra coisa realmente complicada de obter: essa naturalidade na condução da trama. Nada é forçado, o arco dos personagens torna-se inevitável. Por isso, de antemão, merece muito crédito o criador do conto.

    Outro mérito foi a elaboração desse contexto, da ambientação familiar, que paulatinamente foi minada pela garota psicopata. A degradação causada por ela e, indiretamente, pela personalidade débil dos personagens envolvidos, ficou muito boa.

    Mais um ponto forte: o terror. Este é construído, para além das cenas viscerais de sangue e maldade, em torno da subversão das expectativas do leitor, como é o caso da cena de Amanda com a bebê. Sem falar na aversão criada pelos próprios personagens, que revoltam ou por sua maldade ou por sua degeneração. Lembrei de alguns contos do Stephen King durante a leitura, não sei se serviu de inspiração. Mas a qualidade do terror aqui equipara-se.

    A linguagem é direta, sem muitos floreios, e o texto é recheado de diálogos, dando fluidez à leitura. No entanto, convém sublinhar: em alguns momentos, há o vício da ambiguidade, o que pode prejudicar o ritmo. Por exemplo: “A princípio, seria uma surpresa no parto, mas estavam precisando comemorar alguma coisa. Até a mãe dele resolveu dar uma trégua e reunir-se com a nora. Ela os encarava e concluía que nenhum deles era ‘seu’, nem mesmo a mãe, que agora era somente metade sua”. Pelo contexto, podemos identificar que o pronome negritado refere-se a Amanda. Mas, como há três personagens femininas no parágrafo, tive que ler duas vezes para entender. Evitar isso (sobretudo na utilização de pronomes) é importante para manter a fluidez. Teve umas duas outras passagens assim no texto.

    No mais, outra coisa que me incomodou (de leve, ressalto) é a facilidade com que Amanda executa suas perversidades. Estava esperando mais resistência, principalmente da mãe Aline. Claro, esta se provou um tanto tíbia. Mas, para exemplificar, na cena em que achamos que Amanda irá matar a bebê Rebeca, eu confiava numa reação forte da mãe – o famigerado instinto protetor de mãe. O fato de ela voltar à cama, como que para obter alívio, soou um tanto antinatural. Mesmo que o ser humano seja claudicante, contraditório, essa reação imprevista tem que ser bem motivada para não parecer artificial. Talvez num romance, com espaço para explorar essa ambiguidade, o efeito fosse diferente.

    Mas, enfim, repito que gostei muito da obra. E estou me alongando muito em minudências que não tiram o brilho do conto. Novamente: parabéns!

  23. Afonso Luiz Pereira
    12 de março de 2025
    Avatar de Afonso Luiz Pereira

    Errata: peço perdão, troquei o título pelo pseudônimo da autora.

  24. Afonso Luiz Pereira
    12 de março de 2025
    Avatar de Afonso Luiz Pereira

    “Menina Má” é um conto tecnicamente bem escrito, com uma estrutura bem desenvolvida de tensão. A autora usa descrições precisas e mantém um ritmo que envolve o leitor no horror psicológico da narrativa. Amanda é uma personagem que desperta inquietação desde a infância, e sua evolução ao longo da trama é conduzida com habilidade. O texto, é bem verdade, se destaca pela fluidez, correção gramatical e pelo desenvolvimento gradual da tensão.

    O enredo remete a obras como o “Caso 39”, com Renée Zellweger, “Precisamos Falar Sobre Kevin”, “A Órfã”, “O Anjo Malvado” estrelado por Macaulay Culkin, e alguns outros, que exploram a figura do psicopata infantil e o impacto devastador que causa à família. A degradação da relação entre Amanda e sua mãe é um dos aspectos mais interessantes do conto, mostrando como o horror não está apenas na protagonista, mas também na dinâmica familiar que a cerca: mãe desiquilibrada e padrasto violento.

    Talvez por tantas referências literárias e cinematográficas de psicopatia infantil já conhecidas é que a trama parece seguir aquele caminho relativamente previsível dentro desse tipo de narrativa, ou seja, a execução cuidadosa faz com que a leitura seja envolvente, sim, mas sem grande impacto.  O desfecho, a exemplo de maldade infantil como “A Profecia”, por exemplo, reforça a ideia de que o verdadeiro terror não está apenas na maldade da protagonista, mas na sua capacidade de se camuflar no mundo, perpetuando seu ciclo destrutivo (final aberto).

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Publicado às 9 de março de 2025 por em Liga 2025 - 1A, Liga 2025 - Rodada 1 e marcado .