EntreContos

Detox Literário.

A Casa no Fim da Estrada (Kelly Hatanaka)

— Por que precisamos vir aqui? Quero ir para casa.

A mãe olha para o menino.

— Chega, Gregório. Já falamos sobre isso.

— Não falamos, não.

Filipa olha para a mãe e o irmão mais velho, sem emitir som.  Desde o dia em que tudo mudou, não disse uma só palavra. A mãe estava exausta. Sentia como se estivessem andando há muitos dias. Gregório, doze anos, sapatos gastos, travava seu maxilar para segurar as lágrimas de raiva. Menino não chora.

Bibiana pegou a mão do filho e o puxou pela estrada, sabendo que Filipa os seguiria. Não deviam estar longe agora. Não podiam estar longe. Seguiu pela curva, cheia de esperança, e viu surgir, como um sonho, o que procuravam. Seu novo lar, bem ali onde acabava a estrada. Suspirou com um misto de alívio e tristeza.

A bela casa em que seus filhos nasceram e cresceram foi vendida para pagar as dívidas de jogo do falecido marido, Adalberto. Ela nunca havia desconfiado da situação desesperadora em que se encontravam até que ele a chamou ao escritório junto das crianças.  A última coisa de que Bibiana se lembrava era de abrir a porta e vê-lo com a arma na mão, do sangue e do som e de mais nada. Por que ele quis que ela e as crianças testemunhassem a cena horrenda, é algo que ela não conseguiu entender.

Depois do estampido e do sangue, todo o resto passou como um borrão, mal se lembrava de como os dias se sucederam, mas, de um jeito ou de outro, as providências foram tomadas. Foram forçados a sair de casa. Tudo o que lhes restou cabia em uma mala de mão, que deixava agora uma marca vermelha na mão de Bibiana. Ela, felizmente, tinha a casa da desconhecida e misteriosa tia Margot, que há muito tinha lhe ficado como herança. Adalberto, ao menos, parece ter se lembrado de cuidar da propriedade da mulher, pois as paredes brancas estavam recém pintadas, o gramado, bem cuidado, e as vidraças brilhavam ao sol.

— Viu, filho, não é tão mau, não é?

— Você não enxerga, não é mesmo?

As palavras do menino aturdiram Bibiana por um instante. O que ele queria dizer com aquilo? Antes que pudesse questioná-lo, porém, a porta se abriu e surgiu uma mulher alta, magra e muito séria.

— A senhora deve ser dona Bibiana. Sou Nadja e cuido da casa. Sejam bem vindos.

A casa era pequena e aconchegante. Estava tudo impecavelmente limpo e arejado.

— Arrumei os quartos no andar de cima. Espero que esteja tudo a seu gosto.

— Está tudo perfeito, obrigada. — Bibiana andava pela sala, tentando, em vão, imaginar a misteriosa tia Margot naquele recinto — Foram os advogados que avisaram de nossa vinda? Eles que a contrataram?

— Eu sempre trabalhei aqui.

***

— Posso dormir com vocês?

— Sshbfdkgd…

— Posso?

Petrônio, enfim desperta e entende a pergunta de sua filha.

— Não acha que está meio grandinha para dormir com a gente?

— É que tem um fantasma no meu quarto.

O pai boceja.

— Fantasmas não existem.

Lucélia, a mãe também desperta.

— Pode sim, filhinha. Venha.

— Mas, querida…

— A culpa é sua, Petrônio. Você que ficou incentivando a menina a ler os livros do Poe. Que ficou contando histórias de terror. Agora é isso, né. Deita aqui no meio, querida.

Petrônio, incomodado, espremido em um canto da cama, não consegue dormir.

— Escuta, amor, se eu for lá no seu quarto com você e mostrar que não tem fantasma nenhum, você volta pra sua caminha?

A menina não se interessou pela proposta.

— Como você vai mostrar que um fantasma não está lá? Eles são invisíveis.

— Então, como você viu o fantasma? — Petrônio achou que tinha dado um xeque-mate.

— Eu vi uma sombra escura. Depois não vi mais. Não volto pra lá, de jeito nenhum.

— Então, para provar que isto é uma bobagem, eu vou dormir na sua cama.

— Tá bom.

Ele saiu do quarto carregando seu travesseiro, ligeiramente irritado por ter perdido seu lugar e pela injustiça de Lucélia. A menina gostava de suas histórias, oras.

Entrou no quarto da filha, todo rosa, branco e babados. Deitou-se na cama macia e ajeitou a cabeça no próprio travesseiro. Só conseguia dormir com seu travesseiro perfeito, de altura ideal, nível máximo de maciez, plumas de gansos dinamarqueses e que tanto custou a achar. Mas, pouco antes de fechar os olhos, viu o que só podia descrever como a sombra escura de uma criança, a seu lado, na cama. Pulou para fora, com quase certeza de ouvir um grito agudo que nem era seu. Sem pensar em nada, correu de volta para o quarto onde a filha dormia profundamente e a mulher despertava com sua entrada apressada sob as cobertas.

— Que foi, Petrônio? Não ia dormir no quarto rosa?

— Não, não… achei melhor ficar aqui com vocês. Ela pode estar assustada ainda.

— Ela está bem. E o seu travesseiro?

— O meu o que? Ah, esqueci lá. Não tem importância.

— Não tem importância? Você já voltou vinte quilômetros só para buscar o bendito travesseir…

— Depois eu pego. E, Lucélia…

— Sim?

— Me abraça?

***

A casa era tudo de que Bibiana precisava. Simples e isolada. Simples, para ser o mais diferente possível de sua outra vida. E isolada, para que não chegasse a seus ouvidos ou aos ouvidos das crianças as fofocas sobre a morte de Adalberto. As pessoas podiam ser incrivelmente cruéis. De pé, na varanda, olhava ao redor. Não havia outra casa ao alcance da vista. Além deles, só havia a floresta e a estrada por onde vieram. Era perfeito.

De repente, ouviu Filipa gritando no andar de cima. Correu, o coração saltando, abriu com estrondo a porta do quarto das crianças. Viu a filha sentada na cama, ensopada, a roupa colada ao corpo, os cabelos pingando sobre os olhos, chorando e gritando. Gregório encostado na parede, de olhos esbugalhados.

— O que aconteceu aqui? De onde veio essa água toda? Foi você, Gregório?

O menino sempre foi extremamente protetor em relação à irmã. Porém, eram somente ele e ela no quarto. Quem mais poderia ter feito aquilo?

— Não! Eu não fiz nada! Foi a sombra.

Filipa tremia, apavorada.

— Que sombra, Greg? Do que você está falando?

— A sombra, veio uma sombra e ela gritou e jogou água na FIlipa.

— Chega, Gregório! Pare de inventar coisas! Sei que você não quer ficar aqui. Mas nós vamos ficar, porque não temos opção e porque eu estou mandando. Não adianta inventar histórias absurdas.

— Por que você não enxerga, mamãe?

— O que eu não enxergo, filho? O que você quer que eu enxergue?

Gregório abriu a boca, mas não conseguiu pronunciar palavra. Filipa, que há tanto tempo não emitia um som, sentou-se muito ereta sobre sua cama, parou de chorar e dizia, em voz alta e despida de emoção:

— … militiae caelestis, satanam aliosque spiritus malignos, qui ad perditionem animarum pervagantur in mundo, divina virtute in infernum detrude.

— O que, filha? O que você está dizendo?

Sancte Michael Archangele, defende nos in praelio, contra nequitias et insidias diaboli esto praesidium: Imperet illi Deus…

— Filipa…

… supplices deprecamur, tuque, Princeps militiae caelestis, satanam aliosque spiritus malignos, qui ad perditionem…

— Pare, filha!

… animarum pervagantur in mundo, divina virtute in infernum detrude.

— Pare! Pare!

Filipa calou-se, a cabeça desabou para a frente, como se seu peso fosse demais para o pescoço. Estava pálida, gelada e muito fraca. Bibiana despiu a filha, envolveu-a em uma toalha grossa e a esfregou com força. Vestiu-a com roupas limpas e quentes e a menina pareceu lentamente voltar a seu normal. Uma bolha de silêncio.

— O que aconteceu, FIlipa? Conte. Você estava falando até agora. Fale, conte.

A menina se limitava a olhar dentro dos olhos da mãe, o rosto perfeitamente angelical e sereno. Se não fosse pela cama encharcada, nada demais parecia ter acontecido. Bibiana olhou para o filho, inquirindo, esperando por uma explicação.

— Não fui eu. Foi a sombra. Estamos em perigo. Você precisa enxergar logo.

***

— Petrônio, quem são estas pessoas?

— São uns amigos da igreja.

— Que igreja, homem? Você só bota os pés em igreja em casamentos. Eu não sou uma pessoa religiosa, mas perto de você sou quase uma beata.

— Só porque não vou à igreja não significa que eu não seja um homem de Deus.

— Homem de Deus? Essa é boa. Quais são os sete pecados capitais?

— Que sete pecados, Lucélia? Essa é boa! E, capitais? Você sabe que sou péssimo em geografia.

— Todo bom cristão sabe. Vamos, vou te ajudar com um: gula.

— E gula é pecado, por acaso? Você tá inventando isso só porque comi metade do bolo de coco sozinho.

— É, você é mesmo um homem de Deus.

— Sabe o que é pecado, Lucélia? E grave? “Implicar com seu pobre marido”.

— Ah, que heresia! Mas, enfim, o que os seus amigos da igreja vieram fazer aqui?

— Que é isso, querida, que falta de hospitalidade é essa? Hospitalidade é uma lei sagrada.

— Amigos da igreja, lei sagrada… o que está acontecendo aqui?

— Andei pensando e acho que estamos muito afastados de Deus. Resolvi mudar, me aproximar do Senhor.

— É sério isso, Petrônio?

— É sério.

— Sério?

— Sério.

— Sério mesmo?

— Ô, Lucélia. Que falta de fé em mim!

Lucélia suspirou.

— Bom, eu não acho uma má ideia, para falar a verdade. Só não sei que bicho te mordeu. O problema é que você não me avisou que seus amigos viriam hoje e eu não preparei nada. Além disso, tenho ioga daqui a pouco, não quero cancelar.

— Sem problema, querida. Não precisa se preocupar, faço um cafezinho, sirvo o que sobrou daquele bolo de coco delicioso que você fez e pronto. Deixa comigo.

— E vai lavar a louça depois?

— Vou, meu amor, vai tranquila. Tá tudo certo. — Petrônio foi falando enquanto a guiava sutilmente para a porta e lhe entregava sua bolsa e o ioga mat.

Assim que a porta se fechou, virou-se para os visitantes que aguardavam na outra sala.

— Padre, podemos começar.

— Onde o evento ocorreu? — perguntou padre Custódio, enquanto dobrava a manga da camisa.

— Lá em cima, no quarto de minha filha.

Petrônio conduziu o grupo, composto pelo padre e dois ajudantes, até o quarto da menina. Lá, o sacerdote abriu uma bolsa e começou a tirar alguns objetos. Três livros pesados, poeirentos e com cara de muito antigos. Um pote grande de vidro com água — “água benta”, explicou — e um crucifixo de madeira. Enquanto isso, Petrônio aproveitou para resgatar seu travesseiro querido e levá-lo correndo até seu quarto.

O padre explicou o processo. Primeiro, atrairiam o espírito, depois o enfraqueceriam com orações e água benta até que ele sucumbisse.

— Vamos matar um fantasma? — Petrônio mal conseguia conter a ansiedade. E o medo.

— É impossível matar fantasmas. — Explicou paciente e condescendentemente um dos ajudantes.

O padre prosseguiu.

— Como ia dizendo, primeiro, precisamos descobrir com o que estamos lidando. Se é apenas uma alma perdida, ela pode ser encaminhada para o inferno.

— Inferno? Coitada. — Afinal, era só uma criança, pensou Petrônio.

— Se está perdida, só pode pertencer ao inferno. As almas que pertencem ao paraíso não se perdem. Agora, se for um demônio, teremos mais trabalho, dependendo do poder que ele tiver. Mas, não vamos nos precipitar. Precisamos, primeiro, atrai-lo.

— Eu preciso estar aqui?

— Com certeza. Ele se revelou para você, deve ter tido alguma razão.

— Quer que eu o atraia?

— Sim, claro.

— Como uma isca? — Esta pergunta saiu um tanto aguda, quase em falsete, enquanto Petrônio se imaginava como uma gorda minhoca espetada por um anzol. Engoliu em seco.

— Estaremos aqui. Você está seguro.

Petrônio, focando no fato de que precisava recuperar sua cama e sua privacidade marital, conseguiu driblar o medo, inclinou-se e começou a chamar:

— Psiu, psiu, psiu.

— O que está fazendo?

– Estou tentando chamá-lo.

O padre e seus assistentes se olharam. Aquele trabalho ia ser difícil.

— A menos que seja o fantasma de um gato isso não vai funcionar. O que estava fazendo quando ele apareceu?

— Ela. Tenho quase certeza de que era o vulto de uma menina. Enfim, eu estava me deitando na cama.

— Pois então, faça o mesmo.

Relutante e tentando não mostrar o pavor que sentia, ele subiu na cama e se deitou, esperando que não estivesse, de alguma forma, deitando sobre o fantasma. E então, aconteceu. Pareceu enxergar um vulto, deitado a seu lado. Saltou de lado, com um grito estridente e, tomando o vidro de água benta das mãos do padre, lançou tudo sobre a sombra.

— Não! O que pensa que está fazendo? — gritou o padre Custódio.

O vulto tornou-se parcialmente visível a todos. E totalmente audível. Ela chorava e gritava, assustada. Um dos assistentes do padre abriu rapidamente um dos livros e passou a orar, repetindo palavras em latim.

Sancte Michael Archangele, defende nos in praelio, contra nequitias et insidias diaboli esto praesidium: Imperet illi Deus, supplices deprecamur, tuque, Princeps militiae caelestis, satanam aliosque spiritus malignos, qui ad perditionem animarum pervagantur in mundo, divina virtute in infernum detrude.

— Boa escolha, irmão. A Oração de São Miguel Arcanjo. — O padre e o outro ajudante se uniram a ele, repetindo várias vezes as mesmas palavras, até que o espírito se sentou ereto na cama e passou a repeti-las também. Por fim, a imagem foi enfraquecendo até sumir.

— Filho, felizmente tratava-se apenas de um espírito vagante, já meio enfraquecido. Filho?

A voz de Petrônio se fez ouvir, distante e abafada.

— Ela já foi embora, padre?

— Foi. Onde está você?

A porta do quarto se abriu e surgiu um trêmulo Petrônio.

— Você fugiu e nos trancou aqui dentro?

— Não, claro que não… eu fui procurar por mais água benta. Só fechei a porta porque…  porque, é… para não deixar o fantasma fugir.

— Entendo. Como eu explicava, era apenas um espírito vagante.

— Vagante?

— Sim. Não é perverso, não há malícia ou maldade nele. Ele poderia estar no paraíso, mas, por algum motivo, não foi para junto do Senhor. Certamente, está ligado a alguém ou algum lugar.

— Ótimo, ótimo. Fico feliz em saber. Mas afinal, ela vai aparecer novamente?

— É difícil dizer. Ela não estava atrás de você. Em alguns lugares, a separação entre o nosso mundo e o dos mortos é mais tênue. É o caso deste quarto. Um movimento, uma aproximação maior e eles se tornam visíveis.

— Ah não. Aí não! A Margot nunca mais vai sair da nossa cama desse jeito e vai acabar sendo filha única.

— Neste caso, talvez seja bom se mudarem.

— Nem pensar.

O padre pensou por um tempo e abriu outro dos livros que trouxe. Procurou por uma página, leu com atenção e, por fim, disse:

— Podemos tentar uma cerimônia antiga para fechar estes pontos de esgarçamento entre os mundos. Será preciso estar toda a família reunida. Vinte e uma velas brancas. E um pouco de pólvora.

***

— Gregório! Filipa!

— O que foi, mãe?

— Onde está sua irmã?

— Não sei.

— Ela sumiu.

Nadja apareceu na porta.

— Não deve ser nada, dona Bibiana. Ela deve ter saído para explorar o bosque.

— Ela jamais sairia sem avisar. Filipa!

Nadja e Gregório se entreolham por um longo momento. Por fim, o menino estende à mãe um maço de jornais.

— Mamãe, você precisa enxergar. Não podemos esperar mais.

Aflita, Bibiana abre um dos jornais e lê a manchete. “Tragédia na Rua das Acácias. Banqueiro Adalberto Delmonte mata a família e se suicida”. Como assim? Com mãos trêmulas, abre outro, em que lê o mesmo, chocada. Há também uma foto do escritório, com quatro corpos cobertos no chão. Sua cabeça girava.

— Não é verdade. Não é. Não é possível. Como pode?

— Do que você se lembra, mamãe?

De ver Adalberto segurando a arma, do sangue, do estampido. Da arma apontada para ela. Do vermelho nas paredes. Três estampidos. Do impacto. Do escuro. Da dor e do sangue quente em suas mãos. De estarem andando na estrada em busca de um lugar. Filipa nunca mais disse nada, parecia ausente. Gregório sempre com raiva. Ela enxergou, enfim e agora não podia mais mentir para si mesma. Olhou para Nadja. E agora?

— A estrada acaba aqui. O resto do trajeto é pelo bosque. Mas não tema. A trilha é fácil e bem demarcada.

Gregório estendeu-lhe a mão.

— Vamos, mãe? Filipa foi na frente. Ela já devia ter ido há muito tempo.

Bibiana levantou-se, alisou o vestido, pegou a mão do filho e seguiu com ele, até sumir na floresta fresca e luminosa.

***

Caminhavam pela estrada, cansados, pareciam estar andando há dias. Lucélia só conseguia andar movida pelo ódio.

— Não acredito, Petrônio.

— Calma, querida. É temporário.

— Temporário? Nossa casa virou um monte de cinzas… a casa que herdei de tia Bibiana, que nem conheci. E demos muita sorte, ainda. Nem sei como conseguimos sair a tempo. Pólvora e velas. Que ideia idiota. Por que fui dar ouvidos a você? Perdemos tudo, só restou esta malinha. E seu maldito travesseiro, claro.

Lucélia estava cheia de razão. Ele sabia disso. Consertaria tudo, mas precisava de tempo.

— Encontrei uma casa disponível para temporada. Meio isolada, mas parece boa, agradável. Vamos ficar lá até eu conseguir planejar os próximos passos. Pense nisso como férias em família.

Margot seguia seus pais. Não falou quase nada desde que se salvaram do incêndio. Por isso, se surpreenderam ao ouvi-la questionar:

— Por que precisamos vir aqui? Quero ir para casa.

O pai olha para a menina.

— Chega, Margot. Já falamos sobre isso.

— Não falamos, não.

— Olha, chegamos. — Interrompeu Lucélia, observando a casinha logo depois da curva, no fim da estrada, e admirando a alvura das paredes e o gramado bem cuidado.

Aproximaram-se da porta.

— Vocês não enxergam, não é mesmo?

As palavras da menina deixaram-nos aturdidos por um instante. O que ela queria dizer com aquilo? Antes que pudessem questioná-la, a porta se abriu e surgiu uma mulher alta, magra e muito séria.

— O senhor deve ser o senhor Petrônio. Sou Nadja e cuido da casa. Sejam bem vindos.

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

23 comentários em “A Casa no Fim da Estrada (Kelly Hatanaka)

  1. Gustavo Araujo
    16 de abril de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Achei bem divertido o conto, especialmente o núcleo do Petrônio, com os diálogos ágeis e naturais. O núcleo da Bibiana é mais soturno e a vibe lembra bem o filme “Os Outros”. Por isso acabei intuindo que eles estavam mortos logo no início, mas isso não tirou a força da história justamente por conta da parcela cômica. No fim é um conto mais engraçado do que assustador. Para quem, como eu, prefere graça ao medo, a experiência é das melhores. Parabéns.

  2. Bruno de Andrade
    5 de abril de 2025
    Avatar de Bruno de Andrade

    Oi, Kelly!

    Vou separar meu comentários em pontos positivos e negativos:

    Positivos: Gosto do clima leve que você deu para a narrativa. O humor empresta um frescor a um enredo que, de outra forma, soaria algo batido. Achei interessante que você tenha dado um clima diferente para cada história e elas se entrelaçam de forma orgânica. Também gostei do Petrônio, um personagem divertido, fácil de simpatizar e até de se identificar.

    Negativos: Passaram alguns erros de revisão, alguns até bobos, como bem-vindos sem hífen e um atraí-lo sem acento. Rolou até um hífen no lugar de um travessão. Não são erros que comprometem seriamente o texto, mas dão uma cara de revisão apressada.

    O maior problema, porém, são as variações temporais. O texto começa no presente, então vai para o passado e vez por outra tem algum escorregão de volta para o presente. Não há nenhuma justificativa narrativa para isso. Também faltou o uso do mais que perfeito em alguns momentos em que ele era necessário. Assim, a escrita fica comprometida.

    Como disse antes, gosto de que cada parte tenha sua própria atmosfera. Porém, creio que uma delas – a da comédia – funcionou bem melhor do que a outra. Os momentos de drama e tensão não têm tanto impacto, até por seu desenvolvimento superficial. O humor funciona melhor, até porque você abraça um tom meio pastelão, onde esse pouco desenvolvimento dos personagens não atrapalha. Acho que se você apostasse 100% no terrir, o resultado seria melhor.

    Alguns clichês, como o da empregada misteriosa, poderiam ser evitados ou subvertidos. Seria legal fazer graça com eles.

    O final é algo previsível e você já tinha utilizado um recurso bastante similar em outro conto, o Circular. Isso não desabona o texto, mas é interessante reparar na repetição de ideias.

    Conclusão: é um texto leve, despretensioso, de leitura rápida. O começo é um tanto confuso, mas cresce quando entram os elementos de humor. Tem seus probleminhas de escrita e nem todas as piadas funcionam. O final deixa um pouco a desejar, ainda que seja funcional. Mas é uma leitura agradável.

    Se eu tivesse que dar uma nota de zero a cinco, seria quatro.

  3. Priscila Pereira
    31 de março de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Kelly, amei o conto, muito divertido! Amei a parte do exorcismo 😅

    Criatividade e escrita excelentes como sempre! 😘

  4. Bia Machado
    29 de março de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Enredo/Plot: 1/1 – Um enredo que me lembrou muito o do filme Os Outros, do qual gostei muito, em relação à primeira parte. Gosto desse estilo de terror, só não senti muito medo porque já esperava que fosse como o filme. Não está idêntico, claro, mas tem a mesma premissa. Até o casal de filhos… Que bom que depois acrescenta um plot bem interessante.

    Criatividade: 1/1 – Você deu um toque pessoal ao texto, acho que se manteve à proposta da sua narrativa.

    Fluidez narrativa: 1/1 – Conto longo, mas que pra mim foi tranquilo de ler, acredito por ter sido bem narrado.

    Gramática: 1/1 – Se havia algo para arrumar, não percebi.

    Gosto/Emoção: 1/1 – Eu gostei bastante, gosto desse estilo. Não tenho muito mais a dizer, seu conto foi uma ótima leitura. Parabéns e que tenha boa sorte no desafio.

  5. Fabio D'Oliveira
    29 de março de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas, Nadja!

    Esse conto tem elementos que me lembram um dos meus filmes favoritos, Os Outros, de 2001, com Nicole Kidman. Porém, menos sutil, menos elegante.

    O conto trabalha com alguns elementos um pouco duvidosos. Toda a sequência do padre não convence, por exemplo. Parece uma seção de exorcismo, mas é apenas um banimento espiritual. A sugestão final do padre. Fechar portais? Velas brancas e pólvoras? Você queria preparar o cenário para uma tragédia, mas não conseguiu fazê-lo de forma natural. Também não gostei muito do final. A morte da família toda num incêndio causado pelo ritual antigo me pareceu absurda demais.

    Em linhas gerais, o conto trabalha com ideias legais, mas você manipula tanto o cenário para que as coisas aconteçam da forma como você pensou que, querendo ou não, o texto é mecânico, sem vida própria. As falas parecem ensaias, os atos dos personagens não parecem orgânicos.

    O tema está presente, sim, apesar da troca de foco narrativo entre as famílias dispersar um pouco a tensão que foi construída antigamente.

    Particularmente, não desgostei totalmente do conto. Acabou me lembrando um pouco de Os Outros. O isolamento, a confusão, etc. Você é criativa, Nadja, mas tenta desenvolver histórias mais simples e deixa tudo fluir naturalmente.

    Um abração!

  6. Andre Brizola
    29 de março de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Nadja!

    Primeiramente, acho que o conto foi muito bem escrito. Gosto desse recurso circular, do enredo “não terminado”, algo meio A Torre Negra, do Stephen King. Os recursos utilizados foram muito bem empregados para misturar o terror com o bom humor, gerando um texto agradável e leve, mesmo com um tanto de latim.

    Tecnicamente achei que o texto é muito bem amarrado. A narração em duas linhas paralelas funcionou muito bem, com a “conversa” entre as duas alimentando a trama de forma engenhosa. É um recurso estilístico que não é fácil de utilizar e, quando utilizado, nem sempre gera bons resultados. Aqui ele parece ter sido bastante simplificado, de modo a gerar o efeito menos complicado possível, e funcionou direitinho.

    Gramaticalmente também achei que o texto funciona bem. Não há nada que eu tenha enxergado que tenha prejudicado minha leitura. Estruturalmente, entretanto, achei que os parágrafos explicativos do começo do conto são um pouco densos demais, acumulando descrições em cima de descrições. E o foco em personagens diferentes dentro do mesmo parágrafo sempre gera alguma confusão, então minha sugestão é sempre evitar esse tipo de construção quando for descrever.

    No quesito originalidade, acho que os únicos pontos favoráveis são o fato de ter misturado o terror com o humor, e o final com o tema circular, pois o enredo é o mesmo de Os Outros, excelente filme de 2001 de Alejandro Amenábar. Caso o autor não conheça o filme, deixo a sugestão, pois é realmente muito bom (e é o mesmo argumento deste conto).

    No geral, acho que é um conto que agrada por ir no sentido da comédia, deixando o terror em segundo plano. Mas sinto falta da originalidade o que, pra mim, é primordial quando o assunto é terror ou comédia.

    É isso, boa sorte no desafio!

  7. claudiaangst
    28 de março de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Uma história de terror com fantasmas? Não sei se entendi bem, mas todo mundo morre no final? A casa cuidada por Nadja é um portal do outro plano? Fiquei confusa quanto ao parentesco entre Bibiana e Margot. No começo, Bibiana pensa – “tinha a casa da desconhecida e misteriosa tia Margot (filha de Petrônio e Lucélia?), que há muito tinha lhe ficado como herança.” Mas adiante, Lucélia diz: Nossa casa virou um monte de cinzas… a casa que herdei de tia Bibiana, que nem conheci.” Ou seja Bibiana (sobrinha de Margot, mãe de Gregório e Filipa) era tia de Lucélia. Mas Margot não era filha de Lucélia? E também era tia de Bibiana? Tô perdida!

    Mas gostei do conto, uma mistura dos filmes O Exorcista e Os Outros. Mais um(a) autor(a) que irá me avaliar na próxima etapa,, pois acredito que permanecerá na série A.

  8. Raphael S. Pedro
    28 de março de 2025
    Avatar de Raphael S. Pedro

    O conto até sua última parte não apresentou algo novo ou que tirasse o fôlego. A bem verdade, achei bem semelhante a alguns filmes e lembrei bastante do até recente “Exorcista do Papa”. Sobre isso, entra a dificuldade que vejo em inovação no ramo terror, parece que já foi tratado sobre todos os temas, então fica difícil exigir muito quanto à originalidade, cabendo análise em relação a como um tema foi revisitado.

    Sobre o final, onde há o plot, acredito que foi bem tratado, apesar de não ter sentido muita tensão na leitura. A interpretação que dei à casa, ao caminho, etc., é de uma espécie de purgatório para os personagens que só aí apresentam o ponto comum.

    A escrita é muito boa, a descrição dos personagens e ambientes condizem com a limitação de palavras para os contos.

    Parabéns, desejo sorte!

  9. Thiago Lopes
    27 de março de 2025
    Avatar de Thiago Lopes

    Eu gostei da ideia do conto. Mesmo a estrutura sendo comum nesse tipo de história (em filmes como “Os outros” e “O sexto sentido”), ainda sim gerou o efeito de reviravolta. Também gostei das cenas de comédia, porque dá uma quebrada no gênero.  

    Talvez um ponto a se trabalhar seja a criação de cenas mais reais, com diálogos mais reais. Há momentos, por exemplo, de diálogos pouco convincentes; outros momentos em que ficou bem claro que as personagens e cenários são frutos da imaginação do autor. Sei que isso é subjetivo, mas foi como soou para mim. 

    Há pequenas frases e pontos que, aos poucos, fazem o texto perder força, como, por exemplo, dizer que menino não chora. É uma frase comum e batida, que tira a complexidade da personagem e da caracterização psicológica. Outra coisa que faz o texto perder força é o juízo do narrador, como esse “Lá, o sacerdote abriu uma bolsa e começou a tirar alguns objetos. Três livros pesados, poeirentos e com cara de muito antigos”.  Eu não consegui formar uma imagem mental, porque você não mostrou os livros de modo que eu inferisse que são pesados e cheios de poeira, não senti o peso deles nem enxerguei a camada de poeira incrustada. 

    Mas é bom, bem escrito, conduz muito bem o leitor. Essa condução é uma das coisas mais difíceis de se fazer. 

    Os pontos fortes para mim então são: percepção de uma estrutura; tentativa de misturar gêneros e registros; condução do leitor. 

  10. Leo Jardim
    27 de março de 2025
    Avatar de Leo Jardim

    📜 TRAMA (⭐⭐⭐▫▫): uma família se muda para uma casa assombrada depois de uma tragédia na família. Uma segunda história em paralelo, sobre fantasmas também, que acabamos descobrindo que se cruzam, pois a primeira família estava morta e assombrava a segunda. No fim, a segunda família também morre e vai para a casa, que parece ser um local de transição entre a vida e a morte. Uma boa história, mas que me confundiu de um jeito não tão bom durante a leitura.

    📝 TÉCNICA (⭐⭐⭐▫▫): percebi algumas variações verbais sem motivo visível na história. Isso gera uma confusão de tempo verbal e dá uma travada na leitura. Fora isso, conduz bem a narrativa.

    ▪ mãe olha para o menino … Bibiana pegou a mão do filho (variação verbal)

    ▪ Nadja e Gregório se entreolham por um longo momento. Por fim, o menino estende à mãe um maço de jornais (variação verbal)

    ▪ não é tão mau, não é? (o correto seria “não é tão mau, é?”)

    ▪ a pontuação no diálogo está errática (veja link abaixo)

    🎯 TEMA (⭐⭐): tem fantasma (terror) e um cara medroso (comédia)

    💡 CRIATIVIDADE (⭐▫▫): parece um pouco a ideia de “Os Outros”, com Nicole Kidman.

    🎭 IMPACTO (⭐⭐⭐▫▫): não chegou a me impactar tanto, a parte do terror não gerou medo ou outra sensação, mas valeu uns risos na parte da comédia. Senti falta também de um pouco mais de desenvolvimento emocional da primeira família. Sofreram um trauma grande, que foi mais dito que mostrado. Achei a ideia boa, mas a execução com alguns percalços que incomodaram ou travaram um pouco.

  11. bdomanoski
    23 de março de 2025
    Avatar de bdomanoski

    O conto está bem escrito, plot bem construído no geral (com a pequena exceção da confusão no fim sobre eles saírem da casa e retornarem pra mesmíssima casa, mas isso posso deixar de menos, já q poderia haver N explicações para tal e é muito procurar pelo em ovo ) A história é redondinha, tudo nos trinques. Mas foi exatamente esse excesso de perfeição e harmonia, tudo fechando redondinho que me desagradou. Não teve como não associar esse conto ao filme Os outros, talvez adicionando o artificio do loop final para diferenciar os 2 . Não é culpa do autor, eu mesmo n tinha percebido que existem filmes c um impacto tão forte q acabamos associando ele a histórias, e aí a história já não é ela própria, mas algo q parece com outra história, muito mais impactante, tanto que essa outra história impactante apaga o próprio nome do conto e faz c que ele seja conhecido como “o conto igual o filme Os Outros “.Faltou algo surpreendente na história, uma novidade, algo que pudesse sair do lugar comum ou do previsível. Não teve, mas se tivesse seria um risco pq a história não terminaria tão harmônica e redondinha/perfeitinha. Portanto aceito o conto como é, compreendendo os motivos do autor. Porém outros contos q ousaram mais no certame acabaram ganhando mais meu favorecimento, pois suscitaram o brilho nos olhos.

  12. Jorge Santos
    20 de março de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá autor(a). Gostei do seu conto, mas creio que poderia ter gostado mais, não fossem alguns problemas que encontrei no caminho. Adiante: estamos perante uma história de fantasmas, muito próxima da história do filme The Others. No entanto, vai mais além. Enquanto que o filme se centra na separação dos dois planos, dos mortos e dos vivos, dando ênfase aos mortos, neste conto a separação surge de forma mais confusa. A questão dos nomes, Bibiana e Margot, que se entrelaçam nas linhas narrativas de duas famílias, é um pormenor que apenas complica o entendimento da história, sem trazer nenhuma mais valia à narrativa. Depois da morte do marido, Bibiana refugia-se na casa da tia Margot, que depois aparece no plano dos vivos como criança na casa da tia Bibiana.

    Creio ter entendido a noção do ciclo, vida-morte, a casa no fim da estrada como um passo antes da ida para outro plano. Encontrei uma referência a Nadja numa pesquisa na Internet (wikipedia forever). É uma personagem numa série de terror, uma mulher-vampiro com 500 anos, um espírito que vive entre os dois mundos. A coincidência dos nomes não deve ser coincidência.Quanto ao conto, gostei da ideia, que tinha bastante potencial. Faltou simplificar. Por vezes, devemos deixar de lado elementos que apenas complicam a narrativa. Para além disso, encontrei alguns problemas de pontuação que dificultaram a leitura.

  13. Jorge Santos
    20 de março de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá autor(a). Gostei do seu conto, mas creio que poderia ter gostado mais, não fossem alguns problemas que encontrei no caminho. Adiante: estamos perante uma história de fantasmas, muito próxima da história do filme The Others. No entanto, vai mais além. Enquanto que o filme se centra na separação dos dois planos, dos mortos e dos vivos, dando ênfase aos mortos, neste conto a separação surge de forma mais confusa. A questão dos nomes, Bibiana e Margot, que se entrelaçam nas linhas narrativas de duas famílias, é um pormenor que apenas complica o entendimento da história, sem trazer nenhuma mais valia à narrativa. Depois da morte do marido, Bibiana refugia-se na casa da tia Margot, que depois aparece no plano dos vivos como criança na casa da tia Bibiana.

    Creio ter entendido a noção do ciclo, vida-morte, a casa no fim da estrada como um passo antes da ida para outro plano. Encontrei uma referência a Nadja numa pesquisa na Internet (wikipedia forever). É uma personagem numa série de terror, uma mulher-vampiro com 500 anos, um espírito que vive entre os dois mundos. A coincidência dos nomes não deve ser coincidência.Quanto ao conto, gostei da ideia, que tinha bastante potencial. Faltou simplificar. Por vezes, devemos deixar de lado elementos que apenas complicam a narrativa. Para além disso, encontrei alguns problemas de pontuação que dificultaram a leitura.

  14. paulo damin
    20 de março de 2025
    Avatar de paulo damin

    Texto acho que bem dentro do terror clássico, com tentativas humorísticas. O entrelaçamento das histórias funciona, vai dando dicas, mas só se revela mesmo no fim, como tem que ser. Apenas senti que os nomes das personagens podem confundir. Não sei a diferença entre Lucélia, Filipa, Nadja, Margot, nem entre Petrônio, Adalberto, Gregório, assim como não saberia discernir entre um José e um João. Quero dizer que são nomes de um mesmo campo, remetem a figuras parecidas. Nesse caso, soam todos como paródia. Pode ser de propósito, tudo bem. Mas, nesse caso, acho que enfraquece tanto o efeito de terror quanto de humor.

  15. Cyro Fernandes
    18 de março de 2025
    Avatar de Cyro Fernandes

    Texto de ótima técnica e bem criativo.

    O tempo não linear proporciona um mistério ao terror.

    O sofrimento da personagem Bebiana, retirante com seus filhos, rumo a casa herdada é comovente.

  16. Fabiano Dexter
    13 de março de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    Estou organizando os meus comentários conforme irei organizar as minhas notas, buscando levar para o autor a visão de um Leitor regular e assim tentar agregar algum valor. Assim a avaliação é dividida em História (O que achei da história como um todo, maior peso), Tema (o quanto o conto está aderente ao tema), Construção (Sou de exatas, então aqui vai a minha opinião geral sobre a leitura como um todo) e Impacto (o quanto o produto final me impactou)

    História (1,5)

    Descrever a história aqui é fácil: Os Outros. Só que contado de uma forma extremamente leve e irreverente, que dá prazer em ler. Da primeira vez que ocorre a troca de cenários eu fiquei um pouco confuso, tentando entender o que havia acontecido e qual seria a relação entre as duas famílias, já que os nomes não eram comuns para termos uma relação de passado/presente, mas logo a situação é explicada de forma clara e tudo se fecha muito bem.

    Tema (1,0)

    Um excelente conto de humor que, por coincidência, também tem espíritos e morte.

    Construção (1,5)

    As situações e os diálogos são muito bem construídos, me fazendo rir mais de uma vez. A atenção aos detalhes e às situações cômicas foram muito bem encaixadas no todo, de modo que a piada não destoa, não é forçada.

    Impacto (1,0) Que conto gostoso de se ler! Adorei os nomes, cenários e personagens. Parabéns!

  17. José Leonardo
    13 de março de 2025
    Avatar de José Leonardo

    Olá, Nadja.

    Tendo em vista as minhas limitações técnicas para apreciar melhor o seu conto e de modo a tentar esquentar meus comentários que acho um tanto insossos, decidi convocar, por meio de um ritual de fervura de miojo de tomate com leite coalhado e digitação de Zerinho-um no MS-DOS, a FRIACA® (Falsa Ruiva Inteligente Auxiliar para Comentários e Avaliações) para me ajudar nessa bela empreitada e proporcionar a melhor avaliação possível acerca do seu texto (dentro da minha perspectiva de leitor). 

    FRIACA: Do que se trata o conto?

    R.: O tema das casas assombradas durante gerações, seus “habitantes” e também seus “guardiões” (que parecem etéreos). 

    FRIACA: Como você vê a narração, o estilo, a estrutura, a técnica?

    R.: A alternância dos blocos de texto à guisa de capítulos deu mais agilidade à narração e é um dos pontos altos de sua história, Nadja. Além disso, ajudou a sustentar certo mistério que envolvia a primeira família apresentada (embora possamos saber o que aconteceu com ela, acredito que não era intenção do autor esconder a triste verdade, mas sim potencializar algum efeito dramático de cena advinda dela).Os diálogos são muito bons e rendem até umas risadinhas (quando Lucélia interage com o marido).

    Contudo, preciso pontuar que não vislumbrei verossimilhança nos argumentos do padre acerca do mote da “possessão” – a menos que o texto me desse alguma indicação específica sobre o perfil ou as crenças desse sacerdote, que podem pairar numa mistura com o espiritismo, esoterismo ou outros. Expressões como “pontos de esgarçamento entre os mundos” e “espíritos vagantes”, de fato, não me soaram muito verdadeiros vindo de quem vieram… 

    FRIACA: E quanto à adequação ao tema, à criatividade e ao impacto?

    R.: Plenamente adequado. Pareceu-me inspirado no filme “Os Outros” mas com desenvolvimento próprio. Ademais, Nadja, em sendo a personagem que narra, lembrou-me também “O Morro dos Ventos Uivantes” e sua presença na história (especialmente quanto a perpetuar oralmente os acontecimentos daquelas famílias). 

    Não posso precisar quanto ao impacto, mas o enredo está bem desenvolvido e soube o(a) autor(a) nos levar para o ponto que queria.

    FRIACA: Indo um pouco mais a fundo nesse particular e apesar do aspecto subjetivo do que a história pode causar no leitor, é um conto para dar risadas ou aterrorizar-se?

    R.: É um conto de atmosfera, de leve esquentar para cenas que assustam. Uma boa jornada, sim, aqui.

    FRIACA: Qual sua posição final sobre esse conto, inclusive sobre a nota?

    R.: Ressalvados alguns aspectos que abordei anteriormente, é um conto acima da média, bem narrado e com diálogos ágeis, cujo escopo de enredo poderia render ainda mais páginas se o(a) autor(a) não estivesse limitado(a) pela imposição de palavras do desafio. É o tipo de conto que eu leria fácil se tivesse o dobro do tamanho. Nota: 4,4.

    Parabéns pela estória e boa sorte neste desafio.

  18. rubem cabral
    12 de março de 2025
    Avatar de rubem cabral

    Um conto bem escrito e com uma história bem amarrada. Como sou leitor calejado do gênero terror, sem presunção, posso dizer que já tinha adivinhado o “mistério” sobre a casa e sua cuidadora.

    Foi bem bacana ter conseguido inserir as histórias em paralelo e costurar tudo depois, lembrou-me um pouco o filme “Os Outros”.

    Como crítica, posso dizer que os momentos um pouco humorísticos presentes principalmente em alguns diálogos quebraram um pouco o clima necessário para uma boa história de terror.

    Parabéns pelo bom conto e boa sorte no desafio!

  19. Afonso Luiz Pereira
    11 de março de 2025
    Avatar de Afonso Luiz Pereira

    Este conto apresenta uma abordagem peculiar ao transitar entre o terror e um humor sutil, mas sem se firmar completamente no terrir (humor negro dentro do gênero de terror). Quando a narrativa foca a família de Bibiana, a atmosfera se constrói de maneira sombria, com elementos tradicionais do horror e uma tensão crescente. Gostei muito desta parte.

    Realmente fiquei atento à história, pois me fisgou nos primeiros parágrafos. Gosto do gênero terror. No entanto, quando o foco se desloca para Petrônio e sua família, senti uma quebra, há uma mudança notável de tom: o medo se mistura a momentos cômicos, especialmente com as desculpas hilárias de Petrônio para não ficar no quarto assombrado durante o exorcismo, ou as discussões fúteis, muito comum entre casais.

    O conto, então, flerta com a mordacidade característica do terrir, mas sem mergulhar completamente nesse estilo. O resultado é uma experiência literária curiosa: nem puramente terror, nem comédia escrachada, mas que sem dúvida cumpre os temas proposto pelo certame. O enredo tinha potencial para seguir um caminho mais sombrio, semelhante ao de “Os Outros” ou “O sexto sentido, mas a autora (Nadja) optou por trazer leveza e um certo ar de diversão à história. Isso pode dividir opiniões, mas, sem dúvida, cria uma leitura envolvente e inesperada.

    O texto está bem escrito, com uma fluidez que mantém o leitor “ligado” na história. A alternância entre os dois núcleos familiares funciona bem e dá dinamismo à narrativa. Os diálogos são naturais e bem construídos, especialmente os de Petrônio e Lucélia, que trazem humor e personalidade aos personagens.

    Acredito que o enredo, como já disse, está bem construído, com um começo intrigante, um meio que mistura tensão e humor, e um final circular que amarra bem a história. Lembra bastante aqueles finais da série televisa “além da imaginação”. Parabéns pelo texto.

  20. toniluismc
    11 de março de 2025
    Avatar de toniluismc

    O conto apresenta uma narrativa intrigante, com elementos de suspense sobrenatural, drama familiar e um toque de mistério.

    A história está bem estruturada, com uma progressão clara dos eventos narrados, e a linguagem é acessível.

    Apesar do tema em si não ser uma novidade, a forma como ele foi abordado foi criativa e faz a gente ficar curioso para saber o que aconteceu.

    Temos aqui discussões profundas sobre luto, culpa, negação da realidade e busca por redenção trazidos de forma leve e cativante.

    Parabéns pelo belo texto!

  21. Rodrigo Ortiz Vinholo
    10 de março de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Excelente! Gostei muito. No começo fui esperando um clichê, já que o lado fantasmagórico do conto se revela rápida e facilmente, mas mesmo com isso os dois lados da narrativa funcionam muito bem juntos. O final amarra tudo muito bem e ainda que represente mais uma repetição, funciona excelentemente no contexto. Bom acabamento, boa técnica, e boa construção. Parabéns!

  22. Leandro Vasconcelos
    10 de março de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Opa! Gostei deste texto. Um conto muito bem urdido. A princípio, temos uma típica estória de terror, com aquela temática de aparições estranhas e tenebrosas, em casas isoladas de algum canto do mundo. No entanto, o que diferencia esta narrativa, para além do entrelaçamento bem estruturado das duas linhas causais, são as reviravoltas, bem impactantes. Afinal, tudo é conduzido de um jeito em que achamos se tratar de mais uma historinha de assombração, quando todos os personagens se convertem, eles mesmos, em espíritos vagantes. Muito bom esse efeito!

    Ademais, também destaco a proficiência na elaboração desses personagens. Embora seja um conto curto, todos eles apresentaram um desenvolvimento singular, o que trouxe credibilidade e interesse à trama. Bibiana, a mãe cansada com seus dois filhos: Gregório, irrequieto e bravio; Filipa, calada e soturna. Na outra linha causal, Petrônio, um pamonha com suas peripécias, traz alívio cômico, ao passo que sua esposa e filha são como a voz do equilíbrio. Também temos a enigmática Nadja, que intitula o texto, como uma “porteira do além-túmulo”. Enfim, são todos bem trabalhados.

    Contudo, quanto à sombra (um quase-personagem), ficou essa ponta solta: o que ela significa? Pareceu um elemento discrepante, posto ali apenas para efeito de suspense, sem muito significado ou explicação.

    No tocante à forma textual, creio que a linguagem direta, sem muitos floreios, favorece a leitura, embora possa desapontar leitores mais exigentes. O ritmo é bom. Os diálogos emprestam vida e verossimilhança à narrativa. Porém, eles são um pouquinho artificiais, como no contato entre Petrônio e Lucélia, bem como entre o primeiro e o padre. Claro, o autor pretendeu dar à narrativa, em alguns momentos, um teor cômico, como que misturando os temas do concurso (comédia-terror). Mas talvez tenham ficado um tanto artificiais, forçados, como dito.

    Tem um pequeno probleminha no tempo verbal utilizado, que mescla passado e presente. Não compreendi bem qual foi o objetivo dessa mudança súbita ocorrida em determinados trechos. Também vislumbrei umas questões envolvendo paralelismo sintático, como na seguinte frase: “Entrou no quarto da filha, todo rosa, branco e babados”. Ok, talvez a substituição de adjetivo por substantivo tenha sido proposital, mas ficou estranho.

    Por fim, uma última observação, que é a respeito da cena do suposto exorcismo. Estava mais para um ritual esotérico, e não um procedimento feito por um padre. Evidente: na ficção tudo é possível, e essas superstições são comuns em qualquer prática religiosa. Só não pareceu, repito, algo natural ou crível.

    Mas, de toda forma, o conto me foi muito agradável de ler. Parabéns ao autor!

  23. Thiago Amaral
    9 de março de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Olá!

    O conto é simples na sua linguagem e na maneira que descreve cenário e acontecimentos. Não apresenta nada de especial, mas também não tem nenhum demérito, o que traz uma leitura agradável, ok, sem problemas.

    Na primeira mudança de cenário, torci o nariz um pouco, porque estava curioso para ver o que acontecia na mansão original (mal sabia eu que…). Em contos eu fico meio contrariado quando tem flashbacks ou mudanças grandes de cenário e personagens. Só que, no fim, esse trecho foi o que mais me cativou! Achei que o humor realmente funcionou aqui, e o travesseiro foi bem descrito e serviu bem como símbolo que descreve seu dono, Petrônio. Inclusive, o trecho funciona como conto por si só.

    Mas o que temos é um intercâmbio entre histórias e, quando entendi a dinâmica, me acostumei com a estrutura. A segunda parte com Petrônio não achei tão engraçada. Só um pouco, vá. Meio Trapalhões, com as palhaçadas do personagem. Mas tem seu charme.

    Nessa parte, quando vemos o padre rezando em latim, saquei tudo que estava acontecendo. Um daqueles twists “todos estavam mortos”. Ok, já foi bastante usado, mas eu não tinha previsto, então deu certo. Foi bacana como acontece no conto. No entanto, no momento que Bibina lê o jornal, o leitor já entendeu, e não há tanto impacto. Pelo menos foi o que aconteceu comigo.

    Por fim, a questão dos parentescos. Me confundi com os nomes, e tive que parar e refletir um pouco para entender que provavelmente há um salto temporal entre a morte da primeira família e o que lemos no conto. Eles realmente andaram pra caramba, provavelmente, vagando como fantasmas, e havia outra geração da família morando na casa de tia Margot quando eles chegaram. O nome da menina deve ser em homenagem à bisavó, se meus cálculos genealógicos estão corretos (sempre fui ruim de cálculo). A última família se muda para outra casa, talvez continuando o ciclo de fantasmices nesse nosso mundo de meu Deus. Esse subtexto fez o conto crescer bastante no meu conceito!

    Em geral, então, o conto é competente ao entregar sua história. Não traz nada super inovador ou surpreendente, mas empregou bem um subtexto que me fez pensar e me sentir esperto de entender, o que é bem legal. A mistura de humor com mistério ficou homogênea. Por esses últimos elementos o impacto, que podia ser mediano, acabou sendo bom

    Parabéns!

Deixar mensagem para Afonso Luiz Pereira Cancelar resposta

Informação

Publicado às 9 de março de 2025 por em Liga 2025 - 1A, Liga 2025 - Rodada 1 e marcado .