EntreContos

Detox Literário.

Máquina do Tempo (Leandro Barreiros)

O garoto, coberto, dormia.

O homem, à janela, fumava.

A mulher dizia que era duro demais. Que gostava de maltratá-lo. Sempre negou.

Abriu a janela mais um pouco, soprando fumaça na noite. O ar gelado fez o menino estremecer.

Aproximou-se. Quando criança, também era sensível ao frio. Também tinha bochechas rosadas e sobrancelhas grossas… Também era frágil.

Ainda sou”.

Quando olhava para ele, só via a si. Às vezes, se perguntava se poderia amá-lo, mesmo odiando a si próprio.

“Talvez um dia”, pensou. “Mas não hoje”. Escancarou a janela e, enquanto o menino batia os dentes, deixou o quarto.

56 comentários em “Máquina do Tempo (Leandro Barreiros)

  1. Pedro Paulo
    1 de fevereiro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    COMENTÁRIO: Eu não acho que toda pessoa reflita sobre si. Acredito que há quem seja avesso à reflexão e, mais ainda, à autorreflexão. Entretanto, há quem faça esse exercício e suspeito que a paternidade seja um constante retorno a si. Olhar para a criança faz a pessoa recordar de si mesmo naquela idade, lembrar das necessidades de que tinha e pensar no que o filho pode precisar. E como prover. Este microconto aborda esse tema de maneira magistral. Não só aborda, subverte. O pai olha para o filho e se vê. Quer que o menino cresça bem. Isso não é dito no conto, mas se subtende que o que o pai enxerga no garoto é a própria fraqueza, uma que nunca soube superar e cuja presença ainda estimula a autodepreciação. Quer amar a criança, até acha que é possível, mas, paradoxalmente, sua dureza para com o garoto é a sua forma de demonstrar. Se expiá-lo da fraqueza herdada, talvez faça pelo menino o melhor que julga possível: torná-lo forte.

    Alguns pais podem querer superar aquilo que os diminui como pessoas, tirando esse obstáculo do caminho até a sua criança. Esse pai também deseja a superação, mas seu tratamento é puxar o filho para dentro do problema, subvertendo a abordagem mais otimista. Excelente texto.

  2. jowilton
    1 de fevereiro de 2025
    Avatar de jowilton

    O conto narra a história de um homem que se vê em uma criança e isso o transtorna a ponto de não pensar em amá-lo, já que se odiava.

    O conto é bastante denso. e profundo Pode ser visto por várias perspectivas. Na minha interpretação o homem volta no tempo e vê ele mesmo quando criança. E acaba não interferindo no que já havia acontecido, que seria a falta de carinho e a dureza que ele vivia no passado, quando criança. Possivelmente para criar uma casaca grossa para os desafios que virão. Viajei legal, né? kkkkkk

    A técnica é muito boa, e também me proporcionou um bom impacto.

    ]Boa sorte no desafio

  3. Raphael S. Pedro
    1 de fevereiro de 2025
    Avatar de Raphael S. Pedro

    Um pai “arrependido”? Frustrado? Um filho fruto de uma gravidez indesejada ou de pais imaturos? São muitas perguntas que podem ser feitas ao conto e que ficam no ar. Se foi proposital eu não sei, mas talvez essa “incerteza” não tenha me cativado tanto. No mais, o jogo de palavras foi bem utilizado. Parabéns!

  4. Victor Viegas
    1 de fevereiro de 2025
    Avatar de Victor Viegas

    Olá, Not Wells!

    Talvez seja apenas um detalhe, mas percebi uma certa ambiguidade no terceiro parágrafo. Entendo que associamos esse comportamento ao marido, mas, como foram apresentados dois personagens anteriormente, ainda seria plausível ser um ou o outro o causador da violência. É uma história pesada sobre abandono afetivo, bem construída, provável que tenha muitas camadas para que o pai tenha essa reação e o limite de palavras não permitiu uma melhor contextualização sobre. Esse é um dos contos que eu realmente gostaria de ler uma história maior, com mais desenvolvimento e perspectiva. Tem bastante potencial. Parabéns! Boa sorte no concurso!

  5. Roberta Andrade
    1 de fevereiro de 2025
    Avatar de Roberta Andrade

    É um conto bem pesado, eu tenho uma certa dificuldade de compreender essa visão masculina de que é preciso passar pela dificuldade pra aprender a ser homem. Também é dura essa insensibilidade, essa dificuldade de amar, dificuldade de se colocar no lugar do outro. São muitas questões abordadas no conto.

    Achei bem profundo e bem escrito.

    Parabéns! Boa sorte.

  6. Renato Silva
    1 de fevereiro de 2025
    Avatar de Renato Silva

    Olá, tudo bem?

    Eu entendi o título. É o homem “voltando” no tempo ao olhar para seu filho, vendo-se no garoto e fazendo-o passar pelas mesmas experiências ele mesmo teve.

    Há um mistério sobre o motivo do seu ressentimento, mas percebe-se que ele desconta na criança, que nada tem a ver com isso.

    Um texto curtinho, de fácil entendimento, bem escrito e conseguiu transmitir esse sentimento de angústia e até mesmo de um frio desagradável, o chamado calafrio. É mais do que o frio atmosférico, é um frio que vem de dentro; muito pior.

    Bom trabalho e boa sorte no desafio.

  7. Luis Guilherme Banzi Florido
    31 de janeiro de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom dia/boa tarde/boa noite e um bom ano pra nós, amigo entrecontista. Bora começar um novo ano arrasando na escrita! Parabéns pela participação nesse primeiro desafio no ano,! Pra mim, escrever micro conto é um macro desafio kkkkkk. Bora pra sua avaliação, mas, por favor, não leve minhas palavras a sério demais, afinal, micro conto é algo muito fora da curva e é difícil até analisar. Pra ajudar, criei um micro sistema que espero que ajude a ser justo com todos os amigos. Bora lá!

    Micro resumo: homem vê o filho sofrer, se lembra das proprias fraquezas e percebe que ainda nao é capaz de ama-lo (talvez pq nao ama a si proprio)

    Microsensações: um conto pesado e duro, que não poupa o leitor da frieza daquele pai e do impacto que isso tem no filho e na mae. Direto ao ponto, causa aquele gosto ruim na boca. Voce atingiu perfeitamente o objetivo de causar desconforto no leitor, e consegue, de forma muito eficaz, transmitir muita coisa em pouquissimo espaço: o homem nao consegue se amar, foi uma criança que considera fraca e medrosa, se vê mais do que gostaria no filho e desconta nele o rancor e odio que sente por si proprio. A mae, impotente, tenta proteger a criança, mas o homem sente um certo prazer doentio em maltrata-lo. Talvez assim sinta que se castiga tambem. Nao ama o menino pq nao ama a si proprio. voce é um verdadeiro mestre em criar um ambiente pesado e melancolico, o conto incomoda e constrange. Pobre menino, que deve tentar agradar um pai que o odeia e ele nao sabe pq. Provavlemente o melhor drama familiar do desafio, e o melhor drama, inclusive. É legal tambem como o titulo e o pseudonimo trabalham juntos do enredo para comunicar tudo que precisa ser dito. “not wells” foi uma puta sacada.

    Impacto:

    Micro

    Médio

    Macro –> muito alto. As sensações que causa no leitor são duras e profundas.

    Uso das pouquíssimas palavras permitidas: excelente. Cada palavra trabalha com um proposito, quase como se montasse um quebra cabeça que expõe passado, presente e futuro.

    Conclusão de um leitor micro-capacitado a opinar sobre micro contos: numa noite fria, abri a janela para observar a rua. Senti calafrios. No prédio do outro lado, vi uma familia quebrada. O homem parecia sentir prazer ao ver o filho tremer de frio. Fechei a janela, abracei minha esposa na cama e chorei.

    Parabéns e boa sorte no desafio!

  8. Luis Fernando Amancio
    31 de janeiro de 2025
    Avatar de Luis Fernando Amancio

    Oi, Not Wells,

    Como leitor, agradeço por compartilhar seu texto conosco. Participar de um desafio exige coragem, expor-se de forma cega ao julgamento dos pares. Aqui, temos uma cena bruta, um pai que vê a si mesmo no filho e, por isso, é duro demais com a criança. A frieza não está só na brisa que entra pela janela, mas também no coração do protagonista.

    A narrativa se desenvolve bem, sua escrita é segura e possui identidade. As frases parecem estar cuidadosamente construídas, o que faz diferente no gênero microconto.

    Não há, de fato, um impacto no texto. Mas não precisa ter sempre.

    Parabéns pelo texto e boa sorte no desafio!

  9. Andre Brizola
    31 de janeiro de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Not Wells!

    Mais um conto abordando a paternidade, mesmo que não biológica. Aqui a relação entre homem e garoto vai para um caminho menos comum, em que o mais velho se vê em uma situação de não conseguir amar o mais novo. Daí a dureza, daí os maus-tratos. Mas não temos acesso, dentro do conto, da relação entre os três personagens, já que homem, mulher e garoto podem ser uma família, mas podem também não ser. O mais usual é que a relação descrita seja a de pais e filhos, e é como abordei.

    O texto é bem conduzido. Há uma certa tensão, uma dureza na forma como as frases foram construídas. E, se foi proposital, acho que foi uma boa sacada, pois a narrativa é toda em cima de um personagem que tem exatamente esse tipo de construção. E que pode estar fazendo exatamente isso com o garoto, forçando um comportamento de resistência a um sofrimento precoce.

    Meu único senão é com relação à criatividade do enredo. Embora tenha optado por ir num caminho diferente do usual dentro de um conto sobre pais e filhos, ainda é um conto sobre pais e filhos, dentro de um desafio com mais alguns deles. É um assunto repetitivo. Alguns leitores não se incomodam, mas, pra mim, faz muita diferença encontrar um conto com um tema pouco explorado, e esse me empolgam bem mais.

    Bom, é isso. Boa sorte no desafio!

  10. Marco Saraiva
    30 de janeiro de 2025
    Avatar de Marco Saraiva

    Nota: perdao pela falta de acentos no texto, estou escrevendo em teclado gringo =)

    Um conto interessante, com muitas camadas. O homem pergunta se pode amar o filho, sendo que odeia a si mesmo. Um dilema comum. Se nao tem respeito por si, como pode sentir-se apto a ser pai? Ha tambem uma sugestao de medo, outro sentimento que vem do amor: provavelmente, ele nao amava a si mesmo por ter sofrido no passado, talvez nas maos do proprio pai, e tinha medo agora de repetir os erros que foram nele cometidos. Nao queria que o filho sofresse.

    Por outro lado, no final, ele deixa a janela aberta. A mulher acha que ele esta sendo duro demais, mas talvez ele esteja fazendo aquilo com a intencao de tornar o filho mais forte. Acotuma-lo as dificuldades do mundo. Torna-lo alguem mais forte do que ele mesmo.

    Conto muito bem escrito, que tem uma releitura convidativa, que traz um novo aspecto a tona toda vez que voce o rele. Escrita brilhante. Parabens!

  11. Gustavo Araujo
    29 de janeiro de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Acredito que para funcionar bem um microconto precisa de camadas diferentes. Para além da história literal que é contada pelas palavras, é preciso haver tramas subjacentes, dilemas e dramas escondidos nas entrelinhas, algo que se revele somente ao fim da leitura, ou até mesmo em uma segunda ou terceira leitura.

    Aqui não chega a haver muita dubiedade, ainda que haja muito nas entrelinhas. Uma cena de família em que o pai, observando o filho dormindo, vê a si próprio quando criança, isto é, lembra dele mesmo naquela idade. Eis a máquina do tempo.

    Pelo que é dito, o pai tem dificuldades de relacionamento com o menino. É um homem exigente e que, talvez, lute para sufocar o amor que sente ou que deveria sentir. Talvez não queira que o rebento seja criado a pão de ló, talvez não queira que seja muito sensível, talvez queira endurecer o moleque também, prepara-lo para as agruras da vida. Mas o amor, ah, o amor é complicado. No caso, se insinua pelas frestas da alma, minando o propósito paterno, fazendo o homem balançar. Não hoje, diz ele, adiando qualquer manifestação de afeto, sabendo, no entanto, que isso é impossível.

    Há muita sensibilidade no conto, isso é evidente. Apesar da narração engessada, um tanto rígida. Mas talvez seja isso que torne o resultado interessante, já que surpreende o leitor dedicado.

  12. Leo Jardim
    29 de janeiro de 2025
    Avatar de Leo Jardim

    📜 Conteúdo (⭐⭐▫): homem que se odeia e desconta esse ódio numa criança, provavelmente seu filho, enxergando ele mesmo no passado.

    📝 Técnica (⭐⭐▫): boa, conduz bem o conto

    💡 Criatividade (⭐⭐▫): na média do desafio

    🎭 Impacto (⭐⭐▫): um bom impacto, de imaginar o pai que se odeia e desconta no filho, uma imagem de si próprio no passado. Será que no fim ele saiu pra comprar cigarro?

  13. Felipe Lomar
    29 de janeiro de 2025
    Avatar de Felipe Lomar

    esse conto tem um duplo sentido, pode ser interpretado de forma literal ( o filho do homem) ou metafórico (o homem se vendo no passado). Versa sobre a não aceitação e a culpa pelo passado, e termina em um final triste, com a perpetuação da situação. E bem poético, melancólico e impactante, um dos que mais me cativou até aqui.

    boa sorte!

  14. Sabrina Dalbelo
    28 de janeiro de 2025
    Avatar de Sabrina Dalbelo

    Olá, Entrecontista,

    Pode-se entender o micro como um homem que viaja no tempo e vê-se jovem e adulto ou um homem adulto que vê a imagem do filho e nele se projeta. Isso é bem interessante.

    Escrever frases curtas ajuda, para mim, na primeira hipótese, porque as imagens vão sendo entrecortadas e a gente vai e volta “no tempo”.

    Pensar que seria um pai se projetando no filho (ódios e frustrações) traz uma dureza pro micro.

    Obrigada pelo texto.

  15. Rodrigo Ortiz Vinholo
    28 de janeiro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Como falei em outras avaliações, há microcontos que descrevem histórias inteiras e outros que narram cenas. Esse é do segundo grupo, mas ele faz tudo tão bem, deixando claro o contexto, as motivações, que a história implícita ganha vida e torna tudo muito interessante. Funciona maravilhosamente! A relação do pai com o filho, as ligações entre os dois, e a “não-viagem” no tempo que nasce na reflexão das semelhanças dos dois, e de como isso tem origem no que o próprio pai sente… Muito bom!

  16. Fernando Cyrino
    28 de janeiro de 2025
    Avatar de Fernando Cyrino

    Olá Not Wells, caramba, que conto mais pesado você me apresenta aqui no desafio. Um tremendo de um soco na boca do estômago. O pai que se vê no filho – como é usual – mas que se odeia e dessa forma acaba odiando a criança e o tratando de maneira bem rude. A cena de deixar a criança no frio com a janela escancarada (e aqui a minha imaginação levou-me a um apartamento de andar bem alto) é de bastante crueza. Resumindo, seu conto ficou bem legal ao que se propôs. Parabéns.

  17. André Lima
    28 de janeiro de 2025
    Avatar de André Lima

    Este é, sem dúvidas, o melhor microconto deste desafio.

    A técnica é excelente. Frases bem construídas em um ritmo ótimo que vai nos carregando até o final. Embora eu costume gostar de frases mais poéticas, aqui a narrativa crua é um soco no estômago, nos dando o impacto necessário juntamente com a história em si. Em alguns momentos, pude visualizar perfeitamente a cena, me colocando nela, coisa rara, que só excelentes autores conseguem arrancar de mim.

    O texto possui muitas camadas. Há ali um investimento narcísico do pai para com o filho. Ele reconhece suas semelhanças, reconhece os padrões passados através da genética e do exemplo, mas se odeia…

    A ofensiva contra o filho é, na verdade, uma espécie de auto-mutilação. Se ele sofreu na infância, por que o filho deveria se livrar disso? É o pensamento que transborda pelas linhas do texto, pensamento este que nos traz sensações de revolta.

    É possível dizer muito em tão pouco. E aqui foi dito, mas também foi sentido.

    Grata surpresa, esse microconto. Parabéns ao autor pela obra.

  18. Bia Machado
    28 de janeiro de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Plot: Homem, muito duro como pai de um menino, reflete sobre si mesmo enquanto o filho dorme.

    Desenvolvimento: A leitura do conto foi incômoda e julgo que isso foi bom. Enquanto lia, era como se não pudesse me descuidar: o que ele vai fazer com esse menino? Uma tensão bem grande. No texto, talvez uma justificativa sobre a dureza das ações dele. O ódio a si mesmo maior do que qualquer outro sentimento, capaz de fazer mal ao próprio filho, porque vê-lo é como ver a si mesmo e isso seria a perpetuação dele mesmo, que se odeia, foi a impressão que me deu. 

    Destaque: Para a construção psicológica do personagem. E para o final, que me deixou inquieta porque podemos pensar em mais de um significado para o ato dele.

    Impressões da leitura: Como disse, o conto me incomodou, pela suposição de que esse homem não vai conseguir passar por cima dos traumas e o filho sofrerá com isso. Creio que a intenção do autor/autora era essa mesmo. Gostei da leitura.

  19. danielreis1973
    27 de janeiro de 2025
    Avatar de danielreis1973

    Um dos contos mais herméticos do desafio… sem o título, pensaria tratar-se de um pai rigoroso. Mas o título faz com que imaginemos que ele mesmo voltou no tempo para se castigar… e isso me faz pensar um bocado sobre o quanto somos exigentes conosco. Talvez eu esteja errado. Vamos ver. Mas gostei.

  20. leandrobarreiros
    27 de janeiro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Chamo de “técnica” a facilidade com que o autor carrega o leitor pela narrativa, e/ou transmite subtexto, e/ou faz (bom) uso de figuras de linguagem que tornam a leitura agradável.

    Chamo de “interesse” o quanto o texto me fisgou enquanto leitor, o quanto de impacto senti pela leitura.

    Chamo de “objetivo do autor” um palpite do que o autor queria com o texto. É mais um esforço criativo e uma tentativa de fazer leituras mais enquanto escritor do que leitor.

    Uma história sobre uma viagem metafórica no tempo. Fiz a mesma leitura que outros colegas sobre o pseudônimo, indicando que a máquina do tempo seria diferente da de H.G Wells.

    Técnica: Muito boa. O autor foi competente na narrativa, criando paralelismos entre homem e menino, oferecendo mais da história em ritmo certo. Não gostei da repetição do “si” no texto, em espaço tão curto. Talvez fosse melhor se tentasse algo como “ao olhar para o menino, via apenas seu reflexo”.

    Interesse: Alto. É uma proposta interessante que mais se sustenta por isso do que pela possibilidade de releituras. Aqui não é necessariamente uma crítica negativa, afinal, há mais de uma maneira de se fazer um micro.

    Objetivo do autor: Construir uma história que funcione mais por força da narrativa do que por releituras, instigando algum incômodo/reflexão;

  21. THAIS LEMES PEREIRA
    27 de janeiro de 2025
    Avatar de THAIS LEMES PEREIRA

    Olá, Not Wells.

    Contexto pessoal

    Engraçado eu ter inserido o contexto pessoal como uma forma de indicar como cada conto me impactou e me deparar com uma história assim. Enxerguei aqui um pouco da minha própria família. Meu pai e eu só começamos a nos entender depois dos meus 20 anos e acredito que depois que ele mesmo se livrou dos seus fantasmas.

    Análise do conto

    Demorei um pouco para me encontrar. Acho que sem querer li uma referência no WhatsApp que me fez pensar que o conto realmente se tratava de uma viagem no tempo e que o homem e o menino eram a mesma pessoa. Olha o perigo dos spoilers nesse desafio rs Mas voltei aqui e li com calma, dias após ter lido pela primeira vez e fui surpreendida com esse encontro. Como é forte a passagem: “Talvez um dia”, pensou. “Mas não hoje”. Ela enfiou uma estaca no meu coração.

    Conclusão

    Há essa altura de confesso que não sei qual a quantidade dos meus contos preferidos. Mas espero muito que na minha lista final tenha um lugar especial para o seu conto.

  22. Sidney Muniz
    27 de janeiro de 2025
    Avatar de Sidney Muniz

    Olá, Caro, autor (a)!

    O tempo é o senhor dos dois destinos, aqui temos muito disso, quase ouço Toni garrido ao fundo, é um conto que tem um “Q” de maturidade. Eu não sei, me parece uma cena de um filme antigo, é bom, é

    O garoto, coberto, dormia.

    O homem, à janela, fumava.

    Aqui temos o contraponto, a quietude e o nervosismo. Dormir e perder o sono…

    A mulher dizia que era duro demais. Que gostava de maltratá-lo. Sempre negou.

    Sempre assim, mas e a mulher, ela estava certa, ainda que ela estiver em segundo, não, terceiro plano na história, ela é permissiva.

    Abriu a janela mais um pouco, soprando fumaça na noite. O ar gelado fez o menino estremecer. – Sim, seria o vício, ou apenas o reflexo, aquele sentimento que responde, feito a marreta do chapolim no joelho, responde.

    Aproximou-se. Quando criança, também era sensível ao frio. Também tinha bochechas rosadas e sobrancelhas grossas… Também era frágil.

    também, aqui temos um dejavu? Não, o que temos são reminiscências, algo traumático.

    “Ainda sou”.

    Eis a prova. Eis a certeza.

    Quando olhava para ele, só via a si. Às vezes, se perguntava se poderia amá-lo, mesmo odiando a si próprio.

    Aqui temos os fragmentos, a dor, a tensão, a falta de algo, ou o excesso.

    “Talvez um dia”, pensou. “Mas não hoje”. Escancarou a janela e, enquanto o menino batia os dentes, deixou o quarto.

    E aqui, ao findar, não tão obstante, temos o porquê… O menino ainda estava dormindo? Acredito que não, aqui a falta de ação causa uma reação, a falta de impor mostra que eles são iguais e que aceitaram o destino, E que para o menino ser respeitado ele precisava protestar. Algo que o pai nunca fez, calou-se, aquietou-se, encolheu-se, bateu os dentes.

    Um conto muito bom!

  23. claudiaangst
    26 de janeiro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Um homem que não se aceita como é, chega mesmo a se odiar, vê no filho o seu reflexo, a sua fragilidade negada. Ao invés de acolhê-lo, o repele, se desfazendo de si mesmo, do menino que nunca deixou de ser. É duro, maltrata a criança, que é ao mesmo tempo seu passado, presente e futuro.

    Linguagem simples, objetiva, mas bem cuidada. Não encontrei falhas de revisão, mas talvez fosse interessante encontrar uma forma de não repetir o SI.

    Parabéns pela participação e boa sorte no desafio.

  24. JP Felix da Costa
    26 de janeiro de 2025
    Avatar de JP Felix da Costa

    Este conto tem vários pontos interessantes, centrados na personagem do pai. O facto de ser como é, mas, ao mesmo tempo, o negar mentido a si próprio. Quando a mãe diz que ele é duro e que gosta de maltratar o filho, ele nega, mas é, de certa forma, a verdade. Ele quer-se castigar a si próprio, só ele sabe porquê, mas demonstra-se covarde, descarregando a sua frustração num filho onde se revê. Temos aqui a subversão do papel do pai. O papel protetor e facilitador de uma vida melhor inverte-se, tornando-o um destruidor de vidas. Como muitos microcontos, este poderia bem ser a parte de um todo, principalmente pelo que podemos extrapolar do que aqui lemos. Um pai que se odeia e se destrói aos poucos, descarregando a sua frustração num filho que cresce com a dualidade amor-ódio ao pai pela forma como ele o trata.

    Muito interessante.

  25. Kelly Hatanaka
    25 de janeiro de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Sim, eu sei que Not Wells é uma referência a H.G. Wells e parece dizer: esta “Máquina do tempo” não tem nada a ver com “A Máquina do Tempo” do Wells. Mas, bati os olhos e só consegui pensar em Hot Wheels. Desculpa.

    Idiotices minhas à parte, este é um ótimo conto, cheio de contexto psicológico.

    Uma pessoa só pode dar o que tem e esse pai só tem ódio. Pobre menino.

    O menino é a máquina do tempo, que leva o pai para o passado de dores não resolvidas. O pai é a máquina do tempo que perpetua o passado.

    Parabéns pela participação e boa sorte.

    Kelly

  26. Thiago Amaral Oliveira
    25 de janeiro de 2025
    Avatar de Thiago Amaral Oliveira

    Olá! Gostei do conto. O título e pseudônimos trazem expectativas, mas não tem nada a ver com o clássico de ficção-científica. Também não é frustrante, já que a máquina do tempo é metafórica (e você tinha avisado não ser o Wells hahahha)

    Gostei do aspecto psicológico do pai, e há vários elementos interessantes que não sei se foram propositais, mas enriquecem a interpretação da história. Já foram citados aqui nos comentários, mas quero repetir: o fato do pai fumar e de ele estar na janela, sentindo (aguentando?) o frio.

    Quando ele compara seu eu criança ao filho, entendemos que está projetando o ódio à sua própria sombra (sua vulnerabilidade) no filho. Por isso, fico pensando que talvez não precisássemos do penúltimo, que confirma e deixa mais explícita essa característica. Ao mesmo tempo, você iria ter que modificar um pouco a maneira como estruturou o final, então não sei. Mas fica como sugestão. Particularmente, gosto de manter essas coisas mais pro lado do sutil (apesar de muitas vezes causar o efeito contrário, de os leitores não captarem) fica a seu critério.

    Parabéns e boa sorte no conto!

  27. cyro fernandes
    25 de janeiro de 2025
    Avatar de cyro fernandes

    Conto muito bom! A frustração do pai com a sua vida é canalizada para o filho, até que provem o contrário, inocente.

    O autor deixa a porta aberta para o pai amar o filho num futuro, desde que resolva antes os seus próprios conflitos.

    Cyro Fernandes

    cyroef@gmail.com

  28. Mauro Dillmann
    24 de janeiro de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Um conto inteligente, deixa espaço para a complementação do leitor.

    O homem, talvez pai, não ama o filho porque não ama a si próprio.

    Lembra também a tendência de se criar e educar os filhos aos moldes da própria educação recebida.

    Tem algo de psicológico. Muito bom!

    Parabéns!  

  29. Mariana
    24 de janeiro de 2025
    Avatar de Mariana

    Esse conto é uma aula de psicanálise! O quannto pais se enxergam em filhos e, por não estarem curados dos seus traumas, os transmitem para as próximas gerações. E, ah, o quanto é complicado quebrar essa corrente… Muito profundo e eu espero que o autor fique bem.

    A escrita é segura e com começo e arremate irretocáveis. As 99 palavras foram utilizadas para construir uma excelente obra, meus parabéns e entra na lista!

  30. Diego Gama
    24 de janeiro de 2025
    Avatar de Diego Gama

    A relação entre personagens construida em tão poucas palavras diz muito sobre eles e acho que isso foi o que mais me chamou atenção no conto. Excelente!

  31. cyro fernandes
    24 de janeiro de 2025
    Avatar de cyro fernandes

    Conto muito bom! A frustração do pai com a sua vida é canalizada para o filho, até que provem o contrário, inocente.

    O autor deixa a porta aberta para o pai amar o filho num futuro, desde que resolva antes os seus próprios conflitos.

    Cyro Fernandes

    cyroef@gmail.com

  32. Evelyn Postali
    23 de janeiro de 2025
    Avatar de Evelyn Postali

    Delicado, isso, para comentar… É denso e perturbador. Odiei esse pai porque me passa sentimentos ruins – ressentimento, projeção e frieza emocional. Ele é incapaz de amar. É autodepreciativo e, com certeza, grandes e profundos traumas não resolvidos. Frio e indiferente. O micro reforça isso através da personagem na janela, fumando. Escancarar a janela (mesmo isso) e sair do quarto, apesar de parecer brutal, seria uma solução plausível se a saída fosse permanente, se saísse da vida do menino para todo o sempre. Porque, permanecendo, será um pai ausente, distante, que não servirá de referência, de apoio, de nada. Enfim… Esse micro é provocador, né?

  33. toniluismc
    23 de janeiro de 2025
    Avatar de toniluismc

    O conto explora, de forma sutil e perturbadora, a complexidade das relações paternas e a passagem do tempo. Através da imagem do pai fumando e observando o filho dormir, são revelados sentimentos de culpa, amor e incapacidade de estabelecer uma conexão profunda.

    A jornada do pai através de suas memórias, enquanto observa o filho dormir, cria uma atmosfera de nostalgia e melancolia. O pai é um personagem complexo, marcado pela culpa e pela incapacidade de expressar seus sentimentos. O filho, presente apenas através de sua imagem adormecida, representa a inocência e a esperança.

    Enfim, “Máquina do tempo” é um microconto tocante e melancólico, que explora a complexidade das relações paternas e a dificuldade de lidar com o passado. A imagem do pai observando o filho dormir é um símbolo da passagem do tempo e da fragilidade da vida.

    Fiz uma análise técnica porque seu conto merecia, mas confesso que não está entre os melhores deste Desafio na minha concepção. De toda forma, parabéns e boa sorte!

    Enredo: A narrativa é concisa e focada na relação entre o pai e o filho. A ausência de um conflito explícito dá espaço para a exploração dos sentimentos complexos do pai.
    Personagens: O pai é um personagem complexo, marcado pela culpa e pela incapacidade de expressar seus sentimentos. O filho, presente apenas através de sua imagem adormecida, representa a inocência e a esperança.A repetição de palavras como “frágil” e “sozinho” reforça a sensação de isolamento e de incapacidade de conexão.
    Elementos Linguísticos: A linguagem é simples e direta, com um tom melancólico. A repetição de palavras como “frágil” e “sozinho” reforça a sensação de isolamento e de incapacidade de conexão. A contraposição entre a fragilidade do filho e a dureza do pai cria uma tensão que percorre todo o conto.O conto aborda temas universais como a paternidade, a culpa, o arrependimento e a passagem do tempo. A relação entre o pai e o filho é uma metáfora para as relações humanas, marcadas pela complexidade e pela impossibilidade de recomeçar.Pontos Fortes:Originalidade da abordagem: A escolha do título “Máquina do tempo” e a forma como o pai utiliza a memória para se conectar com o filho são originais e eficazes.
    Linguagem simples e eficaz: A linguagem utilizada é adequada ao tema e à atmosfera do conto.Pontos a Melhorar:
    Desenvolvimento do personagem: O personagem do pai poderia ser mais desenvolvido, permitindo ao leitor compreender melhor suas motivações e sentimentos.
    Exploração das causas: As causas da culpa e da incapacidade do pai de estabelecer uma conexão com o filho poderiam ser exploradas de forma mais aprofundada.
    Abertura para diferentes interpretações: O conto poderia ser mais ambíguo, permitindo ao leitor construir suas próprias interpretações.Considerando o formato microconto:O conto explora de forma eficaz a ideia central, utilizando uma linguagem simples e direta. A brevidade do texto contribui para a força da imagem criada.Conclusão:
    Recomendações para Futuras Submissões:
    Explorar diferentes perspectivas: O conto poderia ser reescrito a partir da perspectiva do filho, oferecendo uma visão diferente da história.
    Adicionar um elemento surpresa: Um elemento surpresa poderia quebrar a expectativa do leitor e tornar a narrativa mais dinâmica.
    Experimentar com diferentes estilos narrativos: A narrativa poderia ser enriquecida com o uso de fluxo de consciência ou monólogos internos.Conclusão:O conto “Máquina do tempo” é uma bela demonstração do poder da linguagem para evocar emoções profundas e criar atmosferas de nostalgia e melancolia.

  34. Juliana Calafange
    23 de janeiro de 2025
    Avatar de Juliana Calafange

    Eu amei esse conto! Com linguagem muito simples e enxuta, sem rebuscamentos desnecessários, a história é apresentada ao leitor aos poucos, parágrafo a parágrafo, ao mesmo tempo em que o leitor aprofunda sua visão do protagonista, contada bem de perto pelo narrador.

    Cada palavra está ali servindo ao propósito do conto, da mensagem que se quer passar ao leitor, nada sobra nem falta.

    A história visível mostra um homem cruel, frustrado e fracassado, que joga no filho todos os seus desalentos. Não consegue amá-lo porque odeia a si próprio.

    Na história profunda, toda a vida desse homem: o que o fez assim, tão duro? Qual a história dessa família? Em que circunstâncias essa criança nasceu?

    E ainda o desfecho maravilhoso, que me fez passar o dia todo pensando nesse conto. Muitos parabéns!

  35. Priscila Pereira
    23 de janeiro de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Not Wells! Tudo bem?

    Seu conto é muito bom, com uma carga dramática bem forte e muito bem delineada e tudo em tão poucas palavras ! Parabéns por isso!

    Esse protagonista é um frouxo, totalmente centrado em si mesmo, egoísta e mimado. Não deveria ser pai. Por ver no filho ele mesmo quando criança, deveria se empenhar ainda mais para que o filho tivesse melhor sorte que ele. Mas não…

    Esse sentimento de raiva e de indignação é muito difícil de inspirar no leitor, ainda mais com tão poucas palavras e você conseguiu!

    Enfim, um ótimo conto!

    Parabéns e boa sorte no desafio!

    Até mais!

  36. Rogério Germani
    22 de janeiro de 2025
    Avatar de Rogério Germani

    Há pais ausentes e há pais presentes que se fazem ausentes.

    Um círculo onde o ódio provém de si mesmo limita o crescimento das famílias por dentro.

    Boa sorte!

    Rogério Germani

  37. Juliano Gadêlha
    22 de janeiro de 2025
    Avatar de Juliano Gadêlha

    Uma história bem impactante. Confesso que tive de ler algumas vezes para entender completamente. Acho que o conto é um pouco prejudicado pelos sujeitos indeterminados, que deixam alguns trechos dúbios ou que emperram a leitura em alguns pontos. É um problema recorrente aqui no desafio, justamente pela limitação de quantidade de palavras. Ainda assim, uma narrativa forte. Parabéns!

  38. Rangel
    22 de janeiro de 2025
    Avatar de Rangel

    Olá,

    Vejo na sua história duas possibilidades de leitura. A primeira é que se trata da relação tóxica, mas comum, de um pai tentando fazer um filho “virar homem”. Então, dificulta-lhe as coisas simples, retira o aconchego para que aprenda a ser duro. O tal homem com H. É a leitura mais comum. O título “máquina do tempo”, nesse caso, refere-se ao ciclo da natureza, que faz com que situações dos pais se repitam nos filhos.

    Contudo, vou preferir a possibilidade de ser uma máquina do tempo literal. Aí, se referiria aos casos típicos das narrativas de ficção científica, em que se vai ao passado para corrigir o presente. Nessa leitura, o homem, talvez em uma realidade em que precisasse ser mais forte, voltou no tempo para fazer a si mesmo um homem diferente, menos frágil do que ele é.Vejo as duas leituras como possíveis, pois nunca diz que ele é o pai. Porém, escolho essa última para ser o diferentão e deixar a história menos óbvia e soturna.

    De qualquer modo, as duas interpretações trazem uma narrativa interessante, cheia de subtextos a serem explorados. O autor é bom. Gostei. Parabéns!

  39. Antonio Stegues Batista
    22 de janeiro de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Homem, que sofreu maus tratos quando criança, transmite ao filho pequeno as mesmas maldades que sofreu. O autor faz uma referencia a volta no tempo em que ele esteve numa mesma situação, num quarto gelado tremendo de frio. Qual é a intensão dele? Simples maldade, já que ainda é frágil incapaz de esquecer seus traumas. O título nada tem a ver com máquina do tempo, como na história de H.G. Wells, onde o protagonista volta no tempo para evitar a morte da esposa. O conto está bem escrito, não traz grandes novidades, mas é uma estória interessante.

  40. Amanda Gomez
    22 de janeiro de 2025
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem?

    Pesado o seu conto, hein. Que homem… insuficiente. Será que todos os males dele ele dedica apenas ao filho, que é uma criança frágil? Ou ele é todo errado e de fato assume esse papel de gente ruim na sociedade?

    Seu conto me fez pensar bastante, e eu me demorei nele tentando entender tudo o que o autor quis passar. Tem um entrave ali, na passagem sobre a esposa, que ficou um pouco confusa e deixou o texto mais em aberto. Ele foi lá no quarto só para fazer mal, ou o menino e ele moram sozinhos? Fiquei curiosa sobre a presença física da mulher.

    O homem, obviamente, carrega muitos traumas de sua infância, provavelmente causados por uma figura paterna. E, em vez de quebrar esse ciclo, ele tenta perpetuá-lo agora com o filho, que parece ser o estopim de todas as suas angústias. Esse tipo de pessoa está por toda parte e causa tantos estragos ao redor… são como granadas. E eu sempre penso: por que eles se misturam? Deviam viver isolados ou tentar se consertar antes de puxar outros para dentro de sua escuridão.

    Gostei da referência que o título faz à história.

    Um ótimo conto, parabéns.

    Boa sorte no desafio.

  41. Givago Domingues Thimoti
    21 de janeiro de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    MÁQUINA DO TEMPO (NOT WELLS)

    Bom dia, boa tarde, boa noite autor(a)! Espero que esteja bem! Meus critérios de avaliação foram escolhidos baseando-se em conceitos que encontrei sobre o gênero microconto na internet. São eles: utilização do espaço permitido, subtexto, impacto, escrita. Nesse desafio em específico, não soltarei minhas notas no comentário. E, por fim, mas não menos importante, gostaria que você tivesse em mente que microcontos são difíceis de escrever e difíceis de avaliar; logo, não leve tanto para o lado pessoal se o meu comentário não estiver bom o suficiente, por qualquer motivo que seja. Garanto que li com o cuidado e a atenção que seu conto merece, dando o meu melhor para tanto contribuir com a minha opinião quanto para avaliar de uma forma justa você e os demais colegas.

    É isso! Chega de enrolação e vamos para o meu comentário:

    Ø  Breve resumo:

    Pai tóxico. Amor (seria mesmo? Nunca confirmou) tóxico. Ciclo vicioso. Paradoxo. Máquina do Tempo… Rapaz, o resumo parece mais complicado do que realmente é.

    Ø  Utilização do espaço permitido:

    Creio que o conto utilizou bem o espaço, não deixando muitas pontas soltas.

    Ø  Subtexto:

    Em tese, esse é um microconto que não necessariamente é aberto. A história, por si só, faz sentido e existe por si só, sem necessitar das referencias para existir. Mostra uma relação complicada entre pai e filho e a toxicidade da criação de um homem (leia-se, machismo).

    Contudo, tem a bendita referência à Máquina do Tempo e ao Not Wells. E por conta disso, eu diria que o subtexto desse conto é mais complexo do que se imagina num primeiro momento. Ele não muda o resultado do texto, o que é um acerto para mim. O que ele faz é temperar o conto com um sabor de fundamentação por trás.

    Enfim, aqui é mais uma especulação do que qualquer outra coisa. Bom, vamos lá. De acordo com uma pesquisa rápida à Wikipedia, Máquina do Tempo é uma obra do HG Wells sobre um homem que quebra a Quarta Dimensão e viaja no tempo, pelo futuro, descobrindo que a raça humana se dividiu em dois grupos e eles estão guerreando. OK, nesse ponto, nada a ver o microconto e o livro.

    Contudo, a Wikipedia segue e afirma que a obra foi retratada no cinema por duas vezes; a primeira em 1960, uma reprodução fiel da obra, e a segunda em 2002, de Gore Verbinski e Simon Wells, bisneto do autor original HG Wells (ou seja, Not Wells). Nessa Máquina do Tempo, filme baseado no original mas não uma retratação extremamente fiel, o Viajante do Tempo cai num paradoxo para salvar sua esposa (ela morreu e por conta de sua morte ele cria a máquina); se ela não morre, ele não cria a máquina do tempo. Criando a máquina do tempo, se ele volta e salva ela, o Viajante original não tem porque criar uma máquina do tempo).

    Portanto, eu acho que a referência do microconto é, na realidade, não à máquina do tempo em si, mas ao paradoxo (aparente falta de nexo ou de lógica; contradição) do pai, personagem central da história. Isso porque ele já foi como o garoto (Quando criança, também era sensível ao frio. Também tinha bochechas rosadas e sobrancelhas grossas… Também era frágil //  Quando olhava para ele, só via a si). Contudo, algo o transformou conforme ele cresceu (nota: ele fumava em frente à janela aberta, num dia frio). Meu maior palpite para a causa dessa transformação é o seu próprio pai. E, agora que ele também é pai, ele repete os mesmos padrões, maltratando a criança. E é paradoxal seu ato porque, obviamente, ele está em contradição, mas ainda assim, maltrata a criança.

    Bom, quando olhei por meio dessa ótica, o conto ganhou uma robustez ainda mais sólida. Mais uma vez, não sei se essa era a intenção do autor/ da autora. Mas foi o que concluí depois de um pouco de reflexão e escrita.

    Ø  Escrita:

    Eu achei o conto bem escrito, do ponto de vista gramatical. As palavras parecem ter sido cuidadosamente escolhidas para formar a narrativa e mostrar o amargor do pai diante do filho e de si.

    É uma história bastante competente.

    Ø  Impacto:

    Positivo. Assim como o gato de schorindiger, eu não sei o quão positivo e nem mesmo se estará na minha lista do TOP 15. Digo isso por dois motivos: (I) não sei se minha tese sobre as referencias estão certas. Eu acho que existe dois pesos, neste sentido; se eu estiver certo, o autor foi muito sagaz em colocar essas pistas e articular a história para atingir tanto aqueles leitores mais focados no texto em si, não ligando tanto para outros elementos (como por exemplo, pseudônimo e título). Se eu estiver errado, a viajada na maionese não pode beneficiar tanto o autor (ou será que pode? Não sei, difícil cravar) e (II) ainda não li todos os contos, logo podem surgir outros melhores…

    No mais, eu diria que foi um trabalho muito bom e competente, que me fez refletir bastante sobre o seu microconto.

    Parabéns ao autor!

  42. Nilo
    21 de janeiro de 2025
    Avatar de Nilo

    Tenso, porém não incomum. O pai se enxerga no filho, e não gostando da semelhança, agride a criança. Muito bem escrito. Parabéns.

  43. Fabiano Dexter
    21 de janeiro de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    Um conto muito bem escrito, de como o Pai se vê no próprio filho e nas dúvidas que isso levanta dentro dele próprio.

    Um bom cenário e uma boa descrição, um conto muito bom.

    O que acabou me atrapalhando nele foi o nome do autor em conjunto com o título, que me levou para uma expectativa completamente diferente. (H. G. Wells – Máquina do Tempo)

    Gostei bastante, mas essa questão acabou atrapalhando um pouco a minha experiência como leitor. Um nome diferente como autor teria sido preferível na minha opinião.

  44. bdomanoski
    21 de janeiro de 2025
    Avatar de bdomanoski

    Rapaz (ou moça), que boa surpresa esse seu conto! Quando esperavamos mais um (não aguento mais) daqueles finais açucarados e melosos, você nos brinda com o inesperado. Foi bem criativo e delineou muito bem a complexidade de sentimentos do personagem, e em como ele considera mudar e melhorar. Embora, não hoje. Deve entrar pra lista!

  45. Vítor de Lerbo
    21 de janeiro de 2025
    Avatar de Vítor de Lerbo

    Um conto denso, que aborda como nossas próprias questões mal resolvidas podem ter repercussão para outras pessoas. No caso da paternidade, então, isso é ainda mais profundo. Certamente este filho também carregará traumas gerados pelo pai. Se não conseguir se desvencilhar, o círculo vicioso se perpetuará.

    Chamo a atenção apenas para a frase “A mulher dizia que era duro demais. Que gostava de maltratá-lo. Sempre negou.” Precisei reler este trecho três vezes; a mulher gostava de maltratar o homem? O homem, fumando, maltratava a si mesmo com seu vício? Só na terceira liguei os maus tratos do homem ao filho. Numa história tão curta, é fundamental que fiquemos submersos na trama por todo o tempo.

    Boa sorte!

  46. José Leonardo
    21 de janeiro de 2025
    Avatar de José Leonardo

    Olá, Not Wells.

    Constatamos um pai cruel que se vê no filho, e como odeia a si mesmo nos dá a impressão de que jamais poderia amá-lo, em detrimento da frouxa possibilidade que aventou a esse respeito. De fato, o título se justifica nisso, ao passo que o pai tenta justificar sua atitude final nesse reflexo próprio que o filho é aos seus olhos.

    Parabéns e boa sorte neste desafio.

  47. Afonso Luiz Pereira
    21 de janeiro de 2025
    Avatar de Afonso Luiz Pereira

    Este miniconto é daqueles que cutucam a gente com os problemas nas relações familiares. A relação entre pai e filho carrega uma carga emocional tensa e unilateral por parte do pai, que se odeia e, por tabela, direciona esse ódio ao filho também.

    O ajuste fino entre o frio externo e a frieza emocional interna do pai ficou bem marcante, criando um clima de solidão e desconexão que deixa a gente desconfortável, principalmente quem é pai. Jamais me veria pensando dessa forma sobre minha filha.

    A frase final, “Mas não hoje”, é forte e brutal, porque resume toda a incapacidade do homem de se conectar e superar seu próprio ódio contra o filho, no qual vê um espelho de si mesmo. No geral, é um texto bem escrito, com aquela pegada que faz o leitor refletir mesmo depois de terminar.

  48. fcaleffibarbetta
    20 de janeiro de 2025
    Avatar de fcaleffibarbetta

    Olá, Not Wells

    Nossa, que homem malvado, hein?

    Gostei do seu microconto. Uma narrativa simples (no sentido de não ter uma segunda camada), clara, bem desenvolvida, com final forte.

    “Também tinha bochechas rosadas e sobrancelhas grossas” – sobrancelhas grossas não tem mais?

    Sentenças curtas precisam ser escritas com mais cuidado. ” A mulher dizia que era duro demais. Que gostava de maltratá-lo. Sempre negou.”- na primeira leitura, me pareceu que a mulher gostava de maltratar o marido (seria ela uma mulher malvada). Depois, pelo contexto, entendi… é só um aviso do que aconteceu com a leitora aqui.. que pode ter falhado.

    Não achei muito bons título e pseudônimo pq geram outra expectativa.

    Parabéns pelo texto.

  49. Thales Soares
    20 de janeiro de 2025
    Avatar de Thales Soares

    De início, ao ler o título, imaginei que este conto seria sobre ficção científica, e já me empolguei! Como não havia nenhuma imagem de capa, não dava para prever o que me esperava. E acabei me decepcionando…

    O conto é apenas um slice of life. Aqui vemos um pai cuzão, que fuma e se odeia. Aparentemente ele também odeia o filho, por ser parecido demais consigo mesmo. Ele vê que o filho tá lá com frio, dormindo… e então ele decide abrir ainda mais a janela, só pra mostrar que ele é malvadão, deixando o menino todo tremendo. Bom… esse cara aí não vai ganhar prêmio de “pai do ano”.

    Enfim, apesar de o conto ser extremamente bem escrito, não é muito o meu estilo, e consequentemente não acabou me conquistando. De toda forma, boa sorte no desafio.

  50. Nelson
    20 de janeiro de 2025
    Avatar de Nelson

    Há um ar de decadência no microconto, um ar que com certeza é familiar para muita gente, dadas as desilusões que acabam por nos acertar na vida. Gostei das descrições, da forma que esses personagens aparecem no texto, como e seres comuns, dotados de mais defeitos do que virtudes e, mesmo assim, seguindo. Embora acho que falte algo mais impactante no texto – não uma surpresinha ou coisa do tipo – mas algo que sintetizasse mais agudamente a situação.

  51. Marcelo
    20 de janeiro de 2025
    Avatar de Marcelo

    Um conto que exige reflexão. Aprecio escritas assim. Denso, forte com abordagem sobre relações humanas.

    Parabéns!

  52. andersondopradosilva
    20 de janeiro de 2025
    Avatar de andersondopradosilva

    Máquina do Tempo poderia ser um microconto sobre ficção científica, mas não é. Longe disso, muito longe. Máquina do Tempo aqui é expressão tomada em sentido metafórico. Remete ao tempo e suas voltas, ao tempo e seus mistérios, remete ao repetir do tempo. Há três personagens na história: pai, mãe e filho. Suas relações são frágeis, estremecidas. O ambiente, a cena remete às suas relações: tudo é frio, noturno e esfumaçado. O pai goza de pouco ou nenhum amor próprio, e o filho se parece com o pai, daí a dificuldade que o pai encontra de amar o próprio filho. Esse desamor assusta e corrompe. O pai chega a extremos. Abre um vão da janela para dissipar a fumaça e percebe que o filho estremece diante do frio, percebe que o filho não gosta do frio, e é aí que a história se repete, é aí que entra a Máquina Do Tempo, o pai se recorda que ele mesmo, quando criança, não gostava do frio. Relação de pai e filho está estremecida. Para nosso pavor, o pai escancara a janela e deixa o quarto do filho, expondo mais ainda a criança aos rigores do vento gélido. Ao maltratar o filho, o pai sente maltratar a si mesmo. Esse mesmo desamor, esse mesmo autodano, pode ser notado no gesto de fumar, sabiamente danoso à saúde. Mas não é apenas o pai que tem uma relação difícil com a paternidade: a mãe parece transitar pelo mesmo caminho. Em determinado momento, ela confessa julgar a maternidade difícil e que sente gosto em maltratar a criança. O conto é sobre violência doméstica, sobre violência contra criança. Não é um tema fácil, ao contrário, é lúgubre, difícil, duro. Retrata a crueza da vida.

    • andersondopradosilva
      20 de janeiro de 2025
      Avatar de andersondopradosilva

      Autor, peço perdão por ter errado na interpretação do papel da mãe. Ela não confessa ser cruel com a criança, ela repreende o pai por ser cruel! 🥰

  53. geraldo trombin
    20 de janeiro de 2025
    Avatar de geraldo trombin

    O filho é reflexo do pai, o pai se vê no filho. Por se odiar, o pai se afasta do sentimento de amor pelo filho. Muitos pais sabem conjugar muito bem o verbo “tergiversar”. Bom conflito. Boa sorte!

  54. Elisa Ribeiro
    19 de janeiro de 2025
    Avatar de Elisa Ribeiro

    Uma temática forte num conto muito bem executado. Reconhecer-se no filho impede o homem de amá-lo. Gostaria de ver essa história estendida em um conto mais longo, embora o autor tenha conseguido concentrar muito bem o conflito em poucas linhas. Parabéns! Desejo sorte no desafio.

  55. antoniosodre
    19 de janeiro de 2025
    Avatar de Antonio Sodre

    Um conto forte, uma temática delicada: a relação pai e filho. Eu acho que as imagens da fumaça, da sensação de frio, são muito bem utilizados para transmitir fortes sentimentos.

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Publicado às 19 de janeiro de 2025 por em Microcontos 2025 e marcado .