Por Gustavo Araujo
Enquanto subia as trilhas que serpenteavam o relevo montanhoso de Teresópolis, o carioca André Lima sentia uma espécie de exasperação. Podia ser o cenário infinito que o desafiava a perder de vista. Ou podia ser simplesmente o frio. Não sabia ao certo. Súbito, foi atingido pelo sol de fim de tarde que, em derradeiro suspiro, vencia as nuvens empilhadas no horizonte. Testemunhou, em enlevo, as labaredas alaranjadas projetadas infinito acima, conferindo ao céu seu brilho mais intenso e mais belo, imediatamente antes de sucumbir ao ocaso. Robert Frost teria apreciado a cena.
André apressou-se. Queria regressar à pousada. Precisava de um momento para si. Para escrever, dar vazão àquele sentimento que brotava com urgência. Que o impelia a transformar em palavras toda a exuberância das montanhas fluminenses. Tinha menos de vinte anos na época. Foi quando percebeu que além do futebol, além do Clube de Regatas Vasco da Gama, além do mar azul do Rio de Janeiro, além de posar para fotos com a boina dos paraquedistas do Exército, gostava de criar suas próprias histórias.
Ingressaria na faculdade de Direito, faria estágio em escritórios de advocacia. Ainda que não fosse apaixonado pelas ciências jurídicas, ao menos poderia praticar a arte da argumentação, para além da hermenêutica, para além da dogmática.
O Direito era pouco. André queria mais. Em 2013, um desafio literário surgiu das profundezas da internet. Um site desconhecido, chamado “Entre Contos” convidava os participantes a escrever histórias sobre o universo “Noir”. Não resistiu. escreveu o conto “Falsa Simbiose”, ficando em 30º lugar. Jamais desanimou. Outros certames surgiram. Em 2015 participou do desafio Multitemas e do Desafio Imagem. Em 2016, do desafio Fantasia, com o conto “O Lobo de Jaih”, chegando ao grupo de finalistas. Em 2018, com “Entregar os Pontos” ficou em 8º lugar no desafio “Experimental”.
Enquanto isso, a vida continuava. André casou-se e assistiu à chegada de seu herdeiro (que se tudo der certo, não será vascaíno). Vieram mais trilhas, mais praias, mais futebol (melhor deixar este assunto de lado), projetos na área de desenvolvimento de games e, talvez por conta de todo esse contexto, um tempo afastado da escrita.
Já era 2024 e André tinha trinta anos. Um bigode respeitável de vilão mexicano surgiu-lhe no rosto. Em junho, enviou uma história chamada “Convite” para a área off do Entre Contos, que retomava suas atividades depois de dois anos sabáticos. Resistir à escrita era mesmo impossível.
No desafio Começo, Meio e Fim, André conseguiu demonstrar que todo o empenho nos mais de dez anos de EC valeram a pena. Iniciou o conto “Barbosa”, continuou o conto “Possessor” e finalizou o conto “Filha de Deus”, ficando em 2º lugar geral, mesmo apostando seu pêssego de estimação. Mas o melhor ainda estava por vir. Foi com o sensacional “Os Sapatos do Meu Pai”, no desafio Nostalgia que André chegou ao ápice da tabela de classificação. Campeão geral com média superior a 9. Uma façanha merecida.
É possível imaginá-lo, anos no futuro, com o filho, em meio às trilhas de Teresópolis, explicando a ele como a visão da natureza pode ser libertadora. Quiçá o menino se inspire também, pensará André. Quem sabe o garoto também escreva. Quiçá calce as botas de seu pai.
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Esta é uma biografia ficcional — onde quase tudo é verdade — do autor André Lima, campeão do Desafio Nostalgia com o conto “Os Sapatos do Meu Pai”. Clique AQUI para acessar todos os textos de sua autoria.
Adorei, Gustavo! Ando com saudade do EC. Qualquer dia desses eu apareço. 🙂
Parabéns, merecidíssimo!!! 👏👏👏
Parabéns, André! Muito merecido! 👏🏻👏🏻👏🏻
Sem palavras… Muito obrigado. O texto está perfeito! Minha trajetória no EC foi o que mais me amadureceu como escritor e não podem imaginar a felicidade que sinto por esse texto!
Excelente! Hahahaha. Gustavao é um mago das palavras, e o André é a nova geração de feras do EC. Se inspirou no Gustavo, chegou no topo e recebeu uma merecida homenagem daquele em quem se inspirou. Parabéns, Andrezao! Cuida melhor desse pêssego aí, rapaz!