
Quando Lívia nasceu disseram que era perfeita. Como toda criança deveria ser. Era doce e meiga, mas tinha tendência ao choro livre e sentido. Chorava até cansar, assim que entardecia. Depois, quando as lágrimas pareciam ter secado, lentamente voltava a ser a criança de sempre.
Quando já conseguia traduzir em palavras o que sentia, não conseguia explicar a razão de seu pranto, só sabia que precisava chorar. E para não preocupar ainda mais os pais, aprendeu a se retirar para um lugar isolado e esperar a crise passar.
Na adolescência já controlava esse sentimento ao ponto de não ceder às lágrimas, mas não conseguia esconder a melancolia. E ainda não sabia identificar o motivo desse sentimento.
Sempre no mesmo horário, não importa onde se encontrava, ou o que estivesse fazendo, aquele sentimento se fazia presente. A palavra mais adequada para descrevê-lo seria saudade. Mesmo não sabendo de quem, ou de onde, ou do quê.
Era uma expectativa crescente por alguma coisa que não sabia “se ou quando” aconteceria. Era um sentimento confuso, mas real. Lembranças de um passado distante? Ou talvez de outra vida? Não sabia, mas parecia estar sempre prestes a descobrir. Sempre!
Separava aquele momento do dia para estar sozinha e não ter que explicar aos outros o que se passava dentro dela.
Mais tarde, se apaixonou por um colega de faculdade, que prestou atenção nela e entendeu sua peculiaridade e a protegia das indagações dos colegas nos episódios em que ela não conseguia ficar sozinha.
Descobriu que muitas pessoas tinham esse sentimento, mas em menor intensidade, muitas vezes uma leve sensação igualmente inexplicável. Não encontrou ninguém que sentisse tanto quanto ela. E isso a levou a crer que fosse de certa forma especial. Mas não sabia se isso viria a ser bom ou ruim.
Quando seus filhos nasceram, experimentou uma compreensão nebulosa e imprecisa do que sentia. Porque olhando para seus olhinhos que lutavam para se manter abertos, sabia que precisava tê-los, que sentia falta deles esse tempo todo, mesmo sem suspeitar.
Mas como sentir falta do que não se teve antes? Estariam nossos dias todos escritos e a alma teria de certa forma um conhecimento inconsciente sobre o assunto? Poderíamos sentir saudade do que nunca experimentamos, mas que um dia ainda iríamos experimentar?
Todas essas questões e muitas outras se formavam em sua mente e embora continuassem sem resposta, tinha certeza que um dia descobriria tudo.
Quando suas crianças já tinham idade para perceber o que se passava ao redor delas, descobriram que a mãe precisava de um consolo especial em determinada hora do dia.
— Fica quietinha que está chegando a hora da mamãe ficar triste.
O filho mais velho alertava a mais nova. E iam os dois e a abraçavam apertado até que a tristeza passasse.
Era lindo ver os dois, ainda mal saídos das fraldas, tentando aliviar um sentimento tão profundo e inexplicável.
Lívia já havia se consultado com psicólogos e psiquiatras que não conseguiram explicar e muito menos curar aquela condição. Todos eram unânimes de que se tratava de um caso atípico e muito severo de nostalgia, mas não conseguiam identificar a fonte, já que não era baseado em nada que ela já havia vivido.
Então, em um dia qualquer, daqueles que não guardamos lembrança nenhuma e que seriam completamente iguais aos outros, se não fosse por conterem em si o poder de mudar tudo, o enigma foi resolvido.
Perto da viração do dia, quando o plenilúnio se aproximava, amenizando o amarelo intenso do sol e purificando o azul do céu, Lívia sentiu aquela sensação de falta, um aperto no coração que chegou a trazer lágrimas aos olhos, parecia que precisava estar em outro lugar fazendo outra coisa. Mas o quê?
Fechou os olhos e respirou profundamente, sabia que iria passar. Era quase como uma dor física, intensa, mas passageira.
Mas daquela vez estava custando a passar. Justo quando estava na rua. Não havia conseguido voltar para casa a tempo. A reunião na escola das crianças demorou mais do que o previsto, e a fila do mercado estava gigantesca. Quando deu por si o dia estava no fim e a aflição começava a apertar seu coração.
Parou o carro. Não dava para dirigir naquele estado. A dor não passava, ao contrário, aumentava cada vez mais. Lágrimas escorriam livremente pelo seu rosto. Se concentrou na respiração longa e profunda.
Repetia para si mesma em voz alta:
— Está tudo bem! Você está bem!
Naquele momento prestou atenção ao ônibus do transporte escolar que estava parado mais a frente. As crianças felizes voltando para suas famílias, cantando uma canção que não conseguia ouvir, mas podia ver seus lábios se movendo sincronizados. A monitora fazia gestos com as mãos marcando a música.
Ouviu seu nome vindo do outro lado da rua. Virou a cabeça e procurou pela calçada deserta. Nada. Mas então viu o carro que descia a rua em alta velocidade, desgovernado. O motorista parecia desacordado, caído sobre o volante.
Então o tempo congelou.
E ela se viu em outro lugar, outra época.
Antes.
Muito antes.
Quando era ainda apenas a essência da vida, criada pelas mãos dele. Viu a vastidão do infinito cheio de cores brilhantes. Campinas e montanhas, mares e lagos, flores e frutos, animais e seres como ela. Tudo era tão brilhante, vívido e intenso. Foi então que o viu, ele que todos os dias, ao alvorecer, vinha pessoalmente conversar com ela.
— Eu preciso mesmo ir embora, pai? — Disse, flutuando ao redor dele.
— Precisa sim, minha filha! Por enquanto você está incompleta. É só um espírito, precisa que eu te dê uma alma e um corpo, só assim estará pronta para voltar definitivamente para casa. Mas não se preocupe, sua passagem pela terra será breve.
A voz dele era grave e profunda, como uma cachoeira batendo sobre as pedras, mas ao mesmo tempo suave como a brisa.
— Mas e se eu me esquecer daqui… e de você?
Seus olhos brilhavam de expectativa. Amava seu lar, sua família, seu pai. Não queria ir embora, mas era necessário. Todo ser criado precisava passar por essa experiência.
— Você não vai se esquecer, confie em mim. A eternidade está dentro de você. Não se esquece de onde você pertence.
— E você vai estar lá?
Seu maior medo era ficar longe dele. Como poderia sobreviver? Ele era a razão do seu existir. Literalmente.
— Claro que sim, mas não como você me vê agora… vou estar diferente.
— Mas então como vou te reconhecer?
Seu sorriso iluminava o universo inteiro.
— Você vai, não se preocupe com isso! Está preparada?
Então ele soprou em sua direção e uma luz suave saiu de sua boca e entrou pelo nariz dela e se acomodou em seu peito.
Lívia via o carro desgovernado vindo na direção do ônibus escolar em câmera lenta. As duas realidades se misturando. Ainda sentia o sopro dele dentro de si. E era ele que agora a chamava de volta.
Será que todos quando percebem que estão diante da morte tem aquele vislumbre de onde vieram e para onde estão prestes a voltar, ou isso só acontece com alguns, talvez aqueles que foram mais conscientes de sua origem,
ou aqueles que eram mais apegados ao pai?
Naquele segundo sabia o que devia fazer. Havia chegado a hora. A espera havia enfim terminado.
Era hora de voltar para casa definitivamente.
Pensou em sua família, seu marido, tão carinhoso, seus filhos, ainda tão pequenos. Eles precisavam dela! O medo paralisou seu coração por uma fração de segundos.
Mas ela sabia que sua passagem por esse mundo seria breve, seu pai havia lhe contado. E tinha certeza de que se ele a chamava de volta, é porque cuidaria muito bem deles. Ela confiava inteiramente nisso.
Ligou o carro e pisou no acelerador com toda a força, ficando entre o ônibus escolar e o carro desgovernado. Prendeu a respiração e esperou pelo que viria.
Dizem que a vida toda passa diante dos olhos no último segundo, mas não disseram que a alma se lembraria de onde veio e para onde deveria voltar. Talvez isso só acontecesse com aqueles que estão definitivamente destinados a partir e quando nada mais poderia trazê-los de volta.
Assim que sentiu o impacto, e os metais começaram a prensar o seu corpo, o sopro que o pai havia colocado nela brilhava como nunca, à medida que a vida se esvaía o brilho aumentava, até que, quando expirou, tornou-se apenas luz.
E como luz, viajou pelo tempo assistindo tudo que houvera antes dela e tudo o que viria depois.
Até que se deparou com uma porta de madeira, estreita e simples. Estendeu a mão e tocou-a. Reconhecia aquela porta, sabia agora que estivera o tempo todo apoiada nela, a poucos passos de casa. Segurou a maçaneta, empurrou bem devagar e a porta se abriu.
A primeira coisa que viu foi o jardim, bem cuidado, multicolorido e cheiroso. Logo em seguida surgiu um caminho de pedras lavradas.
Fechou a porta atrás de si e seguiu pelo caminho. Olhando ao redor, se espantava de reconhecer cada coisa, ainda que parecesse tudo recém criado.
Avistou sua casa ladeada pelo jardim, uma casa de pedra e madeira, com uma varanda na frente. As janelas estavam iluminadas e uma fumacinha branca escapava da chaminé.
Aquela sensação de aperto no coração e saudade, escorria pelos seus olhos, agora sim explicada. Havia voltado para casa.
Correu até a porta e abriu. Porque não se bate na porta da própria casa. E lá estava ele, de costas para a entrada, de frente para o fogo da lareira.
— Pai? — sua voz saiu tremida pela emoção.
Sua vontade era correr e se jogar em seus braços, mas diante dele suas pernas amoleceram e vacilaram.
Ele se virou para ela e abriu aquele sorriso que conseguiria facilmente descongelar os pólos da terra.
— Enfim está de volta, minha filha! — Abriu os braços para ela.
Seu coração descontrolado impulsionou suas pernas e ela conseguiu correr até ele e abraçá-lo.
— Que saudade eu senti do senhor.
Ele acariciou seus cabelos e beijou sua testa.
— Eu sei, eu estava lá e vi tudo! Você foi muito corajosa, estou orgulhoso de você.
Agora estava completa e em casa. Nada poderia ser mais perfeito.
— E meu marido… meus filhos?
Mesmo que parecesse que estavam em um passado distante, ainda se sentia ligada a eles.
— Logo estarão aqui, cada um no seu tempo. Não serão mais seu marido e seus filhos, porque todos são meus filhos, mas você os reconhecerá e o amor que sente por eles será ainda maior e mais puro. Agora, aproveite a eternidade!
Olá, Eliel!
Eu não tenho nem palavras para descrever este conto, está fenomenal, incrível mesmo. Isso tem dificultado, e muito, o meu trabalho. Penso que seria interessante apontar algum errinho, por menor que seja, principalmente para que autor evolua na escrita. Mas não reparei quase nada que pudesse ser alterado. O conto está redondinho, tudo muito bem explicado e com ações que condizem com a realidade. Mesmo quando é falado sobre o plano espiritual, você não deixou estereotipado e a dinâmica entre os personagens permaneceu verossímil.
O início “Quando Lívia nasceu disseram que era perfeita. Como toda criança deveria ser. Era doce e meiga, mas tinha tendência ao choro livre e sentido. Chorava até cansar, assim que entardecia” desperta uma certa curiosidade, queremos entender o porquê desse comportamento, aparentemente, anormal. Você constroi as primeiras fases do crescimento da menina de forma rápida, mas não soou corrido. Aqui temos a introdução do tema “A palavra mais adequada para descrevê-lo seria saudade. Mesmo não sabendo de quem, ou de onde, ou do quê”, aplaudo muito a criatividade para sair do lugar comum, alguns autores, por exemplo, poderiam explorar a perda da pessoa amada como um sentimento de nostalgia. As próximas cenas são mostradas fluxos de pensamento que enriquecem ainda mais a narrativa. “Não encontrou ninguém que sentisse tanto quanto ela”, você continua falando do mesmo assunto, porém eu não tive a sensação que estou lendo a mesma coisa várias vezes e não saindo do lugar. Você consegue explorar e desenvolver bem o sentimento e os questionamentos da personagem. Simplesmente brilhante!
As passagens seguintes demonstram um entendimento cristão, por vezes até mesmo com ideias vindas do espiritismo, que ajudam a explicar essa nostalgia que a menina tem sentido durante toda a vida dela e o porquê desse choro até então inexplicável.
“Quando era ainda apenas a essência da vida, criada pelas mãos dele”, se esse dele estiver se referindo a Deus, aconselho colocar em letra maiuscula.
“Agora, aproveite a eternidade!” o final é a cereja no bolo de um conto muito bem escrito e trabalhado. Gostaria muito de ler outros textos seus. Desejo tudo de bom e boa sorte no concurso! Sou teu fã, Priscila!
COMENTÁRIO: Achei o começo promissor, com uma abordagem interessante do tema, em que a nostalgia não é bem um sentimento, mas uma condição particular com a qual protagonista aprendeu a conviver, sem bem ter a resposta pela maior parte da sua vida. A introdução que nos leva a acompanhar sua vida desde pequena à mãe de família é feita com uma ternura cativante, sendo bonito ver como mesmo dentro da família existe uma compreensão dessa realidade da personagem. Entretanto, quando chega a aprofundar o motivo por detrás da nostalgia, confesso que perdi um pouco o meu gosto pelo conto. A saída fornecida pela autoria é completamente plausível e se encaixa bem com o início da história. Sem especificar a que deus se refere, mantém a característica de uma figura acolhedora e patriarcal que conhece todas as coisas e tem a mais absoluta certeza. Essa interpretação do divino para mim é bastante batida e torna as histórias enfadonhas, pois tira delas o risco para substituí-lo pelo Grande Sentido Virtuoso traçado pela mão divina. A escrita para essa parte é ainda superior à primeira, aumentando seu alcance poético e conseguindo equilibrar bem os dois pés da personagem, um no mundo terreno e o outro no mundo celestial, além de encontrar com verossimilhança a voz paternalista do deus que traz. Entretanto, a ideia do sacrifício me pareceu melodramática não pela escolha desse desfecho, mas pela opressiva narrativa cósmica sobrepondo a narrativa mais humilde de participante entrecontista. É um bom conto, mas o seu segundo segmento me perdeu um pouco.
Um conto bonito.
Gostei do uso que fez dos dois temas ao mesmo tempo, tivemos a aparição da porta e essa sensação de nostalgia com a existência antes da vida. Achei bastante criativo.
A escrita é eficiente e competente e acho que funciona bem com a proposta da história.
O que eu senti falta foi do velho “show don’t tell”. Como o autor(a) quis contar uma vida inteira, acabou optando por informar o leitor sobre partes da vida de Lívia, ao invés de mostrar pequenos trechos que representassem esse incoformismo dela.
E esse tipo de incoformismo tem potencial para gerar cenas tristes, curiosas, engraçdas etc. Aqui, por exemplo: “Mais tarde, se apaixonou por um colega de faculdade, que prestou atenção nela e entendeu sua peculiaridade e a protegia das indagações dos colegas nos episódios em que ela não conseguia ficar sozinha.”
Tem toda uma história condensada em poucas linhas. Acho que o autor não deveria me contar sobre essa parte da vida dela, mas mostrar.
Esse é o maior pecado do texto. Essa opção acaba afastando o leitor do personagem, criando uma certa distância que dificulta a empatia, mesmo diante do final trágico da personagem.
Dito isso, repito que a escrita, a prosa, é boa. Talvez o autor estivesse enferrujado, ou simplesmente sem tempo para desdobrar a história como merecia.
Mesmo assim o impacto geral foi positivo, mas diante da qualidade que o autor demonstrou, acho que tinha potencial para ser ainda melhor.
Eu adorei o conto. É um dos meus favoritos do certame. Fiquei com muito medo dessa pegada espiritualista dar um aspecto de Zíba Gasparetto à história, mas graças aos Deuses da Literatura, a história foi para outro lado.
Curiosamente me lembrou do estilo King quando se propõe a esses dramas espiritualistas… O que já me faz desconfiar da autoria.
A história é muito criativa, poética, bonita. A escrita é envolvente, rápida, dinâmica e tem toda a carga necessária pra um bom conto.
Alguns adjetivos e descrições narrativas me soaram um pouco piegas, único ponto fraco que consigo apontar nesse conto. De resto, todo o envolvimento atmosférico é ótimo e nos carrega pra um final que, ao meu ver, foi arrebatador.
É uma escrita que pode amadurecer um pouco mais, tirar um pouco da aura inicial de “fábula infantil” e ter a pegada mais “madura” do meio e fim. Assim, seria um conto perfeito, nota dez.
Não o foi, mas bateu na trave. Há muita qualidade literária aqui.
olá
um conto bem escrito e emocionante. Achei Interessante o que parece ser uma adaptação da doutrina espírita para criar uma nostalgia por algo além do material e da própria vida. Algo bem novela da globo do tipo A viagem ou Alma gêmea, ou que foi escrita pelo Jorge Fernando rsrs. Foi bastante criativo e saiu do clichê. A escrita é impecável, nada a declarar.
boa sorte!
História – um conto com temática espírita que atende ao tema nostalgia. Uma moça volta para o que considera a sua primeira casa 3/4
Escrita – É um conto bem escrito, com uma linguagem delicada. A autora parece acreditar na doutrina espírita. 3,5/4
Imagem e título – adequados 1/1
O maior mérito aqui, na minha opinião, foi a autora (imagino eu) ter pensado “eu acredito nisso e vou escrever sobre isso”. É muito raro (pelo menos por aqui) ter uma história nessa linha de afirmar a existência do Deus bíblico. Há uma tendência ao contrário, de negar ou subverter, às vezes até zombar… por algum motivo, o status quo da produção artística em geral é considerar esse enfoque como original, rebelde, revolucionário, algo nessa linha.
A parte técnica não está ruim, mas peca (queria evitar esse verbo aqui nesse conto, mas não deu) naquela velha história de contar/mostrar… os eventos são descritos de modo distante, o que não nos permite um maior apego à personagem.
Mas esse não era o “objetivo” do conto, certo? A ideia principal era mostrar esse tipo diferente de nostalgia, como diria menino Neymar “saudade de tudo o que a gente ainda não viveu”, ou a saudade de algo que não se sabe muito bem o que é, de voltar para um lugar que não nos lembramos, a sensação de não pertencimento… no caso, a saudade do paraíso, dos momentos antes da vida. Só isso aí já dá um pano pra manga lascado pra pensar e debater, qualquer que seja a crença do leitor.
BOM
Gostei de ler esse conto, que tem uma história bonita, ainda que simples e um pouco previsível.
A utilização de frases curtas dá uma ideia de ansiedade o que ficou positivo na minha visão, mas acabou que o conto ficou um pouco corrido. Essa velocidade maior dificultou um maior apego à protagonista, seu marido ou filhos. Ficou um pouco distante, na minha opinião.
O final do conto foi um pouco longo e explicado demais, acho que poderia encerrar a história no momento do acidente. A ideia da tristeza bater no momento em que ela iria morrer é interessante, mas não sei se o sentimento mais adequado, ficando a impressão de citar nostalgia pelo tema do desafio e essa ideia ficar um pouco fora do que era a história.
A leitura foi bem leve e agradável, não cansando e fluindo bem.
Olá, autor(a), tudo bem?
Neste desafio, usarei o sistema ◊ TÁ DITO ◊ para avaliação de cada conto.
◊ Título = A POUCOS PASSOS DE CASA > Alguém voltando para casa?
◊ Adequação ao Tema = Tema proposto abordado: nostalgia.
◊ Desenvolvimento = A trama se desenvolve de forma linear, o que ajuda o(a) leitor(a) a se situar na história contada.
◊ Índice de Coerência = Dentro do universo criado na trama, não encontrei pontos divergentes que possam ser considerados como falha de coerência.
◊ Técnica e Revisão = Linguagem simples, sem rebuscamentos desnecessários, mas seria bom ampliar o vocabulário utilizado, evitando algumas repetições que empobrecem o texto.
Algumas falhas no quesito revisão:
Lívia sentiu aquela sensação > Lívia teve aquela sensação
que iria passar/custando a passar/A dor não passava = repetição do verbo passar (muito próximam)
parado mais a frente > parado mais à frente
recém criado > recém-criado
os pólos da terra > os polos da Terra (polo não tem acento)
◊ O que ficou = Uma sensação de ter lido uma espécie de fábula com lição de moral ou até mesmo religiosa. Não é nada pesado ou piegas, mas tem esse aspecto de uma narrativa pedagógica.
Parabéns pela participação e boa sorte!
Olá Eliel, que significa “Deus é senhor” em hebraico. Gostei bastante do seu conto, da forma elegante com que desenvolve a narrativa, nunca deixando cair a pressão sobre o leitor nem desvendando precipitadamente a trama. Poderia ser um conto religioso, mas sem os contornos estritos de qualquer religião. Assim sendo, fica a espiritualidade de uma mulher que pressente um acontecimento e que quando o mesmo acontece o aceita de forma serena. Quantos de nós estaríamos dispostos ao sacrifício que esta mulher fez? Creio que é este o ponto chave do conto, cujo desfecho é impactante. Como ponto negativo, algumas escolhas em termos de pontuação, que quebram a fluidez do texto e algumas palavras eruditas que não acrescentam nada ao conto. Nenhum desses pontos que considerei negativos tiram qualidade ao texto. Parabéns.
Um conto fundado em crenças religiosas e com um final reconfortante. Está bem escrito e perfeitamente dentro do tema. É um texto correto que deve agradar a muitos leitores. Para mim, faltou um pouco de punch. O texto está bem revisado.
Um conto bem escrito, capaz de promover leitura fluida.
Notadamente com temática espírita, aborda o sentimento de saudade inexplicável da vida humana pela eternidade da alma e dos afetos.
É um conto singelo, religioso, emotivo. Trata-se de uma curta história, quase sem apelo a técnicas da escrita ou do conto. A partir de determinado momento o leitor ‘descobre’ que a trama é espírita e o conto se dilui, não segura mais o leitor (embora esteja bem escrito) simplesmente porque há uma previsibilidade quanto ao final. Talvez seja isso: faltam camadas ao texto. Que outros sentidos podem ser apreendidos?
De qualquer forma, foi um texto agradável.
Parabéns!
A Poucos Passos de Casa (Eliel)
Prezado(a) autor(a):
Para este certame, como os temas são bastante díspares, dificultando quaisquer comparações, vou concentrar mais minha avaliação em três aspectos, e restritos à MINHA PERCEPÇÃO durante a leitura: a) premissa; b) técnica; c) efeito. Mais do que crítica ou elogio, espero que minha opinião, minhas sensações como leitor, possam ajudá-lo a aprimorar a sua escrita e incentivá-lo a continuar.
Obrigado e boa sorte no desafio!
DR
A) PREMISSA: o sobrenatural e o pós-vida são a essência desse conto, que começa com uma abordagem sensível, tratando do tema da tristeza e da depressão, com episódios constantes, e dando a eles uma explicação metafísica, como lembrança de outros planos e da missão dos espíritos nesse plano. Me parece muito que o autor tratou de temas que lhe são caros, mais do que pensou em competir do desafio, o que levo em consideração nas análises a seguir.
B) TÉCNICA: com sensibilidade, o autor vai construindo a personagem principal e seu destino, com as interações com o ambiente e seus coadjuvantes – colegas, pai, familiares. As descrições são comedidas e justificadas, e a narrativa dos fatos apresenta uma naturalidade notável. Porém, não posso deixar de ver que a porta, como tema, tem pouquíssima importância na história.
C) EFEITO: o efeito final é bom, ainda que o autor não tenha necessariamente atendido ou se inspirado no desafio para narrar sua história. Gostei, mas não posso colocar à frente de outros, em que o tema claramente está mais destacado. Boa sorte no desafio!
Este conto começou muito bem. O mistério inexplicável aguçou a minha curiosidade. Depois virou religião, e aí perdeu-me por completo. No fim fiquei com um monte de nada. Que desperdício de um bom começo…
Oi Eliel.
Uma mulher guarda reminiscências de uma existência antes da vida. Estas reminiscências causam uma forte nostalgia ao final do dia. Por fim, ela cumpre sua missão e volta para casa.
Uma história simpática, de cunho levemente religioso/espiritualista.
Engraçado que o começo me interessou muito, pois eu também sinto esta espécie de tristeza no final da tarde. Normalmente, preciso sair acendendo todas as luzes da casa, ligar uma música ou a TV e esperar um pouco até me sentir confortável novamente. Enfim, estranhezas.
Este é um enredo meio batido. Eu sou do time que não dá muita bola para originalidade, pois acho que todas as histórias já foram contadas. Mas, aqui, não consigo deixar de sentir que já li/vi esta história antes. Talvez no meu passado esotérico eu tenha topado com alguma parábola, ou conto semelhante, falando sobre a roda da vida, sobre retornar à fonte, sobre sermos irmãos, etc.
De forma que, apesar de ter gostado, não consegui deixar de sentir como se estivesse sendo “instruída”.
Minha pitada de achismo: uma história bonita e simpática, mas a um passo da lição de moral.
Gostei ou não gostei: mais ou menos. Gostei do começo. Não sei se gostei muito do andamento e do final.
A Poucos Passos de Casa – Eliel
Resumo + Comentários gerais:
O conto narra a trajetória de Lívia, uma mulher marcada desde a infância por uma inexplicável melancolia que surgia sempre ao entardecer, como uma saudade de algo que ela não conseguia identificar. Apesar das consultas com especialistas, ninguém conseguia explicar a origem desse sentimento. A história toma um rumo espiritual quando, em um momento de extrema aflição, Lívia tem uma revelação: sua saudade era de um lar anterior à vida terrena, onde convivia com seu criador, a quem chamava de Pai. Esse vislumbre ocorre enquanto ela se sacrifica para salvar crianças de um acidente de trânsito, colocando sua vida em risco para protegê-las.
No instante de sua morte, Lívia experimenta a transição de volta ao seu lar eterno, onde reencontra o Pai, que a recebe com orgulho e amor. A saudade que a acompanhara por toda a vida finalmente se desfaz, revelando que sua existência terrena fora apenas uma breve passagem antes de retornar ao lugar ao qual sempre pertenceu.
Frase/Trecho de impacto:
— Fica quietinha que está chegando a hora da mamãe ficar triste.
O filho mais velho alertava a mais nova. E iam os dois e a abraçavam apertado até que a tristeza passasse.
Adequação ao tema (0 a 3) – Avalio se o conto aborda o tema proposto de forma coerente, aprofundada e relevante para o Desafio: 2
Talvez este seja uma pequena polêmica; não senti que o tema Nostalgia foi abordado. Assim, ele está lá (ao mesmo tempo que não está). É algo bem resvalado, fora de foco.
Construção de Mundo e personagens (0 a 2) – Avalio a profundidade dos personagens e a ambientação, incluindo o cenário e como tudo interage para fortalecer a narrativa: 1
Em termos de construção, eu diria que o conto está muito simples. Extremamente do A para o B. OK, funciona bem dentro desse conto,
Entretanto, a narrativa, que como eu falo a seguir em termos de impacto emocional, me soou pouco real. Pelo menos para mim, o que exemplifica isso foi a revelação divina; tão clara, logo antes de toda a tragédia de se desenrolar… Sei lá, para mim não desceu. Revelação divina, dessas que mostram o propósito da pessoa, não sei se são tão claras. E trocar assim sua família pelas crianças, por mais heróico e bonito que seja, não despertou nem mesmo uma sensação de será? Meus filhos, minha vida? Nem mesmo pestanejar? Duvidar?
Enfim, não curti.
Uso da linguagem (0 a 2) – Avalio a qualidade da escrita, incluindo o estilo, clareza, gramática e fluidez dos diálogos: 1,5
A escrita está simples. Talvez, até demais. Ainda assim, é uma boa escrita.
Percebi poucos erros gramaticais:
·Ao ponto de =a ponto de· “Até que se deparou com uma porta de madeira, estreita e simples. Estendeu a mão e tocou-a. Reconhecia aquela porta, sabia agora que estivera o tempo todo apoiada nela, a poucos passos de casa. Segurou a maçaneta, empurrou bem devagar e a porta se abriu.” => Repetição de palavras
Estrutura Narrativa (0 a 1,5) – Examino o fluxo do enredo, a clareza da introdução, desenvolvimento e conclusão, e se o ritmo é adequado: 1,5
O conto está bem estruturado, com um ritmo adequado. 1,5 com muita justiça.
Impacto Emocional (0 a 1,5) – O quanto a história conseguiu me envolver emocionalmente, provocar reflexão ou cativar: 0
Esse é um conto de fé. Quando bem trabalhada, a fé é um tema que me cativa normalmente. Logo, essa história tinha tudo para ser bem cativante. Infelizmente, não foi o caso desse conto.
Resumidamente, em dois pontos, o que me pegou nesse conto é quão óbvio as coisas foram se desenrolando e como faltou o lúdico.
Sobre o primeiro, a impressão honesta que eu tive foi de estar lendo uma historinha quase infantil com uma moral, ao maior estilo água com açúcar. Quase como se o marido contasse para os filhos da personagem porque a mamãe não voltaria para casa. Não funciona para mim. Existe uma ingenuidade nessa narrativa, que vai permeando todo o conto, e que não conquista. A mim, serviu para me afastar. A tristeza crônica da personagem principal, não diagnosticada como depressão, pontual com o final de tarde. A tristeza crônica se revelando como a nostalgia que sentia de estar ao lado do pai (ou seria Pai, como Deus?) no Paraíso, e que seu propósito, revelado num flash, na vida seria se sacrificar em prol de salvar a vida daqueles desconhecidos…
Acho que a saída para melhorar o conto nesse aspecto é tornar a narrativa mais real, e menos como uma alegoria básica. Se a vida imita a arte, é porque a vida, assim como a arte, caminha lado a lado com a imprevisibilidade e com o que não é óbvio. E, tratando-se de fé, as coisas se tornam bem menos óbvias. Logo, por exemplo, será que a revelação divina seria tão clara, instantes antes de se desenrolar o acidente?
Além disso, não sei se a autora/o autor é uma pessoa inexperiente ou não em termos de escrita, mas acho que senti falta do lúdico. Aqui, uma escrita mais lúdica seria uma que trabalhasse melhor o vocabulário, embelezando-a, brincando com elas. Cenas mais bem trabalhadas, mais bem construídas. Por exemplo, o Paraíso está tão alinhado com aquilo que se imagina geralmente, um Paraíso genérico… Jardins, animais, flores, natureza… Mas não poderia ser um outro cenário? Um Paraíso, por exemplo, que refletisse um local que a protagonista gostasse. Achei uma escrita crua!
NOTA FINAL: 6
Achei esse conto extremamente bonito e sensível. Apenas um parágrafo me incomodou:
“Será que todos quando percebem que estão diante da morte tem aquele vislumbre de onde vieram e para onde estão prestes a voltar, ou isso só acontece com alguns, talvez aqueles que foram mais conscientes de sua origem, ou aqueles que eram mais apegados ao pai?”
Achei esse parágrafo particularmente explicativo demais para todo o tom que foi construído na narração do conto. Nos parágrafos seguintes seguem algumas explicações importantes, mas especialmente nesse, parece que a narrativa mudou. Mas foi apenas ali.
Tirando isso, linda história e ótimo conto.
Gostei da abordagem do tema aqui, nostalgia por algo que não foi vivido… ou, neste caso, por algo que se esqueceu. Sentir saudades do tempo antes da vida! Uma ideia e tanto.
O conto é bem escrito, as descrições são fluidas e pintam bem as cenas. O tom quase inocente da narrativa, um pouco ingênuo até, dá uma certa personalidade ao texto. Gostei da forma como você faz a nostalgia ser também uma profecia: ela sente saudades da sua pré vida, mas a tristeza vem sempre no horário de sua morte. Bem interessante!
Se eu tenho alguma crítica aqui, seria a falta de impacto. Talvez pela falta de espaço não foi possível construir tão bem a ligação entre Livia e o leitor, permitindo que se sinta a sua angústia ou a conexão com a sua família. O marido e os filhos de Livia são apenas palavras que não tiveram tempo de se concretizarem em algo a mais, aqui.
No geral, foi um conto bom de ler. Parabéns!
Oi Eliel, tudo bem?
Seu conto está muito bem escrito. Não encontrei falha nenhuma, a escrita é simples e efetiva. Consigo entender perfeitamente tudo que você pretende. Está muito leve e claro.
Em termos de história, seu texto me dá a impressão de uma expressão de fé, onde a autoria manifesta em um conto algo no qual acredita. Talvez tenha o intuito de expressar bons sentimentos acerca de suas crenças em relação ao que ocorre após a vida e sobre a realidade. Dificilmente vejo alguém que não acredita nas ideias do conto escrevendo algo assim.
Me parece que, por conta da boa escrita e das ideias, essa intenção de inspirar a fé e espiritualidade funcionaria bastante com pessoas que compartilham das crenças expostas no conto. Com certeza se emocionariam e achariam muito bonito.
No entanto, com pessoas que procuram algo mais complexo, diferente, ou que simplesmente não compartilham dessa visão da realidade, não há muito para se apreciar em termos de história. Apesar de tecnicamente bom, a narrativa é contada de forma um pouco distante da personagem, o que não confere muita emoção para quem lê. Como disse acima, provavelmente emocionaria quem já compartilha das crenças da história.
Acredito que no EntreContos não será tão popular, mas deve existir espaço para essa história em outros locais. De qualquer forma, veremos.
Se, no entanto, é o estilo de história que gosta de escrever, digo para que continue. No fim, é isso que importa. Não precisamos agradar a todos os leitores do mundo.
Obrigado pela participação e boa sorte no desafio.
O que achei deste conto: Não sei…
O começo até que estava me chamando a atenção. A narração seguia com um tom de fábula, mostrando uma garota chamada Livia. Livia não era apenas uma criança chorona… ela parecia ter o talento nato de uma carpideira! Todo dia, por algum motivo mágico, ela tem uma crise de chororô. Fiquei curioso para ver onde essa linha narrativa me levaria… mas no final sente quase como se o texto quisesse me converter para uma nova religião.
Em certo momento, a história começou a me fazer alguns questionamentos como se a linha narrativa estivesse tirando conclusões precipitadas, dizendo:
“Mas como sentir falta do que não se teve antes? Estariam nossos dias todos escritos e a alma teria de certa forma um conhecimento inconsciente sobre o assunto? Poderíamos sentir saudade do que nunca experimentamos, mas que um dia ainda iríamos experimentar?”
Tá………… mas achei um pouco abrupto demais chegar a essas conclusões. Primeiramente, acho que Livia deveria ir a um psicólogo, ou até mesmo a um psiquiatra. Em certa parte do texto, é revelado que ela já fez isso. Só que foi tudo off screen… seria mais interessante se isso tivesse sido mostrado para o leitor, e não contado. Em seguida, Livia poderia visitar uma cartomante, ou um guru místico…. para, quem sabe, o próprio leitor chegar a essas conclusões, e o autor não ter que ficar jogando de forma repentina na nossa cara.
Minha reclamação é que a história pende para um lado mágico, ou místico, mas sem preparar o leitor para isso. Ela muito conta, e não mostra nada. O autor espera que o leitor simplesmente acredite em todas as suas palavras, mesmo sem mostrar evidência alguma. E no ato final da história………. Livia sente que lembrou de algo de antes de sua vida, e então…………… ela comete SUICÍDIO??? Não dá para chamarmos aquilo de acidente. Ela viu o motorista desgovernado vindo, e ela não só aguardou pelo desastre, como se posicionou no ponto exato em que ela não teria escapatória. Ah…. pelamor, né? Será que ela se esqueceu de tomar os remedinhos dela nesse dia?
A conclusão da história, com o pai celestial, para mim foi sem pé nem cabeça. Foi bonito, mas não fez sentido para mim. Essa foi a parte do conto que eu menos consegui me conectar… foi como se tivesse faltando alguma informação. Talvez, o texto exigisse algum tipo de pré-requisito que eu, como leitor, não possuo. Porque tipo…. do nada apareceu o pai de todos, e a história em momento nenhum deu qualquer tipo de pista sobre isso? Achei, no mínimo, estranho e repentino demais.
A escrita é muito boa e envolvente. O que eu mais admirei aqui é que este conto é ousado, e ele preza pela criatividade. No entanto, achei que faltou amarrar direito as informações apresentadas… ou melhor… dar mais pistas para o leitor sobre o universo mágico da história. O limite de palavras até permitia isso, pois o autor parece que não usou nem a metade do limite determinado no edital deste desafio… então o que me faltou, pelo visto, foi vontade. E entenda que não estou reclamando deste conto ser curto, pois eu adoro contos curtos e bem contados! Estou reclamando deste conto está acoxambrado e com muitas informações jogadas de forma repentina no leitor.
De qualquer forma, admiro que este conto ao menos tenha tentado fazer algo diferente. Boa sorte no desafio!
Um conto gospel no EC. Muito bacana a narração. Tem um jeito de fábula para crianças ou até adolescentes — muito bem escrita, a propósito, algo que cativa fácil o pessoal dessa faixa etária ou mesmo quem, já adulto, tem consigo essa necessidade de acreditar em algo além do terreno.
No início, ainda alheio a essa ideia, tive a sensação de que o conto estava indo para algo totalmente diverso. Isso por conta da provocação habilmente colocada pelo autor acerca do sentido de nostalgia — algo que nos provoca saudades sem que necessariamente o tenhamos vivenciado. Cheguei a pensar que viria um conto sobre implante de memórias ou algo assim, mas logo percebi que estava enganado. O conto foi para um lado que eu não antecipei.
Eu poderia dizer que isso me frustrou um pouco, mas, olhando o texto finalizado, creio que casou bem com a proposta. Lívia tinha saudades de algo que estava dentro de si, ou de alguém que já conhecia. Depois vemos que em sua vida terrena ansiava pelo reencontro com o pai, ou com o Pai.
Como ateu, mais ligado à filosofia de Espinosa, digo a você, caro autor, que não consigo enxergar esse tipo de história senão como fábula, mas sei que é o tipo de narrativa que serve como antídoto contra o desespero que se sente quando algo de muito ruim acontece.
É certo que o ser humano precisa de consolo, precisa se convencer de que, no fim, tudo será resolvido pelo melhor, por mais melancólica ou desesperançada que seja sua existência. Sei que são histórias como essa que, de um jeito ou de outro, acabam tornando a realidade suportável.
Nesse contexto, o conto cumpre o objetivo a que se propôs, de servir como uma vela na escuridão, especialmente para quem partilha dessa visão de mundo. Em todo caso, também aqueles que possuem uma visão mais pragmática da vida podem achá-lo divertido enquanto fábula.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Penso que o conto está baseado numa ideia de reencarnação, não propriamente Vidas Passadas, nem na Doutrina Espírita, ou como Verdade Filosófica Científica. Não se refere a crença religiosa, longe disso. Há uma semelhança inclusive com outras crenças orientais, nada mais que isso e não se trata disso, é apenas um conto. Há realmente, pessoas que se sentem estranhas a esse planeta, como se fossem de outro lugar. Gostei da história, acho que é um bom conto, está bem escrito, bem estruturado, começando pelo nascimento, o choro da criança, a melancolia na adolescência, a nostalgia inexplicável. Aos poucos o mistério vai sendo revelado e o final conta a razão de tudo. Não achei nenhum problema na escrita ou nas ideias. Parabéns e boa sorte.
A primeira inspiração, digamos assim, espírita ou religiosa para o tema “Portal/Portas”. Está bom. Há certos momentos entre os parágrafos, que senti necessidade de ler e reles, para captar o sentido completo e não perder o fio narrativo, mas são quase imperceptíveis no cômputo geral. Nada como um pouco de atenção, de foco. Deve ser, inclusive, um preconceito de minha parte em entender a narrativa como uma referência à espiritualidade e reencarnação e, portanto, a referência ao Pai de todos ter “escorregado” para letras minúsculas. Mas é a tal da licença poética, ou algo assim. A “característica” da protagonista em relação à nostalgia, ou saudade de casa, de derramar sua tristeza em certo momento dos seus dias, me pareceu totalmente desnecessária. Acredito que funcionaria com “uma pessoa melancólica e taciturna, pouco dada a esticar os papos e o tempo de convívio além do estritamente necessário”. Talvez a Lívia ganhasse um pouco mais de nuances e contornos. Se o leitor entra na reflexão a respeito da personagem, conclui como alguém amargurado e com tendências suicidas, penso eu. Parabéns e boa sorte no certame.
A poucos passos de casa
Resumo:
Filha de Deus volta pra Deus.
Comentários:
O conto adota soluções óbvias e juvenis na redação e no enredo. Mulher feita por Deus nutre saudades da casa do Pai e ao Pai retorna após sacrifício altruísta em prol de criancinhas que deixam o ônibus escolar. Não há justificativa plausível para essa mulher, em especial, ser “a” filha do Pai… Por que ela e não qualquer outro? Por que o Pai está na casa-cabana para ela e não para os outros? O pai é só dela ou é também de outros?
Há muitas perguntas não respondidas. Por que essa mulher tinha de encarnar? Por que só a ela era reservado o privilégio de lembrar (através da saudade e do choro) da vida antes da encarnação?
A abordagem do tema é um problema. O conto é sobre porta ou sobre nostalgia? A mulher padece de nostalgia, mas a imagem Ilustrativa remete à porta. Há portas no conto, mas porta por porta, toda casa tem porta (e no conto há casas). Mas haver portas no conto não é suficiente para se ter o tema porta suficientemente abordado. É preciso que o tema ocupe algum protagonismo.
O tema nostalgia, ou seu quase sinônimo saudade, ocupa protagonismo, mas, aí, surge o problema da superficialidade da abordagem. A mulher sente saudade, sem motivo, sem explicação nenhuma. Não há aprofundamento. A explicação de que sente saudade do Criador até poderia ser suficiente se admitíssemos que essa mulher fosse uma profeta, um Jesus redivivo na forma de uma figura feminina… Nessa hipótese, até daria pra admitir como aceitável a explicação de que a mulher sente saudade do Pai, do Criador. Mas não, essa mulher não é nenhuma profetisa, não veio do Pai para salvar a humanidade, para edificar Sua igreja. Não. Ela veio para salvar meia dúzia de criancinhas que o Pai, por um motivo qualquer, resolveu tomar por especiais enquanto ignora todo o resto da humanidade e seus problemas.
Bom dia, amigo(a) escritor(a) do(a) Encontrecontos, tudo bem?
Primeiramente, parabéns por superar a nostalgia do desafio de trios e entrar no portal do novo certame! Boa sorte e bora pra sua avaliação:
Tema escolhido: nostalgia e um tiquinho de porta, colocado ali só pelo easter egg hihihih.
Abordagem do tema: 100%.
Comentários gerais: gostei da abordagem diferenciada do tema nostalgia. Enquanto a maioria dos autores escolheu falar sobre nostalgia sentida por eventos do passado, você surpreendeu falando sobre nostalgia do que ainda não se viveu e nostalgia do que se viveu, mas não se sabe que viveu e não se lembra. Uma forma de ilustrar a eternidade da vida e a unicidade de passado, presente e futuro, temas centrais de várias religiões. Ou, de forma menos espiritual, como diria Neymar: “saudades do que ainda não vivemos”. Kkkkkkkk
Conforme já mencionado na introdução do meu comentário, esse conto tem um forte teor espiritual e religioso, apesar de não declarar uma religião específica, focando mais na espiritualidade e na crença da vida eterna após a morte ao lado do criador. Ao não mencionar Deus, e se referir a ele com minúscula, não escolheu um deus específico, não destacou o deus cristão, por exemplo, mas focou no espírito e no retorno ao criador.
Sua escrita é muito segura e claramente você é veterano(a) por aqui. A estrutura, a técnica, a fluidez, a facilidade na escolha das palavras criando uma escrita simples, mas bela, demonstram isso. Parabéns.
Quanto ao enredo, não chega a ser nada grandioso ou original, uma vez que, como já mencionei, meio que reproduz a ideia principal das principais religiões ocidentais, então é algo que lá vimos ou lemos ou ouvimos antes em algum lugar. Você incorporou essa história na pele da protagonista, exemplificando a vida de alguém que serve a deus durante a vida e o reencontra após a morte. Para mim, não foi um conto muito marcante ou emocionante, pois não é algo novo, e eu não sou particularmente ligado às religiões que têm o pós vida ao lado do criador como base filosófica. Claro que isso não me impede de gostar de boas histórias do gênero, e tampouco tenho alguma barreira ou preconceito. Só quero dizer que o gênero por si só não me causa grande emoção ou arrebatamento, e a história do conto não ciumpriu esse papel, tampouco. É uma história bastante linear, onde é possível deduzir a conclusão bem cedo.
De todo modo, a escrita impecável e a beleza das palavras conduz bem a leitura, sem se tornar monótona ou chata em nenhum momento.
Ah, queria só mencionar que, talvez devido ao curto prazo com que vocÊ enviou o conto, tenha faltado um pouco de tempo pra uma revisão mais apurada no final, e você acabou cometendo uns deslizes bem no finalzinho, como uma pulada de linha após uma vírgula e uma repetição de ideias. Nada demais, claro, mas achei que valia mencionar.
Ah, vale mencionar também que o nome Eliel e o título do conto facilitaram que eu previsse o desfecho do conto. Eliel = “Meu Deus é Deus”, em hebraico.
Sensação final: fui convidado para ouvir um relato altamente religioso e espiritual que, apesar de não equivaler às minhas próprias ideias sobre a vida e a morte, foi tão bonito e bem contado que me manteve atento até o fim. Ao final, no entanto, as palavras do testemunho não me tocaram tão profundamente, e eu terminei com uma sensação de ter ouvido algo belo, mas não emocionante.