
Viviam em uma casa mais antiga que a memória. Era feita de pedra e madeira, para manter o calor dentro e os males do lado de fora. A água vinha do rio, gelada e pegajosa, recusava-se a sair da mão quando lavava. No jardim havia um portão que parecia estar lá desde o início do mundo. Usava as dobradiças como bengala, encurvado para um lado em uma queda eterna. Catrina imaginava o som que o portão faria ao abrir: um longo e melancólico rangido ferroso. O som cantava em sua imaginação sempre que se via olhando para ele, apesar de nunca o ter visto se mexer. Desde as suas primeiras memórias o portão era uma imagem em pausa, amarrado com corrente e cadeado. A mureta que o segurava há muito fora abraçada pela vegetação rasteira, mas as folhas e o musgo evitavam tocar o ferro.
“Tia Zu, para onde leva aquele portão?”, falou a menina Catrina um dia, olhando pela janela da cozinha. Dali não era possível avistá-lo escondido entre as dobras das árvores, mas sabia que estava lá. Todos que entravam na casa tinham ciência do Portão.
“Nada de bom, minina, só um monte de mato”
“Mas se é só mato então não é bom nem ruim também, é só mato, né?”
“Aquilo lá é mato véio, do tempo que nem eu lembro. Tem coisa escondida lá que num sei o nome e nem você qué sabê”. Zuleide andou até ela e apertou o seu nariz. “Mantém esse fucinho longe de lá, tá entendido? Sua levada”
Para Catrina, assim como o portão, Zuleide sempre foi velha. Seu pai dizia que ela era parte da casa, que cuidava do lugar antes de ele chegar, e antes de antes dele também. A empregada sempre falava daquele jeito sóbrio, como se soubesse o que se passava por trás da cortina da vida. Conhecia um chá para cada enfermidade e uma reza para cada santo. Sabia os nomes dos insetos debaixo das folhas, e das criaturas que projetavam sombras na janela de Catrina em noites de insônia. Cantarolava trovas que pareciam vir do berço da humanidade, do redor das fogueiras de quando o fogo era tudo o que se sabia fazer.
Em especial, ela falava do Kondi Cinzento. Acendia velas em seu nome, e fumava de um cachimbo que vinha da sua madeira.
“Quem é este conde de quem tanto fala, Zuleide?”
“É o sinhô dessas terra, o sinhô num sabe? Ele vem de Baixo mas te olha de Cima, e se veste com o céu e com as cinza”
O pai de Catrina ria, sem nunca olhar nos olhos, sempre atento a outra coisa.
O jardim da casa era amplo, e foi, por muitos anos, um palco para as danças que Catrina dividia com a mãe. Costumavam dançar nuas sob a luz da lua, com os grilos e os sapos e as plantas como plateia (e o portão, sempre o portão, no canto do olho e da mente). Catrina tentava imitar a mãe e as suas pirouettes perfeitas, de olhos fechados e braços abertos. Saltitavam com os pés descalços na grama molhada, a brisa fria tocando o suor do corpo. Dançavam sempre sob o alerta do pai, que anunciava sem falha, que cedo ou tarde pegariam uma gripe. Seu pai era um homem simples, de costumes arcaicos. Sua mãe, por outro lado, era grande demais para aquela casa. Tão grande que mal cabia dentro do próprio corpo, a alma querendo sempre se desprender, insatisfeita com a prisão de carne.
“Dançar faz bem para a alma”, ela falou um dia, lembrando-se da sua época de bailarina. “Dançar é coisa de corpo, então quanto menos entre a pele e o mundo, melhor”.
Foi vendo os vídeos das apresentações de ballet da mãe que Catrina gostou de dançar. Quando a enfermidade prendia a mãe sobre a cama, ela rodopiava sozinha pelo jardim, as pernas e braços ondulando como água, o corpo girando e girando, em pirouettes perfeitamente incompletas.
Zuleide costumava observar mãe e filha das sombras, sorvendo do seu cachimbo. Quando a mãe estava doente, por vezes ela mesma ia até a grama ensinar a garota a dançar da sua maneira, o corpo curvo e próximo ao chão ao invés da leveza aprumada, o cabelo jogado sobre o rosto ao invés da presilha. A menina praticava as duas danças com comparável fervor, adepta do movimento, feliz por apenas poder dançar.
Pouco depois de completar seus treze anos de vida, Catrina viu a mãe partir para o outro lado do véu. Naquela noite, o frio mordia com mais afinco aqueles dedos que ela apertava na palma da mão. Acompanhou as idas e vindas da mãe, saindo do mundo e retornando, a mente escorrendo para cada vez mais longe. Antes do último suspiro, jurou ouvi-la sussurrar que a amava. Os dedos da mãe penderam soltos na sua palma, uma última reverência para uma ínfima plateia. Só então Catrina deixou as lágrimas correrem soltas pelo rosto.
O título de órfã coube nela como uma roupa doada por alguém grande demais. As notas na escola despencaram. Seu pai estava sempre muito atarefado para ajudar-lhe com os números, e Zuleide, apesar de conhecer as idas e vindas das raízes e dos animais, parecia ter ojeriza aos livros-texto.
“Isso é coisa pra quem manda no mundo. Eu sô só uma senhorazinha. Eu deixo o mundo me mandar.”
Catrina passou a dançar no jardim com mais afinco, os passos antes leves agora maculados por um toque de raiva. Certo dia o orvalho que cobria a relva a fez escorregar. Caiu e quis chorar, mas a mãe não estava lá para ajudá-la a levantar. Ergueu-se sozinha. No dia seguinte, e por muitos dias após aquele, não saiu para dançar.
Em uma tarde particularmente melancólica, quando os pensamentos ruins não a permitiam fazer nada do que queria, Catrina desceu as escadas para comer alguma coisa. Achou uma banana na cozinha, descascou-a, e estava prestes a jogar a casca fora quando ouviu a voz de Zuleide vinda da mesa. Estivera lá o tempo todo. Às vezes, a empregada não parecia muito diferente do resto da casa.
“Dá aqui minina, não joga fora não”
“Por quê?”
“Vô dexá no jardim, pro Kondi”
“Que conde, tia Zu?”
“Já falei dele procê. As casca de banana vão pro Kondi Cinzento, do cinzeiro-pataguá, pra ajudá…”
Catrina lançou com força a casca da banana para dentro da lixeira, e fechou o tampo.
“Que isso minina?”
“Ajudar o que, Tia Zu? Ele não ajudou aqui em casa, ajudou?”
Zuleide a abraçou, acariciou os seus cabelos cor-de-carvão.
“Tem nada não, minininha. As Pessoa de Cima e de Baxo ajudaro a sua mãe a atravessá pro otro lado”
“E eu, tia Zu? Quem me ajuda?”
A empregada sentia a blusa molhar com as lágrimas de Catrina.
“Eles te ajudaro a vê a vida de otra manera, filhinha”
“É sempre assim, né? Se é ruim, eles planejaram, se é bom, eles abençoaram. Mas não é bom, é só ruim, e eu não aprendi nada, só fiquei mais triste”
Catrina correu para o jardim. Sentiu o chinelo amassar a grama molhada da chuva recente, os pés afundarem no chão de terra úmida. Ignorou o alerta de Zuleide, pedindo para que não se afastasse demais, e que voltasse antes de escurecer. Catrina queria se esconder, ficar longe do mundo por um tempo. Correu até ver o portão velho no canto do jardim. Ele a olhou de volta. Só queria chorar e deixar o tempo levar embora as lágrimas, mas o Portão deu a ela outra ideia. Tornou-se subitamente consciente da própria idade, da altura, de como não visitava aquele lugar há anos, e que agora podia alcançar o cadeado sem ter que se esticar na ponta dos pés. Admirou-se, agora mais próxima, notando que o cadeado e a corrente eram apenas ilusões. Estavam lá, sim, mas não prendiam nada. Eram enfeite de ferrugem e limo. A única coisa que mantinha o Portão no lugar era a terra onde ele havia afundado. Catrina o ergueu e o empurrou. Foi agraciada pelo lamento ferroso e arrastado que sempre imaginou que ouviria ao vê-lo abrir. Um sorriso brotou entre as lágrimas. Ocorreu-lhe que, se queria fugir do mundo, não havia lugar melhor do que ir para onde ninguém queria ir.
Do outro lado do Portão, as nuvens cinzas deram lugar ao céu azul e ensolarado. O perfume das flores pintava o mundo com cores diferentes. Até a brisa era menos gélida, acariciando os seus cabelos ao invés de lançá-los de um lado para o outro. Catrina deixou o corpo cair sobre o chão fofo de relva seca e, diante daquele azul e verde, entre as flores e as árvores, chorou. Pranteou até as lágrimas queimarem os olhos, e até o peito arfar cansado dos soluços. Esperou as narinas desentupirem e deitou-se na grama. Sentiu o toque quente do sol na pele, lembrou do carinho da mãe. Fechou os olhos, deixou o tempo passar. Apertou o solo com as mãos, sentiu a folhagem entre os dedos e o seu punho moldar a terra.
Uma sombra interpôs-se entre ela e o sol. Quando abriu os olhos, viu que uma árvore a observava, curiosa. Seus galhos se abriam como os braços quebradiços que um dia lhe ensinaram a dançar. Catrina se levantou, aceitou o convite. Dançou com o Cinzeiro-Pataguá, mão de carne e dedos de madeira unidos em movimentos síncronos. Aceitou as suas sugestões, corrigiu os seus movimentos. Fez uma reverência.
Sorriu.
Quando voltou para casa mais tarde do que deveria, suja de terra e com o rosto feliz, não ficou irritada quando Zuleide mandou-a direto para o banho, nem notou os olhos desconfiados da empregada.
Não demorou para aprender a ultrapassar o limiar do Portão sem ressalvas, saltitando entre as flores, deslizando com o vento. Na escola as notas voltavam ao normal. O Cinzeiro-Pataguá a ensinava sobre os nomes das nuvens e dos relevos. A terra contava-lhe a história do mundo. Os insetos discursavam sobre biologia. Aprendeu a comer as plantas certas, a forrar o estômago com terra molhada. Não precisava mais jantar sempre em casa.
Zuleide viu a menina mudar em poucas semanas. O sorriso havia retornado ao seu rosto e as danças pela casa voltaram a ser lugar-comum. Catrina rodopiava pelas árvores com mais energia do que nunca, e certo dia, enquanto a observava no jardim pela janela da cozinha, viu-a girar o corpo perfeitamente na ponta de um dos pés, a outra perna contraída em um ângulo reto, uma pirouette que terminou em um pouso leve e, então, olhos arregalados.
“Você viu, Tia Zu? Viu o que eu consegui fazer? Foi perfeito!”
Zuleide anuiu, e sugou a fumaça do cachimbo. Queria estar tão feliz quanto a menina, mas os sinais não eram bons. Sempre que ela voltava das suas longas visitas ao interior do jardim, trazia consigo algo diferente; algo que não ela. Certo dia, arrancou uma folha do cabelo de Catrina – uma folha verde e saudável, que teve de tirar como quem puxa um fio branco da cabeça. Sentiu a raiz da folha ceder e a menina reclamou da dor. Viu-a emagrecer, negar refeições e doces, e seus braços tornarem-se finos galhinhos secos.
A empregada soube da gravidade da situação durante um café da manhã, enquanto vigiava o bule no fogão. O pai de Catrina lia o jornal e mordiscava uma torrada. A menina, porém, sequer havia tocado o misto quente e o achocolatado.
“Come teu café, minina”.
Era um dia ensolarado, e a luz do sol invadia a cozinha com um calor aconchegante. Catrina havia escolhido o assento mais próximo da janela. Havia deixado o corpo pender, e banhava-se com os raios de luz no rosto, os olhos fechados.
“Catrininha?”
Zuleide foi até a menina, tocou-a. Sentiu uma rigidez inesperada.
“Sinhô, a Catrininha não mexe”
“Tadinha, não deve ter dormido direito”, falou o pai, lançando um olhar rápido para a filha largada na cadeira ao lado. “Leve ela para a cama, Zuleide, por favor? Ela precisa dormir mais. Desde que a mãe morreu, tem tido problemas para dormir”
Zuleide chacoalhou a menina, mas os olhos não abriram. Os músculos estavam rijos, e até o seu cabelo descia na direção do chão como uma cascata de madeira chamuscada. Súbito, Catrina abriu os olhos e crepitou de volta a vida. A empregada observou-a mordiscar o misto-quente, fazendo pouco caso do que acabara de ocorrer.
Naquela noite, Zuleide deixou o cachimbo em seu quarto e, furtiva, seguiu Catrina pelo jardim. Ouviu o ranger do Portão.
“Minina, não faça isso, vem já pra cá”
“Que foi, Tia Zu?”
“Num te falo faz tempo que o Portão num é pra abrir?”
“Vem cá e fecha ele então. Vem aqui e me leva de volta para casa”
Mas Zuleide estremeceu, as pernas não responderam. Os adornos de ferro retorcido no portão, moldados em uma era esquecida do mundo, sorriram para ela. Um sorriso muito parecido ao que adornava o rosto de Catrina, que saltitou para longe, sumindo dentro da mata.
No pesadelo daquela noite, Catrina assistia a sua mãe praticar ballet na sala de casa. Era apenas uma silhueta contra o sol radiante que vinha pela janela aberta. Uma linda silhueta esguia, em movimento líquido. Quis chamá-la e abraçá-la, mas tinha medo de que a mãe lembrasse de que estava morta. No pesadelo, desde que Catrina ficasse quieta em seu canto, sua mãe continuaria a dançar contra o sol cegante, cada vez mais quente, girando e girando e girando…
… acordou empapada em suor. O incêndio no jardim projetava sombras sinistras na parede do seu quarto. Desceu correndo as escadas e atravessou o Portão escancarado. Encontrou Zuleide diante da árvore em chamas, a caixa de fósforos ainda nas mãos.
Um urro escapou das profundezas de Catrina. A velha empregada fez que explicaria as suas razões, mas a menina já corria na direção das chamas. Encontrou os dedos flamejantes da árvore e dançou com ela contra o corpo, uma ninfa do fogo, girando e girando, as lágrimas secando antes de alcançarem as bochechas.
Sentiu o corpo pesado de Zuleide contra o dela, a dança interrompida como se fosse atropelada por um caminhão. A empregada jogou-se sobre ela e rolou-a sobre a grama para apagar as chamas. Mas os próprios cabelos de Zuleide agora queimavam, e antes que Catrina voltasse a si para ajudá-la, toda a cabeça da empregada fumegava. As pernas de Zuleide falharam e ela caiu de joelhos na sua frente, quieta, os estalidos das chamas fazendo as vezes dos seus gritos de dor. Se antes Zuleide era a casa, agora ela era o jardim, e atrás dela tudo era fogo, o calor e a luz tão vívidos, que mais parecia dia. Catrina mirou hipnotizada aquele rosto em chamas, e sentiu que a mulher a olhava de volta, sorrindo, satisfeita em tê-la salvado.
Então seu pai entrou em cena com uma toalha molhada em mãos, e Catrina permitiu-se respirar.
Depois daquela noite, Catrina nunca mais dançou. Zuleide sobreviveu, mas seu rosto deformado, de pele ressequida e órbitas vazias, a perturbaram a ponto de querer ir embora para sempre. As memórias da infância ela guardou com carinho, mas o Portão, o Kondi e Zuleide ela guardou em uma gaveta bem no seu íntimo. A vida a levou para longe da serra, para a cidade grande onde o corpo e a grama eram esquecidos, e onde a memória era fugaz.
Quando enterrou o seu pai e teve de lidar sozinha com a herança, voltou à casa no topo da montanha, e qual foi a sua surpresa ao ser recebida por Zuleide, vindo até ela muito encurvada e frágil. Ver a velha empregada trouxe de volta todas as boas memórias de uma vida quando sua mãe e ela dançavam nuas, e quando ela dançava com a velha e com a fumaça do seu cachimbo, que jurava adquirir forma de gente para servir de plateia.
Trouxe de volta também a lembrança do Portão, e de tudo o que aconteceu além dele.
Catrina e Zuleide abriram o Portão juntas mais uma vez, e visitaram o lugar onde ficava o velho Cinzeiro-Pataguá. Mesmo décadas depois, o lugar ainda mostrava os sinais do fogo, e o toco da árvore que uma vez dançou com ela permanecia no mesmo lugar, incompleto e carbonizado.
“Eu nunca deveria ter feito aquilo, Zu”. Uma lágrima insistia em querer escorrer.
“Num fala isso não, minina. Ocê fez o que tinha que sê feito”. Zuleide sorriu, mas o seu sorriso mal mudava algo na sua expressão descarnada. “Cê tava linda naquele dia. Teu cabelo mexia que nem uma língua de fogo na brisa”.
Foi a última coisa que Zuleide viu, e que ainda existia queimada na sua mente: o salto perfeito, o laranja-e-branco lançado contra o negrume noturno, no formato de uma menina bailarina.
Aiomun, que pseudônimo potente!
Sua história é bastante curiosa. Aos treze anos, Catrina fica órfã de mãe, decide, mesmo contra as advertências de sua empregada, atravessar um misterioso portão de sua antiga casa, que ela não sabe onde a levaria. Lá, ela encontra-se com uma figura fantástica de uma árvore, com traço de madeira e humana, com que dança. Seu comportamento muda, o luto parece ter ficado de lado e dado lugar ao sorriso. Depois disso, ela passa a frequentar o lugar, cada vez menos se importante em esconder a desobediência, até que uma noite é flagrada pela empregada atravessando o portão. Sonâmbula, a garota adentra o local, sonhando com a figura da mãe, com quem dança. Quando finalmente desperta, percebe que o local está em chamas e Zuleide a salva, ficando a pobre empregada queimada e deformada no lugar da menina. Passam-se anos, o pai da menina, agora adulta morre, e Catrina retorna ao lugar. Encontra a empregada, que pede desculpas pelo que ocorreu com Zuleide.
UFA!
É muita coisa em um conto só. O autor parece ter buscado toda a criatividade do mundo e lançado de parágrafo em parágrafo, uma informação após outra, sem permitir espaço para o leitor acalmar ou despersar. Tem seu mérito por deixar a história dinâmica, mas é tanto acontecimento, que chega-se ao ponto de criar desinteresse pela confusão que causa em quem está lendo. Repito, não é de ruim, só é too much. Sabe quando aqueles sanduíches que a gente faz de madrugada, tacando tudo que encontra pela frente dentro do pão e no final a gente pensa: por que diabos eu fui colocar uva passa e purê de batata nesse cachorro quente? Ou por que coloquei ketchup na pizza de 200 reais? Ok, tem gente que gosta e tem gente que vai achar que está sobrando. Eu sou do último time.
Quanto à personagens, a protagonista me convenceu. O luto e a curiosidade a levaram à desobediência. No final, ela não conseguia prever o desfecho de seu comportamento. Adultos metem tantas proibições bobas, que a criança tem mesmo dificuldade em discernir o que de fato é perigoso. O vilão é pouco explorado, queria mais. Ainda assim, permanecesso sobre ele certa atmosfera de mistério que funciona.
Agora a Zuleide para mim é um erro. Sabe aquelas novelas, tipo Renascer, que tem um empregado excessivamente subserviente, sempre sábios em mistérios ocultos e cheios de supertições, mas pouco versados em estudos e que ficam bajulando os patrões? É isso, para mim foi isso o que se apresentou. Uma caricatura, como a Mammy de E o vento levou, a tia Nastácia etc. Eu não gostei, e para mim piora ainda no final quando ela perdoa a menina, sem nenhuma problematização do papel dela dentro daquela família. Essa estereotipação ocorre até na representação da fala da empregada “Nada de bom, minina, só um monte de mato”. Ora, em quase todo território brasileiro, esse “e” vira “i” nessa posição em “menina”, por que a escolha de só marcar na fala da empregada? Não gostei. Enquanto escritores, precisamos ter um olhar mais atento para as relações que nos cercam. Zuleide no início até parecia ter um certo mistério velado, como se ocultasse algo, que no final não explorado. Talvez fossem minhas expectativas erradas mesmo.
Apesar disso, a escrita tem ponto positivos. Há clareza nas descrições, detalhes e imagens bonitas, que o autor soube explorar: “Zuleide chacoalhou a menina, mas os olhos não abriram. Os músculos estavam rijos, e até o seu cabelo descia na direção do chão como uma cascata de madeira chamuscada”.
Bem o saldo final é que ninguém passa indiferente a essa história, tem ação, tem mitologia, reviravolta etc. Não estou participando, mas digo que há pontos positivos e negativos, o que, se eu fosse pontuar, daria uma nota 6. Boa sorte!
Olá, Aiomun!
Seu conto me parece bastante criativo. Gostei do desenvolvimento! Transmite uma poesia muito bonita com as cenas dos personagens dançando em contato com a natureza “Costumavam dançar nuas sob a luz da lua, com os grilos e os sapos e as plantas como plateia” e a introdução do Kondi Cinzento “É o sinhô dessas terra, o sinhô num sabe? Ele vem de Baixo mas te olha de Cima, e se veste com o céu e com as cinza”.
A transformação da menina, como na cena “Zuleide chacoalhou a menina, mas os olhos não abriram. Os músculos estavam rijos, e até o seu cabelo descia na direção do chão como uma cascata de madeira chamuscada” representa uma transição natural e o uso de figuras de linguagem, embora em uma cena absurda, consegue ser muito bem explicada, neste contexto.
Peço desculpas pelo tamanho do comentário. De modo geral, você escreve bem. Gostaria muito de ler outros textos seus. Desejo tudo de bom e boa sorte no concurso!
COMENTÁRIO: Conto poderoso. A narrativa é bem conduzida e sua protagonista é rapidamente caracterizada a partir de sua relação com a mãe e com a dança. O portão, muito bem introduzido com uma descrição que o cerca de mistério e misticismo, é bem posicionado na narrativa, desde o princípio se colocando como um ponto de atração que, uma vez passado, mudará para a sempre a vida de sua personagem, que já sofre uma grande mudança com a morte da mãe, deixando-a vulnerável à influência do portão. É passando pelo portão que se encontra o mágico Konde Cinzento e seu acolhimento de madeira. Pontuando o último vértice do triângulo de personagens que movem a história, há a velha Zuleide, estereotípica, mas bem trabalhada para ser uma presença de orientação e, eventualmente, a última esperança na perdição que Catrina desconhece percorrer.
O conto me lembrou “O Labirinto do Fauno”, pela beleza do mundo que se abre atrás do portão e pela cada vez mais perigosa influência que o Konde exerce sobre a menina, tomando-a para si sem que perceba. O trecho em que, sob o olhar de um pai negligente, a menina parece ter finalmente ter se transformado em árvore, é arrepiante, mas bonito ao mesmo tempo, mérito de uma escrita que de forma muito suave pincela essas imagens que misturam o belo com o sinistro. O final, transportando a menina agora mulher ao futuro, deu um aspecto ainda mais onírico ao texto, com toda a experiência, mesmo com a descrição do que foi vivido,, agora parecendo enevoada pela incerteza da memória. Mas para nos reafirmar que tudo ocorreu, os vértices se reúnem: Catrina, Zuleide e o Konde, apenas a primeira incólume. Excelente conto!
O domínio da escrita e a técnica do autor são excepcionais. Com certeza, estamos falando de um dos “gigantes” do Entrecontos. Que forma maravilhosa de escrever!
O conto possui uma atmosfera quase onírica que é excelente, fazendo com que o flerte com a fantasia seja muito bem preciso. Essa mistura de cotidiano, lenda urbana, fantasia e mistério casaram muito bem aqui.
A história não é perfeita e possui algumas exposições desnecessárias. A forma que o mistério foi criado é imatura demais, talvez seja esse o grande defeito (Ou único, até) dessa obra. A necessidade de pontuar e lembrar o leitor da existência do Kondi fizeram a história ganhar um aspecto “fábula infantil” que não agrega à poderosa qualidade literária do autor. “Cuidado com o Kondi” soa muito com “cuidado com o lobo mau”. Os diálogos poderiam ser mais sutis e a construção do mistério também, sem esses avisos expositivos da personagem “Tia Zu”, que acaba caindo num dos clichês de gênero.
Não fosse por isso, seria um dos melhores contos do desafio, certamente.
A poesia utilizada no conto é belíssima e bem dosada, tal como as metáforas que, para alguns, podem soar exageradas. Mas, para mim, são exatamente o que a história pedia.
É um contaço que merecia mais atenção na construção narrativa, no desenvolvimento da trama, pois a linguagem utilizada é perfeita.
História: Uma boa fantasia brasileira. Mulher rememora o Cinzeiro-Pataguá e a empregada que a salvou, retornando após a morte de seu pai. Fui pesquisar para ver se a figura existia e descobri que realmente é uma árvore. Bem legal 3,5/4
Escrita: Admito que ando um pouco implicante com escrita poética. Parece forçado, uma tentativa de sensibilização. Porém, quando entra o conflito “Pataguá x Catrina x Zuleide”, a narrativa engrena. No final, conseguiu me conquistar. 3,5/5
Imagem e título: adequados 1/1
Neste desafio tiveram diversos contos que gostei muito e não tive uma única crítica negativa para fazer. Dentre eles, este foi o meu preferido.
Ao ler a história eu senti uma mistura de elementos que é muito difícil de conseguir misturar. Existe uma pegada de história infantil, misturada com fantasia, horror e drama familiar. O autor ainda parece conseguir de alguma forma brincar com um certo imaginário coletivo para fazer valer os elementos fantásticos.
A prosa é muito boa. Sem excessos e sem crueza exagerada, conduzindo o leitor (ao menos este) em um ritmo muito bacana. O desenvolvimento de Catrina, o aprendizado de diferentes danças, lembra os nascimentos de heróis mitológicos. Neste caso, um contemporâneo. Lendo me lembrei de certas passagens de “O nome do vento”, quando o protagonista aprende a tocar músicas que simbolizam a natureza.
No mais, um conto que me deu vontade de dançar. Parabens ao autor.
O que achei deste conto: É bom… mas não me pegou tanto
Esse conto é muito bem escrito e apresenta um conceito interessante, mas achei que a leitura é um pouco cansativa. Vamos analisar aos poucos:
Catrina é uma garotinha que vive numa casa antiga e misteriosa, que tem um portão misterioso trancado. A forma como o portão é descrito é excepcional, pois vemos que ele é um elemento chave para a história. Catrina e sua mãe às vezes dançam no jardim, peladas (não tem vizinho nesse lugar não? imagina o entregador de pizza passando ali perto…). A mãe parece ser gente boa, e o pai parece ser fechado e rígido. Aí a mãe morre, logo no início do conto.
Com a morte da mãe, a garotinha fica triste e com raiva. Em um momento de rebeldia, ela decide abrir o portão. Zuleide, que é uma empregada gente boa, no estilo Tia Nastácia, sempre adverte a menina a se afastar desse portão, por dizer que é perigoso, mas não especificar o porquê. Atravessando o portão, Catrina encontra um lugar lindo, com o sol brilhando e o verde da natureza lhe chamando… e que contrasta com o lugar cinza e podre no qual ela vive. A menina acaba adorando esse lugar, onde ela aprende sobre a natureza, com os insetos, nuvens, terra (essa parte achei bem legal, parecia uma fábula). Ela conhece o Cinzeiro Pataguá nesse lugar.
Com o passar dos dias, a menina vai ficar com a saúde meio ruim. Zuleide percebe que ela emagreceu e seus braços parecem galhos, e tem folhas crescendo no seu cabelo. Ai um dia, logo de manhã, a menina se recusa a comer, e fica no sol, fazendo fotossíntese. Ela está virando… um planta? Por quê? Não sei… mas eu gostei disso.
Zuleide fica muito preocupada, e resolve espiar a menina para ver sua rotina (porra, só agora ela tem essa ideia?). Então ela vê a menina se aproximando do portão, e a Zuleide diz “Não faça isso, é perigoso! Se afaste desse portão!”, e a menina meio que diz “Venha me impedir então”, e a pobre empregada fica com o maior cagaço, e não consegue. Aí em outro momento, a Zuleide fica full pistola, e mostra um lado cruel e maluco no qual não havia sido revelado ao leitor. Ela dá uma de doida varrida e taca fogo em tudo além do portão! Ai ela se fode, o fogo pega nela também, e a cabeça dela fica igual a uma tocha. Zuleide, que no início da história era boazinha igual a Tia Nastácia, agora é uma velha vagabunda com a cabeça derretida e que ficou cega.
Depois disso Catrina nunca mais dançou. Ela cresceu e se mudou pra cidade. Décadas depois, ela retornou pra sua casa de infância, depois que o pai dela morreu. Lá ela reencontra a véia doida, agora ficou super velha. Elas abrem o portão juntas, e veem toda a cagada que a véia fez no passado. O Cinzeiro Patagua ficou um toco fodido e queimado. Catrina fica triste, e Zuleide a consola, dizendo “Cê tava linda naquele dia. Teu cabelo mexia que nem uma língua de fogo na brisa”. A cena da garota dançando no fogo foi a única coisa que a véia viu antes de sua cabeça derreter e ela ficar cega, então isso ficou registrado em sua mente. FIM.
Err…. achei a linha narrativa pela qual a história seguiu um pouco bizarra. Não que esteja inverossímil ou incoerente… mas achei apenas estranho mesmo. As ideias mostradas aqui foram bem criativas e divertidas, mas tudo é mostrado de forma bem arrastada, e às vezes com descrições longas e um pouco enfadonhas. Li esse conto duas vezes. Na primeira leitura, parei na metade, pois eu havia me perdido totalmente… meu défice de atenção me apunhalou forte, e tive que reiniciar a história do zero, para que eu pudesse compreender e absorver tudo com clareza. No fim das contas, este é um bom conto, mas não é tanto o meu estilo. Creio que muitas pessoas vão adorar, pois a escrita está muito boa. Desejo uma boa sorte no desafio.
Um conto, para mim, perfeito.
As personagens muito bem trabalhados e profundas nos fazem ver Catarina e Zuleide dançando. A voz de Zuleide então, com um sotaque colocado na medida certa, chegamos a ouvir.
Ao mesmo tempo temos uma história que corre bem e avança até o fatídico incêndio. E uma sequência após a morte do pai que não era necessária, mas ainda assim agregou para o conto como um todo.
Excelente!!!
Eu não sei exatamente a categoria desse conto, não sei se ele se encaixa no tal realismo mágico que eu vivo falando que não gosto (apesar de um dos meus contos preferidos ser desse gênero). Seja como for, desse aqui eu gostei bastante.
Não sei se foi a inspiração, mas eu senti muito o clima de O Labirinto do Fauno durante a leitura. Há algo místico no ar, mas é tudo tão bem descrito que isso se mescla à realidade de forma natural, como as folhas foram se mesclando ao corpo da menina.
Vou falar algo tipo “casa de ferreiro, espeto de pau”, porque já usei muito esse tipo de recurso, mas… o sotaque da Zuleide me incomodou um pouco.
Boa trama, boa escrita, mistério da medida certa, aplicação não tão revolucionária do tema, mas o suficiente para se enquadrar.
MUITO BOM
Olá, Autor! Tudo bem?
Que conto sinistro! Tem uma aura de mistério e de tragédia, muito bem executada. Toda a descrição da casa, da paisagem, do portão, do jardim é cheia de melancolia e aflição.
Muito criativo! E deixa na mente uma beleza trágica.
O portão é um personagem muito bom, envolto em uma aura mística. E o Kondi, que entendi que era a árvore e que tava transformando a Catrina em árvore também, mesmo sem falar, como o portão, também é um ótimo personagem. Todos os personagens tem muita força e verossimilhança.
Pesquisei o título e o pseudônimo e achei muito legal conhecer mais sobre essa crença indígena. (Se a informação que achei estiver certa, né)
Da pra perceber também que o Kondi não era uma entidade totalmente boa, já que a Zuleide teve que colocar fogo na árvore que ele usava, para salvar a menina… Mas talvez ser transformada em parte da natureza não fosse tão ruim assim… Vai saber…
O final com a cena do incêndio é bem forte e foi muito bem feito mesmo, parabéns! Traz imagens horripilantes e mesmo assim muito interessantes, como a bailarina flamejante!
Um ótimo conto!
Parabéns e boa sorte no desafio!
Até mais!
A história é boa, mas parece o fragmento de algo maior. Como quando, em uma série, temos o episódio piloto.
Esse cenário de interior e os diálogos da menina e da empregada são muito bons. Mas não entendi muito bem como ao passar o portão ela ficou bem e do nada ficou mal novamente, talvez até pior.
O que havia naquele lugar? Não sei se deixei passar algo, mas a falta de explicações sobre é o que me faz pensar que esse conto merecia ser maior, mais explorado.
Gostei muito de tudo. Senti falta de alguns pontos finais em alguns diálogos. Mas infelizmente não posso subir a nota porque por mais fantasia que seja, minha mente pede por um pouco mais de explicações.
Olá Aiomun. Existem textos em que até o nome e o pseudónimo têm significado, que me fazem recorrer à Wikipedia para conhecer melhor o conto. Este foi mais um desses. Aiomun-Kondi é uma divindade Aruaque, que significa “principal deus criador”. Aqui, a casa é uma metáfora para o mundo. A natureza está à parte, separada por um portão. Quando surge como ameaça, Zuleide, protetora da casa e da família, destrói a natureza. Catrina (nome que me soa estranho, porque sempre vi a forma Catarina) vive com a mãe, antiga bailarina. Vive também com o pai, que mais não é do que uma figura secundária, num texto com forte cariz feminista. Mesmo assim, poderia ser feminista sem excluir os elementos masculinos da história, aqui retratados por uma árvore mágica, que creio ser o famoso Kondi Cinzento.
O texto escorre com elegância e fluidez, sem erros. Achei apenas a falta de algum equilíbrio narrativo (o pai aparece apenas como pretexto para Catrina regressar à casa).
O Kondi Cinzento (Aiomun)
Prezado(a) autor(a):
Para este certame, como os temas são bastante díspares, dificultando quaisquer comparações, vou concentrar mais minha avaliação em três aspectos, e restritos à MINHA PERCEPÇÃO durante a leitura: a) premissa; b) técnica; c) efeito. Mais do que crítica ou elogio, espero que minha opinião, minhas sensações como leitor, possam ajudá-lo a aprimorar a sua escrita e incentivá-lo a continuar.
Obrigado e boa sorte no desafio!
DR
A) PREMISSA: história misto de terror com suspense, no qual Catrina descobre o mito do Kondi cinzento além do portão do quintal – taí o tema do desafio. A história se constrói aos poucos, até chegar ao ápice e ao epílogo, destacando-se no desafio pela sua estrutura.
B) TÉCNICA: como dito antes, o suspense vai subindo aos poucos, e o autor mostra domínio dessa técnica tão difícil, um pouco como faz o Stephen King. Nos pontos negativos, acho que a caracterização da Zuleide, quase como a empregada da Scarlett O´Hara, ficou um pouco exagerada.
C) EFEITO: o efeito geral é bom, ainda que não tenha me encantado com a história. Acho que os detalhes da relação dela com a mãe são importantes, mas ficam “embaçados” pelo mistério do monstro além do jardim. Desejo sucesso no desafio!
Para mim o grande destaque do seu conto são as descrições mega imagéticas. A história, não sei, achei um pouco juvenil talvez e, nessa perspectiva, na minha opinião, faltou um fecho mais edificante, digamos. Com relação ao ritmo, o conto me pareceu se apressar depois do cena do fogo. Minha sugestão seria acrescentar um parágrafo, talvez dois, contando um pouco da vida menina Catrina, do seu pai sozinha na casa, de Zuleide, de modo a suavizar a transição para o fecho da história. O tema está bem atendido. O texto está bem revisado. Última coisa, para o meu gosto, é desnecessária e um pouco chata a tentativa de simular a oralidade dos personagens.
São tantas as perguntas e tão poucas as respostas…
Para ser sincero, não gostei deste conto. Pareceu-me incompleto, algo forçado. Não sei precisar, mas não me encantou.
Possivelmente será da minha forma de entender a literatura, mas daqui tirei um monte de nada. Nem consigo muito bem precisar qual o ponto central da história.
Não me vou alargar muito mais, porque o meu gosto pessoal está a pesar muito neste comentário. Não digo que é mau, e até está bem escrito, mas não é história para mim. Sinto que há uma tentativa forçada de cobrir os temas do desafio numa história que atira elementos mas que depois não cumpre na sua concretização.
Olá, autor(a), tudo bem?
Neste desafio, usarei o sistema ◊ TÁ DITO ◊ para avaliação de cada conto.
◊ Título = O KONDI CINZENTO. Algo que não sei o que é, mas é cinzento.
◊ Adequação ao Tema = Tema proposto abordado com sucesso. Há um portão misterioso e proibido, posto em destaque.
◊ Desenvolvimento = O conto foi muito bem executado, tendo o seu desenvolvimento construído de forma fluida, sem entraves que possam dificultar a leitura. Apesar de longo, o texto não apresenta o emprego de recursos “para encher linguiça”. Leitura nada cansativa.
◊ Índice de Coerência = No geral, tudo me pareceu bem coerente e verossímil dentro do universo da fantasia e realismo mágico.
Só no final, fiquei confusa com a frase: “Foi a última coisa que Zuleide viu, e que ainda existia queimada na sua mente:” > Zuleide não viu mais nada após isso? Ficou cega na ocasião das chamas ou morreu no final?
◊ Técnica e Revisão = A linguagem empregada é clara, de fácil acesso, mas com um toque de elegância e poesia. Boas imagens e metáforas.
Quanto aos diálogos, estão bem construídos e de acordo com o nível de linguagem dos personagens. Não há o que considerar como certo ou errado nesse caso.
Sua levada” > Faltou um ponto antes das aspas. Aliás essa falta de pontuação aparece várias vezes ao longo do texto.
misto quente > misto-quente (aqui, acredito que tenha sido distração, pois mais à frente a palavra é grafada corretamente)
◊ O que ficou = Uma bela imagem, apesar de melancólica. Talvez a nostalgia representada pela lembrança de Zuleide.
Parabéns pela participação e boa sorte!
As aventuras de Catrina em sua casa, principalmente em conversas com Zuleide, que mantém contato com Kondi Cinzento (a propósito, título do conto).
A grafia das palavras tentando igualar a oralidade acho um recurso sempre problemático. Isso porque a diferente entre a escrita e o som já é, muitas vezes, acentuada. E ainda reforça estereótipos: a condição de empregada seria suficiente para ressaltar o equívoco? Escrever ‘baxo’ querendo dizer ‘baixo’ apenas para reforçar uma suposta fala popular? Entendo o uso, mas, enquanto leitor, fico incomodado. Estamos longe de um Guimarães Rosa.
No mais, o conto tem uma dinâmica interessante e consegue manter o leitor atento.
Dá conta de contemplar o tema do desafio: portão.
Parabéns!
Oi Aiomun.
Gostei do conto. Tem todo o clima e estrutura de um filme despretensioso de terror. Uma história de crescimento (acho que tem termo melhor pra isso, mas esqueci), onde a protagonista perde a mãe e com ela sua época de ouro, passando passando por uma mini noite escura da alma e confiando em seres malignos para se sentir melhor. O tipo de coisa que todos nós passamos na adolescência.
No caso, você descreve tudo de forma bastante interessante. O próprio cenário, um jardim conectado a uma floresta, as danças nuas, as descrições de sensações e comentários poéticos. Tudo funciona bem para criar a história com imaginário rico. Acho que resultou em um conto sólido, que funciona bem, e deve agradar a maioria dos leitores.
Como nota negativa, eu diria que não tem o impacto ou a profundidade de um conto vencedor na disputa. Mas nem todas as histórias tem que ser assim, não é mesmo? Apenas é uma boa história, e isso já vale bastante.
Obrigado e boa sorte no desafio.
Olá,
gente do céu, que conto maravilhoso! perfeito. A escrita é linda, quase poética, ao mesmo tempo com uma riqueza de detalhes. a história foi muito bem construída e é muito envolvente. Os personagens parecem vivos, como se estivessem na sua frente e pudessem ser tocados. Não explica o que exatamente está acontecendo, se é algum feitiço ou maldição, mas não precisa. O mistério proposital aumenta o suspense. Dá pra saber que é algo poderoso, além da compreensão.
Boa sorte!
Obrigado Felipe! Fico muito feliz que tenha curtido!
Bom dia, amigo(a) escritor(a) do(a) Encontrecontos, tudo bem?
Primeiramente, parabéns por superar a nostalgia do desafio de trios e entrar no portal do novo certame! Boa sorte e bora pra sua avaliação:
Tema escolhido: portão.
Abordagem do tema: 100%. O portão,por mais que não apareça o tempo todo, é uma figura central no conto, dividindo o mundo real do Kondado do Kondi Cinzento.
Comentários gerais: esse conto é muito bem escrito, muito bonito, com ótimas descrições, linguagem muito imagética que utiliza comparações, metáforas e linguagem poética para criar ótimos momentos e um ambiente muito vívido e palpável. Você brinca muito bem com as palavras, preferindo uma escrita mais floreada (não entenda isso como algo negativo aqui) ao invés de uma linguagem mais direta e descritiva. Gostei muito da sua técnica, que torna a leitura fluida e prazerosa, parabéns.
A história também é criativa e interessante, e manteve minha curiosidade até o final. Não sei o motivo, mas seu conto me lembrou um pouco “o labirinto do fauno”, um filme que eu amo. Talvez pela ambientação e pela utilização da fábula como recurso narrativo. Claro que o enredo em si difere bastante do filme citado, mas algo no clima e ambientação me fizeram pensar nele. Funcionou.
Você criou um universo fantástico muito vivo e interessante, e me deixou imaginando esse mundo do Kondi, esse mundo além-porta. Gostaria de ler mais sobre isso.
Os personagens também são bons e cativantes, bem construídos. A Zuleica é uma ótima personagem, e as relações da menina com ela e com a mãe são bonitas e funcionam. Você não usa a morte da mãe de forma apelativa, tentando criar um drama exagerado, ela acontece, é retratada belamente e confere importância ao fluxo narrativo. O pai, por outro lado, não apresenta nenhuma importância narrativa, e a meu ver poderia estar morto ou ter ido embora. Acho que a ausência dele acrescentaria mais à história que a presença, mas claro que isso não é um defeito do conto.
O final também é bonito, com o reencontro. Terminei a leitura com vontade de descobrir mais sobre esse universo.
Sensação final: atravessei o portão junto da menina, me encantei com suas danças naquele mundo fantástico. Me encantei também com o mundo de fora, mas triste e cinzento, mas onde viviam 3 personagens reais e bem construídos. Terminei querendo mais desse universo.
Achei incrível como que três pessoas separadamente falaram que o conto lembrou O Labirinto do Fauno!! Eu vi esse filme há anos, e não lembro dele muito bem… mas vou rever para fazer a comparação! rs rs rs.
Obrigado pelo comentário, Luis. Entendo a sua visão sobre o pai de Catrina. Para mim ele teve um papel no conto, apesar de pequeno. Não o excluiria, mas entendo que a sua presença apática possa incomodar.
Mas pai merda por pai merda, o pai do seu conto também não é dos melhores!! rs rs rs
Abração!
hauahauhauahaua você tem um ponto irrefutável!
Como é bom ler um conto de verdade, digo, uma história bem montada, com personagens interessantes e com uma trama que instiga a leitura. Como é bom ver palavras bem empregadas, um raciocínio inteligente e metáforas bem sacadas. E como é bom perceber a ousadia também.
Este conto tem tudo isso, o que torna a leitura muito prazerosa. Mas também acaba elevando as expectativas do leitor à medida que a história avança.
A jornada de Catrina é envolvente, tem uma atmosfera de infância perdida, de mistério, de saudades. O portão ameaçador, a árvore misteriosa, um guru (ou uma guru, na pessoa de Zuleide) que detém conhecimentos esquecidos… Tudo é muito visual, muito presente. A impressão que o leitor (ou ao menos este leitor) tem é de estar assistindo a um filme com cores vivas, culminando com uma espécie de redenção da protagonista.
Ainda assim não pude evitar certa frustração. O realismo mágico insinuado no conto — no momento em que Catrina parece se transformar em árvore — não teve o desenvolvimento que eu esperava. Queria, torci muito para que isso fosse desdobrado, para que o conto enveredasse por esse caminho, que abraçasse de modo escancarado a fantasia, mas isso não aconteceu.
Claro, o autor tem o direito de dar à trama o sentido que deseja e não é, de forma alguma, responsável pela sensação de vazio que eu por acaso tenha alimentado. Mas ainda assim fiquei com aquele gostinho de “faltou algo”. É mais ou menos como assistir ao show de uma banda incrível e aguardar que ela toque sua música favorita, sem que isso aconteça. É bom, é foda, é sensacional, mas podia ser perfeito e não foi.
No fim, foi essa a sensação que este conto me deixou. É um ótimo trabalho, bem acima da média dos contos deste certame — bem acima mesmo — mas que deixa um buraco no peito do eu-leitor.
De qualquer forma, parabenizo o autor e desejo boa sorte no desafio.
Eu sempre erro a aterrissagem com você, né Gustavão? Hahahaha!
Gostei muito do seu comentário, não só pelos elogios, mas pela sua sugestão também: “Queria, torci muito para que isso fosse desdobrado, para que o conto enveredasse por esse caminho, que abraçasse de modo escancarado a fantasia”. Quando li esta sugestão, pensei que talvez eu tivesse medo, sabe? Como se, quando eu escrevo, os pés começassem a sair do chão, e eu fico com medo e volto para a segurança.
Vou manter isso em mente! Obrigado!
Olá Aiomun.
Que lindeza este conto!
Um conto de fadas, uma fábula, recheada de elementos fantásticos e poéticos e de cenas encantadoras, com de Catrina e sua mãe dançando ao luar e depois, com Zuleide substituindo a mãe doente.
O tema está no portão velhíssimo, que impedia o caminho para algo desconhecido e ameaçador, que, por fim, é atravessado por Catrina e revela o Cinzeiro-Pataguá e na nostalgia do reencontro de Catrina com Zuleide. A dor fez com que Catrina quisesse esquecer Zuleide, o portão, o Kondi. Mas, ao rever Zuleide, tudo volta e é possível sentira a nostalgia do regresso. O portão é só mencionado, mas a nostalgia está lá. Ela foi mostrada, desde a criação da memória, passando pelo esquecimento e pela volta à velha casa.
Uma história rica em significados, símbolos e imagens. Ler este conto é como assistir a um sonho.
Minha pitada de achismo: acho que quero ler mais coisas escritas por você. Acho que você é fã de Gabriel Garcia Marques, de Ítalo Calvino, de Isabel Allende, de Laura Esquivel.
Gostei ou não gostei: amei. Conto lindo, meu Deus.
Puxa Kelly, um elogio seu vale por muita coisa! Você escreve bem demais, e saber que você gostou do meu conto aquece o coração. Obrigado!
O Kondi Cinzento – Aiomun
Resumo + Comentários gerais:
O Kondi Cinzento é um conto que narra a história de Catrina, uma jovem que sofre após perder a mãe para uma doença não explicitada. No luto, ela resolve desobedecer Tia Zu, a empregada da casa, embrenhando e descobrindo um novo mundo para além do portão velho.
Um conto sobre realismo fantástico, que brinca com o imaginário do leitor, sempre tem um lugar guardado no meu coração. Um gênero que, quando bem explorado, traz alegorias lindíssimas, um jeito de completamente diferente abordar algo do cotidiano, apresentando histórias regionais (ou não)…
É, em parte, o caso desse. Em parte porque, pelo menos para mim, do meio (ou talvez do final do meio) para o final, a narrativa ficou um tanto confusa para mim. Isso acabou sendo chato, já que terminei não entendendo bem a história. A sensação que tive é que o cuidado com a escrita e com a narrativa no início não se repetiu no final.
Frase/Trecho de impacto:
“O jardim da casa era amplo, e foi, por muitos anos, um palco para as danças que Catrina dividia com a mãe. Costumavam dançar nuas sob a luz da lua, com os grilos e os sapos e as plantas como plateia (e o portão, sempre o portão, no canto do olho e da mente). Catrina tentava imitar a mãe e as suas pirouettes perfeitas, de olhos fechados e braços abertos. Saltitavam com os pés descalços na grama molhada, a brisa fria tocando o suor do corpo. Dançavam sempre sob o alerta do pai, que anunciava sem falha, que cedo ou tarde pegariam uma gripe. Seu pai era um homem simples, de costumes arcaicos. Sua mãe, por outro lado, era grande demais para aquela casa. Tão grande que mal cabia dentro do próprio corpo, a alma querendo sempre se desprender, insatisfeita com a prisão de carne.” LINDO! (Pensando seriamente em criar bonificações do tipo “melhor trecho de conto”, melhor título… só para premiar esse trecho)
Adequação ao tema (0 a 3) – Avalio se o conto aborda o tema proposto de forma coerente, aprofundada e relevante para o Desafio: 3
O conto junta os dois temas: portão (já que o mundo mágico está para além do portão) e nostalgia (aqui, mais identificado no luto de Catrina com sua mãe, relembrando com carinho de sua mãe). Menção máxima!
Construção de Mundo e personagens (0 a 2) – Avalio a profundidade dos personagens e a ambientação, incluindo o cenário e como tudo interage para fortalecer a narrativa: 1,5
Eu adorei a construção de mundo no início do conto. Foi se criando um cenário que eu prezo bastante no realismo fantástico: um ambiente lúdico, que congrega a realidade e a fantasia, seja por meio de alegorias, seja por meio do lendas regionais. Temos a presença daquele arquétipo tradicional da figura sábia, da criança imaginativa…
Entretanto, como adiantei no início desse comentário, acho que a construção do mundo dentro da narrativa deste conto deixou um pouco a desejar, a partir da conclusão. Por mais que eu não tenha captado toda a essência do conto (digo isso porque, embor eu tenha feita minha pesquisa ao Tio Google para entender o que é Aiomun, o que seria Kondi e etc, coisas que creio que seriam interessantes para imergir completamente na história, não consegui perceber como essas referências se ligaram ao conto) eu senti que talvez a narrativa desse conto seja um pouco maior do que o número de palavras permitido nesse desafio (algo que eu também sofri). Na hora de comprimir, parece que a história se perde um pouco.
Por exemplo, a figura do Kondi não foi algo tão bem trabalhada, ora se confundindo com o Cinzeiro-Pataguá, ora parecendo ser uma entidade diferente. Faltou detalhar melhor, explicitar com mais cuidado. Assim como o que acontece com Zuleide ao final; pelo que percebi, ela se torna parte viva daquele universo mágico do jardim.
Enfim, creio que o final precisa ser retrabalhado com um maior esmero e com mais paciência, sem a necessidade de cumprir o limite de palavras definido.
Uso da linguagem (0 a 2) – Avalio a qualidade da escrita, incluindo o estilo, clareza, gramática e fluidez dos diálogos: 1,5
Quanto à escrita, penso que do ponto de vista gramatical está irretocável. Não percebi quaisquer erros gramaticais. Contudo, assim como na construção do mundo, acho que o estilo da escrita desceu um ou dois degraus na medida que se aproximava da conclusão, infelizmente.
Estrutura Narrativa (0 a 1,5) – Examino o fluxo do enredo, a clareza da introdução, desenvolvimento e conclusão, e se o ritmo é adequado: 1
Por se tratar de um conto do realismo fantástico, que versa sobre uma história cuja base é uma lenda ameríndia, penso que o conto em si já carrega consigo uma falta de clareza inata. Neste sentido, cada parte da narrativa precisava ser contada com calma e clareza. Embora a estrutura esteja OK, pois vai do ponto A até o B linearmente, a sensação que tive foi a que o final foi apressado.
Impacto Emocional (0 a 1,5) – O quanto a história conseguiu me envolver emocionalmente, provocar reflexão ou cativar: 1
A sensação que tive, ao final da leitura, foi agridoce. Feliz porque li um conto de realismo fantástico, um dos gêneros que mais me cativam, e percebi o esmero do autor/ da autora em construir sua narrativa em torno dessa base ameríndia. “Frustrante” (mais por falta de palavra melhor) porque achei o final confuso e não tão bem trabalhado como o início e o meio da história (é difícil manter o tom da escrita, vai por mim!)
NOTA FINAL: 8
A minha falta de clareza às vezes é proposital. Você não foi o primeiro a sentir falta de ler sobre a natureza do Kondi ou a sua ligação com o cinzeiro-pataguá. E outras tantas perguntas levantadas pelo texto.
Se eu tivesse mais espaço para escrever, não sei se exploraria estes assuntos. O conto não é sobre eles. Apesar do título, o conto é sobre Catrina. Talvez com mais espaço eu explorasse as regras deste mundo, tornando-o mais consistente, ensinando ao leitor o que esperar atrás de cada esquina, mas sempre deixando um grau de incerteza.
Para mim, em um bom conto, nem toda pergunta precisa de respostas.
Gostei que você notou que o estilo mudou do meio para o final. Este conto nasceu há muito tempo, e o início já estava quase escrito em pedra. Mas do meio para o final, escrevi em pouco menos de 1 mês. Se tivesse mais tempo, revisaria tudo com muita calma, encontraria uma coesão maior no texto. E você notou direitinho essa falta de coesão. Incrível!
Obrigado pelos elogios. E pelo comentário tão bem bolado! Foi outro conto para ler, esse comentário gigante! rs rs rs
Poético. Um acento a Edgar Alan Poe, mas poético. Frases marcantes, como “o frio mordia com mais afinco aqueles dedos que ela apertava” ou então “uma última reverência para uma ínfima plateia”, marcam uma despedida significativa para a protagonista e entendi que essa relação entre Catrina e sua mãe foi o norte de toda a narrativa. O portão foi um “mal necessário”. Poderia ser um mero limite entre o final do jardim e o começo da floresta, por exemplo. Em certo momento até tentei compreender a “paisagem geral” como sendo o mundo sombrio de perdas e luta pela felicidade do lado de cá do portão e, ao transpô-lo, um mundo de cores, vida e alegria. Mas logo o autor/autora jogou o sol sobre a menina que se transformou em árvore no café da manhã (ou diante do misto quente, um título bem legal). Belo e poético, como disse. Mas me pareceu mais uma narrativa sobre a dança, o amor de mãe e filha, o cotidiano de uma infância que encontrava a alegria e a liberdade, do que algo como um portal ou uma lembrança de outros tempos. Posso estar errado nessa avaliação, claro. Mas é um belo conto. Boa sorte.
Oi Vladimir, obrigado pelo comentário!
Realmente, o portão não é o personagem principal do conto, porém, tem papel fundamental, ao meu ver. De qualquer forma, concordo que o palco do conto é realmente dedicado a outros personagens.
Abraço!
Uma menina com seu pai e uma empregada, moram numa casa na zona rural. Catrina sabe da existência de um portão velho na propriedade. A empregada diz que lá só tem mato. Zuleide é uma espécie de curandeira, ou bruxa. Kondi, ou Conde, parece, ou é, uma árvore que está além do portão. Não se sabe se ele foi humano antes de ser árvore. O conto tem elementos para uma história fantástica que não foi bem aproveitada. Acho que ficaria mais interessante ter exposto a história que não foi contada, que caberia bem dentro de 3 mil palavras. A escrita é excelente, boa narrativa, boas descrições, mas faltou como eu disse, algo mais impactante como um drama familiar envolvendo magia, traição, amor e maldição.
A autora focou mais na nostalgia da menina do que na magia do portão. De qualquer forma é um bom conto. Parabéns e boa sorte.
Oi Antonio! Que legal você achar que eu era uma autora. Acho que acabei passando essa sensação por ter uma narrativa tão voltada para as três mulheres do conto. Se foi isso, considero um sucesso! E obrigado pelos elogios!
A falta de explicações foi por escolha própria. Gosto do mistério e das lacunas que deixo para o leitor preencher. Mas sei que tem gente que não gosta, mesmo. É uma aposta.
Grande abraço!
O Kondi Cinzento (Aiomun)
Resumo:
Menina transpassa portão mágico enquanto aprende a lidar com o luto luto e com os conflitos com a empregada doméstica da casa.
Comentários:
O tema portão foi inserido de maneira óbvia. Há um portão, que funciona também como portal. A protagonista passa por ele, e isso é praticamente tudo.
O conto entretém, ocupa, mas não desafia, não enriquece, não convida a pensar, a mudar de opinião. É reles entretenimento, fantasia. Não se nota aprofundamento nem no conteúdo nem na linguagem. Não se trata de erros, isso não, mas de opções estéticas e de conteúdo. O autor escolheu escrever fantasia, texto para adolescentes, quiçá jovens. Texto para quem está em formação literária, que não enfrenta ainda os grandes cânones da literatura.
Achei tudo muito aleatório e sem sentido. O significado e o simbolismo me escapavam o tempo todo. Talvez o enredo fizesse mais sentido na cabeça do autor do que quando revertido ao papel. Fiquei com muitos porquês depois da leitura.
O mérito do conto reside na qualidade da revisão, na criatividade do autor e na parte do enredo que se sobreleva à fantasia: a criança e adolescente aprendendo a lidar com a dor da perda.
Uma pena você não ter desprendido mais tempo para absorver o conto, e partir para chamá-lo de “reles entretenimento”. Fiquei curioso para saber o que a sua IA diria sobre o meu conto, já que aparentemente você delega parte da sua interpretação ao algoritmo.
Não me leve a mal. Talvez eu o tenha escrito por prazer, sem ter todas as pretensões que você tanto quer ver em um conto. Meu problema é com o “reles”.
É uma pena ver leitor assim, que desdenha da fantasia, achando que é “coisa de criança”. Como se isso fosse problema. Você já foi criança um dia. E eu, com muito prazer e orgulho, ainda tenho muito da minha criança em mim.
Um belíssimo conto. Muito bem escrito e maravilhosamente detalhado. Meus parabéns ao autor pela linda história.