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Detox Literário.

Vizinhança (Mauro Dillmann)

Encostada à porta, observo a rua nessa tarde chuvosa de domingo. Tão silenciosa. Na verdade, a rua lembra um condomínio fechado, um apartamento de dez andares, um camelódromo, um salão de beleza, uma empresa de departamentos, uma quadra carnavalesca, uma sala de professoras.  

Pelo som, pelos cheiros, e por outras coisas, conheço a vizinhança sem ao menos ultrapassar o aceno básico. Isso quando me cumprimentam, porque muita gente nem me olha, faz que não me vê ou vira a cara como quem não quer desculpar qualquer coisa. Os poucos com proximidade se sentem íntimos e me chamam Lélia. Meu nome é Camélia. Camélia Brasil. Não gosto de Lélia porque lembra a cadelinha Leila, mas tudo bem. Deve ser proposital. Na verdade, sinto que não querem adentrar o portal para o meu mundo. Também não sou convidada para aquele mundo de realezas. Jogo meus cabelos com aplique, solto gargalhadas contagiantes ouvindo meu podcast preferido, admiro minhas postiças e sigo em frente. Sei que eles especulam histórias a meu respeito tanto quanto eu os invento a mim mesma. Ainda assim, odeio fofocas, patéticas palavras. Às vezes penso que os outros têm razão, mesmo que não tenham.

Às quinze e às dezessete horas o pão da padaria da esquina fica pronto. Não que eu frequente aquele lugar, evito glúten, mas sei pela caminhada das velhinhas com artrose que gostam de pão quentinho e odeiam a devassidão das pessoas vis. Elas passam pela minha casa, ligeiras como lebres. Uma delas, sensata, carrega uma bíblia e ativa o torcicolo para o manacá-da-serra em frente à porta-janela da minha casa. Devagar, só com a roupa íntima, bebo minha mimosa e me acomodo no sarcófago de Cleópatra.

O senhor de barba branca que morava ao lado da padaria morreu na semana passada. Na hora daquela morte eu estava saindo de casa. Vi a filha dele correndo em desespero pela rua quando a Samu chegou. E rindo. O excesso de tristeza faz rir. Já fiz isso no velório de uma amiga. Tentei oferecer ajuda, mas desisti quando começou a chover. Somente hoje vi a mulher desse senhor, a senhora Gertrudes. Uma aparência de rainha do deserto. O cabelo embranqueceu de repente. Não sei se em função da morte do marido ou se por desleixo.

O vizinho da direita tem dois cachorros, o Euclides e o Isaac. Um chow-chow e um Schnauzer que latem às oito da manhã quando o lixeiro passa; ou quando os correios chegam carregando encomendas de outra vizinha que saiu tem dois dias de Uber. Deve estar na casa do namorado, ela raramente fica em casa, o gramado em frente cresce em erva daninha e as grades acumulam panfletos. O dono dos cachorros se chama Gael. Aparece no meu wifi. Ele corre três vezes por semana e trocou o Uno por uma Duster. Está se sentindo. Por sorte, os caninos do Gael são bem cuidados, escaparam das pulgas e dos carrapatos de Leila, a cadelinha do meio da quadra. Outro dia Leila fez suas necessidades bem no meio do cruzeiro. Os cuidadores de estimação se olharam, riram e seguiram.

Três crianças com menos de dez anos, vestindo modas da loja Presentinhos de Deus, brincam em frente à minha casa, arrancam as flores, sobem na árvore, apertam o gato o quanto conseguem com aquele impulso típico da idade, e, não raro, jogam bola e outras quinquilharias no meu pátio. Elas moram à esquerda e gritam com voz de vento. No portão, encontro desde chapéus até moedinhas. Isso quando não me chamam pedindo doçuras. Eu gosto é de brincar com bonecos. Dou umas balas cocozinho de rato pra elas. Duas vezes por semana ouço berros dessas crianças ou do pai delas, um psicopata que se diz professor. Ele deve ter problemas psicológicos, parece mais infantil que os ibejes e quando passa por mim sempre repara nas minhas sandálias tamanho quarenta. Ele fica olhando para os meus pés. Diversas vezes estive com o celular em mãos, pronta para chamar a polícia ou o conselho tutelar. Depois, desisti. Nessa terra medíocre, bem possível que a acusada e sentenciada fosse eu.

Quando acordo, no final da manhã, dificilmente consigo ouvir Madona no meu fone. No outro lado da rua, a adolescente, filha única de um casal de pastores, coloca caixa de som na porta enquanto usa todo pulmão para os louvores de Jesus. Já rezei para que ela tenha diarreias, cólicas e enxaqueca, ou encontre a salvação e engravide de uma vez do namoradinho pescoço de galinha que chega todos os dias no meio da tarde. Dizem que estudam matemática para o Enem. Sei bem as contas que Romeu e Julieta fazem.

O charreteiro do fim do bairro, remelento, calça de borracheiro, com frequência faz serviços para a velhinha da bíblia e para dona Gertrudes. Ele pisca pra mim. Um pouco mais gordo, percebi. Quer coisinha. Nem pelo último dente da boca. Tem cara de todos os bichos, um raio.

As salas envidraçadas, tão comuns em algumas casas dessa rua, mostram com propósito a intimidade do anoitecer desse outono: as famílias tradicionais acomodadas em frente à TV que puxam a cortina quando me enxergam. Impressionante como existe gente estúpida no mundo. Vejo casais em brinde com garrafas de vinho, gestos brutos a insinuar brigas, beijos de todos os sexos e gêneros, afinal, tem quem faça questão de mostrar os segredos dos seus armários já abertos.

Toda sexta-feira escuto tambor e aroma de incenso e defumação vindo dos fundos. Algumas vezes um som brando, outras mais intenso, seguidos de risadas que adentram e dissolvem a madrugada. São as pombagiras com descaso para o pudor e zombaria para o ridículo. Com elas me identifico. Carrego também o meu deboche. A vizinhança que me enxerga pensa que está tudo bem comigo. “Sim e não”, eu diria se me perguntassem. Não perguntam e nem quero. Por mim, sentem raiva ou compaixão. Adoro a primeira e odeio a segunda.

Nunca vi a cara do jovem enrustido de três casas adiante, que jamais aparece à rua sem boné, e quando surge, já no lusco-fusco, vem como um vulto, machinho, sem camisa, de barriga saliente, com o cão de cauda cortada na coleira. Agora faz um tempo que não o vejo. Deve ter ingressado no quartel, ou passado no vestibular, ou estar esperando uma nomeação. É daqueles que quando sair de baixo da saia da mãe, vai buscar feijão no potinho toda semana.

No sobrado de portão de alumínio que exibe o pergolado e a caminhonete, finalmente tiraram a bandeira do Brasil. Um casal patriota, gente do bem, se chamam de “bebês”, mortos de amores, daqueles que colocam faixas com declarações por se considerarem “eternos namorados”. Está certo, o amor só é injusto com os feios e com os pobres de espírito, não com eles, bonitos e espirituosos. Mês passado fizeram boa ação, adotaram um cãozinho abandonado. Ele, fortão de academia, roupa de patrão, certo dia me deu carona, olhou de canto e murmurou algo entre os dentes. Deixei meu contato. Ela, luzes no cabelo, unhas em gel melhores que as minhas e algum hematoma no braço. Aos domingos cantam o hino do clube, ficam de bobiças, fazem churrasco e tocam Raça Negra em festa remember.

Faz uns trinta dias que uma professorinha de teatro, fofinha, sempre com calça legging de ginástica e camiseta amarela, veio morar no bairro, bem ao lado da ferragem. Risonha e piadista, porque logo topamos no mercado Bugiganga e ela quis assunto. Os meninos correm por ela, inclusive o Gael. Não sei, é um diz-que-diz. Não me interesso pela vida dos outros. Nem pela dela. De toda forma, ela anda me provocando. Olho para ela, para aqueles modos. O nome dela é Maria. Acho que é Maria Sapatão. Eu não.

A diversidade feminina é grande no bairro. No terreno público ao lado da praça, tem um acampamento cigano. Dia desses, quando eu saía para trabalhar, vi uma cigana lendo a mão da professorinha de teatro em troca de uma amostra de perfume. Deve ter cantado meias verdades, meias mentiras. E apontado o amor como um sol na vida, tal como fez para o casal patriota, que está sempre comprando faca desse povo. Um dia a mesma cigana me atacou, queria dinheiro. Não dei. Rogou sete anos de azar no amor. Não azucrinei meu pensamento. Joguei beijinho, ativei meu modo avião e segui bela no salto.

Retorno para casa quase todos os dias na madrugada, quando o céu está querendo alaranjar no horizonte, depois de comer um cachorro quente da tia Kátia. Venho de rasteirinha que levei na bolsa. Não sou boba. Chego assobiando algum samba, borrada, olheiras fundas, estropiada, pés inchados, envelhecida pelo frio, cheiro da noite. Mantenho o macio rebolado e repito para mim mesma: sou bonita! Fico em casa apenas nos domingos, quando não tem ninguém na rua. Não conheço vergonha e meu trabalho é bem melhor do que o de uma auxiliar ginecológica. A depender do dinheiro que carrego, faço questão de gritar no celular e de bater o portão, para que todos saibam, a travesti da casa pink chegou.

Sobre Fabio Baptista

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27 comentários em “Vizinhança (Mauro Dillmann)

  1. Pedro Paulo
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Pedro Paulo

    COMENTÁRIO: Acho que você escreveu uma crônica. O texto poderia ser resumido a uma descrição minuciosa dos moradores do bairro, paralela à apresentação vaga da rotina da narradora. Não existe um conflito em torno do qual a história se desenvolva e é o peso descritivo do cotidiano o que avoluma o texto. Além dessa questão do formato, também não vi a abordagem temática na crônica que, como outros textos, parte do pressuposto que uma descrição da vida da personagem bastaria para enquadrá-lo em nostalgia, mas uma articulação entre tempo e memória não aparece sequer sugerida. É um texto bem escrito, muito bem dividido e genuíno nas várias facetas que conhecemos pelos olhos da narradora,  além dela própria ser um retrato interessante que, posto num conto, certamente teria rendido uma boa história. Tudo parece recortado da realidade. O que faltou foi um desenvolvimento maior para o lado do conto e do tema.

  2. Victor Viegas
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Victor Viegas

    Olá, Bia!

    Gostei do seu conto, me fez lembrar das situações cotidianas que vemos em uma área periférica. Cenas como “Às quinze e às dezessete horas o pão da padaria da esquina fica pronto” e “Um chow-chow e um Schnauzer que latem às oito da manhã quando o lixeiro passa” transmite uma familiaridade de fácil identificação. Mesmo sem ter a intenção, nós somos inseridos na narrativa. Fiquei um pouco confuso com “Na verdade, a rua lembra um condomínio fechado, um apartamento de dez andares, um camelódromo, um salão de beleza, uma empresa de departamentos, uma quadra carnavalesca, uma sala de professoras”, mas acredito que seja uma figura de linguagem que ainda não consegui identificar o sentido.

    Não somente as ações foram bem escritas, com a ambientação do bairro, como também os próprios pensamentos da Bia são impressos no decorrer do texto “ Os poucos com proximidade se sentem íntimos e me chamam Lélia. Meu nome é Camélia. Camélia Brasil. Não gosto de Lélia porque lembra a cadelinha Leila, mas tudo bem”. As descrições são muito boas, mas acredito que tamanha ambientação acaba deixando o conto um tanto prolixo, impedindo de acompanhar a personagem. Seguimos apenas a visão dela sobre cenas aleatórias e isso fica bastante limitado. 

    De modo geral, você escreve bem. Acredito que a história poderia ter outros rumos. Gostaria muito de ler outros textos seus. Desejo tudo de bom e boa sorte no concurso!

  3. JP Felix da Costa
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de JP Felix da Costa

    Creio que o oceano que nos separa me impede de totalmente compreender o que está escrito neste conto. Em suma, o que interpreto é ser uma narrativa de alguém que é discriminada pelos seus vizinhos, pela sua escolha de vida, quando, na verdade, estes é que têm “telhados de vidro”.

    Numa primeira leitura fiquei um pouco perdido, pois não conseguia entender a finalidade do texto, mas na segunda volta já se tornou claro, dentro do possível.

    Gostei deste texto. A forma simples e subtil com que os dados vão sendo lançados, e que me confundiu na primeira leitura, mantém um bom ritmo, e a verdadeira essência da história vai-se revelando aos poucos. A utilização do tema PORTA, aqui, está no simbolismo da existência de um portal que separa a dimensão, por assim dizer, em que vive a personagens daquela em que vivem todos os outros.

  4. leandrobarreiros
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de leandrobarreiros

    Curti.

    A personagem passa a narrativa na porta e observando a vida alheia tem vislumbres do que se passa dentro das portas dos outros personagens.

    Achei a escrita com bastante personalidade, cativante e sem floreios desnecessários. Combina com o estilo urbano do texto. Mas o que mais curti foram as diferentes histórias sendo contadas, ou sugeridas, a partir do ponto de vista da narradora, sempre de olho na vida de todos. Até porque, dada a realidade dela, é bom ficar esperta.

    Acho que o autor também escolheu a extensão correta para a história. Parece besteira, mas alguns contos no desafio pareceram demasiado longos, outros demasiado curtos. Aqui, a medida foi perfeita. Não curti tanto a revelação no final de que a narradora é travesti, acho que ficaria mais legal deixando implícito.

    Bom conto.

  5. Felipe Lomar
    13 de dezembro de 2024
    Avatar de Felipe Lomar

    olá

    bem, é um conto que explora os limites do gênero (em mais de um sentido). Vai haver quem diga que é uma crônica. E bem, é bastante descritivo. A protagonista ser travesti já é bem óbvio desde o começo e acho que não vem com muita surpresa, o que tira o impacto do final. E por ser descritivo, é meio parado, não tem muito movimento. Parece que não tem história pra contar, é apenas uma cena estática. Falta alguma coisa que movimente um pouco. Mas a escrita é boa, bem espirituosa.

    boa sorte.

  6. André Lima
    13 de dezembro de 2024
    Avatar de André Lima

    Pra mim, é um conto excelente. A forma como o tema foi abordado é bem original. A “porta” aqui representa a separação entre os 2 mundos, o da protagonista e o mundo externo.

    É um conto com pegada de “crítica social”, mas não de forma vazia. O conteúdo é muito bem explorado e nos entretém apesar do papel crítico.

    A protagonista-narradora é uma personagem com muitas dimensões. Ela é vulnerável, mas ao mesmo tempo se auto-afirma. Carrega consigo as marcas da marginalidade, do preconceito, mas também demonstra resiliência. É isso que espero de um conto: que o protagonista não seja unidimensional.

    O ritmo do conto é bom e seu tom é de um “deboche” interessante. O humor é bem utilizado, deixando a narrativa bem cativante.

    O ponto forte do conto é tratar de temas tão complexos, como identidade, pertencimento, etc, dentro de uma narrativa que é leve, engraçada e ao mesmo tempo claustrofóbica, hostil.

    O final é apressado. Acho que o uso de mais palavras para fechar a atmosfera que foi criada seria mais efetivo. As metáforas por vezes são exageradas. Faltou um pouco mais de poesia e um pouco menos de “deboche” em alguns pontos.

    Dito isso, é um dos meus contos favoritos da competição. Parabéns!

  7. Mauro Dillmann
    13 de dezembro de 2024
    Avatar de Mauro Dillmann

    Trata-se de um conto focado em uma única personagem.

    Narrado em primeira pessoa, a personagem-narradora conta sobre si, sobre sua vizinhança, sobre a rua, sobre suas relações com o bairro.

    É quase um fluxo de consciência, um fluxo de memória, de impressões pessoais, o que pode levar algum leitor confundir o conto com a crônica.

    Mas tem conflito: o mundo da travesti e o mundo da vizinhança são distintos. Os portais estão fechados. Tem ação dramática, desenvolvimento de cenas. Trata-se, então, de um conto.

    Carregado de subjetividade (e por ser em primeira pessoa), a narradora é suspeita, se diz discreta, mas na verdade é especulativa e fofoqueira.

    Várias pistas são deixadas ao longo do texto e, no final, a revelação. A narradora é uma travesti. Esse é o elemento surpresa, o elemento do subtexto capaz de trazer novos sentidos ao que foi narrado.

    Gostei de escrever. Acho que consegui imprimir certo ritmo à narrativa. Também me diverti em alguns momentos (imagino que algum humor deva ter transparecido), me senti tocado em outros (não no sentido de emocionado, mas de afetado pela compreensão que carrego da homofobia e da transfobia).

    Minhas inspirações para esse conto: Adriana Lunardi, João Antônio e Marina Colasanti.

  8. Thais Lemes Pereira
    12 de dezembro de 2024
    Avatar de Thais Lemes Pereira

    O relato não é ruim de ler, mas é isso, é um relato. Em um determinado momento cita um portal, mas de forma muito singela. Não é nostalgia, porque nostalgia é um sentimento e o que temos aqui é um relato.

    Deixando o desafio de lado…

    E quando temos um relato, como esse, sinto falta que o conto termine com algum ensinamento ou reflexão. É interessante ler e observar a protagonista se contradizendo em algumas partes, mas falta essa conclusão para entendermos o que de fato o autor queria nos dizer com esse conto. Ou seria uma crônica?

    Continue participando conosco dos desafios!!

  9. Fabiano Dexter
    12 de dezembro de 2024
    Avatar de Fabiano Dexter

    Um texto agradável de se ler e muito bem escrito, mas ao terminar o conto ficou uma sensação de que faltou algo, uma história ou desenvolvimento mais claro. (Minha opinião)

    Frases curtas e que descrevem de forma muito clara uma pequena Vizinhança, pelos olhos da protagonista. Um conto visual e que apresenta uma realidade muito própria, uma ambientação simples e personagens múltiplos e diferentes. Nada simples de se fazer e muito bem-feito pela autora (autor). O uso das palavras e os adjetivos é excelente e a história acaba sendo nada mais do que um passeio pelas casas e pessoas da rua.

    Gostei do conto e da escrita, mesmo não sendo o meu estilo de leitura.

  10. Priscila Pereira
    11 de dezembro de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Autor! Tudo bem?

    Seu texto tem um tomzimnho de crônica. Uma crônica muito boa.

    A personagem principal é ótima (antipatizei com ela, e exatamente por isso ela é tão boa) e sua visão da rua e dos vizinhos é bem rica, mesmo a convivência sendo tão rasa.

    Não encontrei o tema, aí fui pedir ajuda no grupo e me deram uma visão sobre a porta, ou portão em que a protagonista ficava julgando tudo e todos, como era julgada. E como a comunidade negava a “entrada” dela no meio deles e achei bem coerente.

    Aí achei o uso do tema bem criativo e original, fora da casinha… Ou no caso dela, dentro de casa 😄

    No mais, está bem escrito, bem revisado, bem verossímil até, infelizmente. Mas… Não tem a estrutura de conto, né, meio que não tem um começo, meio e fim, é só o meio mesmo.

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!

    Até mais!

  11. Jorge Santos
    9 de dezembro de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    fotografia, a viagem que vou fazer durante a sua leitura. Se há textos em que a mesma é previsível até ao desfecho, o seu foi previsível, mas não o desfecho. Tudo anda em torno de uma vizinha que descreve pormenorizadamente a vizinhança. Ou seja, o seu mundo da porta para fora. O relato é rico em pormenores, descrito com humor acutilante. Só na última frase se descreve a ela própria, e percebemos a razão da distância criada com os vizinhos. Revi-me neste texto. Ou seja, e antes de ser mal-entendido, revi a atitude de algumas das minhas vizinhas, que mantêm a distância mas parecem da polícia a vigiar o local de um crime. Ninguém entra nem sai sem que elas notem. Sabem tudo sobre todos, por vezes uma verdade deturpada, mas estão-se a borrifar para isso. Depois, essas vizinhas reunem-se para trocar informações como se fossem da CIA, ou algo ainda pior. Se acontece algum crime no bairro, fecham-se em casa, passam a não ver nada, cheias de medo. Prefiro a frontalidade de quem me insulta pela frente a estas merdas que observam das varandas.

    Pela fluidez do texto, excelente em todos os aspectos, nota dez. Porque não posso dar onze.

  12. danielreis1973
    8 de dezembro de 2024
    Avatar de danielreis1973

    Vizinhança (Bia da Barra)

    Prezado(a) autor(a):

    Para este certame, como os temas são bastante díspares, dificultando quaisquer comparações, vou concentrar mais minha avaliação em três aspectos, e restritos à MINHA PERCEPÇÃO durante a leitura: a) premissa; b) técnica; c) efeito. Mais do que crítica ou elogio, espero que minha opinião, minhas sensações como leitor, possam ajudá-lo a aprimorar a sua escrita e incentivá-lo a continuar.
    Obrigado e boa sorte no desafio!

    DR

    A) PREMISSA: a travesti que da porta de casa tudo observa na vizinhança – taí um dos temas do desafio, porém ela poderia estar na janela e portanto não necessariamente a história se encaixar na proposta. Mas relevo esse ponto aqui pelas características da história, bem contada, quase como um fluxo de pensamento ou monólogo teatral, que fazem o conto se destacar dentre os outros.

    B) TÉCNICA: chama a atenção o cuidado do autor de ir concatenando as observações da narradora, sem revelar muito mais sobre ela, o que só no final ficamos sabendo. Sem diálogos, o texto tem um caráter mais reflexivo-introspectivo de esboço de personagem, do que narrativo em si. Acho que pode ser um bom prólogo para uma obra maior, onde soubéssemos mais sobre a vida dessa personagem.

    C) EFEITO: o efeito foi bom, ainda que o texto seja bem curto e não desenvolva aspectos narrativos que poderiam ser interessantes sobre a protagonista. De qualquer forma, foi um dos contos que mais gostei, mas que infelizmente pecou no aspecto tema e no desenvolvimento, parecendo mais um rascunho de uma história maior, que ainda está por vir. De qualquer forma, parabéns!

  13. claudiaangst
    5 de dezembro de 2024
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    Neste desafio, usarei o sistema ◊ TÁ DITO ◊ para avaliação de cada conto.

    Título = VIZINHANÇA. Temos vizinhos e nenhuma ideia do que virá.

    Adequação ao Tema = Não encontrei nenhum dos temas propostos pelo desafio neste conto. Há uma menção leve em “adentrar o portal para o meu mundo”, mas só. O conto assemelha-se a um relato das experiências vividas por uma travesti junto a sua vizinhança.

    Desenvolvimento =   O conto desenvolve-se de forma fluida, seguindo as observações que a protagonista faz ao caminhar pelas ruas vizinhas. Não há muito ação, mas muita reflexão, com um toque de humor e sarcasmo.  

    Índice de Coerência = Encontrei incoerência na seguinte passagem: […] velhinhas com artrose […] Elas passam pela minha casa, ligeiras como lebres.

    > Velhinhas com artrose podem ser ligeiras como lebres? (Por experiência, digo que isso é pouco provável)

    Técnica e Revisão = A linguagem empregada é simples, coloquial, adequada a um relato de experiências pessoais. O conto é curto e bem escrito, surgindo apenas poucas falhas quanto à revisão:

    […] minhas postiças > […] minhas unhas postiças?

    […] eu os invento > […] eu as invento (as histórias)

    Madona > Madonna

    […] pela dela. De toda forma, ela anda me provocando. Olho para ela, para aqueles modos. O nome dela […] > Repare na repetição do som ELA nesse trecho tão curto.

    O que ficou = De conhecer a moradora da casa pink. Há leveza e ao mesmo tempo tristeza – a dor da vítima de preconceitos camuflada pela alegria em rosa choque.

    Parabéns pela participação e boa sorte!

    • Mauro Dillmann
      16 de dezembro de 2024
      Avatar de Mauro Dillmann

      Ola Cláudia,

      Muito obrigado pela leitura e pelo parecer cuidadoso.

      Sobre a revisão:

      Em “minhas postiças” suprimi propositalmente a palavra ‘unhas’ (que já aparece em outro momento). Considero estar obviamente subentendido. Mas talvez não esteja. Outra pessoa também mencionou a suposta falta da palavra ‘unhas’. Foi uma opção consciente.

      Quando diz “eu os invento” está fazendo referência aos vizinhos. Logo, não seria “eu as invento”.

      Mais uma vez, obrigado.

      abraços,

      Mauro

  14. Thiago Amaral Oliveira
    30 de novembro de 2024
    Avatar de Thiago Amaral Oliveira

    Oi, Bia

    Tenho um palpite de que você é a mesma pessoa que escreveu o conto “Cozinha”, dois desafios atrás. As chances de estar errado são grandes, mas é que os contos são parecidos em muitos aspectos. Vou explicar.

    Ambos estão cheios de comentários sociais. Você parece querer capturar perfeitamente vários dos “tipos” sociais que temos no Brasil atualmente, seus costumes e contradições, sem deixar de criticá-los. Além disso, detalha as marcas, os produtos, mais uma vez tentando capturar o momento em questão. Tudo numa escrita competente.

    Meu problema com o conto, no entanto, é o mesmo que do outro que citei: foge do tema. Não vi nada de nostalgia. Ele termina com um portão sendo fechado, mas está longe de ser o tema da história. Então, ficou forçação de barra. A essa altura, suspeito que você apenas queira escrever sobre o que deseja, e talvez nem se preocupe com o desafio. Ou apenas use os temas em sentidos tão amplos que eles já nem tem mais importância na história. Fico na dúvida para escolher em qual acredito.

    Em resumo, acho o conto bom, mas não darei uma nota boa, pelo contexto do desafio, que para mim é importante.

    Obrigado pela participação.

  15. Fabio Baptista
    27 de novembro de 2024
    Avatar de Fabio Baptista

    No limiar entre o conto e a crônica, se é que existe essa diferença, se é que importa essa diferença.

    A escrita dialóga com o Nélson Rubens que há em todos nós. Verdade seja dita, quem não gosta de saber da vida dos outros, descobrir os podres da vizinhança, ainda mais quando contados por uma narradora tão perspicaz?

    Pouca coisa acontece além disso, mas… tudo bem. Nem todas as histórias precisam ser sobre salvar o mundo. O calcanhar de Aquiles do conto dentro do desafio é o tema. O “mirante” em que a travesti da casa pink faz suas observações não foi suficiente para um enquadramento completo, na minha visão. Apesar de curiosamente trazer um sentimento nostálgico de bairro de subúrbio, também não foi suficiente para se enquadrar nesse tema.

    BOM

  16. Elisa Ribeiro
    26 de novembro de 2024
    Avatar de Elisa Ribeiro

    Gostei da sua personagem. A narrativa em primeira pessoa é ótima, bem convincente e cativante. A conformidade ao tema, bem, me pareceu meio roubada: não há nostalgia e a referência a uma porta, ou portal, não são nada centrais dentro do conto, na minha opinião. Mas vá lá. Não há propriamente uma história, mas a apresentação de um ambiente e uma personagem. Fiquei aqui pensando que seu conto poderia ser o primeiro de uma série que retratasse as aventuras, ou mesmo, seguindo no mesmo tom, suas impressões sobre outros personagens, contextos, cenário. O texto me pareceu bem revisado. Foi uma leitura agradável cujo destaque é a graça da personagem narradora.

  17. MARIANA CAROLO SENANDES
    24 de novembro de 2024
    Avatar de MARIANA CAROLO SENANDES

    História: Um fluxo de consciência de uma travesti sobre o dia em uma vizinhança qualquer do Brasil. Não é nostálgico, pois é narrado no presente. A porta aparece apenas na última linha. Segundo conto com personagem diverso por aqui (os dois bons) 2/4

    Escrita: Parece algo da Lispector ou Caio Fernando Abreu, intimista e com uma acidez cínica. Bem escrito, acho que  em “admiro minhas postiças e sigo em frente” faltou um unhas. 4.5/5

    Imagem e título: Adequados

  18. Kelly Hatanaka
    19 de novembro de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Olá Bia.

    Este conto tem cara de crônica. A personagem narradora, Camélia, mora numa rua em que é discriminada por alguns vizinhos por ser travesti. Não há um enredo propriamente dito, apenas um recorte do cotidiano. Camélia, observadora, fala sobre seus vizinhos, sobre suas falsidades e hipocrisias, e pinta um retrato muito vívido de um bairro do subúrbio.

    A escrita é muito envolvente e a narrativa flui de forma agradável. A rua poderia ser bem maior e eu adoraria continuar lendo sobre a vizinhança, os horários da padaria e o cotidiano de Camélia.

    Mas, porém, contudo, todavia, entretanto, não vi nostalgia nem porta. Percebo o ar nostálgico da ambientação. Mas é só. Será o suficiente? Até porque há elementos atuais na ambientação que dão uma quebrada na nostalgia, como wifi ou o casal patriota. Eu vou considerar que o tema foi parcialmente atendido por conta da excelente ambientação. Mas, será que o leitor que não tenha vivido numa rua assim, num bairro assim, vai sentir a mesma carga nostálgica que eu senti?

    Minha pitada de achismo: vamos ter de novo a clássica discussão isso-não-é-conto-e-sim-crônica. Pessoalmente, não ligo a mínima se é crônica ou não. Está bem escrito e é bom de ler. Mas seria bom ter um enredo mais elaborado, alguma crise, algum clímax.

    Gostei ou não gostei: gostei. É bom, bem escrito, gostoso de ler. Pena ter apenas resvalado no tema e a falta do enredo.

  19. Marco Saraiva
    18 de novembro de 2024
    Avatar de Marco Saraiva

    Camélia nos conta sobre a sua vizinhança, descreve o cenário e os moradores, e entra nas fofocas do dia a dia, tecendo julgamentos e opiniões, criticando a sociedade ao seu redor, e às vezes até a si mesma. O tom cômico do conto deixa tudo mais leve, e a leitura fluiu. É uma crônica muito legal e bem feita. Gostei muito do tom e da sua escrita.

    Só não vi nostalgia e portão nenhum aqui, infelizmente.

    Se Camélia estivesse remontando o passado, talvez inundada de lembranças e emoções, acho que até valeria. Mas aqui ela está simplesmente descrevendo o que vê em sua vizinhança, seus vizinhos, e a sua rotina. Nada de nostalgia, até onde vi.

  20. Gustavo Araujo
    16 de novembro de 2024
    Avatar de Gustavo Araujo

    Estou um tanto dividido com relação a este texto. A princípio, não me parece um conto, já que não há uma história que leve o leitor de A para B. Mais se assemelha a uma crônica, uma boa crônica, diga-se, eis que revela aspectos da vida cotidiana de determinada rua pelos olhos de uma mulher trans.

    Não, não há nada de nostalgia e o portal, embora mencionado, não possui influência alguma no desenvolvimento. Ou seja, é um apanhado de palavras que não abrange os temas propostos para o desafio, a meu ver pelo menos.

    Tirando isso, é um texto excelente, desses que dão prazer ao leitor, especialmente por conta do poder de observação da narradora, um tanto mordaz, um tanto irônica, um tanto sarcástica. Por ela, conhecemos os vizinhos, seus pequenos pecados, suas manias, seus anseios. E nisso reconhecemos nossos próprios vizinhos da vida real, ou até nós mesmos, afinal tbm padecemos dos mesmos males expostos com elegância na narração. É, por assim dizer, uma rua com cara de Brasil, ordinária como tantas outras, reconhecível mesmo pelo leitor mais desligado.

    Como disse, não há propriamente uma história, mas uma espécie de fluxo de pensamento que, no limite, também nos convida a observar e a pensar. Fruto da habilidade do autor com as palavras. O problema — o único problema — foi a ausência dos temas propostos. Se a protagonista estivesse se recordando da sua rua na infância, até poderia considerar, mas o texto é composto no presente. Ou seja, não dá…

    De todo modo, parabenizo o autor e desejo boa sorte no desafio.

  21. Thales Soares
    15 de novembro de 2024
    Avatar de Thales Soares

    O que achei deste conto: CADÊ A HISTÓRIA…?

    Acho que o que mais pesou para mim neste conto é que o autor não tinha uma história para contar. O que foi feito aqui foi apenas uma grande descrição de uma rua. Apesar de muitíssimo bem escrito, o conto não me chamou a atenção, justamente pelo fato de que eu não consegui me entreter ao longo da leitura. Por sorte, ela foi até que curta.

    O conto narra a visão de uma travesti chamada Camelia, e ela está falando sobre sua vizinhança, com a qual mantém uma relação distante e cheia de observações irônicas. Tem casais com aparência perfeita, crianças barulhentas, religiosos fervorosos, professora de teatro e moradores estranhos, como o jovem enrustido.

    Ela observa tudo de sua porta, e parece que essa é a abordagem do conto a respeito do conto… uma abordagem um pouco frágil, pois porta não é o tema central da história… mas ainda assim, a porta está presente.

    Enfim… creio que este conto seja 0% do meu estilo de leitura, e eu não consigo compreender o motivo de existência dele, já que não há uma história acontecendo aqui, não há um clímax, não há reviravoltas, e nem sequer há um começo, um meio e um fim. Mas acredito que haverá muitas pessoas que gostarão deste conto. De qualquer forma, boa sorte no desafio!

  22. Givago Thimoti
    15 de novembro de 2024
    Avatar de Givago Thimoti

    Vizinhança – Bia da Barra

    Resumo + Comentários gerais:

    “Vizinhança” é um conto curto, com a pegada slice of life sobre uma mulher trans, Camélia Brasil, que por trás de sua porta, apresenta ao leitor o bairro, expondo os podres de seus vizinhos.

    Particularmente, eu gostei bastante desse conto. Gosto de contos cotidianos, daqueles que o leitor pode sentir que aconteceu ontem, o que está acontecendo agora ou que irá acontecer. Além disso, dos contos do desafio, é o que mais ousou (pelo menos até o momento) em termos de adequar a história ao conto. Nesse quesito, a execução não foi perfeita. Mas a tentativa foi muito válida.

    Frase/Trecho de impacto: “Toda sexta-feira escuto tambor e aroma de incenso e defumação vindo dos fundos. Algumas vezes um som brando, outras mais intenso, seguidos de risadas que adentram e dissolvem a madrugada. São as pombagiras com descaso para o pudor e zombaria para o ridículo. Com elas me identifico. Carrego também o meu deboche.= esse trecho é perfeito para compreender a personagem. Muito bem escrito e pensado. Parabéns!

    Adequação ao tema (0 a 3) – Avalio se o conto aborda o tema proposto de forma coerente, aprofundada e relevante para o Desafio: 3

    Esse é um conto que desafio quem vai avaliar esse conto. O tema não está explícito. Vizinhança, ao meu ver, vem na esteira do historiador Luiz Antônio Simas e sua tese de cultura pelas f(r)estas. Uma cultura que se desenvolve a partir das frestas dos muros que marginalizaram uma significativa parte da sociedade.

    Trazendo o paralelo para esse conto: Camélia Brasil, uma mulher trans, marginalizada pelos seus vizinhos, diante das portas de sua vizinhança fechadas para ela, de dentro da sua casa, observa e julga da mesma forma que é observada e julgada os seus vizinhos.

    Nesse sentido, creio que a história poderia ter sido melhor trabalhada nesse aspecto, reforçando um pouco mais a ideia de exclusão e portas fechadas.

    Construção de Mundo e personagens (0 a 2) – Avalio a profundidade dos personagens e a ambientação, incluindo o cenário e como tudo interage para fortalecer a narrativa.: 1,25

    O que afastou, para mim, esse conto de uma nota maior foram os detalhes. É um conto com muita história, sem dúvidas, mas sem aprofundar-se propriamente em alguma delas. Acabou que isso enfraqueceu um pouco o conto, infelizmente. Ele é curtinho e brinca com o imaginário de quem ler. Acho que sobrou espaço para inventar um pouco mais. Talvez explicitar um interlocutor/ uma interlocutora com Camélia.

    Uso da linguagem (0 a 2) – Avalio a qualidade da escrita, incluindo o estilo, clareza, gramática e fluidez dos diálogos: 1,5

    Gostei da escrita! Do ponto de vista gramatical, acho que está irretocável. Meus únicos “porém” nesse aspecto estão aqui:

    ·      Na verdade, a rua lembra um condomínio fechado, um apartamento de dez andares, um camelódromo, um salão de beleza, uma empresa de departamentos, uma quadra carnavalesca, uma sala de professoras. => confuso demais…

    ·      Madona = Madonna (nenhuma fã de Madonna erraria isso! Duvido que a Camélia também) = revisão

    ·      Não gosto de Lélia porque lembra a cadelinha Leila, mas tudo bem. => Que cadelinha Leila? Seria a Cadelinha Laila, que viajou para o espaço e morreu???

    ·      Toda sexta-feira escuto tambor e (sinto o) aroma de incenso e defumação vindo dos fundos. = faltou esse trecho em parênteses

    Estrutura Narrativa (0 a 1,5) – Examino o fluxo do enredo, a clareza da introdução, desenvolvimento e conclusão, e se o ritmo é adequado: 1,25

    O conto flui que é uma beleza. É rápido. Como não se compromete especificamente com uma narrativa, está mais para uma descrição ácida dos vizinhos, não se detendo em um especificamente. Acho que, no final das contas, senti falta disso. Por ter aquele trecho confuso ali no início, penalizei um pouco nesse aspecto.

    Impacto Emocional (0 a 1,5) – O quanto a história conseguiu me envolver emocionalmente, provocar reflexão ou cativar: 1,5

    Eu não podia dar outra nota que não fosse máxima nesse aspecto. É um conto que brinca com o tema proposto pelo desafio. É um conto divertido. O troco de quem é observada, julgada e condenada por ser quem é, devolvendo na mesma medida, expondo para nós leitores as incongruências humanas da sociedade. Parabéns à autora/ao autor!

    Nota final: 8,5

  23. Antonio Stegues Batista
    8 de novembro de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    O conto tem uma narrativa ágil, as frases claras e coesas. Faz uma descrição interessante da vizinhança, enquanto observa a rua deserta, encostada no batente da porta num domingo chuvoso. Às vezes, em alguns trechos, parece que o autor escreveu enquanto as ideias escorriam como água de uma torneira, outras vezes, pausando e refletindo, escolhendo a palavra certa. É a impressão que dá na formação das frases, curtas e longas. O enredo é muito bom, boa escrita, boa ideia revelando no final, quem é a narradora. Não encontrei nenhum erro, as escolhas dos personagens e moradores da rua, é excelente. Formam um belo cenário. Parabéns e boa sorte.

  24. Luis Guilherme Banzi Florido
    8 de novembro de 2024
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom dia, amigo(a) escritor(a) do(a) Encontrecontos, tudo bem?

    Primeiramente, parabéns por superar a nostalgia do desafio de trios e entrar no portal do novo certame! Boa sorte e bora pra sua avaliação:

    Tema escolhido: hmmm, portal acho. Não pode ser nostalgia.

    Abordagem do tema: 50%. Entendi a tentativa de abordagem do tema, como se a Camélia vivesse do outro lado de um portal, separando o mundo dela do mundo das pessoas banais e cidadãos de bem que odeiam sua existência e preferem ignorar sua existência. Por isso dei 50% aqui. Mas s[o dei 50% porque acho que a abordagem não é suficiente para considerar que houve uma boa adequação, pelo menos pra mim, desculpe.

    Comentários gerais: olha, vou ser sincero e direto ao ponto dizendo que não gostei do conto. O final, a última frase, é bem boa, dando um significado novo ao conto todo, e me fez perceber e entender vários comentários feitos ao longo dele. Esse é sem dúvida o ponto mais alto do conto. Inclusive, é essa frase final que não me fez dar 0% em adequação ao tema. Ou seja, ótimo desfecho, o finzinho mesmo.

    Dito isso, acho que uma última frase boa não é o suficiente pra um conto inteiro. Vamos deixar bem claro: a escrita do conto é impecável, uma técnica excelente de escritor veterano. Porém, pra mim, faltou muito aqui no quesito entretenimento e qualidade de história. O conto inteiro é composto somente dos pensamentos críticos de Carmélia sobre sua vizinhança, em que ela diz constantemente não gostar de fofocas e nao se importar com a vida dos outros, enquanto fofoca e se importa. Entendo que aqui houve o elemento do humor, que nao funcionou comigo, no entanto. A protagonista acaba sendo bastante antipatica e pouco carismatica, e isso me afastou dela, e me fez achar ela bem chata e rancorosa. Claro que o final explica bem a situação, mas até lá, eu só senti que ela era bem chata. E essa experiencia da leitura acabou ficando. Claro que isso tudo é muito pessoal, é minha experiencia individual com a leitura. Provavelmente muitos leitores vao adorar. Sinto muito se nao tive uma experiencia positiva e se fui bem direto no comentario, mas foi como senti.

    Resumindo: um conto muito bem escrito, de um escritor veterano, o que me deixa mais a vontade pra ser mais critico, e uma frase final muito boa que ressignifica varios trechos do conto, mas que infelizmente não me pegou e se tornou uma leitura que eu não gostei muito. Acho que uma boa parte do Ec vai adorar, no entanto.

    Sensação final: Camélia começou a me contar as fofocas e bafafás do bairro, mas eu que não gosto muito de falar da vida dos outros acabei ficando entediado na conversa. A última fofoca, no entanto, me deixou boquiaberto e eu fui embora com sentimentos mistos.

  25. andersondopradosilva
    8 de novembro de 2024
    Avatar de andersondopradosilva

    Vizinhança (Bia da Barra)

    Resumo:

    Dos frontões de sua casa, travesti observa sua vizinhança.

    Comentários:

    O conto está bem escrito e bem revisado. Propõe a discussão de temas relevantes como a homofobia, transfobia, preconceito religiosos, imaturidade juvenil, violência doméstica, hipocrisia política. É um conto multicamadas, de alta literatura. Uma leitura superficial e acrítica pode deixar passar uma infinidade de aspectos e críticas sociais, políticas e religiosas presentes no texto. Nesse sentido, o autor foi corajoso, sobretudo no contexto de um desafio literário em que boa parte dos participantes, talvez a maioria, são, ainda que não o saibam ou assim não se reconheçam, brancos de classe média conservadores consumidores de literatura de entretenimento de consumo rápido e fácil.

    Senti um pouco de falta dos temas do desafio. A protagonista observa o mundo dos frontões de sua residência. É dessa porta, desse portão, que observa o entorno e é esse portão que ela bate fechando o conto. Entendi isso tudo. Ainda assim, fiquei com a impressão de que o tema do desafio ficou em segundo plano, não tendo sido realçado o bastante.

    Achei o conto maravilhoso. Ainda vou pensar sobre a nota que atribuirei. Mas, na eventualidade de eu não atribuir a nota máxima, deixo registrado que será unicamente por ter sentido falta do protagonismo do tema.

  26. vlaferrari
    8 de novembro de 2024
    Avatar de vlaferrari

    Diria que é uma maneira desleixada de escrever, mas “desleixada” (no caso) é a típica palavra que passa um sentido que a gente não quer dar. Seria algo como “não tem tu, vai tu mesmo”. Uma irresponsabilidade gostosa de juntar frases no papel para tecer um quadro cotidiano. Como as frases que pincei do seu texto: “um apartamento de dez andares”, “sem ao menos ultrapassar o aceno básico”, “especulam histórias a meu respeito tanto quanto eu os invento a mim mesmo”, “mostrar os segredos de seus armários já abertos”, “deve ter cantado meias verdades, meias mentiras”. Criar uma protagonista com uma linguagem própria e uma identidade que ressoa na memória do leitor, é a ideia que esse conto me passou. Quando você vê muito cinema, TV, streaming, etc., os personagens caricatos dos grandes atores povoam o seu imaginário e ao ler uma narrativa como essa, sua mente cria sem esforço um tipo marcante como, por exemplo, a Perpétua de Dina Sfat na telenovela Tieta, com olhos grandes sobre a vida de todos ao seu redor. Enfim, parabéns e boa sorte no “certame”.

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Publicado às 7 de novembro de 2024 por em Nostalgia e marcado .