EntreContos

Detox Literário.

Um Fragmento do Homem que Comeu os Próprios Sapatos (Mariana Carolo)

I Frenesi

Três grandes buracos na lona. Não eram os únicos, mas destacavam-se por sua linearidade, como se fossem o Cinturão de Órion daquele céu de plástico. Muitas coisas emocionavam Herzog no Circo Frenesi, mas, com certeza, aquelas três estrelas involuntárias eram o ponto que mais o comovia. Todos os dias se dedicava a encarar a tenda erguida com a sua câmera, em um silêncio de quem rumina algo que não está ali. Ninguém ao seu lado sabia, mas os rasgos lhe despertavam recordações do céu da sua primeira e distante casa, de pão doce e de devaneios concretizados e outros não.

O povo do Frenesi estranhou das primeiras vezes. Aquele gringo esquisito, mais de 1,80m de altura, todos os dias filmando o mesmo lugar. Não compreendiam como aquele ritual tinha a ver com o documentário que ele faria do trabalho deles. Porém, o passar dos dias fez a trupe se acostumar com a presença da figura e até gostar de ter ele por perto. Diziam que, afinal de contas, a divulgação prometida era bem vinda e o homem estava pagando bem. O que quase todos compartilhavam, mas ninguém admitia em voz alta, é que o estrangeiro os cativou pelo fato de que, ao longo dos espetáculos filmados, ele sempre se mostrava a pessoa mais sinceramente entusiasmada na plateia.

Inclusive, quando chegava o momento da apresentação do palhaço Chuletinha, ele deixava o equipamento no automático e ia assistir o show. Adorava as músicas do número, acompanhando-as com as mãos e os pés, mesmo ritmo não sendo o seu forte. Porém,  não se abalava com o descompasso, concentrado em gargalhar com cada truque e piada. Tinha a consciência de que, mesmo depois de tantas visitas aos trópicos, ainda não captava todas as nuances do humor brasileiro. Grande coisa, a tradução exata não importava, intuía o que era engraçado e, bem, a palhaçaria merecia a devida consideração.

No palco, Chuletinha sentia uma pontada de desconforto com aquelas risadas constantes e volumosas em cada um dos seus últimos 12 shows:

— Maluco esquisitão, não entendi ele ainda. Ainda ri das minhas piadas, mesmo depois de ver elas várias vezes. Sei não, deve ter uns três corpos no quintal de casa.

— Ah, Chuleta, reclama do gringo não!

Incômodo que Werner sequer cogitava causar já que, nos últimos dias, realmente se divertia acompanhando o artista. Considerava as suas aparições o ápice do espetáculo, melhores do que os canadenses acrobatas que cansou de assistir. A música forte ressoava em seu peito, uma explosão de alegria que, ao mesmo tempo, era sombreada por uma poesia imagética crua, quase comovente. A solitude daquele rosto maquiado, no meio de um picadeiro de madeira… Um quadro que lhe lembrava os circos de sua meninice, quando indivíduos tentavam fazer rir em uma Alemanha partida e arruinada.

Foi aquele pequeno Herzog, que o estrangeiro ainda preservava em sua consciência e com o qual ainda fazia questão de  auto dialogar, que o convenceu que Chuletinha devia ser o centro do seu novo filme. Agarrou-se a certeza que precisava registrar a comicidade daquele jovem, o cinema precisava disso. Assim, o incômodo de Claiton, o rapaz por trás do personagem, aumentou quando Mendonça, o dono do Frenesi, lhe avisou:

— Claiton, meu filho, o gringo quer acompanhar você pra cima e pra baixo agora. Entrevista, tudo bonitinho. Vai virar estrela de cinema, meu querido. Não esquece da gente quando for pra Hollywood.

— Sério? Tá bom, eu só não falo inglês, seu Mendonça. Precisa mesmo… Sei não.

— Tá ganhando dinheiro bom, não tá? Agrada o cara, faz o que ele te pedir. Todo mundo lucra, entendido?

— Certo, posso ir?

— Vai, vai e chama a Luziânia. Preciso dela aqui no escritório pra ontem. 

Chuletinha saiu do único trailer com ar condicionado e, por não poder reclamar, bufa e constata que é só terça-feira. Vai cumprir o que o chefe mandou, decide ir ver logo o que o gringo tanto quer com ele.

Narração em off/ trilha sonora – Placido Domingo – “Recitar!… Vesti la Giubba (Pagliacci)”: “(…) Em um país de  coletivos como o quente Brasil, encontro o palhaço Chuletinha. Apesar da sua bufônica fantasia e da maquiagem que atravessa o seu magro rosto, ele se expõe para a platéia em lancinante solidão. Não há companhia em seu número, ninguém para enganá-lo com um balde de água congelante. O toque de sua mão é para o público e somente ele, com o qual estabelece o mais sincero laço da sociabilidade humana: a satisfação em arrancar um sorriso do outro.(…)”

II Filmagens

Uma tomada de minutos do rosto de Claiton. Foco nas cicatrizes, marcas de espinhas. Herzog demora a lente na tatuagem ao lado do olho esquerdo, uma lágrima esverdeada que o filmado não consegue, ou não quer, explicar a origem. Aliás, aquele aparelho faz com que o trabalhador do circo se sinta nu. O público é diferente dessa máquina, graceja. Não é celular velho de mãe e pai, filmadoras ele só tinha visto em imagens. Ele ri, fica sério, ri novamente. Esfrega um chinelo no outro, forma um quatro com as canelas nuas. E a câmera continua ali, com aquele homem impassível atrás dela:

— O que o senhor quer saber?

— Por enquanto nada, fique à vontade.

O palhaço soluça uma risada nervosa. 

— Nunca tinha sido filmado desse jeito. Se pah, quer que eu vista a roupa do show?

— Não, agora mostre quem está por trás da máscara.

Silêncio completo. 

— É que eu não estou fazendo nada, não sei direito…

— Eu sei, é desafiador não estar em movimento.

— O senhor é da Alemanha, não é? Quero um dia conhecer o estrangeiro.

— O Brasil são vários locais, meu jovem. Eu adoro o seu país, fale sobre as suas viagens com o circo.

— Ah, já conheci uma penca de lugares. Eu sou de Porto Alegre, mas andei até pelo Amazonas. Gostei muito, vários peixe e camarão, lá eles comem açaí como se fosse feijão…

— A potência da floresta intimida o riso?

— Quê?

Novamente silêncio. Herzog aprecia a cara de espanto capturada, como se uma máscara grega tivesse se colado no rosto moreno do rapaz por alguns instantes.

A filmagem termina com o chamado de Mendonça, requisitando o seu astro para uma reunião. Claiton sai correndo e Werner aproveita para filmar as duas malabaristas, que ensaiavam seus passos de dança. As meninas se contorciam e saltitavam, o que fez Herzog ficar indeciso sobre qual música serviria como trilha de movimentos tão ritmados. Talvez “O Fantasma da Ópera” em versão instrumental, ou algo mais marcial, já que ele enxergou a dupla como guerreiras prestes a atacarem um alvo. O cineasta agradeceu quando elas terminaram a performance, pegou o seu equipamento e encerrou o dia de trabalho. Dirigiu até o hotel em que estava hospedado, ansioso para comer algo. Ali, pediu o que eles chamavam de prato do dia: um imenso bife, dois ovos fritos, arroz e feijão. Regalou-se de comida brasileira, murmurando para si mesmo o quanto a vida é estupenda.

Narração em off / trilha sonora: “The Phantom of the Opera” – Prague Cello Quartet:

As moças atacam com os pés. Guerreiras, chutam o ar como se estivessem lutando contra o desconhecido. Seria o mal dos trópicos? Seria contra o inexorável tempo, que um dia as impedirá de terem movimentos tão ágeis? Não sabemos. Apenas a certeza de que, se o Fantasma as visse, correria pelos seus túneis, envergonhado diante de tamanha graça e agilidade. 

III Conflitos

Chuletinha não se segurou, obedeceu  aos seus pensamentos intrusivos e o incômodo venceu. Naquela tarde quente, depois de terminar a vigésima apresentação filmada, socou o diretor alemão Werner Herzog com um cruzado de esquerda. Poderia culpar a plateia esvaziada, já que o Frenesi não era mais novidade na cidade. Ou que estava nervoso, problemas com a sua esposa Luziânia. O dinheiro perdido no jogo do celular. Tudo seria mentira. O fato é que ele queria quebrar a cara do gringo desde que o viu. E naquele dia ele fez, simples.

O incidente aconteceu nos bastidores, quando o diretor entrou no camarim e o questionou sobre como é estar tão só no meio do picadeiro. Aquilo atingiu o palhaço como uma bolada. O que piorou tudo foi o tom que a pergunta soou, como se um agiota de sotaque carregado estivesse cobrando dinheiro atrasado. Enfim, besteiras necessitam de segundos. O rapaz; que naquele momento tinha interrompido o processo de guardar Chuletinha e voltar a ser Claiton; só não esperava pelas consequências do seu soco.

Jurou que estava frito, que o Mendonça ou, pior, a Luziânia o mandaria embora. Mas não. Herzog bambeou, mas não caiu. Depois da agressão, sorriu e gritou:

— BRAVO!

Então, desatou a falar. Contou de um amigo dele, que ele chamava para os seus filmes e como eles sempre brigavam. Sobre como apontou uma arma para esse tal de Klaus, que era muito cansativo e divertido trabalhar com ele. Que cada cabelo branco de sua cabeça ele chamava de Kinski e o quanto sentia saudades deste tipo de interação, mas que o respeito e a idade faziam as pessoas terem pudor.

— As distâncias que o prestígio causa, eu sou um ser fervilhante…

Que estava verdadeiramente agradecido. E sobre como esta seria a melhor produção dele em muito tempo, desde algo no meio da floresta.

O pensamento de Claiton foi de que o homem era louco. Realmente maluco, pirado. Contudo, dessa vez o achou simpático em sua insanidade. No mais, alguém de idade aguentar um soco seria a maior prova de que a figura é casca grossa. Se sentiu mal, poxa. Então convidou Herzog para ir tomar uma cachaça, o que o alemão parecia conhecer e gostar. No Jota Jota Lanches,  sentaram-se em uma mesa de plástico amarelo, ao fundo tocando Marília Mendonça.

— Escuta essa seu Herzog, que é do tempo que a Luziânia ainda me chamava de amorzinho!

Tomaram cerca de 18 doses cada um e foram embora com o estabelecimento fechando as portas. Werner carregou o jovem palhaço até o Frenesi como se ninasse um filho adormecido. A magreza fazia Claiton ser fraco para a bebida.

Narração em off / trilha sonora: “Byzantine chant – Δεύτε λαοί”:

O dourado desta estatueta me lembra o Império Bizantino. A beleza magnífica do ouro, que reluz em minhas mãos. Toda vez que olhar para esta pequena figura, lembrarei de Claiton, o palhaço Chuletinha.  Em seu olhar, a lágrima que nunca caía. Em seu coração, um mundo repleto de ouro. 

Sobre Fabio Baptista

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29 comentários em “Um Fragmento do Homem que Comeu os Próprios Sapatos (Mariana Carolo)

  1. Victor Viegas
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Victor Viegas

    Olá, Klaus!

    Rapaz, que história doida, hein! Pelo título eu jurava que teria sapatos, fragmentos ou um homem muito fora das ideias. Esse último até que apareceu mesmo rs. No final fui surpreendido pelo palhaço Chuletinha e o diretor alemão “Maluco esquisitão”. As próprias cenas do circo conseguiram transmitir uma boa nostalgia.

    É um conto bem escrito, passamos a entender a dinâmica dos dois desde  “Claiton, meu filho, o gringo quer acompanhar você pra cima e pra baixo agora. Entrevista, tudo bonitinho. Vai virar estrela de cinema, meu querido. Não esquece da gente quando for pra Hollywood”, com a incrédula reação dele “Precisa mesmo… Sei não” e depois vemos o crescimento da relação deles “O pensamento de Claiton foi de que o homem era louco. Realmente maluco, pirado. Contudo, dessa vez o achou simpático em sua insanidade”. Essa dinâmica ficou bastante natural e você conseguiu transmitir as cenas de forma bem clara. De modo geral, você escreve bem. Gostaria muito de ler outros textos seus. Desejo tudo de bom e boa sorte no concurso!

  2. Pedro Paulo
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Pedro Paulo

    COMENTÁRIO: Leitura agradabilíssima, mas faltou algo. A apresentação do protagonista o coloca como um homem que, apesar de estrangeiro naquela terra, desenvolve com ela uma conexão única com a qual não poderia ter nenhum nativo, visto que essa ligação reúne suas memórias das ruínas de sua terra natal. A princípio, Herzog é a única estrela e sua perspectiva única de cineasta encanta e compete com a narração em nos ilustrar a beleza do circo. Entretanto, sua contraparte aparece no relutante Palhaço Chuletinha e o desencontro dos dois vai ficando mais e mais revelador de quem são e de quem foram. Um desencontro que é encontro dos mais valiosos: aquele que dificilmente teria ocorrido. Se esse sentimento mágico foi tão palpável, deveu-se a uma escrita competente e bem dosada na ousadia de incluir interlúdios como peças de roteiro. A abordagem do tema é um dos pontos que fiquei um pouco dividido, pois, embora os dois reflitam sobre seus passados no presente em que ambos se conhecem, não acho que tenha sido o centro do conto. Na estrutura da narrativa é onde senti faltar algo, pois o conto se encerra quase sem catarse. Entendo que não se investiu no impacto das reviravoltas e sim na satisfação de uma relação que, surpreendentemente, só se consolidou num impasse se violência. Mas a questão é que, durante todo o conto, a conexão entre Herzog e Chuletinha se apresenta, desenvolve-se, mas não aponta bem para onde está indo. E por isso, o arremate foi recebido sem uma expectativa grande, ainda que numa leitura fluída e adorável.

    No mais, Herzog conheço por nome e por vê-lo em algumas obras do audiovisual, mas não sei se um conhecimento mais profundo de sua biografia teria enriquecido a experiência de leitura.

  3. JP Felix da Costa
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de JP Felix da Costa

    OK, Werner Herzog. Conheço de nome, apenas.

    Não sou grande admirador deste tipo de textos que vão buscar pessoas reais. Não sei com o que isto se relaciona, se é que se relaciona com alguma coisa. Para mim fica-me apenas um gosto a nada na boca. Não me acrescentou nada. Parece-me uma parte de algo maior. Não vi os temas em parte nenhuma. Não sei se é de mim, que não consegui perceber a ideia que está aqui a ser transmitida, mas este texto deixou-me indiferente. Relativamente à escrita, nada de especial a apontar. O texto é de fácil leitura e não tem quebras de ritmo. Mais não posso acrescentar…

  4. André Lima
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de André Lima

    Esse conto é uma boa miscelânea de memórias, arte, desconforto e melancolia.

    O uso do tema “nostalgia” aqui é sutil, mas ao mesmo tempo poderoso. A obra se apropria da nostalgia como uma força impulsionadora da trama, não no sentido de uma busca por reconciliação com o passado, mas como uma espécie de fardo, um espectro que persegue as personagens. O diretor Herzog, que busca no Brasil algo que lembre sua infância na Alemanha destruída, encontra, na figura do palhaço Claiton, uma síntese de suas próprias frustrações e desilusões.

    A força desse conto está na capacidade de evocar essa nostagia melancólica, sem cair nos clichês óbvios. É uma boa obra.

    Por vezes, o ritmo é um pouco truncado e senti a sensação de que estava lendo parágrafos descartáveis, que pouco contribuíam para a estrutura narrativa da trama. Acho que é o único ponto negativo que consigo apontar.

    De positivo, a notória habilidade do autor em criar a atmosfera do conto, embora eu prefira uma escrita mais poética e, por vezes, insólita, aqui não senti falta. A crueza da narrativa, as vezes, contribui pro que o conto deseja atingir.

    É uma bela obra e o autor está de parabéns.

  5. leandrobarreiros
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de leandrobarreiros

    Um dos contos bem escritos que não ressoaram muito comigo.

    Do ponto de vista da escrita o autor é competente e tomou decisões criativas interessantes, como o uso do off. Do ponto de vista da história… não me envolvi muito. Não acho que a questão aqui foi meu desconhecimento sobre Herzog. É mais que a dinâmica entre ele e chuletinha ficou meio… apagada. O diretor parece ser um gringo excêntrico meio mala, e esse olhar antropológico sobre o circo, e diria que sobre o brasileiro, é um pouco irritante.

    Acho que talvez fosse possível escalar o conflito de maneira um pouco mais gradual e tensa, para o momento catártico que, mesmo assim, me parece pouco diante da irritação de chuletinha.

    No mais, não conhecemos tanto de Herzog, nem de Chuletinha.

    Enfim, criativo e bem escrito, mas não me fisgou.

  6. Fabiano Dexter
    13 de dezembro de 2024
    Avatar de Fabiano Dexter

    Achei o conto interessante, o modo como retrata a filmagem do documentário em um circo e a tara de Herzog pelo palhaço.

    O modo como a história é dividida, citando ao final de uma das três partes uma música e uma descrição, como parte do documentário, foi realmente um toque muito bem pensado e dá umaa personalidade ao conto.

    O final acompanha a história, sendo simples, sério e honesto com o restante da história.

    A única coisa que não vi no (bom) conto foi alguma referência ao tema…

  7. Fabio Baptista
    13 de dezembro de 2024
    Avatar de Fabio Baptista

    Eu gostei demais desse conto. Impressionante como alguns participantes do EC casam com meu gosto literário e conseguem agradar e surpreender quase sempre.

    Ótima narrativa, diálogos naturais, um quê experimental ali com as inserções das trilhas sonoras que viriam a compor o documentário, ótimos personagens.

    O único porém, acabei de comentar no grupo, foi a adequação ao tema. Ok, o circo por si só já traz certa nostalgia… o gringo tinha essa nostalgia… mas não foi o suficiente para um enquadramento completo na minha visão.

    Tirando esse detalhe particular do desafio, um dos meus preferidos.

    MUITO BOM

  8. Felipe Lomar
    13 de dezembro de 2024
    Avatar de Felipe Lomar

    olá,

    o conto aborda a nostalgia de uma forma inovadora. Um passado que os personagens querem deixar um pouco escondido, porque de certa forma tem uma dor envolvida (pelo menos essa foi a minha interpretação), mas que vem à tona pelas circunstâncias. O desenvolvimento foi muito bom, mostrando o nascimento de uma amizade improvável entre o palhaço e o cineasta, que apesar de tão diferentes, tinham tanto em comum, principalmente a nostalgia supracitada. Gostei muito da construção dos personagens. Parecem mesmo de carne e osso.

    boa sorte!

  9. Thiago Amaral Oliveira
    13 de dezembro de 2024
    Avatar de Thiago Amaral Oliveira

    Olá, Klaus.

    Seu conto está muito bem escrito. A história tem traços poéticos e parece querer dizer mais do que afirma.

    O fato de que o protagonista é Werner Herzog me faz gostar do conto, e as referências a sua carreira e a seus filmes tocam em pontos que me atraem. No entanto, tenho medo de estar puxando sardinha apenas por isso, pelo conto tocar em interesses meus. Porque, no fim, não entendi bem sobre o que conta a história, qual o intuito e significado. Parece apenas uma exposição de como Herzog é excêntrico.

    Talvez eu não o conheça o suficiente e haja mais referências geniais, um significado maior que apenas conhecedores profundos entenderão. Se for o caso, me perdoe, não captei. Mas fiquei com a impressão de que não, de que seu intuito era apenas fazer uma história cheia de idiossincrasias, que confundiria os que não conhecem, e seria apreciada pelos cinéfilos cult. Ou só quis se agradar mesmo, hehe.

    No fim das contas, fiquei com a sensação de que é um conto competente, que une bem o universo dos filmes e documentários de Herzog com uma apreciação pela cultura brasileira. Acerta nas sutilezas, como de não nos contar explicitamente sobre as escapadas da esposa do palhaço e em deixar muita coisa em aberto, para que o leitor reflita. No entanto, faltou alguma emoção na leitura, que me parece mais cerebral. No fim das contas, uma história curiosa.

    Obrigado e boa sorte no desafio.

    • MARIANA CAROLO SENANDES
      15 de dezembro de 2024
      Avatar de MARIANA CAROLO SENANDES

      Eu só quis me agradar mesmo por ser uma cinéfila cult heehehe É que eu realmente gosto do Herzog

  10. Priscila Pereira
    12 de dezembro de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Autor! Tudo bem?

    Então, me explica o por quê do título, faz favor?

    E da imagem também! 😆

    Agora o pseudônimo eu pesquisei e descobri que é um ator que se popularizou por fazer os filmes do Herzog, que é um cineasta real. Interessante!

    Sobre o conto, achei muito interessante. Os personagens são muito bem feitos e profundos, gostei bastante da narração e da música que marcava as cenas do filme, achei bem legal!

    O tema é meio fugaz, mas parece que todo o filme feito pelo Herzog é por causa da nostalgia que ele sentia… E talvez o contos seja mais nostálgico pra quem conhece os filmes do Herzog.

    No final é ele recebendo o Oscar pelo filme? 🤔

    Notei que o conto não parece terminado, parece mais o prólogo de algo bem maior…

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!

    Até mais!

  11. Thais Lemes Pereira
    10 de dezembro de 2024
    Avatar de Thais Lemes Pereira

    Achei o conto muito bacana! Só não consegui achar o tema nele e nem uma razão para o título.

    Estranhei muito a narração no meio do conto, mesmo que em itálico, mas gostei muito de como o conto encerrou, então não mudaria nada disso.

    É muito interessante ter um gringo em um circo brasileiro gravando um documentário. A forma como a relação deles foi sendo construída foi o ponto forte do conto.

    Mas não achei portão e nostalgia e queria muito entender a escolha do título.

  12. Jorge Santos
    9 de dezembro de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    Hallo, Herr Kinski, wie geht es? Agora, a sério: gostei bastante do seu conto, que mostra o cruzamento de vários mundos. O mundo cinema diz-me muito, o do circo nem tanto. Depois, conheço melhor a realidade da europa do que a do Brasil, que gostaria de conhecer. Werner Herzog é considerado como o maior dos realizadores vivos. Os seus filmes retratam a loucura do homem quando tenta cumprir sonhos impossíveis. Ele próprio não se pode enquadrar naquilo que é “normal”. Ao filmar um documentário nos Estados Unidos, é baleado por um fã e continua a trabalhar dizendo “não é nada de especial”.

    Há uma frase de Werner Herzog que está intimamente ligada ao conto: “Como vê, fazer filmes transforma-me num palhaço, e isso acontece a todos – repara em Orson Wells ou até mesmo em pessoas como Truffaut. Eles transformaram-se em palhaços.”

    Se o mote foi esta frase, a ligação aos temas propostos dilui-se no sentido do texto. A nostalgia está patente, mas de uma forma frágil e posso mesmo considerar inexistente. O olhar das personagens está centrado no futuro, na esperança de ter sucesso e deixar obra.

    Encontrei também uma incoerência. Herzog deixou para trás uma Alemanha em ruínas, mas o texto fala de “celulares”. Isto deixa o leitor na dúvida sobre o tempo em que a história se passa.

    De resto, é um texto fluído, sem problemas de linguagem. Fez-me recordar s clássicos do cinema e deu-me uma vontade tremenda de ver/rever os filmes dele.

  13. danielreis1973
    8 de dezembro de 2024
    Avatar de danielreis1973

    Um Fragmento do Homem que Comeu os Próprios Sapatos (Klaus Kinski)

    Prezado(a) autor(a):

    Para este certame, como os temas são bastante díspares, dificultando quaisquer comparações, vou concentrar mais minha avaliação em três aspectos, e restritos à MINHA PERCEPÇÃO durante a leitura: a) premissa; b) técnica; c) efeito. Mais do que crítica ou elogio, espero que minha opinião, minhas sensações como leitor, possam ajudá-lo a aprimorar a sua escrita e incentivá-lo a continuar.
    Obrigado e boa sorte no desafio!

    DR

    A) PREMISSA: partindo de uma história fabulada com muito eruditismo, citando cinema, ópera e ciência espacial, chegamos numa história bem pé-no-chão, qualidade notável ao trazer para uma realidade bem brasileira um toque de absurdo pela presença de Werner Herzog. A partir das interações entre os integrantes do circo e o cineasta que os observa, o autor constrói uma realidade alternativa, ou seja, algo que poderia realmente ter acontecido, mas de uma maneira mágica. Me lembrou um pouco do Leminski e seu Catatau, onde Descartes vem para o Brasil com Maurício de Nassau (!). O tema do desafio, também, está um pouco escondido, nas reminiscências dos personagens.

    B) TÉCNICA: a escrita é bem fluida, apesar da grande quantidade de citações e referências. Merece destaque também a criação e caracterização dos personagens do circo, suas interações entre si e com o visitante estrangeiro. As locações são também muito características dos circos do interior, um assunto que me fascina.

    C) EFEITO: o efeito é bom, ainda que um pouco cansativo pela quantidade de referências simultâneas proposta pelo autor. Não senti muito a falta de verossimilhança, acho que do jeito que foi escrito, poderia ter acontecido. Mas não está entre meus preferidos desse desafio. De qualquer forma, obrigado por participar e boa sorte!

  14. Elisa Ribeiro
    8 de dezembro de 2024
    Avatar de Elisa Ribeiro

    Um conto estranho, que eu não sei se entendi bem, mas gostei. Me fez ir pesquisar e descobrir que o Herzog comeu mesmo o próprio sapato, a leitura já valeu por isso. Seu texto parece parte de algo maior. Está bem escrito e bem revisado. Na minha opinião apenas tangenciou o tema da nostalgia. Foi uma leitura inusitada e, pelo tema e personagens, valeu.

  15. claudiaangst
    5 de dezembro de 2024
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?
    Neste desafio, usarei o sistema ◊ TÁ DITO ◊ para avaliação de cada conto.

    ◊ Título = UM FRAGMENTO DO HOMEM QUE COMEU OS PRÓPRIOS SAPATOS > Título longo e peculiar. Não dá para prever o que leremos. Alguém tão faminto que comeu os próprios sapatos?

    ◊ Adequação ao Tema = Tema proposto abordado com sucesso, por conta da trilha sonora mencionada e tom nostálgico captado.

    ◊ Desenvolvimento = O enredo desenvolve-se no universo circense indo parar na nostalgia cinematográfica (por conta da trilha sonora). Os diálogos facilitam e agilizam a leitura, o que tornou o enredo mais palatável.
    Fui pesquisar e descobri que Werner Herzog, é um cineasta alemão, associado ao movimento do Novo Cinema Alemão.

    ◊ Índice de Coerência = Dentro da trama proposta, não há de fato incoerência no texto apresentado.

    ◊ Técnica e Revisão = Linguagem simples, mas bem colocada, com boa construção de personagens e ambientação.
    Algumas falhas quanto ao quesito revisão:
    bem vinda > bem-vinda
    assistir o show > assistir ao show
    auto dialogar > autodialogar
    ar condicionado > ar-condicionado
    platéia >plateia

    ◊ O que ficou = Vontade de escutar as músicas citadas, rever alguns filmes, pesquisar mais sobre os diretores de cinema: Werner Herzog, Klaus Kinski, etc. Adorei a última frase: “Em seu coração, um mundo repleto de ouro”. Poesia!

    Parabéns pela participação e boa sorte!

  16. Mauro Dillmann
    30 de novembro de 2024
    Avatar de Mauro Dillmann

    Quando leio qualquer texto literário fico mais atento para a forma do que para o enredo em si. Creio que uma boa escrita desenvolve bem qualquer enredo. O escritor Marcelino Freire diz que na escrita é bacana evitar excesso de conjunção ‘mas’. Só no primeiro parágrafo desse conto o ‘mas’ aparece três vezes deixando o texto cansativo de ler.

    Além disso, daria para enxugar bastante, eliminar palavras que, me parecem, estão sobrando. Vou dar um exemplo: a palavra “inclusive”, que abre o terceiro parágrafo.

    As proezas entre Herzog e Chuletinha podem ser interessantes, mas me perdem enquanto leitor porque o texto tem, na minha opinião, tentativa de demonstração desnecessária de suposta erudição.

  17. Luis Guilherme Banzi Florido
    27 de novembro de 2024
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom dia, amigo(a) escritor(a) do(a) Encontrecontos, tudo bem?

    Primeiramente, parabéns por superar a nostalgia do desafio de trios e entrar no portal do novo certame! Boa sorte e bora pra sua avaliação:

    Tema escolhido: vixi… nostalgia?

    Abordagem do tema: 50%? Sei lá. Eu até entendo que em algum momento o homem expressa nostalgia pelo passado, mas isso é tão passageiro e pouco relevante pro conto, que não consigo ver muita adequação ao tema, sinto muito. Quando eu analiso a adequação, eu me pergunto: esse conto funcionaria se eu removesse nostagia e/ou porta dele? Se sim, quer dizer que não houve uma boa adequação, se não, houve. Aqui, não me parece mudar nada caso eu remova “nostalgia da adequação”. Eu ainda vou deixar 50% porque, pensando bem, parece que o homem está fazendo o filme e vivendo como vive pra recuperar um pouco dos sentimentos do passado.

    Comentários gerais: olha, esse conto é bem curioso. Eu não vou dizer que não gostei, mas também não consigo dizer com convicção que gostei. Então vou por partes e espero até o final do comentário ter organizado melhor minhas ideias, inclusive pra conseguir dar nota.

    Para começar, o conto tá muito bem escrito. A técnica, a linguagem, a escolha de palavras. Tudo muito bom. Você possui uma bagagem e conhecimento artísticos, eu diria. Devo admitir, no entanto, que em alguns momentos achei o conto um pouco pretensioso, pra ser sincero, desde o título até um exagero no preciosismo artístico. O conto pra mim caminhou nesse limiar de “muito inteligente” e “um pouco pretensioso”. É como se você tivesse em alguns momentos mais preocupado com a forma que com o conteúdo. Isso não chegou a me incomodar, e no final acho que foi positivo o saldo nessa parte mais técnica. De todo modo, é indiscutível que você manja pra caramba de escrita e é um dos veteranos.

    Sobre o enredo, eu terminei a leitura com o sentimento de “esse conto vai de nada pra lugar nenhum”. Mas, depois de reler e tirar um tempo pra refletir, algumas ideias foram surgindo, e eu fui meio que criando minhas teorias. Isso é legal, o conto deixa espaço pro leitor interpretar e tirar suas conclusões, inclusive com o título, que parece fazer menção às pessoas que passavam fome e comiam os sapatos de couro, no século passado, inclusive na Alemanha, de onde vem o diretor. Isso, inclusive, ajuda a elaborar melhor as ideias sobre o conto, e entender as motivações do gringo para tudo que faz. Tentando se redescobrir, talvez? Recuperar um pouco da alegria que a vida sofrida lhe roubou? Talvez por isso a obsessão pelo palhaço, e por isso a pergunta sobre estar sozinho no meio de todos. Tá vendo? Quantp mais eu penso, mais interessante vai ficando seu texto.

    Também é bem legal a relação que você criou entre o palhaço e o diretor, e o contraponto entre eles funciona bem. Uma boa construção de personagens e da relação entre eles.

    Por fim, acho que o que me incomodou mais no conto foi uma certa linearidade, uma falta de algo mais catártico ou um clímax, algo que empolgasse. O conto acabou meio de repente e eu fiquei sentindo que faltou algo. Claro que isso é gosto pessoal, mas não tem como desatrelar nosso gosto pessoal e o que sentimos da leitura e nossa analise do conto, né?

    De todo modo, um conto curioso, enigmático e muito bem escrito. Faltou só um algo a mais pra me dar aquela sensação catártica.

    Sensação final: assisti ao espetáculo do Chuletinha, estranhei um senhor loiro rindo demais e filmando tudo. Gostei do espetáculo, tudo bonito e artístico, mas antes que eu me envolvesse 100%, o show acabou.

  18. Thales Soares
    21 de novembro de 2024
    Avatar de Thales Soares

    O que achei deste conto: Mas que viagem é esta?

    Um cineasta alemão veio para o Brasil filmar um documentário sobre o Circo Frenesi. Ele fica maravilhado pelo ambiente e dedica seu tempo para capturar detalhes meio insignificantes, como três rasgos na lona da tenda, que faz com que ele lembre de sua infância. A galera do circo acha estranha a presença do gringo, mas eles aceitam porque ele tá pagando, e vai divulgar o grupo. O gringo ainda ri pra caramba em todas as apresentações do palhaço Chupetinha… o que a galera acha bem estranho. Eu, como leitor, também achei um pouco estranho esse hábito voyeur do gringo… é como se ele tivesse uma paixão sexual pelo número do Chupetinha.

    E com isso, o Chupetinha se sente desconfortável… principalmente quando o gringo decide transformar o Chupetinha no protagonista do seu filme, conseguindo permissão do dono do circo. Durante as filmagens, Chupetinha vai ficando cada vez mais desconfortável e putinho, até que ele decide meter o murro na cara do gringo. O gringo, por sua vez, não fica chateada, e até gosta dessa reação do Chupetinha, por considerar verdadeira arte.

    Depois disso a relação entre os dois acaba mudando. O gringo e o Chupetinha vão pro bar, e lá eles conversam e dão risada ao som de Marilia Mendonça (não conheço… será que é um ponto chave para a nostalgia?). Então o gringo encerra seu documentário com uma admiração pelo Chupetinha, que ele vê como uma pessoa que carrega uma solidão que contrasta com a alegria que ele mostra ao público.

    Achei a história bem escrita e intrigante. No entanto…. não vi muita coisa do tema, nem porta e nem nostalgia. Na realidade, não vi muito propósito na história… ou talvez eu não tenha compreendido direto. Me pareceu tudo aleatório demais, e olha que li o conto inteiro duas vezes. O fato de ele ser curto contribui para sua fluidez… mas eu gostaria que houvesse um maior aproveitamento dos personagens. Também fiquei triste pela falta de um climax na história, ou qualquer tipo de reviravolta. Do jeito que ficou, achei tudo muito morno…

    Mas enfim… boa sorte no desafio.

  19. Marco Saraiva
    21 de novembro de 2024
    Avatar de Marco Saraiva

    É um conto muitíssimo bem escrito, e daqueles que te levam para dentro e te mantém ali. A poesia da narrativa é admirável, e a ambientação é muito boa. Gostei deste tom descompromissado, da falta de enredo ou final. O conto termina sem mais nem menos, o leitor tem vislumbres do produto final de Werner, o documentário, e termina com um destes vislumbres.
    Geralmente eu não gosto de contos sem enredo ou que terminam cedo demais. Mas aqui a proposta nunca foi tentar contar uma história com início, meio e fim. O texto está mais para um estudo de personagens, uma oportunidade de espiar por algum tempo a vida de Werner e Claiton.

    Curti bastante a leitura. O tema de nostalgia está presente em como Werner vive se lembrando da infância e de como a vida era simples e interessante, quando ninguém tinha as reservas que os adultos têm. O diretor admira a sinceridade e a autenticidade que ele via em todos quando criança, e quando Claiton lhe dá um soco, a interação é muito parecida com a de duas crianças, que primeiro brigam, então tornam-se amigos. Werner o admira mais por ver ali o “homem atrás da máscara”, e Claiton o admira por notar que a bagagem que o diretor alemão carregava era mais pesada do que ele imaginava.

    Parabéns!

  20. bdomanoski
    20 de novembro de 2024
    Avatar de bdomanoski

    ” No Jota Jota Lanches,  sentaram-se em uma mesa de plástico amarelo, ao fundo tocando Marília Mendonça.” 😂😂😂😂😂😂

    O ponto alto do conto foi qnd o Chupetinha deu um soco no gringo e ele achou o máximo. Conto bem escrito.

  21. Kelly Hatanaka
    19 de novembro de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Olá Klaus.

    Herzog, movido pela nostalgia, filma um documentário sobre o circo Frenesi, focado no palhaço Chuletinha. O texto é intercalado por cenas do documentário que, por fim, é premiado.

    O conto é sutil. A nostalgia está lá, mas está escondida, a gente tem que cavoucar pra encontrar.

    Percebe-se, em Herzog, uma busca por algo que ficou no passado. A proximidade das pessoas, o comportamento livre, os relacionamentos de outrora. A filmagem do documentário parece ser um jeito de resgatar alguma coisa.

    Chuletinha, por sua vez, é a realidade que não tem tempo para subjetividades.

    Herzog é o intelectual, o artista racional, que pensa e explica sua arte. Chuletinha é o artista popular, que “vive do chapéu”. Talvez seja isso o que Herzog busca: uma reconexão com o popular, com a forma pura da arte, com a vida em sua forma crua.

    Minha pitada de achismo: essa sutileza é bonita, mas é arriscada a beça. Eu achei o tema porque procurei muito.

    Gostei ou não gostei: gostei. Mas achei o texto muito Herzog e pouco Chuletinha. Bom, inteligente, bem desenvolvido, com muito a dizer, porém um tanto hermético. O que não é um defeito, de forma alguma.

  22. Gustavo Araujo
    18 de novembro de 2024
    Avatar de Gustavo Araujo

    Eu queria muito ter gostado deste conto. A começar pelo primeiro parágrafo, que é pura poesia. A visualização da lona do circo pelo prisma dos buracos ficou muito boa. Uma descrição exemplar, digna de quem sabe escrever de verdade. E depois, as referências, inúmeras, espalhadas pelo texto.

    Aqui temos Werner Herzog em uma busca pessoal: quer filmar a vida do palhaço Chuletinha porque ele, de certa forma, o faz lembrar da própria infância. Logo aparecem a música de Leoncavallo e do Fantasma da Ópera. Sem falar na menção a Klaus Kinski, que vai além daquela no título. Sim, o conto é um apanhado infindável de easter eggs, estratégia que tem o condão de cativar até o mais sisudo dos leitores.

    Mas, por algum motivo, não funciona. Talvez pela escolha infeliz do nome do palhaço, talvez por ater-se a um personagem real que não é exatamente conhecido nestas bandas…

    Creio que para funcionar, a nostalgia deve dialogar com o leitor, fazer com que ele próprio sinta saudades de outra época, que se conecte com seu eu mais jovem, com o tempo em que era mais ingênuo, quando ousava acreditar. Isso não acontece aqui. Nem o cineasta, nem o palhaço conseguem cativar. Não chegam a ser unidimensionais, mas não despertam empatia. Não dá para torcer por eles, não dá para sentir pena deles e muito menos rir com eles.

    Penso que havia aqui um material muito bom para se trabalhar, mas as referências e as informações que o autor pretendeu jogar no texto o foram em demasia, prejudicando o andamento da história. Claro, há pontos ótimos, como o início, de que já falei, e os devaneios do cineasta depois de cada capítulo marcante. Mas é pouco para um conto que prometia tanto. Pouco para quem escreve tão bem.

    De qualquer forma, é possível que outras pessoas gostem da história, provando ser eu nada mais do que um triste rabugento.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  23. Givago Thimoti
    17 de novembro de 2024
    Avatar de Givago Thimoti

    Um Fragmento do Homem que comeu os próprios sapatos – Klaus Kinski

    Resumo + Comentários gerais:

    Um fragmento do Homem que comeu os próprios sapatos é um conto que narra a história do palhaço Chuletinha/Claiton e o diretor alemão de um documentário, Werner Herzog, que filma a vida no circo itinerante Frenesi. Entre o estranhamento do palhaço e a admiração do cineasta, o conto retrata de forma fragmentada os atos do documentário.

    Eu não sei muito o que pensar sobre esse conto. Se eu pudesse reduzir/definir esse conto numa palavra, eu escolheria apagado. Autor, autora, não me leve a mal, seu texto está bem escrito. É uma narrativa concisa, com algumas passagens da história bem construídas, como por exemplo a descrição dos atos ao final de cada parte do conto, e que demonstram o talento do escritor/ da escritora.

    Contudo, considerando as nuances da história, do universo lúdico que envolve o circo (claro, para quem gosta de circo, o que não é propriamente o meu caso), e até mesmo a relação entre os personagens, eu senti falta de um algo a mais. Algo para além da dissonante relação entre documentarista e documentado. Algo para além da visão já conhecida do circo.

    Frase/Trecho de impacto:

    — Não, agora mostre quem está por trás da máscara.

    Silêncio completo. 

    — É que eu não estou fazendo nada, não sei direito…

    — Eu sei, é desafiador não estar em movimento.

    — O senhor é da Alemanha, não é? Quero um dia conhecer o estrangeiro.

    — O Brasil são vários locais, meu jovem. Eu adoro o seu país, fale sobre as suas viagens com o circo.

    — Ah, já conheci uma penca de lugares. Eu sou de Porto Alegre, mas andei até pelo Amazonas. Gostei muito, vários peixe e camarão, lá eles comem açaí como se fosse feijão…

    — A potência da floresta intimida o riso?

    — Quê?

    Novamente silêncio. Herzog aprecia a cara de espanto capturada, como se uma máscara grega tivesse se colado no rosto moreno do rapaz por alguns instantes.

    Esse trecho é interessante porque, pelo menos para mim, mostra o total descompasso e a dissonância entre documentarista e documentado.

    Adequação ao tema (0 a 3) – Avalio se o conto aborda o tema proposto de forma coerente, aprofundada e relevante para o Desafio: 2,5

    Eu tive um pouco de dificuldade de assimilar o tema como foi desenvolvido nessa narrativa. Acho que faltou nostalgia, embora eu tenha a percebido uma vez ou outra. Pelo que percebi, o documentário retrataria a visão de Herzog em relação ao circo, focando-se especialmente no Frenesi e no palhaço Chuletinha. Herzog, quando criança numa Alemanha partida, amava o circo. Hummmmm… não sei se foi o suficiente isso para caracterizar a nostalgia dentro desse conto, pelo menos para mim. Na minha leitura, nostalgia passa um tanto longe.

    Ainda assim, eu percebo que pode ser mais uma falta minha enquanto leitor do que o autor. Acho que 2,5, nesse aspecto, é o mais justo.

    Construção de Mundo e personagens (0 a 2) – Avalio a profundidade dos personagens e a ambientação, incluindo o cenário e como tudo interage para fortalecer a narrativa: 1

    Eu percebi alguns problemas nesse aspecto no conto. A ideia do autor/ da autora talvez não tenha sido executada do jeito que imaginava. Destaco, mais uma vez:  a história está bem escrita, mas acho que pecou em termos de construção. Vamos lá!

    Primeiramente, eu achei que o jeito que a relação entre Herzog e Chuletinha/Claiton se desenrolou não foi natural. Foi algo bem artificial, na verdade. Acho que a forma como o Herzog reagiu ao soco foi muito mais fruto do clichê do cineasta louco, artístico e visceral do que seria conforme a construção da própria história; um cara mais deslumbrado e apaixonado por circo e pelo Brasil.

    Agora, o que mais me incomodou.

    O circo é um espaço lúdico. Um espaço com imaginação, de diversão, de assombro com piruetas, truques, manobras arriscadas… Eu senti falta disso! Talvez eu seja o responsável por essa quebra de expectativas, mas eu gostaria de ter tido mais do que um relance do Circo Frenesi para compreender o porquê de Werner Herzog ter se maravilhado com o circo. O que eu recebi foi um esquisito gringo diretor de um documentário aplaudindo e batendo pés meio fora de ritmo, maravilhado com um palhaço que não vi a graça (literalmente, não teve nenhuma descrição do show do Chuletinha). Nessas horas, sempre lembro de uma dica do Rafa Sollberg que recebi aqui no EC e vira e mexe eu replico: não conte, NOS MOSTRE!

    A partir disso, acho que faltou mostrar mais a relação do Herzog com o circo em sua infância na Alemanha. Faltou mostrar mais do que encantou o documentarista. Essa construção no passado caracterizaria perfeitamente a nostalgia.

    Por fim, para encerrar esse aspecto, eu diria que essa dica você mesmo, autor/autora, já deu uma resvalada. Para mim, a grande joia deste conto está na relação dissonante entre Chuletinha e Herzog, que reflete a distância entre documentado e documentarista. Enquanto o primeiro, por vezes, tende a ser uma pessoa mais humilde (claro, dependendo do que se trata o documentário), o cineasta tende a ser aquela pessoa academicista, que por mais que se proponha a ter uma visão objetiva da realidade, muitas vezes, a desconhece e não enxerga o documentado como ele realmente é, tornando-o apenas o seu objeto de trabalho.

    Uso da linguagem (0 a 2) – Avalio a qualidade da escrita, incluindo o estilo, clareza, gramática e fluidez dos diálogos:  1,5

    Se a construção do enredo é problemática, por outro lado, eu diria que a escrita está muito boa. Concisa, um tanto sóbria (talvez, até demais, considerando o lúdico que deveria estar no conto)

    De problema, que precisam de uma olhada do autor/ da autora, eu percebi algumas repetições de palavras em alguns trechos do conto (Mas não. Herzog bambeou, mas não caiu). Além disso, esse trecho não fez sentido, já que, de fato, não teve consequências para o palhaço:

    ·      “(…) O rapaz; que naquele momento tinha interrompido o processo de guardar Chuletinha e voltar a ser Claiton; só não esperava pelas consequências do seu soco.

    Estrutura Narrativa (0 a 1,5) – Examino o fluxo do enredo, a clareza da introdução, desenvolvimento e conclusão, e se o ritmo é adequado: 1,5

    Aqui eu diria que é irretocável. O conto está bem estruturado, seguindo um ritmo adequado.

    Impacto Emocional (0 a 1,5) – O quanto a história conseguiu me envolver emocionalmente, provocar reflexão ou cativar: 0,5

    Eu não me envolvi tanto com esse conto. Quase cometendo um sincericídio, digno de aparecer no Pérolas do EC, a única coisa que gostei no conto foi como foi retratada a distância entre o documentado e o documentarista. De resto, foi um conto que não explorou bem as próprias nuances da história, como o lúdico universo do circo ou as palhaçadas que tanto cativaram o Werner Herzog.

    NOTA FINAL: 7

  24. vlaferrari
    10 de novembro de 2024
    Avatar de vlaferrari

    Diria que é muita areia para o meu caminhão e que o cérebro atrás da pena está perdendo tempo participando do EC. Mas seria injusto. Primeiro com o EC, claro. São textos ótimos que engrandecem a importância de participar e “ouvir os mais velhos”, não é? Dessa maneira encaro os certames, como uma comunidade restrita de aprendizes e professores. Ora se aprende, ora se ensina. E é importante ter contos “clássicos”, difíceis, com caracteres em grego(?) e tudo o mais. Particularmente, são floreios que pouco acrescentam ao que interessa. Mas, sem dúvidas, deixam o resultado final ainda mais prazeroso de se ler e analisar. As loucuras dos europeus, não é? Tem sempre um maluco por trás de uma tentativa de criar uma master piece “pica das galáxias”. Brasileiros fazem isso no cinema também, é claro. Li-o quando se falava no grupo sobre notas 10. Bem, não acho que seja essa. Talvez nota 11 ou 12, ficaria mais justo.

  25. Antonio Stegues Batista
    10 de novembro de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Esperei ler o homem comendo sapatos e não aconteceu. O título deve ter um sentido figurado, metafórico, como escritores antigos faziam que nada tinha a ver com o texto, principalmente em antologias. A imagem também nada a ver mas isso não quer dizer nada. É válido, claro. No começo pensei que a história ocorresse nos anos 40/50, mas não, é agora, no presente. É citado o celular, que chegou ao Brasil nos anos 90. Portanto, o circo é contemporâneo, mas a ambientação parece ser de antigamente e esse contraste é visível na narrativa. O conto é bem escrito, tem uma boa estrutura com citações interessantes, dando uma bela estética à narrativa. O conto é bom, a escrita, os personagens são marcantes e eu acho que tudo isso ficaria melhor num texto mais longo, num romance e que a história se passasse nos anos 50 e não 90 com sua modernidade. Os temas não casaram com a história. Parabéns e boa sorte.

  26. andersondopradosilva
    8 de novembro de 2024
    Avatar de andersondopradosilva

    Um Fragmento do Homem que Comeu os Próprios Sapatos

    Resumo:

    Diretor de cinema documenta trabalhadores de circo e desenvolve uma especial amizade com um palhaço.

    Comentários:

    “Agarrou-se a certeza que precisava registrar a comicidade daquele jovem, o cinema precisava disso.” – “à” é necessária antes de “certeza” para indicar a relação de aproximação; “de que” é necessária após “certeza” para introduzir a oração subordinada.

    Conto bem escrito e bem revisado. Aborda o tema nostalgia, sob diversas perspectivas: diretor sente saudade da infância, sente saudade do documentário já filmado, trabalhadores de circo sentem saudade de casa, palhaço tem a saudade tatuada na forma de lágrima etc. A estrutura do conto é criativa.

    A compreensão do título não deflui facilmente da leitura do conto, assim como a imagem que ilustra o conto não tem seu sentido facilmente percebido pela leitura do texto.

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Informação

Publicado às 7 de novembro de 2024 por em Nostalgia e marcado .