
Bernardo está morto. É um fato irreversível. Algo que preciso lembrar para conseguir seguir em frente. Talvez ele nunca tenha existido. Já tentei encarar tudo como um passado irreal, assim parece ser mais fácil avançar. Mas nem sempre consigo.
Não se trata de um conflito particular, desses que se dissolvem em respeitosa solidão. Embora eu não queira dividir o peso e camufle como posso a angústia, ainda assim encontro resistência. Eu finjo. Sou boa nisso.
— Não sei se consigo, realmente não sei.
— Já é hora de superar, mãe.
— Fácil pra você falar, né? Mas as coisas são diferentes na minha cabeça, no meu coração…
Um tanto dramática, um tanto confusa, dona Elza sendo dona Elza! É como ela consegue lidar com o fantasma. Em algumas ocasiões, julgo que alcança algum êxito nas suas tentativas. Pelo menos, sabe ser autêntica ao declarar frustrações.
— Queria que tudo voltasse a ser como era.
— Também queria que Papai Noel não se esquecesse de mim …
O deboche, a ironia, as piadas ruins, tudo se torna um disfarce para não demonstrar minha vulnerabilidade diante de minha mãe. Ela me pariu, alimentou meu corpo e sonhos, sabe mais de mim do que qualquer outra pessoa. Sabe também de Bernardo, claro. Sempre soube.
— Está sendo cruel com você mesma.
— Talvez…
— Daqui a pouco vai tentar me convencer que o Bernardo foi uma invenção da minha cabeça.
Eu sei que ele existiu, claro que sei. Fez parte da minha vida, dos meus planos, dos meus desejos. Não posso simplesmente eliminá-lo, tirar da linha do tempo. Não há nada que eu possa fazer a esse respeito.
— Não é como trocar de roupa e tudo está resolvido.
— Garanto que pra mim é ainda mais complicado, mas… não tive outra opção.
— Sempre há uma opção, meu amor, sempre há.
Seguimos discutindo sobre opções, decisões, cortes, traições, lampejos de sanidade mental, soluções improváveis. Minha mãe, tão doce, tão focada em fazer todos felizes, desde que… Não, isso já não é possível. Não mais.
Por um tempo, Bernardo mostrou-se satisfeito. Parecia-me feliz e eu gostava do seu jeito de encarar o dia a dia com aquela inaptidão em se fazer perceber. Com suas poucas certezas, me levava a duvidar de quem éramos.
— Não é por mim, sabe que enfrento tudo por você, mas o seu pai… Ele não vai aguentar isso.
Ela está certa. Eu também. O destino é que despedaça relações a seu bel prazer. Carrasco.
Meu pai terá de aceitar a nova situação. Parar de lutar contra a verdade antes que seja tarde demais. Nem mesmo Bernardo seria capaz de mudar isso.
Será preciso que todos se desfaçam de suas certezas, a desconstrução é a única maneira de suportar o inevitável conflito. Não haverá mais muros a nos proteger, tampouco a nos silenciar. Ainda estamos nos acostumando à ausência. O depois é ainda uma incógnita.
— Tudo era tão mais fácil com Bernardo aqui.
Eu ouço cada lamento, as vozes baixas a esbarrar pelas paredes da casa. Sofrem mais do que eu? Não sei determinar, pois minha dor começa na carne e espalha-se por tudo que denomino meu mundo.
Aquele ser tão amado por todos não está mais aqui para nos tranquilizar. Nem a mim, nem aos meus pais.
O luto já dura meses, talvez se estenda por alguns anos. Ainda hoje me perco pensando no que poderíamos ter sido. Se ele tivesse vivido mais do que eu, o que teríamos feito de nós?
Por muito tempo, foi impossível me afastar dele, deixar de me preocupar com ele, de pensar nele, de viver por ele. Tudo era ele.
Éramos um clichê: relação de amor e ódio. O que partilhamos entre nós era imperfeito, mas tinha o seu valor. Gostávamos das mesmas músicas, vivemos tantas experiências juntos, que se torna inevitável sentir sua falta.
Nostalgia é uma palavra insensata, é como minha avó chama essa saudade deslocada no tempo. Não era feliz com Bernardo, eu sei. Mas acredito que a vida teria sido muito mais simples se tivesse me conformado com o que eu tinha. Não consegui.
Às vezes, sinto falta de quem eu era. Tudo parecia mais simples, ninguém me julgava e eu mesma não me condenava com palavras e olhares. Gostava da nossa casa, do nosso lar, das pequenas implicâncias, da família comercial de margarina.
Hoje, as cores refletem no espelho de forma diferente, fluem como em um caleidoscópio. Misturadas, trituradas, mas tão vivas. Talvez tudo não passe de uma ilusão. Não há nada a fazer.
O que aconteceu afinal? Já tentei explicar para mim mesma. A terapia tem ajudado, mas é um ponto doloroso que me faz encolher. Medo?
Os anos passaram e algo foi se esgarçando, perdendo o viço da juventude. Não foi culpa de ninguém. Quis responsabilizar a educação que recebemos, a sociedade que nos impulsionava a agir de determinada forma, o destino que nos condenava a uma vida medíocre.
Saudade dá e passa. Nunca vou esquecer Bernardo, mas ele é parte do passado. Não devo voltar àquele ponto, não quero reviver o desconforto de não ser quem sou. Remexer nessas memórias é perigoso, pois um morto carrega o dom de ser idealizado.
— Era tão lindo!
Minha mãe lamenta uma beleza perdida. Eu não vejo assim. A beleza agora está em mim. Também sou bela, à minha maneira.
— Era, sim. Era, pretérito imperfeito?
Observo com atenção o jovem sorrindo na foto, tão forte e confiante. Falso o bastante para acreditarem nele. Um personagem que interpretava para todo mundo. Só eu sabia o quanto ele se sentia infeliz. A culpa não era minha. Nunca foi. Aquele garoto me invejava antes mesmo de me conhecer.
Salvo as fotos na mesma pasta de arquivos. Fecho o notebook de dona Elza sem pedir licença. Quero esquecer aquelas imagens como esqueço senhas e dúvidas. Outro dia, trilharei pelo mesmo caminho, tropeçando nas mesmas pedras. Sangrarei pelas mesmas feridas que julguei cicatrizadas. Tudo virá novamente. A dor sem analgesia, a dor da nostalgia.
— Se ao menos guardasse o nome… só o nome…
— Bernardo não é viável, minha mãe.
Ela sorri, daquela forma que sempre faz quando tenta me iludir com algo. Na volta, a gente compra. Depois a gente vê. Vou conversar com o seu pai e quem sabe? Tem boa intenção, mas desta vez sabe que me pede o impossível.
— Bernardete?
Credo! Como ela ousa dar essa sugestão? Não quero nutrir mais esses laços, que já se transformaram em nós. E não se trata de um plural, sou só, primeira pessoa do singular. Nada de Bernardo.
— Como nunca desconfiei?
— Nem mesmo eu percebi a tempo…
— A tempo de quê?
— De ser feliz.
Sim, também sei ser dramática. Drama queen. Sou bem filha de dona Elza, ninguém pode negar. Talvez eu ainda possa ser feliz, aos bocados, em breves e fugazes momentos, quem sabe? Mas não mais com Bernardo. Não mais como ele teria sido.
— Agora é…?
— Amanda.
— É um nome bonito, pelo menos.
— Também acho.
— Mas vou sentir falta do Bernardo.
— Para isso tem essas fotos e as lembranças…Mas, pelo amor de Deus, mãe, não se afogue em…
— Eu sei, eu sei.
E quando ela me olha, percebo que agora me enxerga como sou. Vê quem sempre esteve aqui, mas nunca ousou se revelar. Nota também aquele que cavou um vazio em seus braços. Ele ainda está em seu colo. É todo feito de saudade.
Não consigo lidar com a perda agora. Busco forças e me resgato da areia movediça das lembranças.
Bernardo se foi. Eu fiquei.
COMENTÁRIO: É um desses textos que uma leitura desatenta arriscaria perder de vez o seu sentido. Confesso ter achado moroso a maneira como foi escrito, preso ao diálogo e à reflexão sobre a perda dessa pessoa, com uma recorrência que embargou um pouco a leitura. Entretanto, ao final, com uma sutileza típica de quem guarda experiência com a escrita, o desfecho recontextualiza todo o diálogo e todo o pensamento, alçando o conto a uma altura que não poderia ter chegado se o verdadeiro sentido do enredo não fosse percebido e se encerrasse o texto com a sensação de que se havia lido um chororô quanto a um término. Não, a cisão é mais profunda, íntima como só nesse caso pode ser. Parabéns pela delicadeza. O texto ainda perde pelo percurso, mas o arremate o engrandece, conectando-o também ao tema do certame!
Olá, Amanda!
É impressionante a forma como você usa a poesia no texto. Tudo fica muito esteticamente bonito e, digamos, demasiadamente complexo. É uma leitura fluida e você demonstra técnica na sua seleção de palavras. Confesso que foi somente na minha sétima leitura que eu comecei a entender o real significado das palavras. Nunca imaginaria que seria um desafio entender o meu próprio idioma rs. Sem muita enrolação, vamos à crítica.
Começando pelo principal do texto, o famoso Bernardo. Afinal, quem é Bernardo? No começo temos “Bernardo está morto. É um fato irreversível. Algo que preciso lembrar para conseguir seguir em frente”, eu podia jurar que seria uma história comum de luto, principalmente após o “O luto já dura meses, talvez se estenda por alguns anos. Ainda hoje me perco pensando no que poderíamos ter sido”. Mas depois descobri que Bernardo na verdade é quem hoje se identifica como Amanda “Às vezes, sinto falta de quem eu era. Tudo parecia mais simples, ninguém me julgava e eu mesma não me condenava com palavras e olhares”.
Embora seja um tópico bastante sensível, o texto foi tratado com respeito e sensibilidade, evitando desrespeitar ou estigmatizar um assunto tão delicado como a transição de gênero, me perdoe se eu tiver interpretado errado. Achei interessante que você usou toda a extensão do conto para contar, basicamente, uma única cena e não deixou monótono ou arrastado. Excelente trabalho! Geralmente busco algum detalhe para poder fundamentar a minha crítica, mas, mesmo depois de sete leituras, acho muito difícil apontar qualquer defeito. Está belíssimo, de verdade. Parabéns! Gostaria muito de ler outros textos seus. Desejo tudo de bom e boa sorte no concurso!
O conto é tecnicamente muito bom. É uma história que possui uma forte carga emocional, explorando o luto e as complexidades do relacionamento familiar.
O ponto alto do conto é a profundidade emocional que a autora consegue atingir ao transmitir a dor do luto de forma intensa e complexa. Não temos o clichê de histórias de luto aqui, mas também não temos nenhuma grande novidade.
A psique da personagem-narradora é muito bem explorada. A relação com Bernardo não é unidimensional, mas sim repleta de sentimentos até mesmo antagônicos, como culpa, saudade, raiva… Acaba por ser um retrato genuíno do luto… Mas, repito, pouco original.
O estilo narrativo é muito bom, frases curtas, potentes, poéticas na medida certa, mas há um excesso de abstrações, por vezes, que confundem e até quebram o ritmo. Algumas passagens são excessivamente melancólicas e filosóficas, mas num tom diferente do que o conto estava proposto a dar.
O final é muito poético e a falta de resolução não me incomodou. Pelo contrário, achei escolha arriscada e acertadíssima!
É um excelente conto, com ótima técnica, mas que não nos instaura um fato novo.
Li o texto duas vezes da primeira vez. Felizmente li a terceira para fazer o comentário.
O autor(a) optou por um foco interessante para a nostalgia, não apenas a lembrança da infância/juventude, mas de outra identidade que agora está, ou deveria estar, no passado.
A narrativa é bonita, emotiva e acima de tudo parece verdadeira. Gostei muito de como o tema da transição foi abordado não como simplesmente uma passagem de pessoa A para pessoa B, mas como um processo muitas vezes complexo e confuso, inclusive para a pessoa que transiciona. Uma escolha dessas não é fácil e quem se encontra nessa situação não pode “recuperar” o tempo perdido.
No que diz respeito à qualidade técnica, não vejo o que criticar. Bem escrito, boas metáforas e a narrativa, ainda que poética por conta do lirismo, se mantém ágil por se estruturar bastante pelos diálogos.
Enfim, gostei da abordagem madura, criatividade e qualidade técnica.
Um conto muito bom.
olá
gostei. Acho que está dentro do tema. Foi bem escrito, achei muito bom a forma como soube esconder do que se tratava. A princípio realmente parece ser uma morte literal. Demonstra habilidade de escrita e narrativa. Não encontrei nenhum erro de revisão, mas os primeiros parágrafos ficaram um pouco confusos quanto a quem são os personagens e quem está narrando.
boa sorte.
Oi, Amanda.
Se você for a Claudia, e deve ser, me parece que adotou um tipo de fórmula para escrever seus contos recentes: narração em primeira pessoa que não revela todos os elementos da história, focando na psicologia e resultando em um clima de mistério que deixa o leitor se indagando sobre o que acontece enquanto lê.
Essa estratégia tem dado certo, mas acredito que nesse conto tenha atingido o melhor resultado até agora. Aqui, temos um mistério intrigante para entender quem era Bernardo. Começa por aí: é um cachorro, um ex-marido, é o quê? Mas não para por aí.
Pois o que dá mais força à história é o twist, digno de qualquer filme de suspense, mas que apenas a literatura poderia proporcionar. É um twist de identidade, que quebra o paradigma na cabeça do leitor e tem potencial para explodir sua cabeça. Tem todos os elementos que fazem uma ótima revelação: estava tudo ali, só precisávamos de um pequeno ajuste de perspectiva, havia uma pecinha importante faltando, e tudo faria sentido. Tudo muda, sem mudar nada.
De quebra, o tema é tocante, atual, e traz uma carga emocional muito forte. Além de estar tudo muito bem escrito.
Obrigado e boa sorte no desafio.
A minha experiência lendo esse conto foi FANTÁSTICA. Vamos lá!
Primeiro eu pensei que quem estava narrando era a mãe, quando percebi que não era, isso bugou a minha cabeça completamente.
Depois (tentei até reler para tentar entender se foi uma pista do autor ou da autora, mas não consegui identificar), desde a primeira fala eu entendi que se tratava de um filho e não de uma filha. Quando, ao continuar lendo, descobri que se tratava de uma filha, isso bugou minha cabeça outra vez rs
Eu estava pronta, pronta, para criticar!
Mas no final a surpresa, Bernardo morreu e nasceu a Amanda. Ou seja, além de gostar do conto eu tive uma ótima experiência como leitora. Não posso deixar de dar um dez.
Obrigada!
Gostei muito do conto, da abordagem indireta dada a um tema sensível de forma clara e honesta.
O conto é um pouco mais longo do eu julgaria necessário, mas ainda assim não é uma leitura que cansa, ou que nos faz desejar o final do texto.
Talvez isso por eu ter percebido logo o tema, não sei, mas isso acabou também tirando um pouco do impacto do final, que acabou como começou.
Os diálogos curtos e leves ajudam bastante o desenvolvimento e a dar algum movimento.
Bernardo Está Morto (Amanda Leoni)
Prezado(a) autor(a):
Para este certame, como os temas são bastante díspares, dificultando quaisquer comparações, vou concentrar mais minha avaliação em três aspectos, e restritos à MINHA PERCEPÇÃO durante a leitura: a) premissa; b) técnica; c) efeito. Mais do que crítica ou elogio, espero que minha opinião, minhas sensações como leitor, possam ajudá-lo a aprimorar a sua escrita e incentivá-lo a continuar.
Obrigado e boa sorte no desafio!
DR
A) PREMISSA: uma história em que pensamos que trata-se de alguém que morreu, quando na verdade o que aconteceu foi uma redesignação sexual, e tudo o que isso implica na vida do “novo” Bernardo, a Amanda. Aparentemente, o tema tratado é nostalgia, ainda que de forma muito tênue.
B) TÉCNICA: a inversão de expectativa foi bem executada, e somente no antepenúltipo parágrafo eu percebi do que se tratava. Porém, esse suspense todo não estimulou uma releitura, procurando significação nos diálogos, o que eu gostaria de ter feito. Os diálogos são bons, estabelecendo as relações entre os personagens e suas perspectivas.
C) EFEITO: um bom conto, ainda que o tema do desafio esteja apenas esboçado no contexto. Parabéns, sucesso no desafio!
Olá, Amanda. Gostei bastante do seu conto, que é daqueles que enganam o leitor. E eu, enquanto leitor (e só nesta qualidade), gosto de me sentir enganado. Tive de ler o texto mais de uma vez. Aquilo que me pareceu à primeira vista uma descrição do processo do luto, transformou-se no momento de transformação de um transexual, das suas incertezas e amarguras. Tudo contado de uma forma tão elegante e discreta que tenho medo de me ter enganado e o texto não passar da história do luto por uma personagem indefinida que se chamou Bernardo.
Olá, Autor! Tudo bem?
Esse conto é extremamente sensível. Tem a leveza e beleza de uma poesia mesmo que fale de um tema tão profundo e difícil.
O conto retrata a saudade que sentimos de nós mesmos, porque vamos mudando ao longo dos anos e nem precisamos passar de Bernardo para Amanda, mas passamos de filhos para pais, de solteiros para casados, de adolescentes para pessoas de meia idade, e geralmente isso parece acontecer num piscar de olhos, mesmo que na realidade tenha demorado anos.
E essa saudade, nostalgia que sentimos de nossa versão que um dia foi e que agora já não é, não é necessariamente vontade de voltar atrás. Podemos sentir saudade de algo ou alguém que não queremos de volta e isso é retratado brilhantemente no conto.
A autora é muito habilidosa, com certeza! E ainda sabe muito bem ir encaminhado o leitor para uma ambiguidade gostosa até que (nem todos conseguem) percebemos exatamente de que se trata. Quase como um jogo muito bom de palavras!
Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!
Até mais!
O texto nos “engana” dando a entender que o luto é de uma morte real (do tipo sete palmos) e não metafórica, daí vem a revelação final e a vontade de ler de novo, buscar as pistas que, sim, estavam lá.
Uma ótima sacada, uma história só possível de ser contada na literatura, qualquer outra mídia estragaria toda a experiência. Tudo isso narrado com maestria.
Sem muito o que comentar, só aplaudir.
ÓTIMO
Gostei muito da história que você me conta, ou melhor, que Amanda me conta. Gostei sobretudo da abordagem do tema: a nostalgia de si mesmo após uma mudança que poderia ser uma mudança de emprego, de país, de estado civil, mas que aqui se trata de algo bem mais incomum e radical. Considero um tema difícil de abordar, retratar a profundidade desse tipo de experiência num conto me parece algo bem desafiador, mas você conseguiu. O texto está muito bem revisado. A narrativa e consistente. Ponto para o impacto porque você me surpreendeu pelo tema.
Um conto, de fato, com tom nostálgico. Acontece que tem repetições desnecessárias, principalmente aquela que aponta Bernardo como algo do passado.
O apelo à busca pela felicidade é constante, tornando o enredo um pouco monótono.
Enquanto lia pensava em quem era, de fato, Bernardo. Um homem cis? Um homem trans? Um cachorro? Um irmão gêmeo? Interessante foi perceber que Bernardo era o antigo nome da narradora. Uma mulher trans, que a propósito tem o mesmo nome/pseudônimo utilizado (Obs. Essa tem sido uma tendência no desafio. O uso do nome/pseudônimo coincidindo com o/a narrador/a. Particularmente aprecio mais quando o/a narrador/a é um outro ser, outra pessoa).
Alguns clichês: ‘dona Elza sendo dona Elza’ (desculpa, mas esse ‘sendo’ é demais), ‘família comercial de margarina’.
Parabéns pelo conto.
A história de Amanda, que um dia foi Bernardo, e as dificuldades que essa transformação provoca em seu seio familiar e em si própria.
É um conto excelente, cujo verdadeiro sentido vai se revelando aos poucos. De início dá para pensar na separação de um casal, na partida de um ente querido, em um rompimento entre irmãos… Mas não, é algo que ocorre em nosso mundo com muito mais frequência do que imaginamos.
Daí somos levados a pensar: que tipo de drama, que situações são enfrentadas por alguém que se submete a uma operação de mudança de sexo? Quais as implicações psicológicas e filosóficas disso? Como fica a aceitação pessoal e dos familiares? Terapia resolve? É definitivo, tipo para sempre?
O conto joga com habilmente com essas questões. É uma história poderosa o que temos aqui e eu, sinceramente, não sei até que ponto nossos leitores terão a maturidade para entendê-la em sua plenitude. De minha parte achei sensacional. Bem escrita, bem posta, bem oportuna.
A escolha das palavras, a maneira de narrar, aos poucos, dando tempo para o leitor absorver as diferentes camadas. Para quem aprecia literatura de alto nível, este conto é um achado. Não creio que tenhamos outro texto nesse patamar, que supera o mero entretenimento. Que além de fazer pensar encanta pelo esmero literário. Para mim, é insuperável.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Olá Amanda.
Li o primeiro parágrafo e pensei “lá vem desgraceira”. Mas eu estava errada, e que bom.
A história vai se desenrolando aos poucos, sem pressa, com um ótimo timing, e a gente vai seguindo, meio hipnotizado, a narrativa envolvente. De início parece que uma mulher está conversando com a mãe sobre a morte do irmão, por isso a impressão da desgraceira iminente. Mas depois vemos que não. A perda parece ter sido mais da mulher do que da mãe. Teria ela, sim, perdido um filho? Teria sido um aborto? Teria sido um amor?
Só nas últimas linhas o mistério vai se elucidando. Bernardo era a narradora, antes de assumir sua identidade feminina. Tal revelação é feita com delicadeza, através dos sentimentos conflitantes de mãe e filha.
O diálogo entre as duas revela um luto por um passado que acabou e por um presente que se mostra diferente do imaginado. A mãe sente saudades do filho. A filha sente saudades do que foi e pensa no que poderia ter sido, a nostalgia de uma idealização.
Um luto estranho, por alguém que não morreu, mas que também pode não ter jamais existido.
Minha pitada de achismo: acho que tu escreve bem demais.
Gostei ou não gostei: gostei muito. Uma história delicada conduzida com perfeição.
As reflexões de Amanda, que uma vez foi Bernardo, e ainda sente nostalgia ao relembrar dos seus anos tentando ser quem não era. É um conto poético, escrito com muita atenção, e que traz este sentimento de separação que, para mim, foi muito interessante de ler, ao menos no início. Mas toda a proposta do conto é justamente narrar este sentimento de morte, de ter sido alguém que não é mais, e de se perguntar se o Bernardo realmente existiu. Só que isto é bem explorado já nos primeiros parágrafos do conto, e a partir da segunda metade, tudo fica um tanto repetitivo. Notei um certo esforço em tentar trazer alguma surpresa no final, na revelação de que Bernardo era Amanda, e não um namorado ou um personagem terceiro, mas esta revelação já tinha ficado bem clara muito antes. Isto, somado às frases dramáticas e à falta de trama, torna a leitura um pouco cansativa.
Ainda assim, a escrita foi feita com muito esmero, é muito correta e bonita. Foi uma boa leitura!
Só numa segunda leitura atenta, e após pensar no texto, é que (creio que) percebi este conto. A história de uma mulher que vivia uma vida em formato “tradicional”, talvez levada pela família, talvez pela sociedade. A verdade é que é uma realidade que não é nova, mas que se mantém. Só após a morte do marido (presumo) é que compreende a sua verdadeira natureza e se assume como tal. Enquanto decorre essa sua auto-descoberta, também aqueles que a rodeiam (pai e mãe) se confrontam com esta nova realidade. A morte de Bernardo acaba por ter duplo significado. É uma morte física e a morte de uma realidade irreal, que permite o desabrochar da verdadeira realidade.
Parece-me que a forma usada para apresentar esta questão está muito bem idealizada, já que não a expõe de forma clara, mas através de uma revelação que não se lê mas se compreende.
O que achei deste conto: Err……….. não é pra mim
Na primeira leitura, eu não havia entendido nada, absolutamente nada, deste conto. Tive que recorrer ao auxílio da nossa querida Priscila, que me explicou o plot final da história. Era uma história sobre uma transição de identidade, e de como ela reverbera nas relações familiares e na luta por aceitação… e não uma história sobre morte e luto, como o título sugeria.
O luto, na realidade, se deve à morte da personalidade de “Bernando”, e pelo impacto que disso em quem o conhecia. É incrível como a autora aqui conseguiu colocar tudo nas entrelinhas, e é necessário duas leituras para compreendermos a totalidade da obra e todas as suas nuances. Outra coisa incrível é a forma como essa tema de transição de gênero é tratada… diferente dos filmes Hollywoodianos atuais, aqui o tema é abordado de forma bastante natural, e não de forma forçada.
Bernardo, que agora é Amanda, tem uma mãe que se chama Elza, e ela se esforça para entender a filha, demonstrando seu amor e confusão. O maior problema, para mim, é que a história parecia ir de nada a lugar nenhum. Não temos um clímax, e não tem nada de interessante acontecendo na trama. Para mim, que não possuo muita sensibilidade, a história poderia ser resumida em uma única linha: “Mãe, não sou mais o Bernardo. Agora me chame de Amanda. Fim”. A construção das frases, para mim, foram demasiadamente carregadas de emoções, de forma um pouco pedante… por sorte, o conto é bem curto, caso contrário não sei se eu conseguiria chegar até o final.
A nostalgia está presente aqui, no fato de que Amanda e Elza sentem uma saudade melancólica de quem Bernardo era. Então, considero esse conto totalmente dentro do tema.
Uma pena eu não ter me conectado em nada com a história… acho que não sou o público alvo desta trama. Mas reconheço as habilidade incríveis que o autor ou autora (ou atore) demonstrou aqui. Desejo boa sorte para você neste desafio!
História – Amanda renasce, sendo verdadeiramente quem ela é. A mãe está aprendendo a lidar com isso. Saquei no início do conto. Uma ideia simples, mas bem adequada ao tema ‘nostalgia’ – 4/4
Escrita – Simples, fluida. Parece uma cena de novela 4/5
Imagem e título – adequados 1/1
Bernardo está morto (Amanda Leoni)
Resumo + Comentários gerais:
“Bernardo está morto” é um conto que a personagem principal/narradora compartilha com o leitor, de uma forma bem disfarçada, sua transição de gênero e o impacto em sua mãe (o pai é apenas citado brevemente).
Hum, tem uns dois dias que eu tenho tentado comentar esse conto de uma forma construtiva. Está bem escrito, sem dúvidas. Contudo, esse contar não contando, revelando aos poucos não me agradou. Por vezes, ora a história foi construída, ora foi desconstruída. Me lembrou certos momentos a escrita intimista e existencialista da Clarice Lispector. E por vezes esse recurso não funcionou da maneira que talvez fosse a intenção. Espero que, durante a escrita desse comentário. eu consiga sintetizar melhor.
Frase/Trecho de impacto: E quando ela me olha, percebo que agora me enxerga como sou. Vê quem sempre esteve aqui, mas nunca ousou se revelar. Nota também aquele que cavou um vazio em seus braços. Ele ainda está em seu colo. É todo feito de saudade.
Não consigo lidar com a perda agora. Busco forças e me resgato da areia movediça das lembranças.
Bernardo se foi. Eu fiquei. => PEDRADA
Adequação ao tema (0 a 3) – Avalio se o conto aborda o tema proposto de forma coerente, aprofundada e relevante para o Desafio: 2
O tema está ali? Está. Mãe nostálgica, tentando se adaptar à transição/reafirmação da filha. Será que Amanda, entretanto, está nostálgica? Eu não consegui perceber tanta a nostalgia dela. Percebi mais uma sensação de certeza, uma sensação de liberdade por poder ser quem ela verdadeiramente é, uma angústia (talvez culpa) por fazer a mãe (e o pai, que só aparece de relance) passar por alguma espécie de frustração.
O 2 que eu atribuí nesse aspecto se deu muito mais por eu sentir que a nostalgia está muito mais na mãe do que na filha, embora o jeito que o conto foi escrito seja mais baseado na psiquê e nos sentimentos de Amanda, já que é ela a personagem principal de um conto intimista. Portanto, a nostalgia, por mais explícita que seja, é pouco explorada.
Construção de Mundo e personagens (0 a 2) – Avalio a profundidade dos personagens e a ambientação, incluindo o cenário e como tudo interage para fortalecer a narrativa. 1,5
Nesse ponto, eu diria que a construção de mundo e personagens é um tanto confusa, especialmente quando consideramos Amanda. Ainda assim, acho que considerando o todo, a opção da autora/d autor por focar apenas nesse aspecto não tenha sido a melhor. Eu digo isso porque senti falta de se aprofundar um pouco mais em outras questões que tocam a transição de Amanda; a (não) relação com o pai, os momentos que Amanda sentiu a disforia de gênero (termo médico para o desconforto ou sofrimento que uma pessoa sente quando há uma incongruência entre sua identidade de gênero e o sexo atribuído ao nascimento).
Essa disforia, pelo menos na personagem deste conto, causa uma confusão, o que reflete bastante em seu fluxo de pensamentos. E foi o que percebi como enfoque da narrativa.
Além disso, fiquei incomodado com duas coisas: como a nostalgia pouco aparece nesse conto (pelo menos para mim, mais uma vez, não percebo a nostalgia em Amanda) e como alguns trechos do conto estão dissonantes, como se o trecho escrito não encaixasse perfeitamente com a personagem. Uma hora sente falta de como era ser Bernardo, uma hora está conformada com a transição e logo depois afirma que Bernardo está morto. E embora faça sentido dentro da confusão da personagem, não sinto que seria verossimil considerando uma pessoa trans. Estar presa num corpo que não se identifica e conseguir transicionar para o gênero que se enxerga não deveria ser uma conquista (claro, desconsiderando todo o preconceito e dificuldades biológicas e psicológicas que uma transição acarreta na pessoa)?
A sensação que tive no final é que o conto não chega a nenhuma conclusão. E apenas resvala nessa nostalgia.
Uso da linguagem (0 a 2) – Avalio a qualidade da escrita, incluindo o estilo, clareza, gramática e fluidez dos diálogos: 1,5
No geral, o conto está bem escrito. Irretocável gramaticalmente. Entretanto, acho que a linguagem destoa um pouco em determinados pontos, deixando alguns trechos um tanto confusos. Fruto direto da construção confusa. Creio que espelhar a nota nesse aspecto seja justo
Estrutura Narrativa (0 a 1,5) – Examino o fluxo do enredo, a clareza da introdução, desenvolvimento e conclusão, e se o ritmo é adequado. 1,5
Na verdade, eu diria que esse é o grande ponto positivo do conto. O jeito que a narrativa se desenrola é interessante e, para quem tem dificuldade de conduzir uma história de uma maneira meio oculta mas que faça sentido para quem está lendo, eu indicaria esse conto.
O conto, pelo que percebi, está no formato tradicional, início, meio e fim. Ele flui bem, é profundo e creio que em termos de estrutura está irretocável.
Impacto Emocional (0 a 1,5) – O quanto a história conseguiu me envolver emocionalmente, provocar reflexão ou cativar: 0,75
Eu diria que o impacto emocional foi mediano. O grande ponto positivo desse conto é que ele consegue administrar razoavelmente bem a confusão inicial da “morte” de Bernardo. Contudo, depois que a gente percebe que Bernardo, na verdade, fez a transição de gênero e agora chama-se Amanda, a sensação que tive foi a que o encanto do conto morreu. E o conto, que se propõe a ser um relato intimista, com ares de monólogo, resvala em vários pontos do drama natural familiar que envolve Amanda, a mãe e o pai (esse ignorado pela narradora personagem muito provavelmente por sua intolerância) sem, de fato, se comprometer com algum ponto específico.
Então, todo aquele intimismo que o conto intimista típico fica superficial.
Nota final: 7,25 (como é vedado pela organização do certame notas com 2 casas decimais, a nota será arredondada para 7,3)
Bom dia, amigo(a) escritor(a) do(a) Encontrecontos(as), tudo(a) bem?
Primeiramente, parabéns por superar a nostalgia do desafio de trios e entrar no portal do novo certame! Boa sorte e bora pra sua avaliação:
Tema escolhido: nostalgia
Abordagem do tema: 100%. “Nostalgia é uma palavra insensata, é como minha avó chama essa saudade deslocada no tempo.” – bela frase!
Comentários gerais: caramba, eu li esse conto duas vezes, e cada vez teve um impacto absolutamente diferente! Na primeira leitura, fiquei super confuso e achei que o conto ia de nada pra lugar nenhum. Bernardo é o ex dela que morreu? Mas pq a mãe fala da perda dele assim? Ele era muuuuito amado pela familia da esposa? Eu cheguei a pensar, num momento de maluquice, que o Bernardo era irmão da protagonista mas eles tinham um caso secreto. Credo. Daí aparece a Amanda, que a mãe queria chamar de Bernadete. Filha da protagonista com o falecido Bernardo? Ela tá grávida? Terminei a leitura com uma frustração por ter perdido algo importante e com a sensação de uma história muito fraquinha.
Preciso reler.
A segunda leitura foi totalmente diferente. Demorei um pouco pra cair a ficha, mas quando ela caiu, soltei um “aaaaaah”, e sorri. Entender que o Bernardo morreu porque a Amanda nasceu, que o Bernardo viva fingindo ser feliz, que a Amanda sempre esteve ali… Entender a confusão da mãe, a provável não aceitação do pai. Tudo se encaixou perfeitamente, e o conto mudou de “fraquinho” pra “uau”. Muito inteligente mesmo! Os elementos estão todos lá, e quando eles se encaixam, é empolgante. Além disso, ao entender tudo, você percebe que tem uma baita construção (e desconstrução) de personagem rolando. Muito bom mesmo!
Leitura 1: ia dar uma nota 7.
Leitura 2: nota 9.
É por isso, amiguinhos, que sempre devemos reler quando não entendemos, antes de falar que o conto não faz sentido. Eu seria muito injusto se menosprezasse essa pérola só porque li sem entender na primeira. Infelizmente, caro(a) autor(a), sinto que isso vai acontecer com você algumas vezes nesse desafio. Espero estar errado.
Sensação final: morri junto com Bernardo, renasci com Amanda, percebendo os perigos e dificuldades da nova vida. Um viva a todos e todas que conseguem romper os grilhões das expectativas familiares e sociais e conseguem renascer como pessoas completas e felizes, lutando com coragem contra todas as barreiras e desafios que terão pela frente.
Bernardo Está Morto (Amanda Leoni)
Resumo:
Mãe e filha rememoram o filho que um dia a filha foi.
Comentário:
O conto está bem escrito e bem revisado. Propõe a discussão do relevante tema da transfobia.
O narrador soa inseguro ao antecipar ou explicitar o julgamento do leitor em trechos como “Um tanto dramática” e “as piadas ruins”.
O autor foi competente em manter em suspenso o desfecho. É um conto que convida à releitura. É na releitura que diálogos e narrações ganham mais sentido. O conto simbolicamente nos diz que os sinais estavam lá, mas não vimos.
Bernardo está morto, ele não existe existindo, morreu no sentido figurado. A pessoa que narra a história, fala de seus sentimentos em relação ao falecido. Ela se mostra fria com o fato, mas relembra com emoção verdadeira aquele que se foi. A mãe da narradora não lamenta a morte dele e de certa forma se mostra indiferente. A autora/autor, não sei, cria uma dúvida quanto ao que ou quem seja Bernardo. Lá pelo meio eu fico perguntando, Bernardo é marido, ou irmão da narradora? É um animal de estimação? Cachorro? Gato? Papagaio? Não, as pistas aparecem no final Bernardo foi/é, um rapaz que fez transição de gênero e ela/ ele, ainda está em dúvida quanto a qual nome usar. Bernardete? Sugere a mãe, mas ela escolhe o nome de Amanda. Bernardo se torna Amanda Leoni. Gostei do conto, boa escrita, boa ideia. O tema aparece meio fraco, sutil. mas vale. Parabéns, boa sorte.
Um suspense bem dosado em um texto até fluido e envolvente. Digo “até” porque a atmosfera de suspense em se entender do que o conto tratava, deixa o leitor “boiando” em uma correnteza selvagem que não se sabe onde vai dar. Ponto para a autora/autor, claro. Gostei desse conflito psicológico em entender-se mulher (ou “com gênero novo”, seria mais apropriado?). Mães sempre são parceiras, de homens e mulheres, independente de seus conflitos. Sempre aceitam as opções, apesar de torcerem o nariz no início. Mas o que importa é o texto e esse, cumpriu a função de entreter e encantar. O tema está atendido e talvez, como uma pimenta a mais, seria interessante usar o outro tema também (é uma sugestão), usando a porta como um rito de passagem ou em alusão aos arquivos fechados com fotos antigas. Parabéns e boa sorte no desafio.
Hello
Gostei muito da ideia. Achei criativa e inteligente. Só não curti muito a execução. Ficou um pouco “com.excessivas delongas”. No mais, a ideia foi supimpa!
Adorei esse conto e a forma como foi construído para nós mostrar esse personagem tão rico e multifacetado aos pouquinhos, sentindo sua angústia até chegar ao clímax, onde finalmente o véu é retirado da frente do leitor e a gente se pega totalmente encantada com o desfecho. Trabalho de mestre.