EntreContos

Detox Literário.

Não Gaste Dinheiro Comigo (Kelly Hatanaka)

Mamãe abre, eu entro e, como sempre acontece ao entrar pela porta de sua casa, deixo de ser eu e volto a ser filha. Não gosto disso.

— Feliz aniversário, mamãe. — Estendo-lhe o pacote que me parece tristonho, murcho, burocrático e protocolar.

— Não precisava, filha. — A resposta soa ainda mais desanimada do que o pobre embrulho.

— Claro que precisava. Não é seu aniversário? — Eu a abraço. Ela parece menor.

— Sim, mas não quero que você gaste dinheiro comigo.

Ela tira do pacote a manta com mangas e o par de pantufas combinando. Dá um sorriso para me mostrar que gostou, enquanto eu sinto a irritação queimar meu peito como refluxo. Não sei o que me irrita mais. A minha incapacidade de alegrá-la ou a postura abnegada dela. “Não quero que gaste dinheiro comigo”. Que ódio. Se ela soubesse o ódio que sinto quando ouço esta frase…

O que ela esperava? Que eu viesse visitá-la em seu aniversário sem trazer presente? Que eu esquecesse a data? E se, ano que vem, eu viesse sem presente? “Não trouxe nada, mamãe. Meu presente este ano é aquilo que você mais quer: que eu não gaste dinheiro com você”. O que ela faria?

— Que lindo. Bem quentinho, eu estava precisando.

Mentira. Eu dei outro bem parecido no Dia das Mães. Se bobear, idêntico; acabo de lembrar. Como pude fazer uma besteira dessas? É que foi tão difícil escolher o presente dela. Está cada vez mais e mais difícil. Mamãe não tem nenhum interesse, nenhum hobby, nada de que goste. Gosta de flores, mas já disse que não vê graça em ganhar flor, que não serve pra nada. Quis levá-la para passear em Holambra, mas ela recusou com uma careta: muito cansativo.

Então, busco presentes úteis: roupas, comidas ou utensílios. Já dei de tudo. Ela tem um guarda-roupas abarrotado de peças que não veste, a cozinha está cheia de coisas nunca usadas. Restam os típicos presentes de gente velha. Cobertores, meias, mantas. A intenção é aquecer e prover conforto. Mas a mensagem acaba sendo outra.

— Se preferir outra coisa, pode trocar. Não tem problema. Troco para você, é fácil.

— Não. Está ótimo. Adorei. Não precisava se incomodar comigo.

Ódio.

Por que essa postura me enche de raiva deste jeito? Preciso me segurar para não virar as costas e ir embora. Estou cansada. Fantasio uma outra mãe, que me avisasse do aniversário dela no começo do mês, para não correr o risco de ser esquecida, que me dissesse que quer conhecer um restaurante tal ou que gostaria de ganhar de presente um curso de cerâmica. Alguém que amasse viver, que tivesse vontades e paixões.

Esta abnegação sempre foi de minha mãe, não é uma consequência dos anos. Não me lembro dela defendendo suas vontades. Não foi falta de esforço de meu pai, que compensava sua falta de imaginação e romantismo com perguntas. Que, por sua vez, eram sempre respondidas da mesma forma: “não quero que gaste dinheiro comigo”. Um dia, ele acatou, desistiu. De qualquer forma, o salário dele sempre foi administrado por mamãe. Então, em datas comemorativas, papai pedia que ela separasse um valor para comprar algo que desejasse. Ela concordava e não fazia. E pronto.

— Mãe, o que vamos pedir? Tem comida mexicana, espanhola, italiana, feijoada. Do que você tem vontade? — Saco o celular e começo a mostrar as alternativas. Eu gostaria de levá-la a um restaurante, mas ela não quis sair de casa.

— Ah, filha. Tem o resto da janta de ontem. Não tá bom?

— Para comemorar seu aniversário, mãe? Não. Não está bom. — A irritação vazou, transbordou, não consegui evitar. Ela percebeu.

— Então, tá. Você que sabe…

Só uma frase me irrita mais do que o “não devia gastar dinheiro comigo”. É o “você que sabe”. Uma maneira de dizer: “é um desperdício fazer essas coisas por mim, mas se você quer, tudo bem”. Olho para a porta. Ela parece convidativa, me chama a voltar a ser eu mesma, a deixar de ser filha de uma mãe que desistiu de viver.

— Quer saber, mãe. Você que sabe. É seu aniversário. Eu queria fazer algo de legal para você, mas, obviamente, você não quer. Então tá ótimo. Vamos comer a sobra de ontem, depois eu vou fingir que não é seu aniversário e vou embora. Está bom assim?

Ao invés de dizer isso, porém, peço que ela vá pensando no cardápio enquanto vou ao banheiro, lavar as mãos. Tranco a porta, sento sobre a tampa da privada e choro. Saio dez minutos depois.

— Pensou, mãe?

— Eu não conheço nada. Escolhe você o que achar melhor.

Frustrada, decepcionada, cansada, irritada, escolho qualquer coisa, nem sei o quê. Enquanto esperamos, conversamos. Ela fala sobre a novela que eu não assisto, as desgraças do noticiário, que eu ignoro, e os vizinhos e conhecidos. A comida chega e mastigamos sem vontade.

— Mês que vem é seu aniversário. — Ela diz, de repente.

Eu levo um susto. Estava esquecendo.

— Verdade! Nossa, como esse ano passou rápido.

— Tem algum plano?

— Plano?

— Sim, vai comemorar com alguém?

Levo um choque. Talvez eu seja mais parecida com ela do que eu imagino. Esqueci de meu aniversário. Normalmente, meus filhos, Cecilia e Thomas, me lembram, me mandam escolher onde vamos jantar, o que vamos fazer. Sempre tenho uma listinha de lugares, passeios ou filmes. Mas, este ano, eles estão fora. E eu esqueci completamente.

— Os meninos estão viajando. Thomas volta em três meses, Cecília um pouquinho antes.

— Com um namoradinho, então?

— Mamãe! Namoradinho, com essa idade? — Rio, surpresa.

— Ué, o que tem? Você já se separou faz três anos. Seus filhos são grandes. Por que não arranjar um namoradinho? Ou namoradão? Ou é amante que fala?

— Mãe, pelo amor de Deus, para.

— Tá bom.

Mastigamos em silêncio. Penso no meu aniversário, que esqueci. Que eu quis esquecer. Não quis lembrar que o tempo passa, que os anos se acumulam, que a velhice está cada vez mais perto e que ela me assusta. Será que a velhice a assusta também? Será que é por isso que ela reluta em comemorar?

— Mas então. Sem planos? — Ela insiste.

— De comemoração?

— É.

— Sem planos. — Uma ideia me ocorre. — Mãe, como eram suas festas, quando você era criança?

— Ah, menina! Com dez irmãos, você acha que eu tinha festa? Se tivesse um doce em casa no dia, a gente botava uma vela em cima, cantava e dividia o doce. E era isso. Às vezes, ganhava um presente dos meus pais, se a situação estivesse boa.

Não se gastava dinheiro com ela. E ela aprendeu a não se importar.

Começo a entender. Como é possível conviver com uma pessoa por tanto tempo e não entender o mínimo sobre ela? O foco no meu próprio umbigo é tão forte, que venho tentando entendê-la pela minha ótica.

— Já você, quando era criança, não gostava de festa de aniversário. — Minha mãe prosseguiu. — A gente brigava em todas as suas festas.

— É mesmo?

E eu começo a me lembrar de fotos minhas, em lindos vestidinhos feitos por ela, sempre com cara fechada, ou de choro, na casa cheia, rodeada por meus primos. A cara fechada era sempre por um motivo tonto. O penteado estava apertado. O vestido pinicava. Eu não queria tirar foto. Tinha esquecido disso: eu sabotava todas as minhas festas. E minha mãe investia tanto trabalho e planejamento! Era tudo feito por ela, com ajuda de minhas tias e primas mais velhas, quase à minha revelia.

Por que eu era assim, chata, insuportável?

Eu queria uma festa discreta. Uma festa de núcleo rico de novela das oito. Em que todos falavam baixo e tinham seu próprio lugar à mesa. As festas de minha família eram festa do núcleo pobre, cheia de confusão, barulho e comida. Agora, por que raios eu, criança, queria uma festa insossa, nunca serei capaz de entender. Hoje, daria tudo para ter uma festa daquelas. Das antigas. Entre uma garfada e outra, tive uma inspiração. Resolvi arriscar.

—Mãe, você poderia fazer uma festa de aniversário para mim?

— Eu? Que tipo de festa?  — Parou de descascar a laranja, surpresa.

— Uma festa de criança, como você costumava fazer. Bem daquele jeitinho.

— Mas, você não gostava.

— Gostava, sim. Adorava. Eu só era muito besta. Mas, então? Faz?

— Claro!

Pela primeira vez em muitos anos, vi um sorriso grande, luminoso, nos olhos de minha mãe, cheio de animação, vontade. Pude ver os planos se desenhando em sua cabeça, ideias tomando forma freneticamente.

— Mas, daquele jeitinho mesmo, filha? Certeza?

— Certeza. Só não precisa fazer roupa, que isso dá muito trabalho.

— Tá. Mas vê se compra um vestido novo, então. Que não pinique.

— Mas, mãe… não vai ser muito cansativo? — Lembro do momento em que a abracei e de como ela me pareceu pequena.

— Ah, vou pedir ajuda da tia Lola e da tia Kika. Seus primos também vão ajudar.

— Quem nós vamos chamar?

— A família toda, oras. E quem vai vir dos seus amigos?

Gatilho. Quando me tornei um pouco mais velha, meus amigos todos moravam longe, muito longe. Adolescentes de periferia, ninguém tinha carro. Meus aniversários eram vazios, vinha pouca gente. Parei de comemorar. Não compensava a tensão e a tristeza.

— Acho que ninguém.

— Ninguém?

— Vamos fazer só em família. Melhor.

O resto do dia foi dedicado ao planejamento. Fiquei feliz, animada mesmo, por conseguir acender uma faísca de alegria em minha mãe. Tomada pelas recordações, ela pareceu rejuvenescer enquanto planejava sanduíches de carne desfiada e recuperava a velha receita de coxinhas de seu caderno.

No dia da festa, cheguei mais cedo na casa de mamãe. Atravessei a porta, me converti em filha e fui direto à cozinha para encontrar minhas primas e tias empanando salgadinhos, fechando empadas, confeitando brigadeiros. Meus primos carregavam as portas velhas que, apoiadas sobre cavaletes, compunham as mesas de dias de festa, e, surrupiavam docinhos pelo caminho, enquanto meus tios falavam de futebol e reclamavam da coluna.

Botei um avental e ajudei a embalar as balas de noiva, enquanto via minha mãe umedecer a massa do bolo com guaraná, montar o recheio de doce de leite e ameixa, cobrir com glacê branco açucarado e decorar com confeitos prateados.

Tudo pronto, as mesas decoradas com papel crepom, cobertas por pilhas de cachorros-quentes, lanchinhos de carne desfiada, coxinhas, empadinhas, bolinhas de queijo, espetinhos de picles devidamente afixados em um chuchu enrolado em papel alumínio. O bolo, lindo e enorme, bem no meio.

Feliz, peço para um de meus primos tirar uma foto minha e de minha mãe, abraçadas e sorridentes. A foto que lhe neguei durante toda a infância. A foto seguinte é de nós duas, chorando abraçadas.

A campainha toca. Vou abrir e tomo um susto. Velhos amigos da faculdade, do colégio, amigos do trabalho, vizinhos. Muita gente. Olho, desnorteada para minha mãe.

— Os meninos rastrearam seu computador e conseguiram chamar todo mundo.

— Hackearam, mãe.

— Isso aí.

Tonta, ao ver tanta gente querida junta, distribuo abraços e beijos. No velho toca discos, que foi meu presente de quinze anos e ainda funciona, alguém botou um disco do Trem da Alegria. Do Balão Mágico. Do Menudo. Madonna.

Meu melhor aniversário.

Minha mãe está sentada no sofá, conversando com alguns de meus amigos. Ela está feliz e eu estou em paz. Ela não desistiu de viver. Só precisava se lembrar de como era bom estar viva. No aniversário dela, ano que vem, vou fazer a festa que ela nunca teve.

Depois que o último convidado vai embora, levando consigo um pedaço de bolo, docinhos e balões, limpamos a casa de mamãe enquanto fofocamos e alguns primos bêbados cantam. Por fim, com a casa arrumada, todos exaustos, cada um arranja um canto para dormir. Mamãe distribui colchonetes.

Olho para a porta da sala, sem pressa de passar por ela.

Sobre Fabio Baptista

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29 comentários em “Não Gaste Dinheiro Comigo (Kelly Hatanaka)

  1. Rangel
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Rangel

    Olá, Sandra!

    Que conto bonito! Muito gostoso de ler, essa escrita femina, cheia de sensibilidade e sutileza. Gostei das duas personagens. Ambas bem construídas, na medida certa. Os diálogo bem feitos, contribuem para o desenvolvimento da história.

    A relação entre mãe e filha, que de início parece meramente protocolar, esconde uma camada de muito amor entre elas, que foi se apagando por detalhes, que a filha só foi se dando conta a medida que se atentava às falas da mãe. É um enredo curtinho, que vai nos pegando em cada parágrafo. Isso é conto! Finalmente me deparei com alguém que tem a arte de escrever histórias curtas, que precisam condensar sentimentos e sugerir mais do demonstrar.

    Mas o grande ponto positivo é a narração. Em primeira pessoa, refletindo sobre aquele que ouve, a filha nos permite ir descobrindo com ela aquilo que deveria ser evidente. Estava claro, a mãe a ama, como ela não percebera isso antes? Olha que bem feito:

    “— Que lindo. Bem quentinho, eu estava precisando.

    Mentira…”

    Isso é um recurso inteligente, é um diálogo interior, da personagem consigo, mas também exterior, da personagem com a gente. O conflito se estabelece nesses por menores, sem grandes alardes. É uma construção tão esperta, pois a própria personagem diz que preferia festas comportadas no passado, sem gritaria e com tudo no lugar. Isso demonstra como tudo aqui está coerente, pensado em todos os detalhes.

    A nostalgia, então, foi sendo descoberta, tanto pela protagonista quanto por quem está lendo. De repente, ela se dá conta de que sente saudades das festas, no modelo em que a mãe preparava. Veja, ela não faz para agradar a mãe, como se poderia supor, mas por descobrir que queria.

    Quanto a escrita, ela está primorosa, bem revisada e enconômica.

    Gostei de tudo,

    Parabéns! Se eu fosse dar uma nota seria um 10.

  2. Pedro Paulo
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Pedro Paulo

    COMENTÁRIO: Tem uma autora brasileira, a Eliana Alves Cruz, que em um livro seu escreveu um narrador que diz algo mais ou menos assim “as pessoas não sabem que ao entrar em um recinto a mera travessia os transita de um tempo e espaço para outro totalmente diferente?” É neste sentimento que o conto investe, usando a passagem da filha pela porta como um transporte a outros tempos que a faz curiar sobre a vida da mãe, mas, também, a refletir sobre a própria vida, entendendo que julgava a mãe por critérios próprios, mas descobrindo, ao ouvi-la, como vê-la pelos olhos dela mesma e assim entendê-la melhor, além de perceber também a si mesma, algo que havia esquecido de fazer. A manobra narrativa para equilibrar esses passados no momento presente e a sutileza com a qual a porta é utilizada no começo e no final como uma passagem temporal é uma proeza e tanto! Ótimo conto.

  3. Victor Viegas
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Victor Viegas

    Olá, Sandra!

    Ah! Essa é uma daquelas historinhas gostosinhas de ler num sábado à tarde, de frente à praia com o vento fresquinho soprando no nosso rosto, enquanto tomamos uma água de coco geladinha com a família por perto. Transmite uma paz que foge completamente da adrenalina presente nos contos postados anteriormente, não que isso seja um ponto negativo. Na verdade, muito pelo contrário, a carga familiar, a construção e a evolução palpável das ações das personagens em um ambiente pouco conflituoso, conseguem trazer um certo alívio, digamos que um tanto criativo, para a carga emocional dos primeiros textos. E, sim, eu estou falando de ti mesmo “toc-toc”, embora tenha gostado do conto, não nego que foi uma montanha-russa.

    Você destoou divinamente da famigerada tragédia e eu vejo isso com um aspecto super positivo na construção da sua narrativa. Eu me sinto como se eu estivesse vendo a menina pensar em como tirar a vozinha da aparente monotonia. A consideração que a filha teve desde “Mãe, você poderia fazer uma festa de aniversário para mim?” Foi algo muito sensível e bonito. Você conseguiu imprimir o sentimento de empatia. 

    Aliás, o texto inteiro está bonitinho. A gente consegue entender rapidamente o comportamento das personagens. A mãe responde “não quero que você gaste dinheiro comigo” e logo sabemos como a filha se sente “Não sei o que me irrita mais. A minha incapacidade de alegrá-la ou a postura abnegada dela. “Não quero que gaste dinheiro comigo”. Que ódio. Se ela soubesse o ódio que sinto quando ouço esta frase” e, mais tarde, entendemos o porquê dessa frase “Não se gastava dinheiro com ela. E ela aprendeu a não se importar”.

    Com isso temos uma mudança de comportamento, algo muito bem construído “Começo a entender. Como é possível conviver com uma pessoa por tanto tempo e não entender o mínimo sobre ela?” Isso deixou o ambiente bastante reflexivo, pois muitas pessoas se encontram na mesma situação das personagens. Essa evolução continua em “Pela primeira vez em muitos anos, vi um sorriso grande, luminoso, nos olhos de minha mãe” 

    No final temos a mudança da dinâmica das personagens, que passaram de algo monótono e triste para o “Meu melhor aniversário”, essa gratidão deixa o coração quentinho rs. Parabéns, e não é pelo aniversário, mas pelo belíssimo texto. Confesso que li mais de uma vez, e não foi porque eu não entendi. As cenas estão muito claras e está tudo muito bem explicadinho. Mas pela positividade que percebo na narração.

    Então, eu realmente preciso falar de alguns errinhos? Sério? Estava tudo tão bom. Mas não posso deixar um comentário gigante como esse somente com apenas pontos positivos, concorda? Oh, meu chuchu. Prometo que vai ser breve. Vamo lá!

    “E eu começo a me lembrar de fotos minhas, em lindos vestidinhos feitos por ela, sempre com cara fechada, ou de choro”, essa formulação me causou estranheza, uma certa ambiguidade. Afinal, a cara fechada e de choro é da mãe ou da filha? Não está muito claro isso, mas também pode ser a minha deficitária interpretação. Existe essa possibilidade. Em parágrafos posteriores, a minha dúvida foi devidamente sanada. Obrigado.

    “— Os meninos rastrearam seu computador e conseguiram chamar todo mundo.

    — Hackearam, mãe.

    — Isso aí.” 

    Que isso? Hackearam o sistema? Não foi informada a idade das duas mas, pelo contexto de gerações, acredito que esse rastreamento e entender o que seria “hacker” seja um pouco fora do contexto social. Chamou todo mundo? Menina, que hacker é esse? Me passa o contato desses meninos. Então, Kelly… Desculpa, Kelly… Perdão. Eu estava me referindo que poderia ter um jeito mais realista de conseguir convidar os amigos, talvez não todos, mas os mais significativos. Esse “consegui convidar todos por ter rastreado o computador” soou um pouco conveniente. Concorda, Kelly? Vai ser muito engraçado se realmente não for essa habilidosa escritora. De modo geral, o conto está muito bem escrito. Gostaria muito de ler outros textos seus. Desejo tudo de bom e boa sorte no concurso!

  4. André Lima
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de André Lima

    É uma narrativa intensa, intimista e que trata bem dos conflitos e mal-entendidos entre mãe e filha.

    O ponto forte do conto é a sutil forma de demonstrar, sem expor de maneira caricata, temas como generosidade, expectativas não correspondidas e a dificuldade de se conectar com o outro, especialmente quando o “amor” se mistura com frustrações pessoais.

    O tom introspectivo e sensível do(a) autor9a) é bom, mas senti falta de frases melhores construídas, metáforas e poética mais afiada. O conto pedia um discurso narrativo mais poético! As falas informais demais e a narrativa por vezes minimalista contrastam com a proposta da história. Talvez esse seja o único ponto negativo do conto.

    O ritmo é ótimo, o plot é minimalista, mas tratado com bastante complexidade narrativa. A personagem principal é multi-dimensional.

    O final é bom, no tom certo, perigando cair no piegas, mas não caindo.

    Dito isso, um ótimo trabalho! Parabéns!

  5. leandrobarreiros
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de leandrobarreiros

    De todos os contos menores do desafio esse foi o que mais me agradou. Achei o estilo direto e efetivo. O(a) autor(a) conseguiu em um espaço curto apresentar uma situação que é estranhamente familiar. Pode ser que a mãe do leitor nunca tenha dito essas palavras, mas a gente já ouviu aqui e ali. E mesmo os sentimentos da narradora são capazes de serem entendidos… embora “ódio” pareça um pouco exagerado da para entender o estado mental dela.

    Os personagens são bem tridimensionais e críveis.

    Mas o que mais gostei na história foi o autor ter feito um final feliz. Parece besteira, mas no que diz respeito ao drama acho que estamos começando a ficar um pouco dessensibilizados à tragédia. É preciso um certo talento para deixar a coisa acabar em alegria sem ficar muita água com açúcar, e o autor fez isso muito bem.

    Está entre os meus preferidos no desafio.

    Boa sorte!

  6. Felipe Lomar
    13 de dezembro de 2024
    Avatar de Felipe Lomar

    olá

    um conto muito sublime que fala habilmente de feridas do passado que se manifestam em forma de bloqueio no presente. A festa de aniversário acaba quebrando esse bloqueio. É bem bonito e emocionante. Os personagens tem… personalidade, parecem reais. Percebe-se um autor experiente. está entre os meus favoritos.

    Boa sorte.

  7. Thais Lemes Pereira
    13 de dezembro de 2024
    Avatar de Thais Lemes Pereira

    Se o tema é nostalgia, acho que esse é o conto que li até agora que mais representou o tema. Porque nostalgia também pode ser confundida com lembrança ou saudade. Mas aqui não, aqui tivemos a nostalgia e a sua consagração na realização de uma festa de aniversário estilo anos 90. O que também deve se conectar com a maioria de nós que aqui estamos.

    Sem contar que achei a relação de mãe e filha muito bem desenvolvida ao longo da história. Muito bonita, inclusive.

    Adorei o conto, parabéns!!!

  8. Fabiano Dexter
    12 de dezembro de 2024
    Avatar de Fabiano Dexter

    Uma história simples e muito bem escrita. Pela narrativa ser na primeira pessoa fica fácil ver e sentir todas as emoções da protagonista, o modo como ela vai aos poucos se descobrindo e descobrindo a mãe em uma tarde, em uma conversa que parece que nunca tiveram.

    A Nostalgia aparece mais em quem está lendo do que no texto, de modo que fica algo mais pessoal e íntimo. Uma experiência que depende da cabeça de cada um e que um leitor mais novo talvez tenha dificuldade em apreciar.

    A ideia da festa igual núcleo pobre de novela me tirou um sorriso.

    Resumindo é um conto leve e ao mesmo tempo profundo, talvez se perca em um desafio com muitos indo pelo mesmo caminho, mas tem o seu valor.

  9. danielreis1973
    9 de dezembro de 2024
    Avatar de danielreis1973

    Não Gaste Dinheiro Comigo (Sandra Regina)

    Prezado(a) autor(a):

    Para este certame, como os temas são bastante díspares, dificultando quaisquer comparações, vou concentrar mais minha avaliação em três aspectos, e restritos à MINHA PERCEPÇÃO durante a leitura: a) premissa; b) técnica; c) efeito. Mais do que crítica ou elogio, espero que minha opinião, minhas sensações como leitor, possam ajudá-lo a aprimorar a sua escrita e incentivá-lo a continuar.
    Obrigado e boa sorte no desafio!

    DR

    A) PREMISSA: a relação mãe idosa/filha adulta, que pensei até que fosse tomar uma direção mais dramática, mas que se demonstrou doce e sensível. Apesar dos pesares, da falta de paciência, a mulher adulta reviveu a nostalgia da infância e trouxe consigo a mãe, que sempre pensou nos outros, para o universo de aceitação que as coisas não seriam como quando ela era criança – mas que podiam ter um gostinho disso…

    B) TÉCNICA: um conto bem escrito, que me fisgou desde o começo. Com certeza, pelas lembranças, é de um(a) contemporâneo minha… (arrisco até que seja uma mulher, e bem famosa no EC…). Diálogos precisos, bem realistas e significativos, além de descrições vívidas e singelas.

    C) EFEITO: Um conto muito bom, um dos meus preferidos no certame, que talvez não seja o vencedor justamente por ser “solar”, diante de tantos dramas e tragédias… boa sorte no desafio!

  10. Jorge Santos
    9 de dezembro de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, Sandra Regina. Achei o seu texto interessante. Uma reflexão madura sobre o passar do tempo e o relacionamento entre uma mãe e uma filha. O reconhecimento de que o que realmente importa não são os bens materiais mas os momentos partilhados em família e com os bons amigos. O texto dilui-se nestes sentidos, numa nostálgica reflexão sobre a nostalgia como algo que nos pertence, que é uma pedra basilar daquilo que somos enquanto pessoas. A narrativa flui de forma elegante, que só irá dececionar quem esperar algo mais impactante. A rivalidade entre mãe e filha (e aqui “rivalidade” entenda-se na sua forma mais amena e agradável), surge como uma passagem de testemunho. A filha, um dia, desempenhará para os filhos o papel que a sua mãe desempenha agora, o de evidenciar o que realmente importa na vida.

  11. Priscila Pereira
    6 de dezembro de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Autor! Tudo bem?

    Gostei bastante do seu conto! Muito nostálgico e sentimental!

    O conto mostra muito bem a dinâmica do relacionamento mãe e filha, e mesmo que não seja sempre assim, alguma hora, em alguma coisa, é igualzinho!

    Não importa a nossa idade, quando estamos na casa da mãe, automaticamente nos tornamos filhas, e isso é muito desconfortável quando já somos mães. Difícil de explicar, só quem vive sabe. Nesse sentido o tema porta foi muito bem empregado. A porta da casa da mãe é sempre um portal para outra realidade ou papel social de nós mesmos. Gostei disso!

    O tema nostalgia também está muito presente na representação das festas que só quem era criança nos anos oitenta e noventa conhecem… Bons tempos!

    A família e a dinâmica familiar está muito bem representada, de forma sensível e criativa! Gostei muito! É um ótimo conto!

    Parabéns e boa sorte no desafio!

    Até mais!

  12. MARIANA CAROLO SENANDES
    4 de dezembro de 2024
    Avatar de MARIANA CAROLO SENANDES

    História – Ah que coisa mais bonitinha esse conto! Uma filha aprende a ver a mãe como gente e as duas se reconectam na festa de aniversário 4/4

    Escrita – Fluída e fofa. Feminina no melhor sentido que o termo pode ter – é algo de clarice, lygia fagundes, rachel de queiroz. 5/5

    Imagem e título – adequados 1/1

  13. claudiaangst
    4 de dezembro de 2024
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    Neste desafio, usarei o sistema ◊ TÁ DITO ◊ para avaliação de cada conto.

    ◊ Título = NÃO GASTE DINHEIRO COMIGO – O título não entrega o enredo, mas instiga a curiosidade.

    ◊ Adequação ao Tema = Tema proposto abordado com sucesso. Há referência à porta – quando a narradora ultrapassa a entrada da casa da mãe como se fosse um portal. Porém, nostalgia é o tema principal desenvolvido com maestria.

    ◊ Desenvolvimento = O enredo é construído com base no relacionamento de mãe e filha, focando no diálogo e nas lembranças de festas de aniversário na infância. O(A) autor(a) apresenta um cenário de pura nostalgia, trazendo elementos muito comuns às festinhas das décadas passadas.

    ◊ Índice de Coerência = Não encontrei qualquer sinal de deslize na condução racional da narrativa. Tudo muito verossímil, como se eu mesma tivesse vivido a trama apresentada.

    ◊ Técnica e Revisão = A linguagem empregada é clara, simples e objetiva. Os diálogos dão maior veracidade à trama e agilizam a leitura. Ótima construção de diálogos, aliás. Não encontrei falhas quanto à revisão, somente aponto:
    toca discos > toca-discos

    ◊ O que ficou = Saudade das festinhas que dava quando criança e adolescente. Adorava! Revivi também os aniversários de sobrinhos com o famoso bolo gelado, embrulhado em papel alumínio. Sabe como é, uma lembrança puxa a outra. Ficou a frustração por não ter escrito um texto tão bom (e consequente inveja da talentosa autora). ❤

    Parabéns pela participação e boa sorte!

  14. Thiago Amaral Oliveira
    28 de novembro de 2024
    Avatar de Thiago Amaral Oliveira

    Oi, Sandra Regina!

    No começo, achei que não ia gostar do texto. Não fui com a cara da protagonista. Apesar de reconhecer suas reclamações dentro de mim, estava puxado demais para a não -aceitação da mãe. Sim, é tudo muito real, existem bilhões de mães assim, e filhas que reclamam de mães assim. Mas, para mim, era óbvio que a filha precisava de terapia, que o problema estava nela o tempo todo. E eu não aguentaria uma história defendendo essa protagonista e suas ideias.

    Mas não foi o caso.

    Na verdade, o conto faz uma vírgula e muda o tom, resgatando a mãe eas unindo. Muito bem, a filha compreendeu os sentimentos da mãe, os motivos pelos quais ela era assim. E, por entender a mãe e entender seu próprio comportamento falho na infância, há redenção para as duas.

    Deixando minha discordância da redenção da mãe (Por que acho que não é tão errado assim ser como ela no início do conto), gostei da sensibilidade e de como a história amarra tudo de uma forma tão harmoniosa. É um conto bastante good vibes. E bastante humano.

    Interessante como aqui não precisamos de nenhuma descrição de cenário, de palavras complicadas, de grandes sacadas intelectuais. Apenas a vida como ela é. Tudo bem que nunca fazemos festas exatamente como as da nossa infância, mas o conto também é sobre como as coisas poderiam ser se déssemos uma chance para vermos tudo de outra maneira.

    Concluindo, achei a protagonista um pouco puxando para a chata no início, mas o conto dá uma guinada para o muito real (já que eu e muitos outros nos identificamos com esse tipo de situação e pessoas) e nos faz refletir sobre de que forma podemos resgatar o que havia de melhor no passado para dar aquela melhorada no presente.

    Obrigado pela contribuição e boa sorte no desafio.

  15. Fabio Baptista
    27 de novembro de 2024
    Avatar de Fabio Baptista

    Antes de ver notas e comentários, já apostei todas as minhas fichas que esse conto será o campeão do desafio.

    Escrita perfeita, história muito… humana. Claro que “todo mundo” é gente demais, mas tenho certeza de que a história contada aqui vai tocar muitas pessoas, uns mais, outros menos, mas é difícil escapar ileso, sem refletir sobre algum aspecto da própria vida e a relação com nossos pais e mães… e filhos.

    Apenas para nãoi deixar de ser chato, a festa no final me soou um pouco “finalzinho Disney” demais, com tudo dando certo e tal. Tirando esse detalhe de gosto pessoal por finais mais agridoces ou mesmo amargos, um conto sensacional, com cara de campeão.

    ÓTIMO

  16. Elisa Ribeiro
    26 de novembro de 2024
    Avatar de Elisa Ribeiro

    Que conto mais fofo! Uma história simples com duas personagens cativantes, cada uma a seu modo. O tema está perfeitamente representado. O texto está bem revisado. O ponto alto do conto pra mim foi a capacidade de evocar tantos aniversários, não os meus porque eu era mais chata do que a sua personagem, mas os dos primos, dos amigos da rua e colegas de colégio.

  17. Gustavo Araujo
    23 de novembro de 2024
    Avatar de Gustavo Araujo

    Muito bom o conto! Há uma leveza ímpar na narração. Acho que é o único conto do desafio que fala de nostalgia sem necessariamente apelar à tristeza e à melancolia. Isso porque se baseia não em alguma coisa impossível de acontecer de novo, mas em algo que é, sim, passível de repetição.

    Aniversários vêm e vão e a gente, quando fica adulto, acaba perdendo um pouco da alegria em comemorá-los. Ao usá-lo como justificativa para a reaproximação de mãe e filha o conto acerta na mosca, trazendo aquela sensação boa que tínhamos (ou que imaginávamos ter) quando crianças, a cada vez que assoprávamos as velinhas ou nos entupíamos de brigadeiro.

    É essa inocência (verdadeira ou imaginada, já que tendemos a romantizar a infância) que o conto resgata tão bem, algo que, paradoxalmente traz um gosto agridoce à boca quando nos damos conta de que a perdemos em algum ponto da vida.

    Vê-se que as personagens se completam em suas frustrações e em seus anseios. A relação está esgarçada, sofre com o desgaste e com o desânimo. Mas de repente, num átimo, tudo muda. Uma ideia simples ilumina tudo e ambas se reencontram.

    Interessante perceber como o próprio conto faz esse caminho. Na primeira metade parece haver uma nuvem de chuva pairando sobre as palavras, mas a partir da ideia do aniversário é como se um raio de sol rompesse o céu nublado. Quase me imaginei na festa, roubando uma lata de leite condensado na geladeira e virando tudo goela abaixo kk

    É de se notar que a escrita é simples, mas isso não significa simplória. Longe disso. O contexto que se extrai dos diálogos é muito eficiente. Há muito o que ver nas entrelinhas, o que acaba provocando o enlevo e o clímax que se espera de algo escrito para causar emoção.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  18. Mauro Dillmann
    23 de novembro de 2024
    Avatar de Mauro Dillmann

    Uma filha, narradora, super irritada com o jeito da própria mãe. Narrado em primeira pessoa, posso dizer que a filha, inicialmente, é chata, mimada, sem paciência e idealizadora de uma mãe que não tem. O conto vai crescendo, tem viradas e ganha muito bem o tom de nostalgia, ao terminar com a festa de aniversário estilo anos 1980.

    Um conto singelo, bem escrito, que cumpre o tema do desafio e garante leitura fluida.

    Parabéns!

  19. Rangel
    21 de novembro de 2024
    Avatar de Rangel

    um belo conto simples, sobre a simplicidade das coisas vencendo o desânimo e a rotina chatas. Foi mágico e lindamente poético, revistar o passado para encontrar ali algo que foi apagando e se perdendo. Aniversários, natais, festas em geral, são solenidades capazes de reascender e reinventar os próximos ciclos conectando com os anteriores.

    é uma narrativa simples, direte, regular, mas muito poética. PARABÉNS.

  20. Marco Saraiva
    16 de novembro de 2024
    Avatar de Marco Saraiva

    Um conto gostoso, que faz uma transição boa de uma mulher adulta e cansada, para uma mulher que finalmente entende a mãe e reata este laço familiar tão importante. Gostei de como a porta da casa da mãe é um “portal” para a sua transformação: uma vez que passa por ela, volta a ser filha, sente-se pequena novamente. Você reata isso muito bem na última frase do conto. Ficou muito bom.

    A proposta do texto, ao meu ver, é a visão de outro ângulo, o apelo a tentar entender ao invés de perder a paciência. A filha tinha todas as razões para se irritar, para sair de cena e voltar à sua vida, mas foram os seus esforços para entender a mãe que fizeram com que ela recuperasse essa relação perdida.

    A escrita é leve, você usa uma mão suave para descrever as situações e trabalhar os personagens. Ao meu ver isto acaba, às vezes, fazendo com que alguns aspectos do conto fiquem pouco naturais ou superficiais demais, mas talvez este tenha sido o seu objetivo: não mergulhar na profundidade, apenas evocar alguma reflexão ao leitor, e também este sentimento de nostalgia ao ver desenrolar a festa infantil (com apenas adultos!) no final do conto.

    Um detalhe que notei e que gostaria de citar é a presença de listas de palavras. Eu tenho sido um opositor ferrenho destas listas. Nem todas são erradas ao meu ver, mas a maioria funciona contra o conto, ao invés de enriquecê-lo. O exemplo perfeito neste texto é este trecho:

    “…vi um sorriso grande, luminoso, nos olhos de minha mãe, cheio de animação, vontade”. Quando leio estas listas, sinto-me lendo um dicionário. Para mim é muito mais impactante ler “…vi nos olhos da minha mãe um sorriso luminoso , cheio de vontade.”. Quando há uma lista de palavras, todas elas perdem um pouco o valor.

    Outros exemplos:

    -> “…alguém botou um disco do Trem da Alegria. Do Balão Mágico. Do Menudo. Madonna”. Qual disco botaram, afinal? A frase implica que este foi um momento único. Mas então segue com mais nomes, todos de bandas antigas. Para mim é sempre mais impactante falar uma só. “Alguém botou um disco do Balão Mágico”. E lá vem as músicas do balão mágico na minha cabeça, eu começo a cantarolar. Mas quando leio quatro grupos musicais seguidos, nenhum deles fica na mente. Vira só uma lista de palavras.

    -> “Estendo-lhe o pacote que me parece tristonho, murcho, burocrático e protocolar” – Aqui, para mim, tristonho já bastava. Isto mais me parece uma lista de sinônimos.

    -> “Frustrada, decepcionada, cansada, irritada, escolho qualquer coisa, nem sei o quê.” – Sei que listar todas estas emoções aqui tem o intuito de tentar passar o que o personagem está sentindo de forma mais completa, mas para mim este tipo de frase tem o efeito oposto. Como são muitos sentimentos, não sei direito o que ela sente, e por isso ela perde um pouco da sua profundeza como personagem.

    PS: como falei, nem sempre isto é ruim. Por exemplo, no texto abaixo, a intenção é mesmo listar uma série de itens, então faz todo sentido usar este recurso:

    “Restam os típicos presentes de gente velha. Cobertores, meias, mantas. A intenção é aquecer e prover conforto”.

  21. JP Felix da Costa
    9 de novembro de 2024
    Avatar de JP Felix da Costa

    Este conto tem um pouco de cada um de nós nele, pela certa. Eu, pelo menos, revi-me em alguns pontos. É uma historia simples, por cima, mas que, quando analisada ao pormenor, é bastante profunda. Espelha a falha de comunicação, o tirar de conclusões sobre os outros sem se conhecer o que realmente o outro pensa, e o entendimento mútuo que devemos procurar. No caso da história a nossa personagem conseguiu, em tempo útil, compreender a realidade da vida da mãe e da sua própria, e tomar uma atitude nesse sentido. Poderia ter tirado conclusões negativas do comportamento da mãe, sem procurar a sua causa (como muitas vezes fazemos) e afastar-se da mãe, mas não o fez. Conseguiu compreender a verdade que se ocultava nos detalhes do passado, e mudar a vida de ambas. É uma história que trás consigo um sentido de esperança que nos leva a pensar na forma como preconcebemos os outros pela nossa interpretação do seu comportamento. Mostra a importância do diálogo (algo muito bem explorado no texto) para, verdadeiramente, nos compreendermos uns aos outros.

    O texto está muito bem escrito. Alicerçado numa excelente utilização do diálogo, consegue construir os personagens, nas suas particularidades próprias, e transmitir-nos o seu estado de espírito. O evoluir da história pinta-nos um quadro de relações familiares transversais a todos, uns mais do que outros. Neste enquadramento ou noutro, dificilmente alguém não se revê no desenrolar da narrativa.

  22. Givago Thimoti
    7 de novembro de 2024
    Avatar de Givago Thimoti

    NÃO GASTE COMIGO – (Sandra Regina)

    Resumo + Comentários gerais:

    “Não gaste dinheiro comigo” é um conto meio água com açúcar (com todo o respeito). Nostálgico, a narrativa aborda o aniversário de uma mulher, feito por sua mãe, depois que as duas passam o aniversário da senhora de forma insossa.  Primeiramente, temos um relance do que motiva a festa, e então vemos rapidinho o aniversário. É uma celebração gostosa. A sensação que tive foi a de que o leitor talvez não seja um convidado, mas sim um colega de trabalho que escuta o relato da aniversariante depois.

    Gostei do conto. Resumidamente (para não ficar muito repetitivo), eu diria que senti falta de um pouco de profundidade no conto. Talvez seja amargura minha, típica de quem achou que ia ser convidado-mas-não-foi. 

    Trecho de impacto: Mastigamos em silêncio. Penso no meu aniversário, que esqueci. Que eu quis esquecer. Não quis lembrar que o tempo passa, que os anos se acumulam, que a velhice está cada vez mais perto e que ela me assusta. Será que a velhice a assusta também? Será que é por isso que ela reluta em comemorar?

    Adequação ao tema – Avalio se o conto aborda o tema proposto de forma coerente, aprofundada e relevante para o Desafio: 3

    Nostalgia ao som de Balão Mágico! Menção máxima!

    Construção de Mundo e Personagens – Avalio a profundidade dos personagens e a ambientação, incluindo o cenário e como tudo interage para fortalecer a narrativa: 1,5

    Eu vou sintetizar o 1,5 nesse aspecto com o título – “Não gaste dinheiro comigo”. É um título adequado para o conto, resume bem a história… O que faltou nesse título? Uma exclamação, uma interrogação, as reticências… Explicando, a sensação que tive foi a que faltou um tchan! O que talvez explique a impressão que grudou em mim que eu não era um convidado da festa, mas sim um colega de trabalho que ouviu o relato da festa.

    A frase de impacto talvez seja outro exemplo disso. Quando li, interpretei que era aquele ponto que a filha, retomando a canção “Como nossos pais”, se identifica com a mãe, percebendo que ela própria se tornou ou está no caminho de se tornar sua mãe, tão abnegada, que nega e rejeita o interesse em si mesma. Na hora que a expectativa do leitor que iremos ter um relance, somos frustrados por isso. Portanto, creio o que 1,5 de 2 possíveis é adequado

    No mais, achei a história bem construída (o que justifica a menção máxima em estrutura narrativa). O que faltou mesmo foi explorar um pouco melhor alguns aspectos da narrativa, o sinal de exclamação, as reticências…

    Uso da Linguagem – Avalio a qualidade da escrita, incluindo o estilo, clareza, gramática e fluidez dos diálogos:     1,5

    A escrita está boa. Simples e competente. Gramaticalmente, irretocável.

    Em termos lúdicos, de beleza, creio que deixou um pouco a desejar. Um aspecto que poderia ter sido mais bem trabalhado, na minha opinião.

    Estrutura Narrativa – Examino o fluxo do enredo, a clareza da introdução, desenvolvimento e conclusão, e se o ritmo é adequado:1,5

    Sobre esse aspecto, creio que não há qualquer crítica. O conto é rápido (alguns talvez diriam que rápido demais), claro, percebemos bem a estrutura narrativa, indo do início, passando pelo meio e pela conclusão.

    Impacto Emocional – O quanto a história conseguiu me envolver emocionalmente, provocar reflexão ou cativar:1,5

    Eu genuinamente gostei do conto. Ao final da leitura, me peguei pensando bastante nele, imaginando minha mãe, do mesmo jeito abnegado.  Acho que esse é o grande trunfo do conto nesse aspecto. Um conto que fala nas entrelinhas. Talvez, pudesse falar mais nas linhas. Ainda assim, creio que a maior parte das pessoas que lerem esse conto vão se identificar com algum ponto da história.

    Cativou, fez refletir. Poderia ter sido mais, mas creio que foi o suficiente para a menção máxima.

    Nota Final: 9

  23. Thales Soares
    5 de novembro de 2024
    Avatar de Thales Soares

    O que achei deste conto: EITA…

    Este conto claramente foi escrito por um desses escritores deuses que só encontramos no Entre Contos, com habilidades sobrehumanas. E não é nem uma perfeição no quesito técnico da escrita, e sim na construção narrativa, de forma a encantar e impressionar qualquer leitor. A leitura é extremamente prazerosa, optando por um texto rápido e fluido do que por uma escrita carregada e toda cheia de frufru. Eu, particularmente, prefiro muito mais ler essa escrita direta ao ponto, apresentada neste conto. De início estranhei um pouco os verbos colocados no presente, e não no passado, como se fosse um caso que estivesse ocorrendo agora, enquanto o leitor lê… mas depois de um tempo acabei me acostumando, e achei interessante.

    A história começa com a protagonista (não me lembro o nome dela) indo comemorar o aniversário da mãe. Mas a mãe não fez nada pra comemorar, e nem parece demonstrar gosto por isso, e a filha começa a se irritar. Aqui entra o único ponto que me desagradou nesta história, mas que é unicamente por gosto pessoal meu, e não qualquer tipo de deslize do autor… que é o gênero desta história: este conto é um slice of life. Eu não costumo gostar de histórias assim, que mostram apenas o cotidiano, sem nada de especial… só a Kelly consegue me fazer gostar desse tipo de leitura… então eu presumo que este conto seja dela, porque eu me diverti lendo!

    No meio do relato cotidiano da personagem principal, vemos não só um formato narrativo que instiga e desperta a vontade do leitor continuar lendo, mas mostra também uma sagacidade impressionante do autor (autora) em produzir situações cômicas e discretas. Não é o tipo de humor que nos faz gargalhar, mas sim aquele humor que nos faz dar um sorrisinho com o canto do lábio, o que é muito legal! Na verdade, sinto que o autor (autora) deste conto é alguém que domina completamente não só a escrita, mas a vida… pois vemos que a pessoa que escreveu isto desvendou os segredos do mundo, e consegue apresentar sua sábia visão para os leitores.

    Achei que a história ia ficar só nisso, ainda mais pelo título, “Não gaste dinheiro comigo”… mas então a filha decide pedir para a mãe fazer uma festa de aniversário! Essa ideia não só é divertida, como também proporciona a melhor parte do conto… o momento onde a verdadeira nostalgia acontece! Aliás, eu já estava começando a ficar preocupado com a questão do tema… mas neste final, no clímax da história, ele surge com a corda toda! Coxinha, brigadeiro, Balão Mágico, lembrancinha de aniversário, aquele final de festa com a arrumação. Era um conto como este que eu queria ler neste desafio, uma nostalgia que eu sentisse na pele! Eu já falei que a pessoa que escreveu este conto é um gênio?

    No final ainda, na última linha, o autor faz um flerte com o segundo tema deste desafio, que é porta, ao mesmo tempo em que ativa sua arma de tchekhov, retomando a porta da primeira frase da história. Muito bom!

    Enfim. Eu não sou fã de dramas, não gosto de coisas cotidianas. Mas aqui fui fisgado. Eu achei que eu tinha escrito um baita de um conto para este desafio, e que talvez, quem sabe, eu pudesse vencer este certame… mas quando li este conto, pensei: “EITA… o primeiro lugar já tem dono!”. Parabéns!!

  24. Luis Guilherme Banzi Florido
    5 de novembro de 2024
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom dia, amigo(a) escritor(a) do(a) Encontrecontos(as), tudo(a) bem(ena)?
    Primeiramente, parabéns por superar a nostalgia do desafio de trios e entrar no portal do novo certame! Boa sorte e bora pra sua avaliação(çã):
    Tema escolhido:nostalgia. Que saudade que deu =´)
    Abordagem do tema: 100%
    Comentários gerais: que conto lindo! adorei. Uma linda reflexão sobre relações humanas, sobre família, arrependimentos, frustrações, egoísmo, descoberta, laços, envelhecimento… Acho que o ponto mais forte do seu conto é a evolução de personagens. As duas protagonistas são muito reais, dá pra acreditar nas motivações, nos sentimentos, nas conversas… parece até que você tá relatando algo real que aconteceu contigo ou com alguém muito próximo, de tão palpável que tudo ficou. A escrita é muito boa, fluida, bonita, revela as coisas no momento certo e conduz com maestria a narrativa. Gostei muito de como o “plot twist” foi revelado, nas sensações que causou na moça, em seu renascer, em como ela percebeu que não era tão diferente da mãe, e como a raiva que sentia era um mecanismo de defesa. Enfim, uma obra sensacional sobre o ser humano e as difíceis relações familiares, que muitas vezes são maculadas pelo passado e ficam frias e distantes, mas que (quase) sempre podem ser curadas. Parabéns!
    Sensação final: me chamaram pra uma festinha estilo anos 90, botei o chapeuzinho de festa, comi um pedaço daquele bolo que tinha umas bolinhas duras que quebravam o dente, e me emocionei com a dona da festa: voltamos a ser crianças juntos.

  25. Antonio Stegues Batista
    3 de novembro de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    O conto começa com a filha odiando a mãe por ela ser muito simples, por ela não ser ambiciosa, não ser vaidosa, não gostar de ostentação, como é a maioria das mães, que só desejam união e paz para suas famílias. Parece que ela fracassou na vida, se sente só, cuida da mãe não por obrigação, mas porque precisa dela como porto seguro. Fazendo uma análise superficial, depois daquele ódio anormal, a filha reconhece que riqueza não é ter luxo. De certa forma o conto está bem escrito, embora o ódio estranho e errôneo que a princípio, descreve a filha como psicopata.

    Parabéns e boa sorte.

    • Kelly Hatanaka
      15 de dezembro de 2024
      Avatar de Kelly Hatanaka

      Nossa, seu Antonio. Não acredito em explicar contos mas, neste caso, julgo necessário. A filha não odeia a mãe. Ela está irritada com a postura abnegada da mãe e consigo mesma por não conseguir agradá-la, por não conseguir fazer algo de bom pela mãe em seu (dela) aniversário.

  26. vlaferrari
    3 de novembro de 2024
    Avatar de vlaferrari

    Acho que a demora em postar os textos fez muito bem aos colegas, pois é outro dos textos muito bons desse desafio, sem dúvida. Emocionante, pois faz o leitor se enxergar ali. Pais e Mães têm muito disso: a adequação ao voo travestida de “não se importe comigo”. Criamos os filhos para voar e isso nos coloca, um pouco, na posição das coisas que foram deixadas pelo caminho. Um porto seguro para onde voltam às vezes, para relatar as condições do tempo e buscar conselhos sobre como lidar com isso. Retomam o voo e ficamos ali, olhando-os se aventurar. O texto é aquele balde de água fria refrescante. Não é um choque de realidade, impactante e doloroso. É uma sacudidela, para nos tirar do aturdimento com nosso próprio umbigo — como bem frisou a autora/autor — ao perceber que a vida é muito mais do que o “olhar para si”. A nostalgia foi costurada de maneira a atingir qualquer leitor com ternura e um “quem nunca” bem humorado até. Parabéns.

  27. Ronaldo Brito Roque
    3 de novembro de 2024
    Avatar de Ronaldo Brito Roque

    Muito bonito. Com grande atenção aos detalhes. Fiquei de água na boca quando li sobre os salgadinhos e docinhos. Muito bom este.

  28. andersondopradosilva
    3 de novembro de 2024
    Avatar de andersondopradosilva

    Não Gaste Dinheiro Comigo (Sandra Regina)

    Resumo:

    Mãe e filha superam seus desencontros ao celebrarem seus aniversários.

    Comentários:

    Conto muito bem revisado. Dá prazer ler. Pouquíssimo falta ou sobra. Talvez o emprego de “entro” e “entrar”, no primeiro parágrafo, e de “discos” e “disco”, num outro parágrafo, pudesse ser evitado. De resto, e no geral, adorei o conto. Retrata cenas e momentos cotidianos, faz pensar sobre relações familiares e envelhecimento, faz pensar sobre autoconhecimento. O tema memória, saudade, nostalgia aparece bastante, com mãe e filha se voltando para o passado, revisitando momentos. Como tem acontecido muito no desafio, até o tema porta fez uma breve aparição, em pontos relevantes do conto, no primeiro e no último parágrafos: é pela porta que entramos no seio dessa família, uma porta que, ao final, assim como a protagonista, não queremos mais atravessar.

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Publicado às 2 de novembro de 2024 por em Nostalgia e marcado .