EntreContos

Detox Literário.

O Lobo da Colina Escarlate (Antonio Stegues, JP Félix da Costa e Kelly Hatanaka)

A voz do padre soou grave e em tom baixo do outro lado da grelha do confessionário.

—  Qual é o teu pecado, minha filha? Conte para Deus.

Embora ele fosse um ano mais velho que ela, ele a chamava de filha, como filhos eram chamados todos os crentes, filhos de Deus. A penitente podia ver vagamente o perfil dele sob a luz mortiça, mas ele não conseguia vê-la, mesmo porque, ele se mantinha de lado, fixando os olhos na parede. Não sabia quem estava do outro lado, e só o soube quando ouviu a voz dela, e ouvindo, estremeceu.

— Padre, devo confessar uma coisa a Deus e a ti, mas é uma coisa que eu não considero pecado, e creio que Deus também não, porque é uma benção para mim e tenho certeza de que foi Ele quem me deu esse sentimento.  Sinto-me feliz por esse amor, mas ao mesmo tempo estou triste por não o demonstrar plenamente e a vista de todos. Já faz tempo que tenho entrado na igreja para assistir a missa e para te ver. E sinto uma certa culpa porque o maior motivo é para te ver. E cada vez mais meu amor por ti ficou grande e forte, que não consegui suportar mais e resolvi vir aqui confessar diante de Deus, meu amor por ti. Mas não é o mesmo amor que sinto por Deus, ou por um amigo, é diferente. Acho que ele não vai me castigar por isso, não é, padre?

Ele, que também alimentava o mesmo sentimento por ela, só conseguiu dar um conselho.

— Vá para casa, dirija-se ao teu quarto, ajoelhe-se diante da imagem do salvador e reze dez pai Nosso e dez Ave Maria. Peça a Deus que tire esses pensamentos da tua cabeça. Com certeza você encontrará o homem dos teus sonhos algum dia. Tenha paciência.

Olhando para o crucifixo pendurado na tela, ela respondeu no mesmo tom

— Eu quero só tu, mais ninguém.

Da beira dos telhados pingavam gotas d’água, resquícios da chuva que havia cessado, já algum tempo. Após o aguaceiro, o céu continuou cinzento, o ar, abafado. Em frente da igreja, um homem caminhava a passos lentos, seus pés formavam uma trilha no barro vermelho, ao redor da fonte no meio da praça. No silêncio da tarde, ouvia-se o estalar do látego cortando suas costas. Por sobre o ombro, o padre Giordano batia no dorso nu com o chicote de cabo trançado e oito tiras de couro cru. As costas estavam em carne viva, o sangue escorria manchando a calça de linho branco. Sentada nos degraus de uma das casas, uma jovem de cabelos e olhos negros, estremecia a cada chicotada, como se sentisse no próprio corpo, as mesmas dores do açoitado. Numa das janelas uma idosa com a cabeça coberta por um lenço escuro, desfiava o rosário enquanto rezava em tom baixo o Pai Nosso e a Ave Maria. Ao lado dela, o bispo, Dom Diogo Ávila, olhava, não para o padre, mas para a bela Dorotea, que ele planejava sequestrar. O plano era simples, depois de saciar os seus desejos carnais, voltaria para casa e se fosse acusado pela garota, seu secretário juraria sobre uma bíblia que ele permaneceu em casa o dia todo. O fato seria confirmado pela criada que levou para ele, o chá das 15 horas.

Eram 15 horas e 10 minutos, quando D. Ávila, vestindo roupas comuns, escondeu a carroça nas ruinas do paiol, depois pegou seu precioso fardo e dirigiu-se para a casa abandonada. Quando ele entrou, o assoalho rangeu e uma coruja fugiu por um buraco no teto. Refeito do susto, o homem colocou Dorotea desmaiada no chão, onde havia preparado tudo com antecedência, e amarrou com as cordas, seus pulsos e tornozelos. Em seguida, pegou uma faca e cortou o vestido dela. Ergueu-se, contemplando o corpo nu, os seios, as coxas, o púbis preto contratando com a pele alva. Sentiu a boca salivar, como se estivesse diante de um prato de comida saborosa. Súbito, um ruido despertou sua atenção.

Teve a impressão de ouvir barulho de passos sobre as folhas secas no chão do terreno. Temeu ser encontrado ali dentro. Achou melhor sair e verificar se estava sozinho naquelas terras incultas. Com cautela, foi até a porta e espiou. Viu apenas as árvores e os arbustos mais além. Saiu para ter certeza de que estava sozinho no local. Ouviu um som estranho no meio da mata. A folhagem se agitou num certo ponto e ele ficou observando. Não conseguiu identificar que som era aquele. Súbito, o animal saltou dos arbustos com violência e investiu contra ele, meteu a cabeça entre suas pernas e o jogou para o alto. O imenso javali continuou correndo, soltando sons roucos e ferozes, atravessou a clareira, sumindo do outro lado. O homem tombou, sentindo uma forte dor no interior da perna esquerda. Ergueu o tronco. Pelo tecido cortado pelas presas do animal, viu o ferimento e o sangue escorrendo. Rapidamente, rasgou um pedaço da camisa e enfaixou a perna. Sabia que não era o suficiente, teria que ir ao médico. A perna doía, o ferimento era profundo e podia infeccionar. Mancando, dirigiu-se para onde havia deixado a carroça. Se melhorasse, voltaria no dia seguinte, ou no outro. Com certeza o médico iria perguntar como se feriu.

Recuperando os sentidos, a garota viu-se amarrada e nua, deitada num assoalho de tábuas velhas. Não sabia como chegou ali, naquele cômodo sujo, de paredes manchadas pela umidade e mofo. A luz do Sol entrava por um buraco provocado por um grosso galho de árvore, que tombara sobre o telhado, pela força de uma ventania. Dorotea procurou afastar as brumas da mente, desfazer a letargia dos sentidos causado pelo éter. Com calma e raciocínio lógico, analisou a sua situação. Alguém com más intensões a tinha levado para aquele lugar, mas quem? A única pessoa que veio a sua cabeça, era o bispo Dom Diogo Ávila. Sabia que ele tinha interesse nela, via nas suas maneiras, nos seus olhares de luxúria, de desejo carnal. Nunca gostou dele, era um homem cínico, mentiroso, dissimulado. Não merecia ser sacerdote. Não pensou em mais nada a não ser, sair dali. Viu o vestido jogado no chão e mais distante, uma faca, um frasco de vidro escuro e um lenço branco. Procurou pegar o vestido para tentar puxar a lâmina. As pontas das cordas estavam pregadas no assoalho de modo que ela não podia se levantar, mas movimentar os braços um pouco para cima e para o lado. Virou de lado, espichou o braço o mais que pode e conseguiu tocar o vestido com as pontas dos dedos. Puxou lentamente. Depois segurou firmemente o tecido por um uma ponta e o jogou sobre a faca, e puxou, porém, o vestido deslisou por cima da faca sem mexer um milímetro sequer. Foram várias tentativas. A luz do Sol. que batia no assoalho, agora estava na parede. Logo seria noite. Ela estava cansada, com o braço doendo mais do que o resto do corpo. Deveria descansar. Se ninguém aparecesse, se nem a pessoa que a sequestrou, teria que ter coragem e paciência para passar a noite naquele lugar.

O lugar submergiu na densa escuridão da noite. Depois a Lua surgiu, banhando o assoalho com uma claridade leitosa. Mas foi por pouco tempo. A garota tentou dormir, mas não conseguiu, o frio e as dores nas costas a incomodavam. Não conseguia dobrar as pernas, mas podia ficar um pouco de lado, mesmo assim a posição era dolorosa, desconfortável. Ouviu ruídos estranhos, um bater de asas, pios, arrulhos. Depois o silêncio. Ocupou a mente rezando, recitando versos.

Por fim, adormeceu. Sonhou com um lobo grande e cinzento que a perseguia por uma estrada em meio a um milharal. Depois ele apareceu deitado no topo da colina. No alto, planavam negras aves, mas não deu para saber se o lobo estava vivo ou morto.

Não era a primeira vez que tinha esse sonho. Porém, agora sentia uma presença que não sentira antes, mas que sabia ser de outro lobo. A presença estava tão perto dela que quase lhe sentia o bafo. Queria rodar a cabeça e olhar, mas não o conseguia fazer.

Despertou com a luz do sol que entrava pela porta. Aqueles sonhos, cujos detalhes se esfumavam na memória, continuavam a ser um mistério para ela. Com algum esforço, pelo corpo dolorido, ergueu-se e ficou sentada. As cordas estavam cortadas e a seu lado estava o vestido, mas tudo o resto tinha sumido. Olhou o seu entorno. Não sabia onde estava, mas sabia que precisava chegar em casa evitando ser vista. O vestido estava rasgado e ela mal conseguia se cobrir com ele.

As celebrações matinais, como em todos os dias anteriores, decorreram normalmente. Desta vez, no entanto, o padre Giordano sentiu a falta dela. Todas as manhãs ela estava lá, ajoelhada na primeira fila, olhos nos olhos dele, mas hoje, pela primeira vez, isso não aconteceu. Sentiu uma preocupação crescente, ficando com o coração acelerado, o que fazia aflorar os sentimentos que tanto tentava reprimir. A falta dela o abalava profundamente, e só hoje se apercebeu quanto. A luta que sentia dentro do coração estava no auge. Se fosse uma pessoa normal, renunciaria aos votos e se juntaria a ela, mas ele não tinha escolha, a sua natureza não o deixava renunciar a compromissos. Fazer isso seria voltar ao mundo ancestral de que fugira.

Procurou, com o olhar, por toda a igreja. Ela poderia estar noutro lugar, um que ele não tivesse notado. Ao fundo, oculto pelas sombras de um dos pilares que suportavam o teto, encontrou uma figura coberta com um capucho. Era só uma silhueta nas sombras, mas ele o reconheceu de imediato. Em passo calmo, para não atrair a atenção das beatas que ainda permaneciam na igreja, aproximou-se. A figura deu meia volta e saiu, demonstrando intenção de ser seguida.

— Como me encontraste, Jácomo? – Perguntou o padre. – Eu bloqueei meus sonhos.

— Eu encontrei ela e não a ti. – Com uma barba cerrada, uma cicatriz debaixo do olho esquerdo e um olhar penetrante, Jácomo era ligeiramente mais velho, mais alto e mais forte do que o padre Giordano.

— Ela quem?

— Sabes bem quem. Eu te encontrei no sonho dela. Eu te vi lá, em cima da colina, e vi a cor da colina. Não podes renegar quem és. Uma vez lobo, para sempre lobo.

— Eu renunciei a tudo isso e abracei Jesus Cristo!

— Por isso é que te esfolas vivo com um chicote? Para afastar o lobo que és? Para afastares ela do teu pensamento? Ela é a escolhida, a nossa salvação, e só tu podes cumprir a profecia.

— Não! Nada de isso é verdade. Eu deixei tudo. Sou apenas um servo do Senhor.

— Um servo do Senhor que está no Céu e um servo do diabo que anda na Terra.

— Como assim? – O padre Giordano mostrava-se abalado com esta afirmação, como se confirmasse algo que lutava desesperadamente por não pensar.

— Debaixo da mais santa batina reside o pior dos demônios. Tens de a proteger dele como eu já fiz.

— Padre Giordano. – Uma das beatas se aproximou dele. O rodar da cabeça, reação automática ao chamamento, foi suficiente para Jácomo desaparecer, silenciosamente, nas estreitas ruas que serpenteavam junto à igreja.

Felizmente o animal não atingiu a veia femoral. Se fosse assim, pensava Dom Diogo Ávila, agora estaria sendo recebido por São Pedro nas portas do Céu. De madrugada foi na casa abandonada, mas apenas encontrou as cordas cortadas e nenhum rastro de Dorotea. Logo após o almoço se dirigiu para a igreja, precisava saber do paradeiro dela. Andava calmamente, como em meditação, embora o fizesse pela dor que sentia. A batina cobria as provas dos acontecimentos da noite anterior. Mal chegou procurou pelas beatas em busca de informações, mas nenhuma sabia de nada. Dorotea ainda não aparecera nem falara com ninguém, mas ele sabia que havia um homem a quem ela iria, certamente, contar o sucedido. O padre Giordano, como todos os dias, estava no confessionário, e os receios do bispo se tornaram realidade quando viu Dorotea se dirigindo para lá.

Os acontecimentos da noite anterior não lhe saíam dos pensamentos. Precisava contar o sucedido, e só ao padre Giordano é que se sentia capaz de o fazer. Entrou no confessionário e ajoelhou.

— Qual é o teu pecado, minha filha? Conte para Deus.

A voz grave do padre a acalmou. Inspirou fundo, mas, antes de falar, pensou no que estava fazendo e no que disse da última vez que se confessou. Receou que o padre Giordano pensasse que aquela história era uma provocação erótica que ela inventara para o fazer renunciar aos votos e deixar a igreja por ela, e que ele ou a odiasse por contar aquilo ou deixasse de ser quem era por causa dela. Não podia fazer isso ao padre Giordano. Ela o amava demais para o colocar nessa situação. Levantou-se e saiu, atravessando a igreja em passo rápido, lavada em lágrimas.

Para Dom Diogo Ávila a forma como ela saiu do confessionário, em lágrimas e correndo para sair da igreja, era a confirmação do que receava. Ela contara o ocorrido na noite anterior e ele não acreditava que o padre Giordano fosse suficientemente forte para guardar o segredo da confissão e não fazer nada, depois de ficar sabendo de tudo. Um turbilhão de pensamentos invadiu a mente do bispo. De alguma forma ela sabia que foi ele quem a sequestrou, e foi isso que ela contou para o padre. Dom Diogo Ávila estava sendo consumido por estes pensamentos quando o padre Giordano saiu do confessionário. A igreja estava vazia e apenas os dois homens se encontravam no seu interior. O padre ajoelhou em frente ao enorme crucifixo de Jesus Cristo, que dominava a parte central da igreja, e baixou a cabeça em oração. O bispo, ao fundo e oculto pelas sombras, estava atento a todos os movimentos do padre que pudessem revelar os seus pensamentos. Notou as mãos crispadas, que agarravam o banco até ficarem brancas. Pouco depois, o som de um murro na madeira e um “não” gritado ecoaram pelas paredes do templo, assustando o bispo que, mesmo assim, não traiu a sua presença.

— Não, meu Senhor, não posso quebrar meu juramento, não posso quebrar meus votos. Devo cumprir com Vossa palavra, mas esta luta me destrói. — O padre olhou para o crucifixo e estendeu os braços na sua direção. — Não posso renegar tudo aquilo que me faz ser quem sou agora, Senhor, e é isso que estão exigindo de mim.

O padre Giordano se deixou cair, ficando sentado nos calcanhares. O queixo encostou ao peito, as mãos pousaram, palmas para cima, sobre os joelhos e as lágrimas começaram a correr livremente pelo rosto.

Dom Diogo Ávila tinha ouvido o suficiente. As suas suspeitas se confirmavam. Ela contara tudo e não demoraria ao padre se voltar contra ele. Sentiu o receio de perder privilégios crescer e dominar seus pensamentos.

— Este padre é um adversário formidável. — O bispo pensava em voz alta, enquanto retornava a casa, esfregando nervosamente as mãos. — Ele é amado por todo o povo e todos vão acreditar nas palavras dele. Tenho de o destruir antes que ele me destrua, e a minha melhor oportunidade é na homilia do próximo domingo.

O desafio se apresentava difícil, mas ele não era homem para ter medo de ninguém. Só ele sabia como chegou a ser bispo e o que aconteceu com os seus oponentes. No domingo seria certo que iria destruir a reputação do padre Giordano, arrastando Dorotea junto com ele.

Na igreja, o padre reergueu os olhos para a imagem de Jesus Cristo.

— Me exigem que renegue teu chamamento, Senhor, para cumprir a velha profecia. — Com as mãos limpou as lágrimas do rosto, ficando alguns segundos em silêncio, pensativo. — Mas, e se sou, na verdade, o lobo da colina escarlate? Será que tudo aquilo de que fugi não é mais do que o meu destino? Serei eu o salvador do meu povo? E se não for? Se eu renegar meus votos, e a profecia não se cumprir, que será de mim, Senhor? Voltarei a ser aquilo de que fugi, preso a uma maldição da qual nunca poderei me libertar?

A dor no peito o esmagava. A necessidade de uma decisão se aproximava, e ninguém a podia tomar por ele. Renegar os votos e ser lobo para cumprir a profecia, sabendo o que isso significaria para Doroteia se ela fosse a escolhida, ou renegar definitivamente o passado, renovar os votos e ser padre o resto da vida. Na entrada da igreja ouviu passos que queriam ser ouvidos. Jácomo aguardava uma resposta.

— Padre. És como pai a todas essas pessoas, porém, renegaste teus irmãos três vezes como teu primeiro papa. Primeiro, ao negar o que és, depois, ao duvidar da profecia e, por último, ao partir.

A verdade contida nas palavras de Jácomo calou o já abatido Giordano. Ele conhecia o amigo e esperava dele ira ou revolta. Aquela tristeza profunda era nova, estranha e caía mal em seu rosto.

***

Licaão, rei de Arcadia, pelos deuses amaldiçoado

Com sua descendência, em besta-fera transformado.

Salva, somente a bela ninfa Calisto,

pelos pecados paternos intocada.

Do sangue de Calisto, a Dádiva de Deus

se unirá ao Lobo da Colina Escarlate

e, ao matar o monstro, a todos libertará.

***

Padre Giordano tentava esconder o que lhe ia na alma. Rezava a missa, seguindo os ritos, tentando desviar a atenção dos belos olhos de Dorotea que, da primeira fileira, o seguiam. Podia ver que ela estava angustiada. Precisava descobrir o motivo, ainda mais depois de sua última confissão. Preparava-se para a homilia, quando súbito D.Ávila se levantou da cadeira que ocupava no altar.

— Amados fiéis, rebanho de Deus. Dirijo-me a vós não como o bispo, mas como irmão. Infelizmente, o pecado nos ronda e domina o âmago de nossa Santa Madre Igreja. Aqueles que mais amamos não se mostram dignos de nossa confiança.

“O que está acontecendo?” — Pensou Giordano, inquieto, seu instinto de lobo, gritando das profundezas em que foi enterrado: “Pegue Dorotea e fuja!”

— Padre Giordano caiu em tentação, sucumbiu ao feitiço de uma bruxa. — Sua voz reverberou, enquanto apontava para Dorotea, que empalideceu, chocada com tamanha sordidez.

— Bem sabemos que nosso amado padre flagela-se com tamanha frequência que desgasta o látego e tinge de escarlate esta colina. E o que motiva tamanha punição? O pecado!

A igreja mergulhou no caos, todos falando ao mesmo tempo, ninguém queria crer naquelas acusações.

— Sentencio os pecadores à morte! A bruxa e o herege traidor devem expurgar na fogueira seus pecados e esperar pela misericórdia divina no Dia do Julgamento Final! Guardas!

Soldados adentraram a nave. Quando um deles agarrou o braço de Dorotea, Giordano não teve mais forças para conter o lobo. Garras, pelos e presas revelaram-se, seus ossos e músculos retorceram até assumir sua nova forma. Transformou-se, diante dos olhos de toda a cidade, e rosnou para o bispo, que recuou e, tropeçando, caiu. Em seguida, saltou sobre o soldado que ousou tocar em Dorotea.

Ela deveria ter se assustado, mas tudo o que sentiu ao ver aquele magnífico lobo cinzento, muito maior que um lobo normal, foi seu coração batendo rápido como nunca. Enquanto o soldado fugia, o lobo mordiscou-lhe o braço liberto e indicou suas costas com um gesto de cabeça. Dorotea compreendeu e saltou sobre ele, agarrando-se a seus pelos, sentindo o vento frio embaraçando seus cabelos enquanto passavam velozmente pelas ruas.

Os soldados tentaram ir atrás deles, mas foram perseguidos por outros lobos, que os confundiam e faziam trocar o caminho. Quando os fugitivos já estavam longe, os lobos sumiram. Quase todos. O maior deles não percebeu que era seguido de longe por D.Ávila.

Giordano e Dorotea chegaram a uma caverna oculta pela vegetação cerrada. O lobo se abaixou, para que ela desmontasse. Ela, que havia nascido e crescido naquela região, desconhecia aquela caverna ampla, iluminada por uma abertura no teto.  

— Quis colocá-la em segurança e este foi o único lugar que me veio à mente. — Há tantos anos ele havia abandonado seu povo, feito os votos na religião dos homens e ainda assim, quando necessitava de segurança era na caverna sagrada que pensava. Jácomo estava certo, nada mudaria o que ele era. — Este lugar é sagrado para aqueles que são como eu.

— Tu és o lobo nos meus sonhos, não é? O que isto significa?

Ela sempre o surpreendia. Não temeu o lobo, parecia aceitar tudo de forma natural. De tal forma que não foi difícil para ele contar-lhe a história do rei Licaão, que foi amaldiçoado por realizar sacrifícios humanos e se alimentar da carne se sua espécie. De como os deuses puniram a ele a e a toda sua descendência. De como seriam lobos até que parassem de comer carne humana e a profecia se cumprisse.

— E vocês pararam de comer carne humana?

— Há muitos anos. Com isso, a maldição enfraqueceu e nos transformamos somente nas noites de lua cheia.  Jácomo, eu e alguns outros conseguimos controlar nossos lobos e nos transformamos de acordo com nossa vontade.

— Tu estás sempre em meus sonhos, e sei o porquê. Mas não sei por que sonho com o lobo, isto foi sempre um mistério.

Giordano perdeu-se nos olhos escuros de Dorotea. Ele virou as costas a igreja, não poderia mais voltar. O que significavam seus votos nesse momento? Não fora sequer escolha sua, fora levado pelas circunstâncias, pelas ações de D.Ávila.

— Penso que tu sejas a Dádiva de Deus de que fala a profecia, é este o significado de teu nome, não é?

— Então, segundo a profecia, eu teria que…

— Deves matar o monstro. Eu. — Ao dizer estas palavras, Giordano colocou em suas mãos uma adaga de prata, a ponta virada para si. — Somente assim meu povo será livre.

Dorotea recuou, horrorizada, enquanto largava o punhal no chão.

— Não! Eu o amo, como poderia… Nunca!

Lágrimas corriam por seu rosto pálido. Desde sua infância passada entre as freiras do orfanato até sua vida solitária como adulta, nunca esperara sentir um amor tão intenso. O que ele pedia era impossível.

Ele não suportava vê-la sofrer e a abraçou, um abraço que pretendia ser fraternal. Mas o contato com o corpo suave de Dorotea despertou anseios há muito escondidos. Tentando conter seu lobo, domar a sede por sangue humano, habituara-se a lutar contra tudo o que representava carne, corpo, matéria. O desejo foi algo há muito esquecido em anos de disciplina e sacerdócio.

Porém, bastou sentir o calor de Dorotea, sua respiração, o perfume casto de seus cabelos e o desejo aflorou como se nunca tivesse sido abandonado. Ela sentia o mesmo. Desconhecia o que desejava, mas, guiada pelo instinto, como se também tivesse dentro de si uma loba, percorreu com as mãos as costas de Giordano, aprofundando o abraço, exigindo mais intimidade e calor.

— Viste o que sou. Não temes? — As mãos de Giordano se perdiam entre as ondas negras. — Tu sabes o que nos guarda o futuro. Uma maldição e um destino sombrio. É só o que tenho para ti.

— Nada sei de maldições ou do futuro. Sei do que sinto agora, junto de ti. Ademais, prefiro o destino sombrio que imaginas para mim do que a solidão de nunca o ter amado como poderia.

Beijaram-se porque era inevitável. Tocaram-se pelo mesmo motivo: porque assim devia ser. Ele estava perdido na maciez de sua pele, suas mãos incapazes de sorver tudo pelo que ansiava. Ela, inebriada em sensações novas, o explorava como se buscasse o caminho para casa.

Entre um passado triste e um futuro sombrio, perderam-se no presente tanto quando puderam, deixando que seus corpos buscassem refúgio um no outro. Por fim, ficaram deitados em silêncio, sonhando um presente eterno, sem maldições ou profecias, em que pudessem estar juntos. De repente, Giordano levantou-se de um pulo.

— O que foi? — perguntou Dorotea, assustada.

— Fomos descobertos.

Antes que pudessem fazer qualquer coisa, D.Ávila entrou na caverna arrastando algo pesado. Parecia enlouquecido.

— Encontrei a bruxa e o demônio. Sua utilidade acabou. — Disse, voltando-se para o lobo ensanguentado que arrastava.

— Jácomo!

Giordano mal teve tempo de gritar antes que D.Ávila disparasse sua pistola, acertando um tiro entre os olhos do lobo, que lentamente voltou à forma humana.

— O tolo achou que tivesse me despistado. Idiota. Infelizmente, os outros soldados que me acompanhavam fugiram ou foram mortos por outros animais. A floresta está enlouquecida, sabiam? São os demônios. Mas agora vou expurgar o diabo desta terra e, depois, vou terminar o que comecei com esta bruxa.

Giordano se transformou em lobo, enquanto D.Ávila apontava sua pistola. Dorotea sentiu que aquele seria o fim. E entendeu o que precisava fazer. Agarrou a adaga que estava no chão e correu contra o bispo. Ele não esperava por isso, estava preparado para enfrentar o lobo e foi pego de surpresa pelo movimento de Dorotea. Atirou na direção dela no momento em que a faca rasgava seu peito.

— Matei o monstro. — Sussurrou Dorotea para o lobo cinzento, seu ventre tingindo-se de vermelho. Sua respiração falhava.

“Não! Meu amor! Fique comigo.” — O lobo uivava de dor.

A maldição foi quebrada, ele podia sentir. Seus irmãos estavam livres e não compreendia porque não voltava à forma humana. E sentia-se mais amaldiçoado do que nunca, vendo a vida se apagando dos olhos de Dorotea. Gania deitado sobre seu corpo, sem notar que ela, lentamente, se transformava em uma bela loba prateada.

***

Dorotea e Giordano jamais foram vistos novamente.

Porém, com o tempo, mais e mais pessoas passaram a falar sobre um casal de lobos cinzentos, vagando sempre juntos na floresta. Diziam que protegiam os amores proibidos e os amantes desesperados.

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

28 comentários em “O Lobo da Colina Escarlate (Antonio Stegues, JP Félix da Costa e Kelly Hatanaka)

  1. Fabio D'Oliveira
    30 de setembro de 2024
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas!

    Dessa vez farei uma avaliação mais pessoal, apontando o impacto do conto em mim.

    Outro conto que trabalha com elementos fantásticos de forma bem sutil. Primeiramente, adorei o conflito principal do texto. A prova de fé de um religioso. É um assunto que não canso de ler, pois existem várias abordagens. Apesar do conto seguir pelo caminho mais óbvio, do amor entre um padre e uma seguidora da fé, temos um elemento que confere um tom diferenciado. Os sonhos. O conto tem um ritmo lento, ele se permite demorar um pouco. Como a escrita é boa, no geral, não é um problema. Leitores mais impacientes podem se incomodar com isso, porém. O final dá uma leve guinada nesse ritmo, mas nada que quebrasse a coesão narrativa do texto. E se quebrasse, não importaria tanto. O produto final ficou bom. O final poderia ser mais ousado, atendendo as expectativas mais simples do leitor, mas tudo bem.

    Gostei do conto.

  2. Renato Puliafico da Silva
    21 de setembro de 2024
    Avatar de Renato Puliafico da Silva

    Sem palavras… mas preciso comentar, né?
    Três talentosos escritores trabalharam em sinergia e entregaram um conto magnífico. Sou suspeito para falar, porque o tema me agrada profundamente.
    Nada muito original, mas isso não tira o mérito da obra. O que é ser original nos dias de hoje? Nem sempre o que é original agrada ou tem realmente um valor literário. D. Ávila me lembrou o Cardeal de Richelieu, de “Os três mosqueteiros”.
    As descrições, diálogos, o rico vocabulário. A qualidade se manteve alta do início ao fim. Eu me emocionei com final, assim como sempre me emociono ouvindo “Among the shooting stars”, da banda Sonata Arctica.

  3. Sílvio Vinhal
    21 de setembro de 2024
    Avatar de Sílvio Vinhal

    Há boa coesão entre os autores.  O conto flui com tenacidade e constrói um cenário convincente para a trama.
    Senti um tom de “dramalhão mexicano” — não é o estilo de escrita que mais gosto, porém, os autores foram muito felizes e, com certeza, é um dos poucos contos do desafio que parecem ter sido escritos por um só autor.
    No geral, faltou uma revisão mais apurada, mas nada que comprometesse a leitura.
    A partir de alguns clichês, foi construída uma boa história, um bom entretenimento.
    Parabéns pela participação no desafio, desejo sorte!

  4. vlaferrari
    19 de setembro de 2024
    Avatar de vlaferrari

    Uma estória bem coesa e onde fica difícil para o leitor saber que foram três autores/autoras. Ainda bem que as regras do desafio o disseram. Não creio que uma penitência com o látego seja cumprida em público. Geralmente, os padres se escondem para se penitenciar por conta da vergonha que sentem de si. Mas, relevando esse ponto, até que ficou bem legal. Pena que o arremate do conto foi um tanto apressado e antes houvesse regras para mais palavras. Daria gosto de ler cenas mais explícitas no embate final e na quebra da maldição.

  5. Gustavo Araujo
    18 de setembro de 2024
    Avatar de Gustavo Araujo

    Estou certo de que este é um dos contos mais coesos do desafio — se não for, de fato, o melhor nesse quesito. A impressão é de que foi escrito por uma só pessoa. Impossível, ao menos para mim, cravar onde um termina e onde outro começa. Nesse ponto, ou melhor, no que se refere à capacidade de emular o estilo inaugural — e para mim esse é o grande desafio aqui — os dois autores subsequentes estão de parabéns.

    A história em si é bem montada. Apresenta uma questão ético-religiosa e um drama de consciência, com o jovem padre que se apaixona por uma mulher — ela, alvo da atenção de outro religioso, mais poderoso. Em seguida a trama adota um tom mais afeto à fantasia, com uma comunidade protetora de lobisomens, até o sacrifício final da garota, também ela pertencente à raça dos lobos.

    É um conto que funciona bem, não só pela boa coesão, como já disse, mas pela pegada fácil, tranquila e fluida. Não há muitos sobressaltos e quando percebemos, o fim já está ali. Para quem aprecia esse tipo de leitura, mais próxima das fantasias adolescentes, é fácil ver-se satisfeito.

    Pessoalmente, prefiro mergulhos mais profundos, textos que trazem à tona dilemas filosóficos e existenciais — não apenas a diversão pela diversão, que, embora totalmente legítima, a mim soa descartável. Vale dizer, para mim, um texto bom precisa ser marcante, precisa me deixar desconfortável, precisa me fazer pensar nele por horas ou mesmo dias. Aqui, como tantos outros textos do desafio, o que se tem é uma boa história, simpática até, mas plenamente esquecível. Mas esta, reparem, é uma opinião que reflete meu gosto pessoal. Estou ciente de que há (muito) público para tramas deste tipo, mas infelizmente não me incluo nele.

    De qualquer modo parabenizo os autores e desejo boa sorte no desafio.

  6. Luis Guilherme Banzi Florido
    18 de setembro de 2024
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Olá, autores! Tudo bem? Primeiramente, parabéns pela participação num desafio tão dificil e maluco quanto esse!

    Início: o conto inicia bem interessante, com o amor proibido entre um padre e uma fiel, e um bispo fdp que sequestra a moça e pretende abusar dela. O ritmo da parte inicial é bastante flui e agradável, e a leitura deslanchou sem problemas. Não sei dizer em que momento o autor dois assumiu, mas tem algo nesse início que me deixou confuso: quem soltou a moça do cativeiro? Não pode ter sido o padre, pois ele não sabia do abuso do bispo. Talvez o outro lobo? Difícil, pois se fosse ele, ele saberia do bispo e alertaria o padre. Me parece que o autor 1 deixou isso em aberto para ser continuado, mas os outros autores esqueceram. Ah, a parte 1 tem alguns problemas de pontuação que precisam ser revisados, especialmente vírgulas.

    Meio: a parte 2 continua boa e bem escrita como a 1. Não sei dizer onde acontece a transição, o que é um bom sinal na coesão. O autor 2 faz bem o que se esperava dele nesse desafio: desenvolve o enredo, os personagens, acrescenta novos elementos e desenvolve o conflito. Além disso, tem mérito ao respeitar as ideias e indicações do autor 1, sem tentar subverter ou contar sua própria história.

    Fim: pra mim, aqui é onde o conto brilha. Novamente, não notei a transição entre autores, e o conto flui muito bem de uma parte a outra. Além disso, o autor 3 pega os elementos criados pelo 1 e desenvolvidos pelo 2 e os utiliza muito bem, conduzindo a um ótimo desfecho. Especialmente os últimos parágrafos foram ótimos, me deixando arrepiado. Curiosamente, o final é batsante clichê, o que mostra que clichê não é um problema quando bem utilizado. O final sem dúvida aumentou minha nota do todo, parabéns!

    Coesão entre os autores: o autor 1, chamado Jacob, uivou e rasgou a roupa, mostrando um peitoral sarado de lobão. O autor 2, chamado Bella, sentiu aquele arrepio percorrer a espinha e deu um gemidinho: “que homem! Digo, que lobo!”, o autor 3, novamente Jacob, pegou Bella nos braços (ou melhor, nas costas) com virilidade e levou pra caverna, heheheh. Em outras palavras: os 3 autores funcionaram muito bem juntos, quase de forma perfeita, exceto pelo esquecimento sobre quem liberou a moça, mencionado anteriormente. A parte 3 foi além e deu um brilho extra ao conto, com um ótimo desfecho.

    Nota final: muito bom.

    • Autor 2
      18 de setembro de 2024
      Avatar de Autor 2

      Pergunta: “esquecimento sobre quem liberou a moça”

      Resposta: “Debaixo da mais santa batina reside o pior dos demônios. Tens de a proteger dele como eu já fiz.” [Jácomo]

      Como?

      Javali que vê lobo se assusta e foge. Não pára nem para o bispo.

      • Luis Guilherme Banzi Florido
        18 de setembro de 2024
        Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

        Legal! Realmente, faz sentido! Deixei passar. Obrigado por responder!

  7. Priscila Pereira
    18 de setembro de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá autores! Tudo bem com vocês?

    Começo: Achei bem interessante, uma temática diferente do que encontramos nos desafios. A escrita está meio engessada, com uma pontuação estranha, mas nada que atrapalhe a leitura. Gostei do javali ter salvado a moça, infelizmente ele ficou se escanteio no resto do conto, sendo só uma coincidência que salvou a mocinha.

    Meio: A escrita é muito boa e conseguiu emular o estilo do autor anterior e as falas dos personagens muito bem, deu seguimento ao enredo adicionando novos personagens que deram peso a trama.

    Final: Conseguiu manter o estilo e a narrativa, mas deu um toque diferente, meio caliente… E um final diferente do que eu imaginava (bem melhor, na verdade), onde a mocinha acaba matando o verdadeiro monstro e salvando os lobos. Muito bom!

    Coesão: Achei bem coeso, tem algumas diferenças técnicas, mas nada que tirasse a imersão da história.

    Visão geral: Gostei bastante do conto! Ficou muito bom mesmo levando em conta que foi escrito por três pessoas diferentes!

    Parabéns aos autores!

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  8. claudiaangst
    18 de setembro de 2024
    Avatar de claudiaangst

    Meus cumprimentos e vamos ao que interessa.

    Neste desafio, usarei o sistema TÁ FEITO para avaliação de cada conto.

    ◊ Título = O LOBO DA COLINA ESCARLATE – O título é bonito, talvez algo sobrenatural?

    ◊ Amálgama = Não percebi a mudança de autoria.

    ◊ Fim = Os fins justificam os meios? Talvez… E a ordem dos fatores altera o produto? Permita-me começar pelo fim, observando o impacto causado na leitura.

    Desenvolvimento do tema lenda. Um final feliz? Depende do ponto de vista. Eu achei quase fofinho o casal de lobos. O(A) autor(a) 3 foi hábil na construção da parte final do conto.

    ◊ Entremeio = O(A) autor(a) 2 traz para a narrativa uma lenda que terá de ser melhor explicada pelo(a) autor(a) 3.  

    ◊ Início = A primeira parte do conto apresenta o conflito inicial – a paixão proibida de Doroteia e Giordano. A narrativa prende a atenção e instiga o interesse em saber o que acontecerá com os dois.

    ◊ Técnica e revisão = No geral, a narrativa é fluida. Narrativa feita em terceira pessoa. Percebi falhas no quesito revisão, citarei algumas aqui:

    […] púbis preto contratando com a pele alva > […] púbis preto constratando com a pele alva

    […] para assistir a missa > […] para assistir à missa

    um ruido > um ruído

    […] deslisou > […] deslizou

    A luz do Sol. que batia no assoalho, agora[…] > A luz do Sol, que batia no assoalho, agora[…]

    ◊ O que ficou = Foi tão bom ler esse conto quanto assistir a um filme do tipo O Feitiço de Aquila.

    Parabéns pela participação e boa sorte!

  9. bdomanoski
    17 de setembro de 2024
    Avatar de bdomanoski

    Quesitos avaliados: Entretenimento, Originalidade, Pontos Fracos

    Entretenimento Achei que os últimos 2 autores se sobressaíram , e fizeram uma boa receita com os ingredientes que receberam. O começo do conto foi menos entretivo que o meio e o final. Diálogos longos, excessivamente teatrais no íncio não me cativaram de imediato. Nunca fui muito fã dessa temática de catolicismo herege”, de como catolicismo tem gente falsa e do mal, etc. Sempre achei cansativo e chato, além de batido. Por isso o começo não me pegou muito ,mas gostei do resultado final, ao menos parcialmente. Talvez preferisse um final épico e alá Titanic com a Dorotea matando o lobo quando recebeu a adaga. No fim, tiveram um final feliz, com o vilão se dando mal. Ficou um pouco clichê no sentido de que a ma ioria dos finais são felizes. Então acho que desperdiçou uma chance de causar um maior impacto no fim, embora deixasse ele tremendamente triste.

    Originalidade Como dito anteriormente, a temática de “catolicismo estrebuchado” nunca foi de meu interesse, e acho que já foi usado até a exaustão, de forma que já não causa nenhum impacto além de desgaste ao ler algo repetido. Porém gostei do plot restante do conto, o padre Giordano foi um bom personagem, e gostei da trajetória de lobo dele, bem como do Jácomo e da Dorotea. Até mesmo o Dom Avila. Os personagens foram bem montados.

    Pontos Fracos Os comentados anteriormente. No geral, pela boa coesão e trajetória dos personagens, irei dar uma boa nota. Foi entretivo, também, a partir de certo momento.

  10. Jorge Santos
    15 de setembro de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, trio.

    Gostei do vosso conto, que tem referências curiosas, talvez inconscientes. A minha entrada no Entrecontos foi no saudoso desafio Imagem 2017, vulgo Desafio do Javali. Também ele surge aqui, de uma forma fugaz. Depois, existe o nome de Ávila, que remete ao filme Lady Hawke, que creio ter sido chamado de O Feitiço de Ávila, que narra a história de dois amantes amaldiçoados. De dia ele assume a forma humana e ela de águia, de noite ela transforma-se em humana e ele em lobo. Apenas se vêem por segundos nas suas formas originais durante as transformações. Creio que este conto é uma clara referência a este filme, surgindo como clara crítica aos abusos sexuais dentro do seio da igreja católica e também ao poder instituído a esta instituição no passado, levado aos limites pela supostamente Santa Inquisição.

    O início do texto tem alguns erros gramaticais, especialmente de concordância das formas verbais e utilização dos pronomes. A segunda e a terceira parte pareceram mais fluídos e isentos de erros.

    Mais do que em outros textos deste desafio, fiquei com a ideia de que a ideia inicial era apenas metafórica – o lobo seria o homem, a colina escarlate refere-se às vestes cerimoniais do padre. Neste sentido, o texto seria apenas uma crítica aos abusos sexuais perpetrados pelos elementos do clero, levados ao limite. Preferia ter lido um conto nestes moldes, sem a intervenção de elementos sobrenaturais.

  11. JP Felix da Costa
    12 de setembro de 2024
    Avatar de JP Felix da Costa

    A fantasia é o estilo mais fácil de criar, pelo leque ilimitado de opções que apresenta, e dos mais difíceis, porque esse leque facilita muito que as histórias percam a ligação a uma realidade, nem que seja alternativa. Nesta historia senti que os 3 autores conseguiram não cair nesse erro ao criarem uma história bem estruturada e em que as passagens do testemunho foram bem realizadas.

    Apesar de não ser perfeito, e seria algo extraordinário se tal acontecesse num desafio como este, este conto cumpre com os requisitos do certame e oferece bom entretenimento.

    Era capaz de ler mais histórias inseridas no universo desta. Como fantasia, falta um enquadramento maior do mundo onde se desenrola a ação, como se esta fosse apenas uma parte de um todo maior.

  12. Fernando Cyrino
    10 de setembro de 2024
    Avatar de Fernando Cyrino

    Olá, amigos/amigas do desafio. Eis que chegou à gruta onde se esconde o padre lobo. Puxa, que história mais criativa, mais rica vocês desenvolveram! Ficou bem legal a narrativa de vocês. Vê-se rapidamente que se trata de três autores experimentados. Três escritores que vão escrevendo como se tivessem se reunido anteriormente e combinado o enredo. Mas senti algumas dificuldades, principalmente com o bispo. Senti um tanto estranho que ele, depois de ferido nas pernas quando ia consumar a violação, pelo javali (seria associado aos lobos?) vai atrás do lobo escarlate e de Doroteia, sendo que ao chegar na gruta ele ainda carrega o lobo ferido, o padre Jiacomo. Bem, mas coisa de somenos. Um conto que, sim, me prendeu a atenção, que me fez curtir bem a sua leitura. Fiquem com o meu abraço e com os votos de muito sucesso no desafio.

  13. André Lima
    10 de setembro de 2024
    Avatar de André Lima

    É um conto justo, com muitos elementos shakespearianos, inspirado nas grandes tragédias européias.

    A história possui diversos clichês e algumas facilitações narrativas (Personagens que se escondem perfeitamente, personagens que abruptamente são encontrados), além disso, parece-me que há uma dramaticidade exagerada que não teve espaço para ser comprada pelos leitores. Não senti esse amor de ambos, não tive tempo para criar laços com os personagens. Parece que estou lendo o roteiro de uma peça teatral, talvez de uma ópera ou um suco de Shakespeare com umas gotas de fantasia, mas que de fato não emerge totalmente no estilo…

    Senti falta de uma poética maior, de algo que me transportasse para o século XVII e me fizesse comprar a história. A força dessa história está totalmente em seu estilo!

    A falta de unicidade me incomodou em alguns pequenos pontos: ora os diálogos são teatrais, ora não são. Mas, no geral, há um excelente fluxo de estilo narrativo.

    Não é o tipo de história que normalmente me chama a atenção. Por isso, estou na tentativa de avaliar o conto tecnicamente. A escrita é boa, o fluxo é bom, a história foi amarradinha…

    Mas senti falta de uma linguagem poética, de uma maior imersão e de uma sensação de estar assistindo uma verdadeira tragédia, para, quem sabe, me emocionar.

    É um conto justo, mas que não me tocou.

    • André Lima
      10 de setembro de 2024
      Avatar de André Lima

      Ah, faltou complementar que há muitos problemas de revisão no texto. Isso, em alguns momentos, dificultou a imersão. Nada muito grave.

  14. Leo Jardim
    10 de setembro de 2024
    Avatar de Leo Jardim

    🗒 Resumo: numa cidade do interior, temos uma mulher apaixonada pelo padre e que foi sequestrada pelo bispo para ser violentada, mas foi salva por um javali. Depois o bispo resolve entregar os dois e o padre vira um lobo, se escondem numa caverna, onde ela mata o bispo e vira lobisomem (ou lobimulher?) e, assim, eles puderam viver juntos seu amor.

    📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): eu, no geral, gostei da história, mas me incomodei um pouco com algumas inconsistências e o e excesso de informação. Primeiro, o javali era um licantropo amigo dos lobos ou foi só uma coincidência mesmo? Outra coisa que me incomoda em geral em qualquer história é esse conceito de mal entendido, quando o cara pega o outro em uma situação diferente no exato momento pra entender outra coisa. Isso acaba deixando o conto novelesco. De qualquer forma, não atrapalhou muito, pois o bispo já sabia que o padre e a beata eram amantes, ou ao menos se desejavam. Mas como ele soube? Enfim, achei meio colcha de retalhos esse conto, que começou como uma história do interior do Brasil pra entrar uma inquisição que queima bruxas e ainda com lobisomens e profecias.

    📝 Técnica (⭐⭐▫▫▫): conta a história com eficiência, mas achei um pouco truncada em alguns pontos. Alguns errinhos também incomodaram a leitura, mas nada que uma revisão não resolva.

    ▪ um pouco confusa o segundo trecho, com muita informação em um curto espaço, muitos nomes desconhecidos. Nomes em um conto geralmente levam o leitor a pensar “eu conheço esse?” e é bom usá-los quando já são bem conhecidos ou explicando-os com aposto

    ▪ o púbis preto *contratando* com a pele alva (constratando)

    ▪ um *ruido* despertou sua atenção (ruído)

    ▪ jogou sobre a faca, e puxou *ponto* Porém, o vestido deslisou por cima da faca

    ▪ A luz do Sol *vírgula* que batia no assoalho, agora estava na parede▪ Ele virou as costas *a* (à) igreja

    🧵 Coesão (⭐▫): em termos de estilo, não vi muita diferença entre as partes, mas achei que houve uma mudança de estilo do texto, de algo mais faroeste brasileiro pra fantasia e inquisição.

    💡 Criatividade (⭐⭐▫): ok

    🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫): demorei muito tempo absorvendo esse conto, porque eu gostei de ler ele. Mas também fiquei incomodado com vários pontos, como disse acima. Eu preferiria o final em que ela ficaria morta, teria maior impacto, mas não achei ruim também como ficou. Enfim, um bom impacto, mas com gostinho de que poderia ficar maior.

  15. Victor Viegas
    8 de setembro de 2024
    Avatar de Victor Viegas

    Olá, entrecontistas!

    Gostei da escrita do primeiro autor, conseguindo transmitir a atmosfera necessária para o seguimento do conto. Logo nas primeiras linhas entendi o desenrolar do sentimento amoroso de uma devota com o padre paroquial. Contudo, meu nobre escritor, algumas escolhas de vocabulário se mostraram equívocas para o ambiente eclesiástico, como em “Com certeza você encontrará o homem dos teus sonhos algum dia”, mais especificamente em “homem dos teus sonhos”. Não seria um “homem enviado de Deus?”, a palavra “sonho”, ou seja, algo completamente abstrato não combina com a resposta de um estudioso das escrituras sagradas.

    Se a personagem não considera ser pecado o amor pelo padre e ainda afirma, com convicção, ser uma benção divina, qual o motivo da confissão? Além disso, a dúvida que ela deixa no prolixo monólogo contradiz as primeiras falas. Afinal, seria pecado ou não, na concepção dela? “Eu quero só tu, mais ninguém”, acredito que a resposta poderia ser mais dramática que apenas sete palavras, pois ela, de certo modo, foi rejeitada e precisa expressar o amor que sente. Encare como uma forma de Romeu e Julieta e pese na carga emocional, em vez de uma resposta simples, genérica e generalista, o que contrasta com a dissertação proferida na fala anterior.

    As descrições estão muito boas, se as interações iniciais tivessem seguido esse mesmo padrão, elevaria o conto. Igual ao mágico aparecimento de Jácomo, as conversas seguintes ficaram mais verossímeis e, finalmente, consegui entender os personagens. Obrigado autor lusitano! As ações da Dorotea fogem do que seria lógico de uma vítima de abuso e a sequência de cenas parece muito conveniente, no estilo “Ah! Eu sei quem foi”, “Ah! Eu sei o que fazer”, “Ah! Fazendo isso eu vou ter essa resposta”; embora bem escrito, sai um pouco do campo da realidade.

    Este conto me lembrou de uma montanha-russa. A gente sabe o propósito, o começo é chato e arrastado, mas, depois de pegar impulso, consegue ser muito emocionante, a ponto de querer repetir a aventura. Aplaudo os três autores, a gente precisa ser exigente nos comentários, mas vocês construíram uma bela obra que merece uma continuação.

  16. Thales Soares
    6 de setembro de 2024
    Avatar de Thales Soares

    Esse conto é muito bom, e parece ter se favorecido por pegar 3 autores incrivelmente habilidosos para compô-lo. No entanto, fiquei com alguns sentimentos contraditórios durante a leitura. A parte fantástica envolvendo figuras de lobos, e momentos parecidos com o Goku se transformando num macaco gigante ao olhar para a lua cheia, me desagradaram ao mesmo tempo que me agradaram. A história começou com um tom no estilo Roque Santeiro e terminou com um tom no estilo Fábulas de Bill Willingham. Não que o terceiro autor tenha fugido da proposta inicial… na realidade, os três autores me pareceram trabalhar de forma absolutamente coesa, e esse é o ponto forte do conto. Porém, o rumo tomado durante a narrativa, e algumas decisões tomadas, não me agradaram totalmente. Senti, em alguns momentos, alguns leves furos (que vou discutir sobre, logo adiante), mas vamos falar parte por parte:

    O primeiro autor criou uma base bastante sólida para a história, posicionando o trio de personagens: Giordano, o bispo Diogo Ávila, e a dama Dorotea. Todos são muito interessantes, e os três autores trabalham com eles de forma muito bem, explorando seu desenvolvimento e suas personalidades. O Giordano é um padre, e Dorotea frequenta suas missas e fica olhando para ele com olhos de desejo. Pensei, inclusive, que este seria um conto erótico… mas ele acaba caindo mais para o fantástico do meio para o final. Com essa situação de amor proibido, Dorotea confessa seu amor por Giordano. O sentimento é recíproco, no entanto, Giordano é bastante fiel, e não quer renunciar à igreja para ficar com sua paixão.

    Então o bispo D’Avila, que sente tesão por Dorotea, a sequestra, e bola todo um plano para estuprá-la. O plano vai por água abaixo quando um javali o ataca, ferindo uma região próximo às suas bolas do saco. Dorotea acorda, vê que está presa, e tenta fugir… e aqui encerra a parte do primeiro autor… mas não antes de vermos um sonho sobre lobos, no qual eu acredito que o autor original pretendia trabalhar como uma metáfora, mas seus sucessores interpretaram de forma mais literal.

    O conto tinha tudo para ser destruído logo em seguida, pois possuía muita coisa para ser resolvida. Mas o autor 2 foi um mestre e, além de conseguir manter o nível de qualidade da escrita, ainda manteve a linha de narração de forma constante, e foi desenvolvendo a trama conforme os passos dados inicialmente por seu antecessor. Aqui somos apresentados a Jácomo, outro personagem interessante, que se mostra ser um amigo antigo de Giordano (nomes esquisitos, né? Gostei!).

    Ao mesmo tempo que o autor 2 insere elementos muito interessantes, ocorrem alguns eventos que eu tive que fazer um pouco de força para engolir. Como por exemplo… a Dorotea, que foi SEQUESTRADA, e quase estuprada, tinha certeza de que o culpado era o bispo. Ela contou para a polícia, ou para algum amigo, ou para seus pais? Não. Ela foi para a igreja, onde residia o seu estuprador, e inclusive ele a viu por lá. Por quê, meu deus? Então ela pensa em contar tudo para Giordano, mas muda de ideia… e nos dias seguintes ela continua frequentando a missa, como se nada tivesse acontecido. É como se ela estivesse implorando para ser sequestrada de novo, ou pedindo por algum tipo de desgraça… e não deu outra! Achei o comportamento dela bastante irracional e difícil de compreender.

    Porém….. uma parte que achei MUITO interessante aqui foi o mal entendido do bispo D’Avilla, que tem certeza absoluta que ela contou tudo para Giordano. Eu estava torcendo para que todo esse mal entendido crescesse, e fosse ainda mais explorado. Seu ápice é quando o bispo faz as acusações durante a missa, dizendo que Giordano se rendeu aos seus pecados, e que a Dorotea é uma puta louca, que seduziu o padre. Para mim, esse foi o clímax da história! Fiquei empolgadíssimo quando os guardas chegaram para prender os dois. Mas……….. me decepcionei completamente quando a história mudou seu estilo (nas mãos do mesmo autor, eu acho), e assumiu um tom mais mágico, no estilo Harry Potter, com Giordano virando uma espécie de lobisomem com seus poderes ancestrais (ou a maldição de sua espécie), e na hora que apareceram todos os lobos. Apesar de eu adorar algo mais fantástico, dessa parte em diante a história foi me perdendo cada vez mais.

    Então surgiu o terceiro autor, recitando uma lenda antiga, meio que do nada, entre os capítulos da história. Ele fez isso pois sentiu a necessidade de criar algum tipo de embasamento para a conclusão que ele mesmo daria para essa história. Senti que essa foi uma pistola de Tchekhov disparada tarde demais. Se esse mesmo poema tivesse sido recitado antes do primeiro capítulo, aí seria genial!!! Mas aqui, a esta altura do campeonato, me pareceu um pouco deslocado demais.

    Não me entenda mal, autor 3. Acredito que você fez o melhor possível para este conto que, ao meu ver, estava ultra complexo, cheio de subtramas, e extremamente difícil de fechar. Parecia o conto da Marcele, do desafio passado, onde a história era sobrecarregada de informação. Inclusive, acho que foi por esse motivo que demorei tanto para ler este conto do Lobo… tinha muuuuita informação, e de tempo em tempo eu tinha que fazer pausas, para descansar um pouco a mente e absorver tudo que eu tinha lido.

    Aí o Giordano foi para um caverna junto com Dorotea. Eles se abraçaram, e ele ficou com o pau duro, cutucando a dama com sua espada (mas isso foi descrito de forma bem mais sutil e poético na história). Eles tiveram um tempo de curtição, conversaram sobre a profecia (esta eu achei a parte mais confusa da história, mas tudo bem), e então Giordano disse “Acho que… acho que eu sou o monstro, e você vai ter que pegar essa adaga aqui e me matar”. Ele disse isso do nada, sem embasamento em nada, e estava convicto a dar a vida por uma coisa que ele nem tinha conseguido interpretar direito. Aí a Dorotea falou “Não acho que seja isso”, e ele falou “Acho que é sim. Pode me matar, vai”. Mas ela recusou, e optou por namorar o padre. Mas aí chegou o D’Avilla, para o confronto final! Achei muito interessante a cena da chegada do bispo, e eu realmente me empolguei aqui! Ele matou aquele amigo do Giordano com um tiro na testa.

    Aí quando a batalha final finalmente estava para começar… o limite de palavras do autor 3 acabou, e ele teve que resumir tudo, e fez Dorotea, que estava dentro do campo de visão do bispo, enfiar a faca na barriga dele, assim matando-o. Caso houvesse mais palavras disponíveis, creio que daria para fazer algo bem mais interessante, com uma cena de luta mesmo, e a Dorotea chegando de surpresa por trás, para matar o vilão. Mas enfim…. com isso a profecia foi cumprida, e percebemos que Giordano interpretou tudo errado mesmo. O final, com Dorotea e Giordano formando um casal de lobos, foi bacana…. mas explícito demais. Eu preferiria que tivesse ficado mais subentendido, para cada leitor ter sua interpretação.

    No geral, o conto foi bom… mas com algumas partes um pouquinho confusas (ou inverossímeis, ao meu ver… mas bem pouco). O que mais me desagradou foi o excesso de informação e de acontecimentos, e também a mudança repentina para algo mágico, numa história que a princípio parecia que teria um teor mais adulto. O final tentou ser super épico, mas eu já estava um pouco cansado e desanimado desde o clímax, que, para mim, foi naquele momento que D’Avilla entregou Giordano e Dorotea, contando tudo para os fiéis. Ali, fiquei com um pequeno gosto de decepção, devido aos elementos à lá Harry Potter que começaram a surgir, e eu só fui recuperar minha empolgação na história no momento em que D’Ávilla teve seu confronto final com Giordano, que, para mim, foi um embate meio murcho, mas que eu entendo perfeitamente, pois o autor 3 provavelmente estava com poucas palavras sobrando.

    De qualquer forma, quero parabenizar os 3 autores, por terem criado algo bastante conciso e divertido. Li metade dos contos até agora, e este foi um dos meus preferidos.

    • Autor III
      6 de setembro de 2024
      Avatar de Autor III

      Caro Thales.

      É sempre um prazer receber seus comentários pétreos. Por vezes, um tanto sofrido, mas sempre um deleite.

      Pude ver que sua leitura foi atenta e cuidadosa. Quero apenas comentar duas coisas, uma delas que diz respeito a mim e outra não.

      A que diz respeito a mim é a lenda largada no meio do texto. Creia-me, não houve alternativa. A ideia da lenda foi lançada pelo segundo autor (uma ideia excelente, penso) e eu não podia simplesmente largá-la de lado. Se ele citou uma lenda, ela tem que ser desenvolvida. A arma de Tchekov foi disparada tarde porque não havia possibilidade de dispará-la antes.

      A que não diz respeito a mim é seu comentário sobre a atitude de Dorotea após a tentativa de estupro ser estranha. Não diz respeito a mim porque foi escrita pelo segundo autor. Caro colega, hoje em dia, em pleno século 21, o estupro é um crime subnotificado, por muitos motivos. O conto não deixa claro o período histórico, mas dá para perceber que é no passado, talvez 1800 e alguma coisa. Imagine uma mulher reportando uma tentativa de estupro, acusando uma figura de poder, numa cidade que parece ser pequena. Você acha que existia a delegacia da mulher naquela cidade? Para condená-la a morte não foi necessário julgamento, apenas a palavra do bispo. Você acusaria o bispo de alguma coisa?

      Finalmente, é preciso dizer que é impossível esperar coerência e lógica de uma vítima de estupro (ou de tentativa).

      Autor III

  17. Pedro Paulo
    1 de setembro de 2024
    Avatar de Pedro Paulo

    COMENTÁRIO: Amores proibidos são instigantes, mas aqui não foi o que senti. O conflito é delineado com agilidade, nos três primeiros parágrafos estabelecendo dois dos protagonistas e a relação impossível pela qual anseiam. Depois disso, entretanto, foi quando comecei sentir alguma atrapalhação, com a transição brusca para um terceiro personagem que se refere a todos os outros por nomes que ainda não tinham sido informados. É brusco, mas até aí ainda funciona, a confusão cessa logo e fica claro quem é quem e uma nova trama se impõe, com um predador se esgueirando entre a paixão impedida dos dois jovens. Isso já era bastante interessante e até o sequestro, parecia que já havia conflitos o bastante para serem resolvidos dentro da trama, mas então a figura do javali e toda a profecia licantrópica entraram e senti um excesso de subtramas compondo o enredo principal, tirando o espaço de desenvolvimento dos personagens. O que achei melhor caracterizado foi, paradoxalmente, o d’Ávila, cuja certeza de que iria para o céu, por exemplo, revela a profundidade da sua psicopatia. Escrevo isso como paradoxo porque os dois personagens principais são desenvolvidos apenas em torno do relacionamento entre ambos, exceto por Giordano, que ganha um pouco mais de desenvolvimento pelo seu dilema entre a fé e a profecia. A questão é que, para mim, todo esse lado envolvendo os lobos e tal, ainda que conste no título, apareceu meio deslocado, mais a esmagar a história do que acrescentar a ela. Por isso, ter um dos protagonistas mais diretamente envolvido com isso não ajudou muito, em minha opinião. Assim sendo, achei a leitura cansativa, com subdivisões que não se justificam em todo, como, para demonstrar, aquela que contém os versos soltos da profecia do Rei Licão, o que me pareceu pouco habilidoso de se inserir dessa maneira no meio do conto. Não acho que é obrigatório que tenha, digamos, algum personagem declamando os versos ou os lendo em um livro, mas me pareceu despropositado na forma como foi inserido. O final do conto me desceu sem impacto, pois eu já tinha perdido um pouco do interesse e desfavoreci todo o enredo dos lobos, de modo que todo aquele final de entrega, sacrifício e conversão em lenda popular me veio açucarado demais para que pudesse gostar. Referindo-me agora à revisão, li um “intensão” e um “deslisou”, além de ter visto vírgulas inapropriadas, o que desviaram a atenção. Entretanto, lembro de encontrar esses tropeços somente no início do texto. Apesar de ter escrito uma crítica mais desfavorável, reconheço que o conto ainda está devidamente estruturado e resolve todas as narrativas que abriu, sinalizando sincronia entre as autorias envolvidas.

  18. rubem cabral
    29 de agosto de 2024
    Avatar de rubem cabral

    Enredo: Muito Bom. A paixão de um padre e uma fiel é desafiada pela luxúria do bispo pela mesma fiel e por uma antiga maldição de licantropia. Senti falta de alguma definição quanto ao tempo e ao espaço, quando e onde a história se passava, mas isso é detalhe.

    Escrita: Boa. Há alguns poucos erros de grafia, mas o conto está bem escrito e tem bom vocabulário e bons diálogos.

    Personagens: Muito Bom. Os personagens são bem desenvolvidos, principalmente o padre, o bispo e Jácomo. Achei que Dorotea ficou um pouco no 2o plano.

    Coesão: Excelente. Não dá para se notar a troca de autores, mesmo a introdução de um novo personagem foi feita de forma orgânica. O primeiro autor introduziu o conflito e os personagens, o segundo deu desenvolvimento ao tema e conflito e o terceiro concluiu respeitando os personagens e os elementos da história apresentados até então.

  19. Fabio Baptista
    28 de agosto de 2024
    Avatar de Fabio Baptista

    X Sensação após a leitura: Caramba, que conto legal!

    X Alguns pontos para uma revisão mais atenta:

    x pela criada que levou para ele, o chá das 15 horas
    x Não pensou em mais nada a não ser, sair dali
    x ruinas
    x ruido
    x deslisou

    X Conclusões:

    No começo, apesar da boa escrita, fiquei com receio de que o conto fosse sofrer com o problema de querer colocar muita história em pouco espaço, espremendo em 4 mil e poucas palavras a história que exigiria no mínimo 40 mil. É bem verdade que há elementos suficientes para se criar um romance, mas não tive a sensação de que a história ficou “espremida” ou resumida demais.

    A sinergia entre os autores foi muito boa, com alguns “levantamentos e cortadas” bem executados.

    Acho que o maior mérito aqui é que todos apenas se concentraram em contar uma boa história. É só mais uma história de lobisomem? Sim, mas e daí? Ela foi bem contada, teve bons personagens, um ótimo vilão, reviravoltas… o kit completo para um bom entretenimento.

    MUITO BOM

  20. Kelly Hatanaka
    27 de agosto de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Olá, caro colega entrecontista!

    Primeiramente, parabéns pela participação corajosa e desapegada.

    Vou avaliar e comentar de acordo com meu gosto, não tem muito jeito, afinal não tenho conhecimento nem competência para avaliar de forma mais “técnica”. Ou seja, vou avaliar como leitora mesmo. Primeiro, cada parte separadamente, valendo 1 ponto cada. Depois, a integridade do resultado, valendo 3 e, por último, o impacto da leitura, valendo 4.

    Começo

    O começo iniciou como uma história de romance clichê, de mocinha que se apaixona pelo padre, sentimentos de desejo e culpa. Surgem os lobos, o do sonho e o que a salva, e temos aí um gancho para manter a história interessante. Achei muito bom este começo, criou interesse, criou um gancho e desenvolveu bem os personagens. De cara temos um antagonista bem definido, facinho de odiar, e um casal de mocinhos interessante. Peguei uns errinhos de revisão, mas coisa pouca, que não atrapalhou a leitura.

    Meio

    O autor do meio mandou muito bem. A troca de autor ficou imperceptível. Manteve o estilão e as características dos personagens, manteve inclusive o clima de romance clichê. Introduziu um personagem que enriqueceu a história, aumentou a tensão, desenvolveu o drama de Giordano e de quebra tacou uma profecia na mão do próximo autor.

    Fim

    O autor da parte 3 também mandou bem. Novamente, a troca ficou imperceptível. Até algumas expressões usadas na primeira parte foram replicadas aqui como “súbito”. Senti que esta parte ficou meio corrida, mas o autor precisou expor e explicar uma profecia, desenvolver o romance e concluir o conflito. Gostei do final trágico e estou aqui tentando achar o final feliz que os outros comentaristas mencionaram. Puxa, os dois amantes foram transformados em lobo, desde quando isso é final feliz?

    Coesão

    Excelente, este conto parece ter sido escrito por uma pessoa só.

    Impacto

    Gostei muito. Apesar de não ser especialmente fã de romances, achei a história toda muito bem desenvolvida, sem lacunas, tudo coerente e bem amarrado. Tive a impressão de que todos os elementos foram bem aproveitados e nada ficou largado. Uma leitura gostosa e interessante.

  21. Leandro B.
    25 de agosto de 2024
    Avatar de leandrobarreiros

    *Todo e qualquer crítica refletem mais um ponto subjetivo meu do que qualquer outra coisa. Outro leitor pode achar o oposto.
    Eu gostei da história, no geral. Ficou bem amarrada e se não soubesse das regras do desafio não suspeitaria que foi escrita por três autores.
    Temos uma primeira parte focando no pov de Dorotéia, a segunda parte na de Giordano e finalmente o encontro da narrativa no final, com um pouco do pov do bispo espalhado aqui e ali.
    Na parte inicial, achei estranho alguns usos de vírgula. Gramática não é meu ponto forte, mas, sei lá. Apenas como sugestão de possível revisão:
    “O fato seria confirmado pela criada que levou para ele, o chá das 15 horas.”
    “Não pensou em mais nada a não ser, sair dali.”
    “Depois segurou firmemente o tecido por um uma ponta e o jogou sobre a faca, e puxou, porém, o vestido deslisou por cima da faca sem mexer um milímetro sequer.”
    Também acho, e isso é algo extremamente subjetivo, que muitas vezes metáforas funcionam melhor sem serem explicadas. Aqui, por exemplo:
    “Sentiu a boca salivar, como se estivesse diante de um prato de comida saborosa.”

    Acho que seria mais impactante com, simplesmente, “salivava”, ou algo do tipo, deixando para o leitor fazer a conexão.
    De todo modo, a parte inicial da história construiu o conflito de maneira bastante competente: a tensão sexual entre Dorotéia e Giordano e a nítida definição do antagonista. O autor também deixou claro que o sonho deveria ter papel significativo na história e o autor seguinte conseguiu pegar todos os elementos e desenvolvê-los muito bem.
    A adição de um novo personagem para mover o enredo também foi uma decisão inteligente.
    Finalmente, na terceira parte termos a conclusão dos conflitos anteriores. A última parte está muito bem escrita, embora tenha achado a intervenção dos bispo com guardas meio… abrupta. Mas eu entendo, afinal são apenas 1500 palavras para conseguir fechar tudo.
    Eu preferiria um final mais trágico, embora esse também funcione bem.
    Em tempo, achei que o próprio bispo se transformaria em lobo no fim, antes de ser morto por Dorotéia, afinal ele havia sido atacado por Giordano e sobrevivido.

    • Leandro B.
      25 de agosto de 2024
      Avatar de leandrobarreiros

      Hmn, não atacado, mas espantado. Acho que imaginei a cena diferente kkk. Ignora a última parte.

  22. Antonio Stegues Batista
    23 de agosto de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Resumo da história; Giordano é um padre da Igreja Católica, que é amado por Dorotéa, que é desejada pelo Bispo Dom Ávila. Giordano também ama a jovem e pratica a autoflagelação para pagar o seu pecado. O bispo sequestra a moça e a leva para uma cabana abandonada para satisfazer seus desejos carnais, mas ele sofre um acidente e abandona o local. Dorotéa fica presa na cabana e é salva por Jácomo, membro dos lobos, do qual Giordano faz parte. Ele é descendente do rei Lycaon, punido pelos deuses, cujos descendentes se transformam em lobos. Para evitar ser acusado de ter raptado Dorotea, o bispo tenta matar os dois, mas Giordano o mata, salva a garota Ela se transforma em loba e os dois fogem e tem um final feliz.

    Não encontrei erros, a história está bem escrita, gostei da ambientação também, especialmente as descrições na cabana abandonada. O conto começa de uma maneira, um padre que acredita em um só Deus, mas vive com a maldição de vários deuses, aqueles dos mitos gregos que lançaram uma maldição sobre o rei e sua descendência.. Dá impressão de dois mundos, o mundo real e o imaginário, a Fantasia, se bem que licantropia (Ser humano que se transforma em lobo) está mais inserido no gênero Terror.

  23. Fabiano Dexter
    21 de agosto de 2024
    Avatar de Fabiano Dexter

    Excelente o conto! Nem parece ter sido escrito a seis mãos. Se não tivesse lido as etapas anteriores ficaria sem saber ao certo onde começa a escrita de um autor e começa a outra.

    A história é bem interessante, ficando apenas pouco claro o momento histórico em que ela passa. Começamos achando que é um conto recente e passamos a entender que é algo que se passa na Idade Média, muito provavelmente na Europa, já que temos Lobos na história.

    O texto flui bem, mantendo um ritmo bom e passando por diversos pontos de tensão, como a soltura de Dorotéia e a primeira aparição de Jácomo. Assim garante o interesse do leitor durante todo o tempo.

E Então? O que achou?

Informação

Publicado às 30 de junho de 2024 por em Começo, meio e fim e marcado , , .