EntreContos

Detox Literário.

A Vida Que Eu Te Dei (Amanda Gomez)

Eu morri.

É engraçado pensar dessa forma… Eu morri. Não sei quem esteve presente no meu velório, que roupas vestiram meu corpo ou quais flores enfeitaram o salão. Se houve discursos emocionados e quais histórias os presentes contaram sobre minha passagem em suas vidas.

Bom, não teria como saber, não é mesmo? Estava morta. Mas então, por que não me parecia assim? Não com Olavo deitado ao meu lado, olhos opacos, um rastro de lágrimas tatuado em sua face. Apoiada sobre o cotovelo e com as mãos trêmulas, fechei suas pálpebras delicadamente.

De súbito, memórias daquele dia invadiram meus pensamentos.

Encostadas uma na outra, no alto do rochedo, deixamos o sol esquentar agradavelmente nosso rosto.

“Eu não esperava que você estivesse aqui nesse momento, mas estou feliz’’.

“Sempre vamos passar o aniversário juntas, esqueceu?’’

Ela ficou em silencio, virei-me pra ela. Sorriu.  

“Você está feliz?”

Assenti.

“Vai ser a maior pianista que esse mundo já viu?’’

Balancei a cabeça, sorrindo.

“E você está?”

Ela me olhou longamente, acariciou meu rosto.

“Me promete uma coisa, Mari?”

“Sim, Monize.”

“Faça valer a pena, a vida que eu te dei.”

Demorei para entender o que estava acontecendo, me prendi à beleza do seu corpo precipitando-se em direção ao fundo. Só então percebi que não era eu ali, era Monize, minha outra metade, meu reflexo. Ela que se apavorava só de pôr os pés na água. Me joguei em seguida.

Desespero.

Ainda consegui segurar sua mão antes de sermos sugadas pela correnteza até a cachoeira.

***

Deixei escapar um soluço e então os acontecimentos dos últimos tempos pesaram sobre meu corpo. Olhei ao redor, em prantos, estava em uma velha choupana com cheiro ocre e mofo, deitada em uma cama de colchão gasto e lençóis encardidos ao lado do corpo de Olavo, meu primo. Levantei da cama e fui até o espelho grande que tinha no quarto, passei a mão para limpar a poeira. Eu não me reconhecia, os olhos azuis projetados vermelhos e inchados, os cabelos desgrenhados em uma confusão de cachos. Tentei alinhar as alças dos vestidos, passando as mãos pela seda amarrotada. O pescoço arroxeado ainda sensível.

— Quem é você? — Sussurrei para o reflexo.

— Quem é você?! — Gritei, espalmando a mão no espelho que se partiu sobre meus pés.

Como chegara até ali? A resposta era única. Roubei uma vida que não me pertencia.

***

Ouvi a porta se abrindo, mas não me mexi, permaneci enrolada sob os lençóis olhando para o nada. As cortinas foram afastadas com brusquidão. Fiquei surpresa, esperava que os raios de sol invadissem o quarto escuro e não a luz agradável do luar.

Perdi a noção do tempo.

Minha mãe continuou movimentando-se pelo quarto em um silêncio irritante. Fechei os olhos tentando ignorar sua presença, mas ela estava fazendo muito barulho.

— O que é isso, mãe?

Havia várias caixas empilhadas sobre a cama.

— Limpando o quarto, gostaria de fazer isso sem você aqui, mas já que decidiu viver aqui o resto de sua vida, pelo menos vamos arranjar mais espaço.

Eu não podia acreditar no que estava vendo.

— Não mexa nisso! — Ordenei, levantando-me e tirando as coisas das caixas.

— Uma hora teremos que nos livrar disso!

Ela continuou a falar automaticamente, colocando tudo que podia nas caixas, enquanto isso eu tentava me recuperar da dor que a atitude dela estava me causando. Nunca fomos apegadas. Mas saber que para ela eu era só um espaço ocupado doía. E muito.

— Para! — Falei, puxando as roupas das caixas novamente, as lágrimas não faziam mais cerimônia. — Saia daqui, não mexa nas minhas coisas!

Congelei diante do que falei, ela me encarou, não consegui distinguir que sentimentos passaram em seu semblante.

— Eu sei que está doendo, minha querida. Mas vai passar. Sua irmã está morta. E está na hora de você seguir a vida. Paulo está cada dia mais aflito com sua atitude de não querer vê-lo… Temos que pensar no casamento.

Diante da descrença estampada em meu rosto, ela continuou: — Não me olhe assim, Monize. Depois de tudo que fez para conseguir esse homem, não pode se dar ao luxo de deixá-lo partir.  

— Eu não vou me casar!

Foi o bastante para a expressão paciente do seu rosto mudar drasticamente.

— Mariana sempre foi um atraso na sua vida, não vou permitir que mesmo depois de morta ela continue vivendo à sua sombra.

— Você nunca a amou, não é?

Ela se aproximou, então me abraçou.

— Acredite, minha filha, está doendo como doeria em qualquer mãe. Mas dou graças a Deus todos os dias por ter sido ela, e não você. Não suportaria.

Com essas palavras ela saiu do quarto, levando o que sobrou da minha vida dentro de velhas caixas de papelão.

***

Eu acordei cinco dias depois do acontecido. Muda. Trauma, o médico diagnosticara. Mas era além.

Quando despertei, deparei-me com o rosto de minha mãe, que me olhava profundamente. Um instante que pareceu se estender por uma eternidade. Monize jamais retornaria, não houve necessidade de palavras para eu entender. Quis implorar por perdão, expressar que tentei, que não compreendia por que ela havia tomado aquela decisão, que eu também desejava partir com ela, mas… Minha mãe acariciou minhas bochechas com tanta delicadeza, algo que não recordava dela há tempos, e enxugou meus olhos inundados. Uma lágrima solitária desceu lentamente por seu rosto.

Então ela falou algo que mudaria tudo.

— Vai ficar tudo bem, minha filha. Eu estou aqui, minha amada Monize.

Gosto de pensar que ela escolheu por mim, que me senti obrigada diante de sua dor a não decepcioná-la. Que escolhi morrer aquele dia para que ela continuasse viva, pois fracassei em salvá-la. Mas em meu íntimo eu sabia que sempre desejei ser Monize Coimbra, a criatura mais extraordinária que qualquer um poderia conhecer. Ela era capaz de resolver qualquer impasse, não havia dias nublados com ela por perto. Quem não gostava dela?

Ah, pobre de mim, escondida em sua sombra, vivendo sempre à margem, buscando sempre o mínimo. Gêmeas, idênticas em tudo e em nada ao mesmo tempo. Se quiséssemos poderíamos enganar qualquer um como fizemos tantas vezes. Ela fazia questão de que sempre estivéssemos iguais, se eu mudava o cabelo, ela mudava também, se emagrecia por estar doente, ficava sem comer a semana inteira para que ficássemos no mesmo peso. Havia malícia nisso, claro. Quantas vezes a salvei de apuros? Quantas vezes tive o gosto agridoce de ser ela, por um momento?

***

Ouvi o som do piano e, instintivamente, o segui, descendo lentamente as escadas. Ele estava debruçado sobre o teclado, uma garrafa de rum vazia sobre o piano. Meu pai, meu querido pai. Se naquele dia eu salvei minha mãe da dor de perder a filha favorita, eu o condenei ao luto de perder a sua. Em noites frias como aquela, nos recolhíamos naquele banco e tocávamos a quatro mãos até a exaustão.

Ele parou ao sentir minha presença, me olhou em cólera, nunca me acostumaria com aquilo. Nunca aceitei o fato não dito de que, quando crianças, aparentemente os dois decidiram que só podiam dar amor a uma filha e cada um escolheu a sua.

— O que está olhando, desgraçada? Saia daqui!

Levantou-se e veio trôpego em minha direção, mas caiu no segundo passo. Me contive para não socorrê-lo. Na última vez em que o toquei, ainda no hospital esbofeteou meu rosto e teria feito mais se não o impedissem. Desde então mantive-me o mais distante possível.

— Era para ter sido você! — Era o que gritava sempre que me via.

Corri para fora, peito acelerado e rosto queimando, buscando ar. Só parei quando estava longe de casa. Era uma noite de céu sem estrelas. A vizinhança dormia e o silêncio reinava.

— Achei que nunca mais ia sair de casa.

Sobressaltei, buscando o dono da voz. À minha frente, a silhueta de um homem com a face escondida pelas sombras.

— Quem é você?

Ele deu uma risadinha e revelou-se.

Olavo.

Imediatamente, mudei minha postura; se tinha alguém capaz de me reconhecer, seria ele. Não o via há muito tempo, mesmo nos verões em que eu voltava pra casa nunca estava na cidade.  Ele retirou um isqueiro do casaco e acendeu o cigarro, tragou olhando para o céu, enigmático. Aproximou-se e soltou a fumaça no meu rosto. Não me movi.

Ele riu.

— Pode me explicar por que matou sua irmã?

Fiquei paralisada.

— Está se tornando um esporte, priminha? Devo me preocupar? — Gargalhou.

— O que faz aqui?

— Sem perguntas estúpidas, Monize. Não me deixe entediado. – Enquanto eu tentava organizar minha cabeça para aquela conversa inesperada, ele continuou: — Ok, ok. Admito que tenha passado por um momento difícil. Deus sabe que fazia tudo pela Mari, mas eu preciso comer, comprar minhas roupas. fazer minhas apostas, pagar meu ópio, comer minhas putas… E não posso fazer isso sem as malditas joias que roubamos. Então vá lá dentro e traga-as para mim.

Joias? Do que ele estava falando? Minha mente bagunçada deixou transparecer em meu semblante toda confusão sobre aquela conversa. Sua expressão relaxada mudou.

— Não brinque comigo, quando soube do acidente sabia que você estava aprontando alguma merda, eu não vou ser passado pra trás!

— Não se aproxime! Eu… não consigo falar sobre isso agora, Olavo. — Tentei ganhar tempo.

Foi o bastante. Ele partiu para cima de mim. Tentei correr, mas ele me puxou pelos cabelos e me arrastou até uma árvore. As mãos apertando minha mandíbula, obrigando-me a olhar para ele.

— Tem uma semana pra resolver toda merda que você fez e cumprir o acordo selado com sangue que fizemos. Ou logo vai ter mais um enterro na família Coimbra.

Caí de joelhos quando ele me soltou.

Ele retirou um papel do bolso e rasgou sobre mim.

— Se fizer mais uma tentativa imbecil dessas pra acabar com nosso plano, você vai entregar isso pessoalmente pra ela no inferno. Não tem mais volta. — Falou pausadamente, virou as costas e saiu sem olhar para trás.

Aturdida, recolhi cada pedaço do papel picotado. Correndo de volta para casa, só uma pergunta ocupava minha mente: em que Monize havia se metido?

Em que eu havia me metido?

Entrei no quarto e tranquei a porta, me ajoelhei no chão e espalhei todas as partes do que parecia ser uma carta na cama. Corri até a escrivaninha, peguei uma vela e, um por um, fui colando os pedaços com a cera. Conforme as palavras foram se encaixando, meu peito congelou quando reconheci a letra de Monize. Os remendos e minhas mãos cada vez mais trêmulas dificultaram a leitura, mas cheguei ao final. A carta estava endereçada a Geórgia, falecida esposa de Paulo, seu noivo.

Querida Geórgia,

Já mencionei o quanto adoro seu nome? Se tivesse uma filha, ela se chamaria assim.

Gosto de compartilhar afinidades contigo. Talvez por isso tenha ansiado tanto por Paulo. Queria tudo o que é seu.

Escrevo esta carta para te confortar. Ele não me ama, e duvido que pudesse amar, sendo tão apaixonado por você. Usei o único recurso que vi disponível para tê-lo, que era brincar com sua honra. Que cavalheiro deixaria uma mulher esperando um filho seu? Bem, o filho não é dele, e eu o levarei comigo. Não creio que seja uma boa semente para este mundo.

Ele nunca me tocou, aproveitei de um momento único para fazê-lo crer nisso.

Quando você foi arrastada para o fundo da água por Olavo, pensei em te salvar. Me arrependi daquele plano, mas o medo me paralisou.

Não tenho mais medo.

Que você encontre consolo em saber que compartilharei o mesmo destino que você. Acho isso poético. Sei que nunca poderá ler esta carta, mas a deixei aqui, em seu túmulo, para quem desejar saber o que aconteceu com você e conhecer quem eu sou.

Com carinho,

Monize.

Os raios dourados do sol penetraram pela janela, banhando minha figura pálida encolhida no canto. A vista da janela me encantava; apesar do jardim estar um pouco negligenciado, ainda era um refúgio para pássaros e borboletas que o frequentavam regularmente. Quando parti há uma década, deixando para trás aquele cenário, tive a sensação de estar abandonando a parte mais especial da minha vida, como se estivesse sendo punida de alguma forma por essa partida.

“Será uma grande oportunidade de tocar! Se eu tivesse seu talento jamais desperdiçaria” estimulava Monize.

Foi uma batalha dura convencer meu pai a deixar-me ir, embora compartilhássemos a mesma paixão pela música ele temia que me frustrasse como ele. Mas a persuasão de Monize sempre funcionava. O fato de minha mãe não se opor ajudou também.  

“Eu cuido de tudo. Vá, Mari passarinha. Faça valer a pena.”

Ah, minha irmã… Por que não foi comigo?

Chorei. Tantas perguntas clamando por respostas.

***

A lápide era simples: “Mariana Coimbra, filha e irmã amada”. Sobre o granito, rosas brancas jaziam murchas. Toquei em uma pétala que se desfez, não eram minhas flores favoritas, mas eram as de Monize. Não sei quanto tempo fiquei ali, ora chorando, ora em silêncio contemplativo.

“Quem é você?”, chorei ao vento, esperando uma resposta. “Eu quero minha vida! Devolve a minha vida, por favor…”

— Não se comporte como uma maluca.

Virei, assustada.

— Mãe!

— Ela não vai te responder. A única coisa que vai conseguir é fama de louca e arruinar sua reputação. — Falou tranquilamente enquanto recolhia as flores murchas e depositava novas rosas brancas. Gentilmente beijou as pontas dos dedos e acariciou a foto da lápide, olhos transbordando. Depois de um minuto, virou-se para mim. Virou-se para Mariana, não para Monize.

— Você sempre soube?

— Uma mãe sempre reconhece sua cria.

— Por quê?

— Preciso dela, não de você.

— Mãe, ela fez…

— Eu sei dos pecados da minha filha. E eu perdoo cada um deles, menos esse — apontou para a lápide. — Eu não previ… como eu não vi que era tão fraca? Cometi alguns erros, Poderia ter evitado muitas coisas…

— Eu não entendo, como pode ser cúmplice disso?

— Como pode usurpar a vida da sua irmã?

Me calei. Ela sorriu.

— Bom. Preciso ir à modista. Você precisa de mais vestidos, e faremos um lindo jantar esta noite. Ah, ando tão cansada, precisamos de criados fixos, mas isso vai mudar quando você se casar, não é mesmo?

— Mãe!

— Nos vemos em casa, querida.

Não fui atrás dela, fitei sua silhueta frágil indo embora e só consegui sentir pena. Se eu precisava de respostas, só havia um lugar onde as encontrar.

***

A velha choupana era um lugar familiar, um refúgio onde passávamos horas brincando, eu, Monize e Olavo. Situada em uma área remota do campo, com um lago sombrio separando-a da cidade. Era o nosso esconderijo secreto, onde as aventuras pareciam ganhar vida, e nossas risadas ecoavam entre árvores centenárias.

Quando entrei, ele estava deitado na cama, o cheiro forte entregava o que fazia. O braço envolto por uma liga amarela e algumas seringas pelo chão.

— Olha quem chegou! — Cantarolou assim que me viu.

Continuei olhando o lugar, desbloqueando memórias que julgava perdidas.

Ele pulou da cama, cambaleante.

— Trouxe minhas preciosas?

— Eu não tenho joias, Olavo.

O sorriso dele morreu.

— Você é muito corajosa pra vir até aqui zombar de mim, não é?

— Pouco antes de se jogar, ela arremessou uma caixinha na água. Naquele dia, eu não entendi por que fizera aquilo, mas agora imagino que tenha sido isso. Suas joias.

Ele me olhou sem entender. Encarei-o até ver a compreensão brotar em seu rosto.

Então ele riu, por um bom tempo até a tosse ser mais forte e ele começar a cuspir sangue.

— Ela estava grávida.

Ofegante, balançava a cabeça freneticamente.

— Não éramos amantes, Mari Passarinho, éramos irmãos… confidentes… parceiros.

Uma lágrima escorreu dos seus olhos.

— Maldita covarde… O que eu vou fazer? Droga, o que eu vou fazer?

Então, olhos arregalados, segurou minha mão e me puxou para cama até estarmos sentados lado a lado.

— Temos você… não está nada perdido. — Ele sorriu — Nada mudou, Mari, você só precisa seguir o plano, se casar…

Eu quase reconheci o menino doce e sonhador que um dia ele fora.

— Devolvi a carta ao túmulo de Geórgia. Não deve demorar para alguém encontrar. Vou contar toda a verdade para aquele pobre homem a quem vocês arruinaram a vida. Hoje mesmo. Eu só estou aqui, Olavo, porque eu preciso saber… Por quê? O que aconteceu para minha irmã se tornar esse monstro?

Sua expressão era feroz.

— Monstro? Ela te deu tudo que tinha, ingrata!

Ele se inclinou sobre mim, seus dedos envolveram meu pescoço, pressionando-me com uma força avassaladora. Minhas mãos batiam nele em desespero, mas era inútil. Olavo estava transtornado. Enquanto o ar escapava do meu peito, deixei minhas mãos caírem. No fundo, era o desfecho que eu antecipava, a única forma de aliviar aquela dor insuportável, sabia que só cessaria com a morte.

Eu aceitava aquilo.

De repente, a pressão cedeu, gotas de sangue caíram do nariz dele e pingaram no meu rosto. Seus olhos esbugalharam e então ele caiu para o lado, convulsionando. Meu peito queimava.

— Olavo… — gritei. Tentei segurar suas mãos que se debatiam; estava engasgando com o próprio vômito. Segurei sua cabeça, em vão. Mais alguns espasmos e então parou de se mexer.

— Sinto muito… sinto muito. Chorei.

***

Minha mãe me arrastou para dentro de casa quando me viu em frangalhos entrando pela porta. Não fez perguntas, acredito que sabia as respostas ou não se importava com elas. Obedeci a tudo que pedia e deixei que banhasse meu corpo, penteasse meu cabelo e me vestisse. Escolheu um vestido de gola alta que escondia bem os hematomas do meu pescoço. Era azul e realçava meus olhos, era a cor preferida do meu noivo, confessou em algum momento.

No andar debaixo, ouvia-se a movimentação para a celebração do jantar. Contou-me alegremente sobre os convidados daquela noite, o que serviria, que finalmente poderiam oficializar o noivado e marcar a data do casamento.

— Você está perfeita. — Falou, afastando-se para me olhar por inteiro. — Você nunca esteve tão perfeita. Sabíamos o peso daquelas palavras. — Mais uns minutos e você pode descer.

Beijou-me no rosto e saiu. Não consegui me olhar no espelho, me afastei até a janela e contemplei o anoitecer. Ouvi a porta abrir e me virei.

Meu pai.

Ao vê-lo, uma enxurrada de emoções tomou conta de mim, inundando meus olhos com lágrimas de saudade. Ansiava por poder abraçá-lo, sentir seu acolhimento, suas palavras reconfortantes sussurrando que tudo ficaria bem. Era a primeira vez que o via sóbrio desde que eu havia assumido o papel de Monize.

— Pai… eu…

Ele interrompeu, revelando um semblante animado.

— É um grande dia. Veja… – disse, indicando seu traje impecável.

Um sorriso se formou em meus lábios.

— Você está ótimo.

— Obrigado. Você está… Linda.

Avançou em minha direção, segurando minhas mãos com ternura. Lutei para conter as lágrimas de alívio diante da familiaridade de seu afeto. Seus dedos traçaram delicadamente meu rosto.

— Agora, sem os efeitos do álcool. Consigo me lembrar da falta que você me fez nesse último mês. – Suas mãos desceram até meu pescoço, enviando um arrepio pela minha espinha, enquanto eu continuava a encará-lo. — Preciso me corrigir –, ponderou. — A falta que senti do seu corpo.

A outra mão pousou em meu seio, pressionando com firmeza. Permaneci sem reação, sentindo um frio glacial se espalhar por minha alma, enquanto ele me envolvia em um abraço, sua boca deslizando pelo meu pescoço, sussurrando promessas em meu ouvido.

— Ah, Monize –, suspirou, aspirando o perfume do meu cabelo. — Estou pronto para retomar de onde paramos.

No espelho do outro lado do quarto, encarei meu reflexo. Naquele momento, percebi que enfim me assemelhava a um cadáver.

***

Desci as escadas, onde Paulo me aguardava, conduzindo-me até o nosso salão. Minha mãe havia feito um excelente trabalho adaptando o espaço para acomodar todos confortavelmente. O aroma de álcool, tabaco e especiarias impregnava o ambiente. As conversas animadas e as risadas preenchiam a acústica. Cumprimentei a todos com um sorriso, correspondendo à gentileza do meu noivo, que parecia ser a única coisa que tinha a oferecer.

Enquanto os cavalheiros e damas trocavam conversas, aproximei-me do piano, deixando minhas mãos passarem delicadamente pelas teclas. Levantei o olhar e encontrei o dela.

— Filha, vamos para a sala de jantar”, — sua voz tremia.

Sentei-me no banco e comecei a tocar.

Não ousei olhar para ele, mas sentia o peso de seus olhos sobre mim. Quanto tempo se passou até que ele se movesse? A cadeira afastando da mesa, os passos pelo chão, o ranger da velha escada de madeira sob seus pés subindo, a porta batendo e sendo trancada. Aumentei o ritmo, permitindo que todas as emoções que me forcei a esconder nos últimos tempos transbordassem. Toquei como jamais tocara antes.

Meus dedos tropeçaram quando ouvi o disparo seco vindo de cima.

Respirei.

Uma, duas, três vezes.

Então, continuei, mesmo que os sons na casa agora competissem comigo, gritos, suspiros, o rangido da escada. Continuei tocando infinitamente, mesmo que mãos desconhecidas tentassem me fazer parar.

Continuei porque naquele momento, me reconhecia. Sabia exatamente quem eu era, e isso era tudo o que importava.

Aquela sensação valia a pena.

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

37 comentários em “A Vida Que Eu Te Dei (Amanda Gomez)

  1. Renato Silva
    1 de junho de 2024
    Avatar de Renato Silva

    Olá, tudo bem?

    Achei o conto confuso no começo, mas depois fui entendendo. Uma estória muita bem contada, cheia de personagens e passagens. Parecia que eu estava lendo um romance de época, algo como “O morro dos ventos uivantes” ou uma novela de Theodor Storm, com alto grau de dramaticidade. Os personagens tem personalidades bem marcantes e a autora fez isso da melhor maneira possível. Um dos melhores contos que eu li neste certame.

    Boa sorte.

  2. Mariana Carolo
    1 de junho de 2024
    Avatar de Mariana Carolo

    História: Nossa! Comecei achando que era uma novela, terminou uma peça do Nelson Rodrigues. 4/4
    Escrita: Forte e segura. Me manteve firme e me surpreendeu. 5/5
    Imagem e título: Adequados ao tema 1/1

  3. Pedro Paulo
    1 de junho de 2024
    Avatar de Pedro Paulo

    RESUMO: A maioria das pessoas não conseguiria diferenciar Monize e Mariana. Era como se fossem a mesma pessoa.
    COMENTÁRIO: Este é um conto muito bem construído, com múltiplas camadas que vão se desvelando de uma forma sutil, mostrando uma autoria com total controle sobre a sua narrativa. Para que isso funcionasse, foi preciso estabelecer bem as personagens e suas relações, alimentando expectativas que depois são traídas conforme o enredo é desenvolvido. Então a mensagem mórbida da gêmea suicida sugere uma benesse que é o aparente ao encontrarmos a personagem da mãe, mas tem duplo significado quando se trata do pai, a princípio pela primeira reação que vemos, mas, depois, quando imaginamos uma redenção e merecido “repouso” a uma personagem que já havia lidado com tanto, um passo adiante ao abismo. Tudo na supracitada sutileza, como a conexão do piano com o desfecho, em que sua música avisa ao pai e sem que precise ser narrado ou trazido para um exame mais direto da leitura, ficamos sabendo da reação dele. Essa mesma habilidade aparece na relação delas com o primo. Apesar de elogiar justamente o manejo de informações, confesso que minha compreensão da narrativa se deu principalmente a partir da metade, uma vez familiarizado com os nomes e com a sequência correta de acontecimentos, o que me permitiu a empolgação a cada surpresa. Então acho que o começo foi um pouco atrapalhado, algo que o restante do conto compensa e supera.
    Não comentei muito sobre a abordagem temática, mas aqui eu celebro que o tema roubo tenha sido abordado de forma multifacetada. Olavo e Monize roubam Paulo. Mariana parecer roubar Monize, mas na verdade é o contrário. Mãe rouba Mariana ao preferir Monize. Pai rouba Monize, mas não só por sua preferência pela outra gêmea. É um polígono fascinante.

  4. Sílvio Vinhal
    1 de junho de 2024
    Avatar de Sílvio Vinhal

    Geralmente, não costumo fazer, no comentário, um resumo do conto.  Nesse caso, entretanto, achei necessário, até mesmo para ver se entendi todo o enredo. Portanto, se não leu o conto, evite ler o resumo a seguir.

    Mariana assume a identidade da irmã morta, Monize, “a criatura mais que qualquer um poderia conhecer.” Cada uma das gêmeas, amada e idolatrada por um dos pais. Com a troca de identidade, vivencia a troca de amores, passando a ser amada pela mãe e odiada pelo pai. No contato com o primo Olavo, que ela julgava que seria o único que saberia reconhecê-la, percebe que ele não a reconhece e, graças a isso, revela que havia um plano maquiavélico entre ele e Monize, um roubo e a morte da irmã.

    Uma carta misteriosa pré-suicídio, revela que Monize tinha uma doentia simpatia por Geórgia, falecida esposa de Paulo, seu noivo, a ponto de querer tudo que era dela. “Gosto de compartilhar afinidades contigo. Talvez por isso tenha ansiado tanto por Paulo. Queria tudo o que é seu.” Revela, também, que estava grávida e usou a gravidez para enganar Paulo e levá-lo a ficar com ela, mesmo que não a amasse.

    A carta revela, ainda, que Olavo matou Geórgia, um plano dos dois do qual Monize se arrependeu, mas, paralisada pelo medo, não conseguiu salvá-la.

    Mais tarde a mãe revela que, em verdade, sabia que quem estava ali era Mariana e não Monize, porém, preferiu reviver Monize, e não Mariana: “preciso dela, não de você.”

    A mãe revela, nesse diálogo, que a família está decadente e que há um casamento de conveniências em jogo. “Ah, ando tão cansada, precisamos de criados fixos, mas isso vai mudar quando você se casar, não é mesmo?”

    A conversa com Olavo revela que ele está morrendo, provavelmente devido ao consumo de ópio, e que o filho que Monize esperava, não podia ser dele. “Não éramos amantes, Mari Passarinho, éramos irmãos… confidentes… parceiros.” Revela, também, que Monize foi “covarde” e jogou no rio as jóias que ele esperava obter.

    Olavo tentou matar Mariana sufocada, porém, morreu antes, engasgado com o próprio vômito.

    A seguir, Mariana descobre que o pai e Monize eram amantes, ou seja, era ele o pai da criança que ela esperava e que julgava ser uma semente ruim, fruto do incesto. “Não creio que seja uma boa semente para este mundo.”

    No jantar de noivado, Mariana vê o piano e decide se revelar, se impor. Ao perceber que foi desmascarado pela filha e que a amante está morta, o pai comete suicídio. Mariana não queria aquela vida maldita. O piano era o seu grito de libertação. “Continuei tocando infinitamente (…) Aquela sensação valia a pena”.

    Um conto complexo, com tramas intrincadas e que mais me parece uma novela. Com certeza, um bom roteiro para um romance ou para um filme.

    A leitura é agradável, embora a quantidade de informações e os cortes temporais possam confundir o leitor. A degustação requer atenção e cuidado. Dificilmente a história seria bem compreendida na primeira leitura.

    Fico na dúvida se atendeu ao tema, posto que, se Mariana é ética, e se viu envolvida numa complexa trama – poderíamos considerar que ela “roubou” a vida da irmã?

    Fiquei com um retrogosto amargo, me perguntando se não haveria uma falha na trama. A pergunta que não quer calar: Por que Mariana (a irmã boa) aceitaria se passar por Monize?

    Algo que o romance, poderia responder.

    O autor ou autora, com certeza, sabe bem o que está fazendo e fiquei bastante curioso em saber quem é. Parabéns!

  5. Queli
    27 de maio de 2024
    Avatar de Queli

    Um conto surpreendente. Não apenas pela troca de identidade entre gêmeos, pois isso é até comum, mas pelos problemas que a gêmea boazinha, inocente e “poupada”, herdou da irmã má e abusada.

    Gostei muito desse conto. A escrita é fluida, envolvente e a trama bem elaborada.

    Tema ok. Desfecho surpreendente.

    Parabéns e boa sorte!!!

  6. claudiaangst
    26 de maio de 2024
    Avatar de claudiaangst

    Oi, Monize, tudo bem?

    O conto aborda o tema roubo (de vida) e atende a exigência do certame.

    A narrativa me fez lembrar da novela (primeira versão – sou vintage) de Mulheres de Areia. As gêmeas Ruth e Raquel também tinham suas diferenças, sendo cada uma a preferida da mãe e do pai. No caso da novela, houve também um afogamento, mas ambas sobreviveram, embora Raquel tenha sido dada como morta por um tempo.

    Notei pequenas falhas que escaparam à revisão, como alguns travessões fora do lugar, por exemplo, mas nada de importante ou que trouxesse prejuízo à fluidez da leitura.

    A trama construída, com seus personagens tão bem elaborados, prende muito a atenção desde o início. Amamos um folhetim, não é mesmo? Há drama para todos os gostos, tabu, conspirações entre primos, crimes, inveja, ciúme, tudo…e até música para ambientar o romance/tragédia. Precisava de tanto? Talvez sim, talvez não. (Glória Pires mandou lembranças).

    Gostei do desfecho da trama, mais sutil, sem explicações desnecessárias, e ao mesmo tempo impactante.

    Veja bem, cara autora, já disse isso sobre outro conto seu, a sua narrativa tem fôlego para virar um romance – um belo romance de época. Quando irá assumir o seu papel de romancista?

    Boa sorte!

  7. Mauro Dillmann
    20 de maio de 2024
    Avatar de Mauro Dillmann

    Conto bem escrito, pensado, estruturado.  

    O texto, narrado em primeira pessoa, inicialmente assume diversas vezes uma conversa com o leitor. 

    No geral, tem uma sequência boa para prender a atenção do leitor: encadeamento de ideias, gradação, suspense, revelações.   

    O enredo é triste, melancólico, dramático, amoral.   A narradora-personagem parece, em algum momento, demonstrar compaixão por si, autopiedade.  

    A “troca”, a “usurpação” entre as gêmeas, me parece bastante criativo. Os desdobramentos do fato são bem construídos. A trama é o ponto alto.  

    Um conto exigente. Exige atenção e não entrega tudo facilmente. Elogiável.  

    Achei extenso em algumas passagens, que poderiam ser mais sucintas ou eliminadas.  

    Um detalhe: silencio [silêncio]  

    Foi o último conto que li nesse desafio. Que alegria ! Que conto inteligente. Gostei muito.  

    Parabéns !  

  8. Jorge Santos
    13 de maio de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, Monize. Este foi um dos contos mais interessantes que li neste desafio. A ideia é criativa e a situação foi bem desenvolvida. O desfecho surpreende. Enfim, todos os elementos estão presentes no texto para fazer dele um texto excelente, mas perdi-me em alguns momentos. As visões dela ao espelho são algo desnecessárias. A evolução da narrativa é suficiente para mostrar o conflito interno da personagem. A adequação ao tema foi bem conseguida, com o roubo de identidade. A incursão pelos temas duros como o da pedofilia remete um texto supostamente surreal para o hiper-realismo. O desfecho é impactante. A revelação da verdade não é contada, é mostrada com o som de um tiro. O leitor não precisa saber que o pai soube da verdade. A sua reação à verdade é suficiente.

  9. Emanuel Maurin
    13 de maio de 2024
    Avatar de Emanuel Maurin

    A história é sobre uma mulher que assume a identidade de sua irmã gêmea, Monize, após a morte desta. Ela se vê envolvida em um plano perigoso que Monize havia arquitetado com Olavo, seu primo. A protagonista descobre que Monize estava grávida e planejava casar-se com Paulo, um homem rico, para obter suas joias. No entanto, Monize morre antes de concretizar o plano. A protagonista, agora vivendo como Monize, enfrenta a hostilidade de seu pai e a indiferença de sua mãe. Ela também lida com a pressão de Olavo para continuar o plano de Monize. A história culmina com a morte de Olavo e a revelação de que o pai da protagonista abusava de Monize. A protagonista finalmente se reconhece e aceita sua identidade, encontrando algum consolo na música. A história é uma reflexão sobre identidade, perda e a busca por aceitação.

    O conto é bem escrito, criativo e original, mas tem muitos eventos acontecendo rápido, isso faz com que a narrativa fique um pouco acelerada. Não encontrei erros e nada que desabone a obra. Sei que minha avaliação é genérica, confesso que odeio quando fazem isso, mesmo sabendo que faço. Mas num conto desse, eu não saberia apontar as falhas, nesse caso, o conto, pra mim, ficou bom.

  10. Cícero Robson
    7 de maio de 2024
    Avatar de Cícero Robson

    Oi, Monize! Muito bom o seu conto. Uma história densa, com dramas familiares, a amizade entre as irmãs. Me fez lembrar do livro “Sinfonia em branco”, da Adriana Lisboa. Além da conexão entre as irmãs, os conflitos familiares que, aos poucos, vão se descortinando conforme avançamos na leitura. Gostei também da fluência como escreve e pela narrativa entrecortada, que desafia o leitor a desvendar os mistérios contidos no enredo.

    Boa sorte no desafio. Abraço!

  11. Priscila Pereira
    5 de maio de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Monize! Tudo bem?

    Vou deixar minhas impressões sobre seu conto, lembrando que é a minha opinião e não a verdade absoluta. (Obviamente)

    Que história! Uau!

    Acho que entendi tudo, e como quero ter certeza, vou resumir tudo aqui e você me diz se perdi alguma coisa, ok?

    🚨🚨Alerta de spoiler🚨🚨

    Se não leu o conto, não leia esse comentário!

    Quando Monize e Mariana eram crianças os pais escolheram cada um a sua preferida, e o pai escolheu Mariana como filha e Monize como amante 🤮. Monize faz de tudo para que Mariana vá embora para que também não tenha o mesmo fim ( não acho que o pai faria isso com sua filha preferida, mas como vou saber como um pervertido, psicopata pensa?)

    Mariana fica muitos anos longe estudando piano e enquanto isso a família está precisando de dinheiro e Monize e a mãe escolhem um homem rico, só que casado. Então Monize e Olavo tramam a morte de Geórgia, e o pagamento de Olavo por afogar a moça são as jóias da própria moça, que serão de Monize quando ela conseguisse casar com ele.

    Mas Monize parece não ser tão odiosa quanto pensamos já que fica com remorso e quando descobre que está grávida do pai (ela diz na carta que vai levar a semente que ela não julga boa para esse mundo com ela, então já supus que era fruto de um incesto) ela usa a gravidez para obrigar o Paulo a se casar com ela. Mas não aguenta o remorso e talvez o horror de estar grávida do próprio pai, e decide contar toda a verdade através da carta e se matar, mas Mariana aparece na hora e presencia o suicídio e se joga junto.

    Aí quando Mariana está no hospital, sua mãe decide que precisa de Monize para casar com o cara rico e ter mais criados, então a trata como Monize e como Mariana não queria desapontar a mãe que nunca gostou dela, não disse nada.

    Então Olavo vai cobrar as jóias e ameaça Mariana e ela decide contar tudo pra ele, ele tenta matar ela, mas acaba morrendo de overdose (?) E quando Mariana descobre que o pai era um abusador, mau caráter, é a última gota, ela decide contar a verdade para todo mundo tocando maravilhosamente o piano, já que Monize não sabia, aí o pai se mata.

    Perdi alguma coisa?

    A história é grandiosa demais para um conto, mas você soube encaixar tudo muito bem! Mas gostaria de ver transformada em uma novela ou até um romance.

    Gostei demais da sua imaginação!

    Parabéns! Boa sorte no desafio!

    Até mais!

    • Monize
      1 de junho de 2024
      Avatar de Monize

      Oi Priscila Querida, como você está?
      Vejo que chegamos ao final do desafio e não poderia vir aqui dar uma palavrinha com você. 
      Que perspicaz você é, atenta aos detalhes até mais que eu, quem diria! Adorei seu comentário e fico feliz que tenha entendido meu conto com maestria e cuidado. É uma história delicada e você foi certeira. 
      Acho que agora posso descansar em paz. 

  12. Gustavo Araujo
    4 de maio de 2024
    Avatar de Gustavo Araujo

    Ao terminar este conto, me veio à mente a imagem de uma mulher bonita. Ela usa um vestido vermelho e me convida para dançar. Estamos em um ambiente parecido com o Teatro Mágico, do Lobo da Estepe. O problema é que eu sou flexível como um pedaço de ferro, a mistura do pinóquio com o homem de lata. O risco de pisar nos pés dela é enorme e por isso, eu, limitado que sou, preciso prestar uma atenção danada a todos os volteios e evoluções. A música que toca é Strauss ou Tchaikovski, não sei ao certo, mas sei que é uma daquelas composições demoradas, a valsa do Imperador talvez. No fim, cansado que só, não tenho certeza de que cumpri minha parte. Um tanto exasperado, olho para ela na esperança de que sua expressão me diga, enfim, se me saí bem ou não…

    Não sei se minha analogia ficou clara, mas este conto me parece exatamente isso – um concerto magnífico, ainda que complexo, que demanda de seus leitores a atenção e quiçá a experiência e a paciência de um bom e dedicado dançarino. Nem todos o são, ao menos no que diz respeito a algo assim grandioso.

    A trama é cheia de nuances, com avanços e retrocessos no tempo e no espaço. Personagens que ora são uns aparecem como outros. Mariana é Monize, Monize é Mariana. Mas no início não dá para ter certeza. Quem morreu? Demora um tanto para que nos adaptemos, para que o enredo se assente e para que percebamos que, talvez, Mariana tenha assumido o lugar da irmã gêmea para mitigar a dor que a mãe sentiria pela partida prematura e, até então, inexplicável de sua filha preferida. Entram na conta ciúmes, abusos e culpas – como ocorre em muitas famílias. Esses pecados, aliás, são bem explorados e servem como mote para explorações psicológicas atinentes a aceitação, luto e redenção, em suma, valores universais que tornam qualquer texto literário instigante – algo que Tolstói era mestre em fazer.

    Para completar o enredo, surgem o primo Olavo e o pai. Este, revestido da pior característica que o ser humano pode ter. Aquele, envolvido numa estratégia de roubo de joias e assassinato.

    Não é fácil acompanhar essas tramas distintas – é como estar num labirinto, que exige idas e vindas, que apresenta saídas falsas e nos obriga a retornar, lembrar nomes, quem fez o quê, imaginar motivos, levantar teorias… De fato, não é uma leitura para quem tem fôlego curto ou, como se diz por aí, preguiça de pensar.

    Apesar de toda essa complexidade, o conto “fecha”. Não há pontas soltas no fim, embora o desfecho de alguns personagens, como Olavo, tenha ficado apressado. A cena final, com Mariana dizendo ao piano quem realmente é, para desmascarar o pai, é excelente. Dá para sentir a angústia dela enquanto faz surgir a música. Ficou muito bom.

    Nesse aspecto, dá para dizer que este conto é, talvez, um dos mais criativos do certame, já que a autora teve a capacidade de juntar múltiplas tramas em um espaço exíguo de 3500 palavras. E de maneira verossímil, sem falhas. É realmente um feito.

    No entanto (lá vem…), essa capacidade de manter a coerência não exime o conto de seu maior defeito que é justamente a existência de diversos núcleos de ação. Há, de fato, um excesso de subtramas que, embora conectadas, acabam por se sobrepor criando certa confusão, obrigando o leitor a interromper a viagem e recapitular tudo o que ocorreu até aquele momento. Se mesmo o leitor dedicado passa por isso, imagine só os mais preguiçosos… Se bem que, pensando melhor, quem aqui quer leitor preguiçoso?

    De qualquer maneira, talvez essa ideia funcione melhor em formato de novela, expandindo-se esses núcleos em capítulos próprios, de forma compartimentada. Isso facilita o raciocínio e permite ao leitor, qualquer leitor, digerir o que ocorre nos micro-universos de cada personagem, para então seguir às interconexões.

    Acabei me alongando em demasia. Em resumo, posso dizer que gostei da proposta, que admirei a capacidade da autora em conceber uma trama com tamanha complexidade e, além disso, manter a coerência da história. Só não posso dizer que o resultado, no fim, foi completamente positivo. Para um conto que deveria obedecer – como de fato obedeceu – as dimensões propostas pelo regulamento, talvez fosse melhor suprimir-se a subtrama relativa ao roubo de jóias, focando-se no abuso paterno apenas.

    Em todo caso, é um trabalho admirável. Parabéns e boa sorte no desafio.

    • Monize
      4 de maio de 2024
      Avatar de Monize

      Gustavo, Gustavo, tudo bem?  

      Veja só, embarquei na sua analogia. Sai do meu sono eterno, vesti um vestido vermelho e dancei a valsa ao som de Tchaikovski.  

      É de longe a  forma mais elegante e criativa de dizer que ficou confuso com meu conto que recebi (risos). Os outros colegas poderiam ter sido assim, tão gentis. Não tem muita coisa pra fazer aqui onde estou, sabe? não coisas boas pelo menos…podem me chamar pra dançar, tomar saquê no japão ou jogar rpg. 

      Brincadeiras à parte. 

      Você não pisou no meu pé. Faz parte daquele time de pessoas do EC que sempre fico aguardando os comentários na verdade, é muito legal me ver como autor(a) através dos seus olhos. 

      Anotado as observações pertinentes sobre minhas falhas e agradecida pelos elogios. 

      Muito obrigada.

  13. Regina Ruth Rincon Caires
    4 de maio de 2024
    Avatar de Regina Ruth Rincon Caires

    Este é um conto que exige atenção redobrada do leitor. Não se pode perder palavra do que está escrito. A estrutura é complexa; se o leitor vacilar, perde o fio da meada. E, como perdi várias vezes, fiz leitura e releituras.

    Foi difícil compreender a trama. Há muitos episódios que, para intensificar o suspense, misturam as atitudes dos personagens. Fui anotando tudo para seguir o enredo.

    A escrita é simples, alguns deslizes, linguagem coloquial.

    As peculiaridades da família brotam aos montes, e a cada passo é preciso pensar para adicionar novas características aos personagens. São muitas informações pulverizadas ao longo do conto. O roubo da personalidade (da vida), o abuso do pai, a fase obscura da vida de Monize, suicídio, a conivência da mãe, tudo isso vai sobressaltando o leitor. Que família doente!

    Fico admirada com a criatividade do autor. Organizar essas ideias todas deve ser como montar um quebra-cabeça. Não é coisa para iniciante.

    Parabéns pelo trabalho!

    Boa sorte no desafio!

    Abraço.

    • Monize
      4 de maio de 2024
      Avatar de Monize

      Oi Dona Regina Querida, tudo bem? 

      Seu comentário me deixou muito pensativa. Fiquei imaginando a senhora lendo e relendo, fazendo anotações… Será que de fato minha história é insalubre? que falhei? Veja bem, não se culpe por nada, só estou indagando mesmo as minhas primeiras impressões sobre os comentários que tive até então. Minha cabeça funciona às vezes tão diferente, mesmo quando não sabia nada do que eu ia escrever já sabia tudo.  E na nossa cabeça tudo faz sentido, não é? É um quebra cabeça, o fio que leva o leitor até o final é transparente, tem que segurar firme mesmo. 

      Muito obrigada pelo comentário, sei que vou precisar de boa sorte. 

  14. Angelo Rodrigues
    4 de maio de 2024
    Avatar de Angelo Rodrigues

    Olá, Monize.

    Comentários:

    Um conto que fala de troca de identidades.

    Escrever sobre esse assunto é como mexer com nitroglicerina. Um tantinho fora do ponto, tudo pode ir pelos ares. Acho que seja assim.

    Uma coisa, no meu entender, nesse tipo de texto, deve ficar clara de saída. O leitor não pode se sentir confuso, ou não parecer ser enganado com reviravoltas que o deixam ainda mais confuso.

    Há motivo para isso, e não é meu, é histórico.

    No auge da Era de Ouro dos contos de detetives, em 1928, Ronald Knox (1888-1957) escreveu seu Detective Story Decalogue – uma série de dez regrinhas às quais os autores de histórias de crimes e mistérios deveriam aderir em consideração ao leitor. Elas era:

    “1 – O criminoso deve ser alguém mencionado no começo da história…

    2 – Todas as atividades sobrenaturais estão automaticamente descartadas.

    3- …

    4- …

    5 – Nenhum chinês deve figurar na história.

    6 – …

    7- O detetive não deve ser o autor do crime.

    8 – …

    9 – O amigo tolo do detetive, o Watson, não deve…

    10 – Não deve haver irmãos gêmeos nem sósias em geral, a menos que tenhamos sido devidamente preparados para eles.”

    Óbvio que dos anos 1920 para cá as coisas mudaram bastante. Mas há um motivo para que irmãos gêmeos não figurem nos textos – salvo quando absolutamente necessário, creio, ou absolutamente bem resolvidos. E há nisso um motivo simples: não é aceitável confundir o leitor ou enganá-lo de alguma forma. Algo como uma troca de cabeças, de corpos, de personalidade e tal. A existência dos gêmeos tem de ser absolutamente correta para que o leitor não fique confuso com o discurso textual.

    No texto lido, no meu entendimento, isso não aconteceu. Há dramas que se seguem de dramas, passando pela morte – voluntária ou não –, pelo uso do ópio, por roubos, por amores esquisitos entre pai e filha, por venerações filiais e tal. Ufa!

    Um conto, acredito, deve estar concentrado numa ideia, trabalhá-la o mais profundamente possível e levar o texto a uma conclusão, seja ela qual for – inclusive pode não haver conclusão alguma. Quando as tramas adjacentes vão se adensando cada vez mais, complicando a compreensão, ele – o texto – estará tomando um rumo que pode levar à pouca assimilação por parte do leitor.

    No caso do conto em análise, acredito que isso se deu, particularmente quando o autor tomou o rumo de tratar o texto no rumo do Conto Romântico, meio que tomado pelo cenário meio que Século XIX.

    Não estou a dizer que o conto seja ruim. Não. Mas acho que precisa ser mais bem averiguado, dar a ele mais transparência na abordagem das personagens. A trama das irmãs está legal, mas deve também passar uma plaina nos excessos que a tudo envolve.

    Mas isso tudo são apenas as minhas impressões.

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.

    • Monize
      4 de maio de 2024
      Avatar de Monize

      Angelo Querido, tudo bem?

      Me senti em uma sala de aula. Não estou sendo mal educada, calma, mas voltei ao passado quando sentava em uma cadeira e via meu professor de literatura ensinar todos os pontos de como se escreve uma boa história. 

      Anotei as dicas, juro. Sem irônia, nunca tinha ouvido falar dessa lista, achei sensacional. Bom é isso, hoje se quebrou quase todas essas regras. E gêmeos que trocam de identidade é um dos maiores clichês do…entretenimento? moderno. Eu peguei esse plot e quis transformar em coisas inesperadas. Gosto de enganar o leitor, de levar ele por caminhos inesperados, de surpreendê-lo. E como leitora, também gosto disso.  

      Mas entendi o que você falou… não ficou claro de cara que eram gêmeas… dá a entender que é até uma coisa espiritual, certo? recebi feedback assim de leitura beta. 

      É questão de opinião mesmo. 

      Obrigada pela leitura.

  15. Thales Soares
    4 de maio de 2024
    Avatar de Thales Soares

    Escrita:

    É engraçado que a maioria dos contos que estou lendo, estou elogiando a escrita, e aí chega na hora do Enredo e taco umas pedras. Aqui, porém, a situação é o inverso. Achei a trama bem interessante (falarei isso mais adianta), mas a escrita fez com que eu me perdesse muito. O início da história é extremamente confuso, e quase me fez desistir de ler… continuei apenas porque eu acredito que sou obrigado a ler todos os contos deste desafio até o fim. Não eram raros os momentos em que eu tinha que voltar algumas frases e reler alguma passagem, o que acaba por ser muito cansativo para o leitor.

    Não estou dizendo que o autor aqui escreve mal… muito pelo contrário, dá pra notar a habilidade do autor, e nota-se que se trata de alguém muito experiente na escrita. Só acho que… o autor quis se arriscar e ousou demais… e qual o problema de se arriscar? Bom, nenhum. Mas às vezes erramos um pouco a mão, e ao meu ver, foi o que ocorreu aqui. Creio que o que atrapalhou nem foi tanto a linha narrativa que dá várias voltas, fragmentada em capítulos, onde inicialmente é difícil traçar uma conexão entre eles. Mas sim a grandiosidade desta história, dificultando encaixá-la em apenas 3500 palavras.

    Vemos aqui uma verdadeira novela, cheia de reviravoltas, com vários personagens, todos eles com ambições e personalidades únicas, com várias camadas na leitura, e uma relação muito bem explorada de todos eles com a protagonista, gerando diversas subtramas. Legal, né? De fato, é! Mas…….. para 3500 palavras, não ficou tão divertido. Tudo ficou corrido e bagunçado. Creio que se o autor estivesse escrevendo uma novela, ficaria magnífico! Mas para um conto, achei que fugiu muito do escopo requerido para este desafio. E tudo bem… eu mesmo já cometi esse erro em diversos desafios. Sempre penso em histórias que acabam tomando proporções colossais, e fica difícil de encaixá-las dentro do limite de palavras proposto… sei bem como é isso.

    Tema:

    Gostei muito da aplicação do tema aqui. Roubo… de identidade! Mariana rouba a identidade de Monize, sua irmã gêmea. Isso me lembrou aqueles filmes antigos da Sessão da Tarde, aos quais eu nunca me canso de assistir. Apesar de eu ter adorado a ideia, para mim não ficou claro porque Mariana fez isso. Percebi que todos na história tinham seus objetivos próprios, e isso tornou tudo mais interessante. Mas Mariana… achei uma personagem um pouco vazia. E aliás, vou falar disso na parte de Enredo.

    Aliás, tem também alguma tramoia a respeito de um roubo de joias, por parte de Olavo e Monize (e talvez a mãe, se entendi direito). Ou seria um roubo no estilo golpe do baú? Não sei. Enfim… esse roubo mais concreto está presente na história. Mas o que me chamou mais atenção foi realmente o roubo mais metafórico, da vida da irmã.

    Enredo:

    Os personagens dessa história são muito divertidos! Exceto Mariana, a vítima. Ela parece uma boneca de pano, e não me causou empatia alguma. Ela não tem voz. Todos da família fazem as mais altas barbaridades com ela (e algumas realmente absurdas), e ela fica lá, de boa, como se fosse uma porta, apenas sofrendo por dentro. Poxa…

    A trama, como eu disse antes, é mega ambiciosa, e sofre por conta de uma narrativa pouco clara, e que demora para conquistar o leitor. Demorei a perceber que Mariana havia trocado de lugar com Monize. De início, o texto estava parecendo surrealista demais para o meu gosto, e eu pensei várias vezes em desistir e dizer ao autor que eu não consegui, que eu havia sido derrotado por uma leitura pedante. No entanto, que sorte que não fiz isso. Da metade pra frente a história começou a me conquistar! Fiquei interessado em saber o que ia acontecer, e os personagens foram cada vez mais me cativando. O pai foi o único que achei incompreensível e contraditório. Temos uma reviravolta com ele no final, que me pareceu por demais forçada. Ele tratou a garota como lixo durante toda a história, aí no final, quando ele estava sóbrio, decidiu comer ela! Não estou questionando o fato do incesto, mas sim sua mudança abrupta de personalidade. Nenhuma pista foi dada ao leitor durante toda a narrativa (muito pelo contrário, foram dadas inclusive pistas falsas, fazendo parecer que ele odiava a filha), e por isso ficou parecendo algo tão súbito e que não se encaixou direito. E no final de tudo, quando ele percebeu que comeu a filha errada, se matou? Desculpe, não consegui engolir isso, e para mim me pareceu inverossímil e forçado, e pareceu que ocorreu isso apenas para fazer um show de fogos de artifício no final da história, quando o caos começou a se instaurar na família.

    Sobre o final… achei incrível!!! Mariana utilizar suas exímias habilidades musicais para revelar a grande verdade, foi genial. Porém, isso só funcionou tão bem pois o autor implantou com muita maestria esse elemento no piano, mostrando ao leitor que Mariana era pianista, e Monize não. Esse elemento ficou claro, e deu as pistas para o grande desfecho. É disso que estou falando!!! Minha reclamação com o pai é justamente essa… a falta de pistas, e má condução do leitor. Que bom que a parte do piano foi acertada, pois criou-se uma atmosfera surpreendentemente satisfatória para o encerramento desta história que, para mim, estava sendo bastante desagradável, mas que ganhou fôlego no final e se tornou divertida.

    Devido a toda confusão inicial, confesso que não compreendi exatamente o plano de Olavo. Eu teria que reler o conto para poder entender isso (farei isso mais tarde, quando eu for atribuir a nota), mas tenho certeza que o autor deixou as peças corretas para o leitor encaixar e entender tudo. Eu é que sou lerdo e demorei para começar a fazer ligação das coisas. E outra coisa que eu gostaria de criticar é a respeito da morte de Olavo. Ele morreu de quê? Overdose? Essa parte me pareceu conveniente demais… o cara morreu justamente no segundo exato em que estava para matar a protagonista? Isso para mim tem nome, e se chama Deus Ex Machina.

    Conclusão:

    PONTOS POSITIVOS:

    – Personagens interessantes, bem construídos e com objetivos particulares, que contribuem para toda a tramoia maluca do enredo.

    – Ótimos diálogos e interação dos demais personagens com a protagonista.

    – Final surpreendente, com uma cena bastante agradável, que lava a alma do leitor, diante daquele momento de lazarento da família de Monize se dando mal.

    PONTOS NEGATIVOS:

    – Começo desinteressante e muito confuso. A história só foi pegar no tranco lá pela metade. Em ocasiões fora do desafio, eu já teria largado antes mesmo de descobrir que a obra era boa.

    – Alguns problemas pontuais com personagens, como o plot twist forçado do pai, e a morte extremamente conveniente de Olavo.

    – História grandiosa demais para se encaixar num conto. Caberia melhor aqui uma novela, onde o autor teria espaço o suficiente para completar tocas as lacunas que ficaram, e não precisaria resumir e correr com sua narrativa.

    • Monize
      4 de maio de 2024
      Avatar de Monize

      Oh, minha nossa! Não, não, não! 

      Você estava indo tão bem, querido Thales. Sério, já te esperava por aqui e tinha curiosidade sobre seu parecer sobre a minha história. 

      Tive que interromper minha sauna para vir aqui dizer que NÃO, não houve consumação na cena de Mariana e o pai. Onde você viu isso? Comer? que linguajar terrível. Realmente fiquei preocupada com a possibilidade de dar a entender que essa cena foi além, mas fico aliviada de ter sido falha sua e não minha ou melhor, do autor(a). 

      Meu texto, de fato não é para um leitor comum, desavisado ou preguiçoso, veja bem, eu poderia ter feito uma narrativa linear, deixando as coisa mais claras, mas como você mesmo disse, pela grandeza da história eu não tinha muito como mostrar. Confiei que o leitor teria paciência, como posso representar melhor? Que o leitor teria a sutileza de desnudar o conto com paciência para ver tudo sob a camada. Mas vejo que muitos serão como o querido Givago, que chegou rasgando tudo de uma vez, sem paciência ou comprometimento de fazer a leitura uma boa experiência, ou mesmo o pobre Thiago que entendeu tão pouco também. 

      Me questiono se tudo isso não é uma questão de gosto pelo gênero literário abordado. 

      Não gosto de me explicar e queria reiterar que as polêmicas causadas pelos comentários não é sobre a opinião dos leitores e sim a avaliação, ao meu ver, irresponsável. 

      Ps: Joias, pagamento antecipado pelo serviço que Olavo prestou a Monize… tipo, matar a pobre Georgina. As joias obviamente que seriam…dela, certo? Bom, admito que essa parte ficou muito jogada mesmo. O texto absolutamente está longe da perfeição e até mesmo das expectativas que tive com ele. Mas se você puder notar, foi dos últimos a serem entregues, então claramente é um texto apressado de um autor que queria muito participar e arriscou. 

      No mais, obrigada pelo comentário e fico feliz que tenha encontrado pontos positivos.

  16. Antonio Stegues Batista
    1 de maio de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    O Duplo na literatura, foi abordado de diversas formas, foi inspiração para Robert L. Stevenson criar o doutor Jekyll e o senhor Hyde, Edgar A. Poe, criar o William Wilson, e outros, inclusive Will Smith luta com um clone seu e tem a novela, A Usurpadora e tem também A Outra, as irmãs Melissa e Melanie. Não vou repetir o conto. Gostei da escrita coerente, limpa e lógica, sem floreios e subterfúgios, sem rebuscamento porque eles não dão o impacto que as ideias dão.  Não gosto do verbo mais-que-perfeito, me incomoda, não tem lógica passado além, ou mais, do que o passado. Então, o final ficou fantástico, o velho sabia que Monize não sabia tocar piano e ele descobre que abraçou e se confessou a Mariana e não Monize. Para fugir do escândalo, só restou um caminho. Muito bom.

    • Luis Guilherme Banzi Florido
      2 de maio de 2024
      Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

      Olá, Monize! Tudo bem?

      Eu estava seguindo um padrão bem organizadinho de comentários, que eu copiava e colava usando a mesma estrutura pra todos. Infelizmente, agora estou voltando pro Brasil e no avião preciso usar o cel, de modo que todo meu padrão foi pro beleléu. Desculpe. Ainda assim, vou comentar com o mesmo empenho e usando os mesmos parâmetros e seriedade. Vamos lá!

      Caramba, nunca vi uma família tão repleta de filhos da puta! Não salva ninguém! A irmã rouba a vida da outra, apesar de ela parecer a pessoa mais decente da família. O pai é um molestador incestuoso, a mãe é uma interesseira odiosa. A irmã gêmea parece perfeita mas é uma FDP tbm. O primo, nem se fala. Não dá pra gostar de ninguém e nem torcer por ninguém hahahaha. O enredo é todo cheio de tramas e revelações, e o tom meio aristocrático das descrições e da família criou em minha mente uma imagem daquelas novelas de época, onde uma família cheia de desgraçados vive num casarão gigante e todo mundo tenta ferrar todo mundo. Gostei. Os plot twists também são bons, apesar de não serem espetaculares. Acho que a melhor revelação é a do pai, seguida do suicídio dele. Alias, o suicídio é um destino comum nessa família.

      Quanto ao ritmo, ele é bom, mas o começo é um pouco confuso. Tudo bem, pois o desenrolar da história junta as pontas, e você consegue entender tudo que rolou e todo o mistério vai se revelando. Foi um texto gostoso de ler, apesar de o começo ter me cansado um pouco e a confusão inicial ter me tirado um pouco o foco.

      A técnica também é boa, apesar de alguns diálogos terem me soado pouco verossímeis. Não todos eles, mas alguns momentos ficaram com mais cara de novela, quando os personagens verbalizam de forma muito mecânica o que estão sentindo e pensando, como quando o primo fala que precisa das jóias pro ópio e etc. Pensando naquilo como uma situação da realidade, o primo sabia (ou achava que sabia, já que ele não sabia q ela era a irmã gêmea) que ela conhecia seu plano todo, então soa inverossímil quando ele explica o plano pra ela em voz alta. Talvez seja legal dar uma repensada nesses diálogos mais expositivos, pois eles acabam tirando um pouco da imersão. Mas como falei, não são todos e a maioria dos diálogos está boa.

      Ah, uma observação e uma dúvida: não entendi bem como o Olavo morreu. Foi overdose? E sobre o pai, o plot twist é realmente muito bom, como eu mencionei antes, mas achei a mudança de comportamento dele de alguém que odeia a filha e quer agredi-la pra um velho taradao foi um pouco brusco demais. Como o pai não aparece entre os dois momentos (a não ser que minha memória me traia), isso fica um pouco abrupto. Uma recomendação: talvez se o pai tivesse alguma aparição entre os dois momentos, e nessa aparição ele tivesse algum completamente mais estranho, isso desse indícios da mudança dele no final, o que encaixaria melhor. Mas, por outro lado, talvez isso entregasse o plot twist. Enfim, é uma sugestão/ideia que tive, e quis compartilhar.

      Acho que já falei demais, mas como conclusão: um texto bem escrito, com personagens odiosos (propositalmente, e portanto ponto pra você), uma trama repleta de reviravoltas e planos maliciosos, que tendeu uma boa leitura (começou meio truncada mas depois deslanchou). O clima meio novela de época, favorecido por alguns diálogos vilanescos excessivamente expositivos, atrapalha a imersão em alguns momentos, mas não prejudica a experiência geral.

      Ah, dei até um ponto extra pro desfecho, porque adorei a protagonista tacando fogo no parquinho e expondo a família maldita pro mundo. Ótimo final.

      Construção de personagens: 8,0
      Enredo: 9,0
      Desfecho: 10
      Técnica: 7,0
      Ritmo: 8,0

      Nota final: 8,4

      Parabéns e boa sorte!

      • Monize
        4 de maio de 2024
        Avatar de Monize

        Oi, Luis queridooo, tudo bem? Fez boa viagem? desculpe a demora em responder, não que estivesse esperando. 

        Essa família é encantadora, não acha? E Mariana é isso… ingênua, boa, boba…sofredora…bem…veja as escolhas que ela fez na vida tendo um futuro perfeito esperando. 

        Consigo entender, pessoas boas demais são chatas e a vilania por demais atraente. Pelo menos na ficção. 

        Pensei em mostrar em vários momentos setas que apontassem o caráter do pai, mas resolvi não fazê-lo pois sim, poderia estragar o impacto do final…mas de forma alguma deixar isso solto. Imagino que citar coisas como, filha preferida… o fato dele estar vivendo um luto, bêbado e naquele momento ele precisasse se apresentar para a sociedade sóbrio, as coisas voltaram a funcionar na cabeça dele, e esse lado com certeza seria o primeiro a ser exposto. Mas entendo super… acharem forçado.

        É engraçado que a história começou por esse final, então quando falam que coloquei ali pra forçar acho tão…injustos rs. Foi a primeira peça do quebra-cabeça. 

        Já no começo da cena da choupana deixei claro a pouca saúde de Olavo, mas sim, poderia deixar isso mais evidente na primeira cena em que aparece. No primeiro momento ele era morto de fato pela Mariana, mas após a construção da personagem não achei que seria algo que ela fizesse. Talvez tenha sido iludida pela pobre sofredora também. 

        Fico feliz que tenha apreciado a história no geral. 

        Obrigada!

    • Monize
      4 de maio de 2024
      Avatar de Monize

      Oi Antônio querido. 

      Temos aqui  um apreciador do gênero que abordei. Adorei seu comentário, um bálsamo. 

      Também não gosto de muitos floreios, embora quisesse  muito ter  facilidade de usá-los. 

      muito obrigada por apreciar minha história.

  17. Givago Thimoti
    1 de maio de 2024
    Avatar de Givago Thimoti

    A vida que eu te dei! (Monize)

    Bom dia, boa tarde, boa noite!

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Viagem/Roubo – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

    No mais, inspirado pelo Marco Saraiva, também optei por adotar um estilo mais explícito de avaliação, deixando um pouco mais organizado quando comparado com o último desafio. E também peguei emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente digno de destaque.

    Mesmo diante de tudo isso, as notas e os comentários podem desagradar, como percebi hoje, dia 29/04/24. Como já está no meio do desafio, e eu já avaliei alguns participantes, eu vou manter o estilo de avaliação, “anunciando” a nota e tecendo minha opinião do mesmo jeito. A diferença é que essa nota é provisória e sujeita a alterações. Obviamente isso se estende aos contos já avaliados.

    Outra coisa que eu percebi que deu ruído até o momento também foram os critérios. Vamos lá, para tentar esclarecer: refleti bastante sobre o assunto e a minha conclusão é a seguinte: não consigo avaliar um texto literário como um conto, dentro desses critérios, sem considerá-los como um todo.  Afinal, uma técnica apurada pode beneficiar a história do mesmo jeito que o contrário pode ocorrer; um conto com a escrita não tão boa pode afetar a história, seu desenvolvimento e seu impacto e assim por diante.

    Por fim, é isso! Meu critério é esse e não sofrerá mais alteração. Creio que é o mais justo entre meu jeito de avaliar, a lisura do certame e o respeito e a consideração pelo autor/pela autora.

    Avaliação + 1ª e 2ª Impressões

    “A vida que eu te dei” é um conto que me desafiou. A primeira impressão que tive quando terminei a leitura foi: ué! Perdi alguma coisa. Como se tivesse algo a mais, talvez uma técnica que eu não conheça ou algum detalhe da história. Segui. A leitura é confusa, e demanda paciência. A segunda leitura limpou algumas das confusões, mas a impressão inicial foi forte demais para ser alterada.

    HISTÓRIA  (1,25/3)

    A história é ok, mas ela poderia ser melhor.

    “A vida que eu te dei” é a história de Mariana, uma pianista que sofre um acidente numa cachoeira com sua irmã gêmea, Monize, e é meio que levada, meio que se deixa levar, a roubar o lugar da irmã. A história se desenrola e nós vamos descobrindo com a narradora-personagem que Monize não era a irmã que Mariana acreditava que era.

    Monize cometeu seus deslizes, envolvendo-se em um roubo de joias com o primo Olavo. Rouba também o amado de Olívia, fingindo que ela havia engravidado de primeira numa noite que sequer havia acontecido. O famoso golpe da barriga.

    A mãe reconhece a troca das filhas e não desfaz, afinal, ela tem seus próprios interesses. Quais? Não sabemos, não fica muito claro. Status, eu chutaria. O pai, por outro lado, não parece reconhecer as filhas. Ainda assim, ele também tem seu interesse escuso.

    A história, ao final da segunda leitura, me pareceu complexa e/ou grande demais para o espaço utilizado, deixando algumas dúvidas no ar. Claro, é um conto de suspense, mas ainda é necessária uma base mínima de solidez. E esse clima de incerteza foi potencializada pela técnica de escrita, na minha opinião.

    E por que eu digo que a história é ok, mas poderia ser melhor? A família disfuncional de Mariana dá a um conto de suspense como “A vida que eu te dei” uma profundidade psicológica dos personagens que ele tanto necessita e também uma profundidade narrativa para ser explorada. Entretanto, esse arcabouço literário não foi bem explorado. São muitos detalhes que ficam meio soltos, que mais impressionam (e por vezes confundem) do que agregam propriamente na história… Exemplo, o pai que abusa da própria filha Monize (que na verdade é Mariana). Considerando que ele não gosta de Monize (palavras da própria narradora-personagem), preferindo Mariana, mas ainda assim, impõe agressões sexuais à Monize… Pode ser implicância minha, mas eu achei tão confuso e não muito verossímil que não comprei a ideia.

    Ainda em termos de história, acho que vou criticar mais 2 pontos. Mariana também é uma personagem que não me agrada; uma (eterna) vítima, que sofre de tudo na história. Se a gente for refletir bem, ela é quem tem a identidade roubada pela irmã e pela mãe e não o contrário. Mas também tem uma passividade em perder sua identidade, abrindo mão de ser Mariana para ser Monize, (mal) explicada tão somente por um trecho “Mas em meu íntimo eu sabia que sempre desejei ser Monize Coimbra, a criatura mais extraordinária que qualquer um poderia conhecer. Ela era capaz de resolver qualquer impasse, não havia dias nublados com ela por perto. Quem não gostava dela?”. Aqui, penso que seria fundamental mostrar porque Monize era mais bem quista do que Mariana, ao invés de só mencionar.

    O final também é muito confuso. Aberto de um jeito nada bom. Somente sei que teve um tiro vindo de cima, um pandemônio e Mariana (assumindo sua identidade) tocando piano em meio ao caos. Quem morreu (se é que alguém morreu), quem atirou…

    Infelizmente, faltou investir em demonstrar mais a profundidade psicológica do que apenas deixar tão nas entrelinhas, escolhendo melhor que cenas da história mostrar ao leitor, diminuindo a história.

    TÉCNICA  (1/3)

    Em termos de técnica, sinto que o conto deixou a desejar nesse critério.

    Primeiramente, a nível gramatical, pois percebi alguns deslizes que poderiam ser corrigidos com uma revisão gramatical mais cuidadosa. “Ela ficou em silencio” sem acento circunflexo na palavra silêncio, algumas vírgulas faltando em algumas frases, ponto para finalizar o diálogo ao invés de usar o travessão… Bom, esses fatores me fizeram tirar alguns pontos.

    Em termos de técnica, outra coisa que me incomodou foi o estilo confuso/nublado, de narrativa. Contribui para esse clima os saltos temporais que a narradora faz. Me soou um tanto exagerada essa questão da confusão.  Sim, é típico do gênero suspense. Contudo, em minha leitura, a voz do narrador-personagem é confusa por demais. Como disse anteriormente, ela é passiva demais. É uma narradora suspeita (creio eu pela sua inocência e passividade), a qual o leitor não pode confiar, escrita pelo autor/pela autora sem a intenção de ser, na minha opinião. E aqui, penso que a escrita confusa também contribuiu para essa sensação minha. Faltou refinar melhor a escrita, tem algumas frases mal construídas…

    TEMA  (1/1)

    Adequado ao tema. Roubo de identidade, de joias, de inocência… É roubo para tudo que é lado.

    IMPACTO  (0,75/2)

             O conto impacta muito mais pelo conteúdo das cenas do que pela escrita: temos assédio sexual de pai contra filha, tentativa de homicídio, suicídio. Isso tudo impacta, mas não sei se é o tipo de impacto bom. É tanta coisa que soou apelativo. A confusão atrapalha bastante no envolvimento do leitor com a história.

    ORIGINALIDADE (0,75/1)
             Acho que é um conto tem seus clichês, mas que tentou também ousar um pouco, como em Mariana tocando em meio ao pandemônio e até mesmo o suicídio/acidente…

    Nota: 4,75 (como não pode notas com mais de 2 casas decimais, vou arredondar para 4,8)

    Trecho interessante: “Minha mãe acariciou minhas bochechas com tanta delicadeza, algo que não recordava dela há tempos, e enxugou meus olhos inundados. Uma lágrima solitária desceu lentamente por seu rosto.

    Então ela falou algo que mudaria tudo.

    — Vai ficar tudo bem, minha filha. Eu estou aqui, minha amada Monize.” Grande momento do conto.

    • Monize
      1 de maio de 2024
      Avatar de Monize

      Oi, Givago querido, tudo bem? 

      Minha nossa, o abre alas do seu comentário é maior que o meu conto inteirinho.  Bom, se eu estivesse distribuindo notas tão ruins aos contos dos meus coleguinhas como você, também faria uma dissertação para me justificar. 

      Muito obrigada pelo comentário, pela nota e por ter se esforçado tanto nessa leitura. Sabia que era um risco enviar, que seria 8 ou 80. E claro, ela não é perfeita nem para mim, que dirá pra você.

      Você levantou ótimos pontos!

      Lendo sobre as confusões que ele te causou, me pego na dúvida se devo elucidar ele pra você ou não. Afinal, a função do autor  é escrever o que sua imaginação desejar e o leitor interpretar como quiser.

      Eu poderia destacar no conto  com um marca texto stabilo rosa choque todas as respostas pros seus questionamentos,  pois elas estão lá. Mas vou deixar você com sua interpretação, que é soberana.

      É sempre frustrante quando o leitor não consegue captar a essência do conto, no seu caso, não consegue entender a parte principal. Aquela que o autor mais se esforçou para ser perfeita.  

      Estou muito curiosa pra saber qual é o seu conto, penso em estudá-lo profundamente para aprender principalmente o que é essa técnica que você tanto citou e que aparentemente não tenho.  

      Obrigada, amei!

      • Givago Domingues Thimoti
        2 de maio de 2024
        Avatar de Givago Domingues Thimoti

        Olá, Monize! Eu estou bem e você?

        Eu havia prometido para mim que não iria responder comentários sobre a minha avaliação. Preciso fazer mil coisas, me justifiquei! Depois de algum tempo eu refleti e como um adulto responsável, mudei de ideia. Claramente, se estou gastando meu tempo com meus comentários e minhas notas, que estão desagradando e muito algumas pessoas, como você, eu imagino, penso que o maior erro que eu poderia fazer é manter meu silêncio e ignorar suas críticas e suas insatisfações. Preciso assumir a responsabilidade pelo que faço.

        Então, primeira coisa: perdão se a crítica foi acima do tom! 

        Quanto à falha na interpretação do seu texto, sabe o que me lembrei? Daquela música dos Racionais MC, Negro Drama, bem o comecinho: “entre o sucesso e a lama/ Dinheiro, problemas, invejas, luxo, fama”. Lá para frente, eles ainda anunciam que a estrada é venenosa e cheia de morteiros. 

        Pois é, o sucesso para o escritor é conquistar aquele que lê seu texto. A lama talvez seja ser completamente mal interpretado. Já para o leitor, o sucesso é ler algo que o arrebate do jeito que ele quer ser arrebatado e a lama é passar por algo insosso. 

        Nessa estrada aí de expectativas, você enquanto autora com certeza não esperava um comentário/ uma nota cruel da minha parte (ou talvez já esperasse). Eu enquanto leitor procuro algo que vai me arrebatar de alguma forma, que vai me conquistar de algum jeito. Enquanto leitor desse seu texto em específico (porque eu não limito ninguém a um texto) desculpa, mas essa foi minha sensação. Expectativas perdidas na estrada sinuosa entre o leitor e o escritor.

        Não concorda? Tudo bem! Acha que eu faço meus comentários e minhas notas para diminuir os colegas? Não faço, mas como vou te convencer do contrário? Preciso te convencer? Não, mas preciso ao máximo demonstrar que não é a minha intenção porque não creio. E penso que, no meio disso tudo, tenho liberdade e discricionariedade para tecer meu comentário e minha nota do jeito que eu compreender e interpretar, sempre considerando que sim, posso errar. Por incrível que pareça, tento ajudar (embora eu já não sinto que estou contribuindo da maneira que achei, como no desafio anterior).

        No mais, sobre a questão técnica, penso que fui claro sobre isso em relação ao seu texto. Talvez discorde do jeito que falei, mas penso que há o que melhorar. Você comentou que está um tanto quanto ansiosa para ler o meu e aprender sobre. É verdade, pode bem ter um teto de vidro em cima de mim, frágil o suficiente para se partir no caso de você, ou qualquer outro autor/outra autora que sentiu lesado pela minha avaliação, apontar o óbvio: ele que avalia (e avalia mal) não é melhor do que nós, mal avaliados. É pior!Se este for o caso, não tenha dúvidas! Afinal, eu fiquei em antepenúltimo no último desafio. Vou fazer o que sempre faço: assumir com responsabilidade meu erro, colocar um sorriso amarelo no rosto, lidar com as consequências e seguir em frente.

        Sobre o que é técnica ou não para mim, (nem sei ainda se é relevante, mas vou continuar mesmo assim), penso que tem a ver com uma escrita bem feita, tanto no nível gramatical quanto no nível de literatura. Sobre o primeiro, eu sei que é polêmico se entregar fielmente às regras gramaticais. Há literatura na subversão gramatical sim, Saramago que o diga. Guimarães Rosa que o diga. Mas, quando o objetivo não é a subversão, eu sempre presto atenção com algum cuidado.

        Técnica também é capacidade de escrever com beleza. A beleza está nos olhos de quem vê. Você viu beleza em vários trechos de seu conto, eu aposto. Outros também enxergaram, pude perceber. Infelizmente para você (ou para mim), eu não enxerguei. Mais uma vez, penso que isso se limita ao texto que li, e não resume o autor. 

        De novo, não sou nenhum primor técnico. Estou longe disso. Sou um leitor, também escritor, e entendo que por mais que eu seja sim, soberano, é uma soberania relativa. Minha vontade não é melhor e nem pior. Sinceramente, o que você pode fazer de melhor é pegar o lhe cabe em meu comentário (se houver algo) e o restante jogar fora, deixando ali no acostamento. Siga viagem! O caminho dessa estrada é sinuosa, cheia de morteiro, pedras, venenos, mas também há quitandas com docinhos, paisagens belas e boas pessoas.

        Boa viagem, Monize! Que não lhe roubem mais o tempo! 

    • Monize
      2 de maio de 2024
      Avatar de Monize

      Oi de novo, Givago. 

      Bom, parece que doeu aí  também, né? Vamos por o band-aid. 

      Chumbo trocado não dói. Dizem. 

      Não me leve a mal, não estou aqui choramingando pq não gostaram do meu conto ou por não aceitar críticas, pelo contrário. O Marco comentou a mesma coisa sobre minha falta de técnica e me deu a mesma nota nesse quesito. O que me pegou (além do fato de aparentemente está ocorrendo um torneio interno para revelar o mais novo ícone do EC, o temido comentador implacável, o rei das pedradas) é você não ter entendido o conto e criado uma tese em cima disso para justificar. Bom, pelo menos a parte final dele. A sua confusão criou margem para que eu desconsiderasse boa parte do seu parecer. 

      Mas, ah, isso é bobagem. Meu comentário foi muito mais sobre ação e reação. 

       Sobre avaliar seu conto em comparativo, desconsidere, não tenho cacife pra analisar esses quesitos, mas sou boa em história,criatividade, que no fim, pra mim é o mais importante. 

      Continuo afirmando que o leitor é soberano. E sempre há algo para tirar de uma opinião, seja ela boa ou ruim. E você está claramente se esforçando para dar o melhor de si na sua avaliação. Dedicando tempo e trabalho. 

      Mesmo que não na sua melhor versão. 

      O que aconteceu? você era tão meigo. Más companhias entrecontistas?

  18. Kelly Hatanaka
    1 de maio de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Costumo avaliar os contos com base nos seguintes quesitos: Tema, valendo 1 ponto, Escrita, valendo 2, Enredo, valendo 3 e Impacto, valendo 4. Abaixo, meus comentários.

    Tema
    Adequado ao tema. Uma mulher “rouba” a identidade da irmã, que por sua vez, “roubou” o noivo de outra mulher e umas joias de alguém.

    Escrita
    Muito boa, bem clara. Se há erros, não encontrei.

    Enredo
    Estou meio tonta de tanta reviravolta. Questão de gosto pessoal, não gosto de histórias descritivas, que falam, falam, falam, e não contam nada. Aqui temos o completo oposto. A cada duas linhas, um plot twist, uma revelação. Meio demais? Bom, eu ainda prefiro assim.
    Monize se mata para dar a Mariana, sua gêmea, uma nova vida (o porquê não fica claro e é até estranho, porque a vida horrível é de Monize, não de Mariana). A mãe das duas diz a todos que quem morreu foi Mariana, porque ela prefere Monize e ela precisa que Monize se case com o noivo rico. Monize estava grávida do noivo, para força-lo a se casar e confessou tudo em uma carta (por que vilões raiz sempre têm este momento de burrice?). Monize, o demônio, também roubou jóias com a cumplicidade de seu primo, Olavo, que morre ao tentar arrancar de Mariana a localização das joias. Por fim, Mariana descobre que seu pai, a única pessoa que sentia falta dela, era um péssimo pai que tinha um relacionamento com Monize.

    Ufa, esqueci de alguma coisa?

    Impacto
    Gosto? Gosto. Porém, eu fico com a sensação de que foi um pouco excessivo. Foi como assistir a um compilado de novelas mexicanas, e olha que uma novela só já é um exagero. Ninguém é bom nesta história. Exceto Mariana, todos são pessoas execráveis. E Mariana, a boazinha, não apenas sofre, mas é pisoteada pela vida.
    Acho que menos teria sido mais. Este excesso de drama por muito, muito pouco, não resvala no pastelão. Os personagens estão a um passinho de ficarem caricatos.
    Por pouco. Não chegou a tanto e eu gostei de sua história.

    Ficaram questões sem resposta: tudo bem que a vida de Monize era horrível. Mas, por que ela se matou, e por que fez isso parecer como se ela estivesse dando algo para Mariana, quando na verdade, ela tirou tudo da irmã?
    No mais, arrisco dizer que o noivo rico se apaixonará por Mariana, que vai sofrer horrores nas mãos da ex-noiva vingativa, lá pelas tantas, vão tentar provar que ela é Monize e que ela matou Olavo, vão achar as joias roubadas nas caixas que a mãe de Mariana levou do quarto dela. Mariana vai ser presa, sofrer muito na prisão, até conquistar a todos com sua bondade. Por fim, o noivo rico vai ouvir o coração, vai lutar pela libertação de Mariana e se casar com ela.

    • Monize
      1 de maio de 2024
      Avatar de Monize

      Oi, Kelly querida, tudo bem?

      Seu comentário me fez revirar no túmulo. Vou elucidar apenas um ponto: Eu não me matei pra dar vida a minha irmã, a vida que eu dei a ela foi quando fiz de tudo pra que fosse embora, quando a tirei do ambiente toxico e perigoso, quando entendi que poderia acontecer com ela o que aconteceu comigo. Quando assumi todos os pecados de minha família. Precisava que ela estivesse longe também pra poder ser quem eu queria ser, sabe? sem aquele reflexo refletindo em mim toda hora. Bom, explico melhor isso em uma carta, que ela ainda não encontrou.

      Mas inteligência nunca foi o forte da minha irmã, pobrezinha. Me esforcei tanto e ela assume minha vida de merda.

      ps: A semente que levei comigo não era do meu noivo. Isso foi meu estopim.

      Ps² Ex- noiva vingativa?

      Adorei seu comentário, muito obrigada.

      Agora deixe-me descansar. Tá um calor aqui.

      • Kelly Hatanaka
        3 de maio de 2024
        Avatar de Kelly Hatanaka

        Oi Monize.

        Desculpe por ter perturbado o seu descanso eterno. Espero não ter interrompido nenhuma atividade infernal importante.
        Agora entendi o que você fez por sua irmã. Fiquei com a impressão de que tinha sido o suicídio.

        E quanto à “ex-noiva vingativa”, é que, em minha fanfic, a Georgia forjou a própria morte e volta depois pra infernizar Mariana. Too much?

        Kelly

  19. Thiago Amaral
    1 de maio de 2024
    Avatar de Thiago Amaral

    Oi, Monize. Obrigado pelo conto!

    Ele começa bem misterioso e, até certo ponto, até desorientador. Tive que ler algumas partes mais de uma vez, voltar, ligar os pontos. Mas, ao fim, consegui entender tudo que aconteceu, e você foi capaz de contar sem precisar explicar, o que é muito melhor.

    Achei a trama, a ideia geral da troca de identidades muito interessante. Potencial para muitas histórias além dessa. Parabéns por construir bem essa colcha de retalhos. Só fiquei pensando como aconteceu a troca em si: como concluíram qual das irmãs havia sobrevivido. Foi a sobrevivente que contou? Os pais não conseguiam distinguir as duas, apesar de serem gêmeas? Não sei bem como essas coisas funcionam, mas fiquei com essa questão na cabeça, que aftea a verossimilhança da história.

    Achei a condução da narrativa bem escrita, com algumas frases poéticas. A maioria não chegou a me impactar ou trazer algo muito novo, mas nada atrapalhou. A escrita é firme, adequada, competente. Quanto ao estilo, apenas ficaria atento ao uso de vírgulas que poderiam ser pontos finais. Para mim, isso traz um estilo informal demais, que denota imaturidade. Mas essas são apenas escapadelas que não estragam a obra em geral, que está boa.

    Como exemplo do emprego das vírgulas que mencionei, cito: “Ela continuou a falar automaticamente, colocando tudo que podia nas caixas, enquanto isso eu tentava me recuperar da dor que a atitude dela estava me causando.”, e “— Limpando o quarto, gostaria de fazer isso sem você aqui, mas já que decidiu viver aqui o resto de sua vida, pelo menos vamos arranjar mais espaço.”

    Apesar disso, gostei muito da cena com a mãe, quando ela limpa o quarto. A frase que mais me marcou foi “Com essas palavras ela saiu do quarto, levando o que sobrou da minha vida dentro de velhas caixas de papelão.” Acredito que tenha sido o uso mais interessante do tema de uma irmã trocando de identidade com a outra: a dor da preferência de uma mãe.

    O que me pareceu fora do tom foi o abuso do pai. Me pareceu jogado ali sem muito propósito para a trama além de chocar o leitor. Funciona bem como plot twist, surpreende, mas ao meu ver não contribui muito para tudo que a história trouxe até ali. Serve, sim, de estopim para a cena final, mas acho que poderia ter havido uma condução melhor.

    Falando no final, achei ótimo, uma metáfora que encerra o conto de forma excelente. Ela toca o piano, expressando sua essência, sua identidade, sendo ela mesma, quebrando a angústia que a atormenta desde o início. Acho que não poderia ter sido melhor!

    Fiquei curioso para saber mais sobre o relacionamento das irmãs e a personalidade da que morreu. Ela me pareceu uma personagem interessante, mas que permaneceu um tanto misteriosa até o fim.

    Bom, é isso. Parabéns pela contribuição, e até a próxima.

  20. Marco
    1 de maio de 2024
    Avatar de Marco

    Em primeiro lugar: durante este desafio eu não terei acesso a um teclado brasileiro, então os meus comentários serão desprovidos da maioria dos acentos. Perdão pela dor nos olhos!
    Em segundo lugar: resolvi adotar um estilo mais explícito de avaliação, pegando emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente bela ou marcante.

    —————————————-

    Avaliação

    Cacetada! Este conto eh reviravolta atras de reviravolta, eh novela da Globo misturada com novela mexicana… misturada com filme do Shyamalan! Todo mundo eh ruim na historia, menos Mariana. Pior que eu gostei! Geralmente nao curto contos onde todas as pessoas sao vilanescas de alguma forma, mas neste a coisa funcionou, especialmente com toda a ambientacao melancolica. Eh uma leitura que prende, que me fez querer continuar lendo para saber a historia completa. Parabens!

    TÉCNICA ●◌◌ (1/3)
    Este eh o unico ponto no conto que, para mim, quebra um pouco o encanto. A escrita esta indecisa. Por vezes eh poetica e rebuscada demais, outras vezes eh simplista quando nao deveria. O conto pede uma mao mais delicada para tecer a atmosfera necessaria para certas revelacoes, mas a narrativa aqui soou corrida. Ha erros de digitacao tambem, e sinceramente o inicio do conto esta muito confuso, com lapsos de tempo que me fizeram ler e reler o inicio para tentar entender o que eu estava lendo.

    HISTÓRIA ●●● (3/3)
    Olha… que historia! Gostei muito da trama. Em uma primeira leitura ela eh bastante melodramatica, mas os personagens sao cativantes, e a historia se desenrola muito bem. A revelacao da identidade dela ao toque do piano foi arrepiante!

    TEMA ●● (2/2)
    Ela roubou a vida da irma. Uma forma bem original de abordar o tema “Roubo”!

    IMPACTO ● (1/1)
    O conto pega bem o leitor, e a cena final ainda esta na minha cabeca. Excelente! 🤯

    ORIGINALIDADE ● (1/1)
    Voce precisou de muita criatividade para escrever este conto. Gostei demais da originalidade da trama.

    Trecho inspirado

    “— Acredite, minha filha, está doendo como doeria em qualquer mãe. Mas dou graças a Deus todos os dias por ter sido ela, e não você. Não suportaria.

    Com essas palavras ela saiu do quarto, levando o que sobrou da minha vida dentro de velhas caixas de papelão.”

    • Monize
      1 de maio de 2024
      Avatar de Monize

      Marco, querido.

      Estou em choque por você ter gostado do meu conto, chato como você é ( sem ofensas rs)

      Amei demais, já valeu apena ter enviado. Você entendeu cada pedacinho dele.

      Detestaria enviar um conto cheio de marasmo, aqui é duplo carpado pra cima.

      Valeu!

      • Marco
        2 de maio de 2024
        Avatar de Marco

        Ah, nem sou tao chato assim vai 😅

  21. vlaferrari
    28 de abril de 2024
    Avatar de vlaferrari

    Um excelente conto. Uma escrita soberba e bem pontuada em ação e suspense. O enredo me lembrou em certos momentos as aventuras de Misery narradas por Paul Sheldon no romance escrito para Annie Wilkes sob a pena de Stephen King. Reviravoltas.
    De certa maneira, merece “palcos” maiores pois é uma excelente leitura de final de domingo, no final do desafio. Não notei erros e não tenho nenhum comentário sobre isso ou aquilo.

    Quando eu crescer, quero escrever assim. Parabéns e muito sucesso por aí. Aqui, já ganhou.

    • Monize
      1 de maio de 2024
      Avatar de Monize

      Obrigada pelo comentário, não o conheço, mas saiba que foi muito importante o primeiro comentário ser positivo, alias, tão positivo assim!

      Adorei as referências.

Deixar mensagem para Luis Guilherme Banzi Florido Cancelar resposta

Informação

Publicado às 28 de abril de 2024 por em Viagem / Roubo e marcado .