Acordou com a bexiga cheia, um balão transbordando de mijo prestes a estourar. Era tarde, queria dormir. Na verdade, deveria, não tinha uma boa noite de sono fazia tempo. Precisava de forças para manter os olhos abertos e aguentar a rotina, o mundo não para e cuida de você por causa dos seus problemas de ansiedade. Esforçou-se e elencou as tarefas imediatas a serem cumpridas: ir até o banheiro minúsculo, não deixar nada dentro de si, puxar a descarga, lavar as mãos por trinta segundos, voltar, fechar os olhos, dormir. Só que errou, sempre errava. No sexto passo do trajeto, em um movimento involuntário, olhou para o sofá. Aquele móvel murcho lhe acenou, como uma vizinha fofoqueira que chama para contar as novidades.
Atraiu-se pelo magnetismo do álbum largado no couro barato do estofado. Objeto estranho, que não estava ali quando foi se deitar. As únicas fotos que guardava, as dos 15 anos da sua filha e as da sua formatura, ficavam em duas pastas na estante de livros. Franziu a testa em busca de respostas… Poderia ser um segredo da sua cria, algo que ela esqueceu de esconder. A ânsia de se intrometer e saber de algo que não era da sua conta brotou como alergia nas suas mãos, que começaram a coçar. Então cumpriu os quatro primeiros itens da última lista mental que elaborou, mas, na volta do sanitário, parou, pegou o álbum, acendeu a luz do quarto, foi para a cama e se cobriu. Por alguns momentos, parou de se enganar que criaria uma rotina de sono.
A única mensagem da capa era o azul desbotado pelo tempo, feito de um material barato. Na contracapa, escrito em uma caligrafia tremida e que não lhe evocava ninguém, as palavras “minhas viagens”, coroadas com flores de papel crepom. Um cheiro metálico recendeu, como se as folhas estivessem enferrujadas.
PRIMEIRA FOLHA
Foto 1, colorida (SEM LEGENDA)
Um quarto em ruínas, sem janelas. Está vazio e destruído pela ação do tempo. No meio do cômodo, uma mesa com uma máquina de costura, ambas aparentam ótimo estado. Não há nenhum ser vivo na imagem.
Foto 2, colorida (SEM LEGENDA)
Um campo de soja. Um homem e uma mulher estão na frente do campo. O braço dele está ao redor do pescoço dela. Nenhum dos dois sorriem.
Foto 3, colorida (LEGENDA ESCRITA COELHO)
O mesmo campo, agora sem figuras humanas. Um animal, parecido com um coelho, tenta atravessar o caminho traçado na plantação.
Foto 4, colorida (SEM LEGENDA)
Uma casa de madeira vermelha e seu pátio são enquadrados ao longe, durante a noite. Não aparecem figuras humanas na fotografia, mas uma janela da residência está iluminada.
Expulsou aquilo das suas mãos, jogando-o no espaço vazio do colchão. Porém, se arrependeu instantaneamente e, usando as pontas dos dedos, recolheu o álbum. A inexplicável tristeza que sentiu apertou o seu peito e lhe irritou. Outra discussão se armava, pois resolveu perguntar se aquilo era mesmo da sua filha. Contudo, a visão da jovem dormindo sossegou o seu rompante. Deitada ali, a moça que começou a trabalhar no shopping e quer ir morar com o tio no estrangeiro, parecia ainda precisar dos seus braços para dar passinhos trôpegos. Saiu do quarto em silêncio, preservando aquela gota de pureza cada vez mais rara com o acumular dos dias.
Ia largar aquela estranheza na área comum do prédio, não importava que era quase madrugada. O zelador que desse um jeito, que outro apartamento fosse brindado com aquele mau agouro de papel. Só que as razões para as pessoas dormirem à noite vão muito além de uma vida saudável. Pegava as chaves quando escutou uma respiração do outro lado da parede. Escuridão no corredor, o trinco brilhando em silêncio. Mas estava ali. Era nítido o barulho de pulmões enchendo e esvaziando, o som grudado na madeira vagabunda da porta. Perguntou alto quem era, na esperança de que fosse apenas um vizinho sendo inconveniente. Recebeu o barulho de centenas de dedos batucando e um assobio fino. Depois, a resposta em forma de ordem:
— Volta para o sofá e termina de ler.
Sentiu vergonha e obedeceu como se fosse um pedido de Fabiana, a sua professora preferida e paixão platônica durante toda a escola.
SEGUNDA FOLHA
FOTO 1, colorida (LEGENDA ESCRITA PRAIA, 19**)
O homem e a mulher da primeira folha aparecem sentados em cadeiras de praia, debaixo de um guarda-sol. Vestem camiseta branca e bermuda, mas o tempo está nublado. O homem sorri, a mulher não.
FOTO 2 e 3, coloridas (SEM LEGENDA)
Fotos idênticas do mar, sem figuras humanas. Chove e, em ambas as imagens, um navio cargueiro aparece ao fundo.
FOTO 4, colorida (SEM LEGENDA)
A mulher das fotos está sozinha e ruma em direção ao mar. Ela está com a mesma roupa do seu último registro e parece caminhar em direção ao navio.
Quem ou o que quer que fosse continuava no corredor, respirando compassadamente. Não sabia se perguntava algo, se enfrentava esse absurdo. Se ignorava tudo e fazia outra tentativa de pegar no sono, que loucura, podia ser só um pesadelo muito vívido. Antecipando-se aos mudos desejos de rebeldia, o seu interlocutor lhe passou um papelzinho por debaixo da porta. Era um folheto de propaganda dobrado em quatro partes. No meio, desenhado com o que parecia ser giz de cera roxo, uma carinha triste. Ao lado, uma seta e a pergunta “é você aqui?”. Amassou aquilo e a repreensão foi simultânea:
— Nananinanão, guarda a mensagem no bolso do teu pijama e segue agora!
Assim foi feito.
TERCEIRA FOLHA
FOTO 1, colorida (LEGENDA ESCRITA PRAIA, 19**)
O homem e a mulher na frente de uma estrada de terra batida. Não passam carros, ele carrega um par de malas. A mulher possui um embrulho em suas mãos e não olha para a câmera.
FOTO 2, colorida (LEGENDA ESCRITA CASA AZUL, 19**)
O homem aparece sentado em uma sala de paredes brancas. Olha para a câmera e parece ter sido fotografado antes de fazer um gesto, a sua boca está aberta. A mulher está no fundo, não é enquadrada pela foto.
FOTO 3, colorida (LEGENDA ESCRITA CHURRASCO, 19**)
A imagem mostra uma área de serviço e enquadra uma mesa com uma imensa vasilha repleta de carnes cruas. As moscas voam ao redor, não é possível distinguir os tipos de carnes. Não há pessoas na foto.
FOTO 4, colorida (LEGENDA ESCRITA CHURRASCO, 19**)
A mulher aparece lavando louça em um tanque. Ela está sozinha e olha para a câmera, mas não sorri.
Mesmo protagonizadas por estranhos, aquelas imagens machucavam como se fossem capturas da sua família. Aliás, antiga família… O mistério e a melancolia de cada quadro doíam. Como se elas avisassem a solidão da sua presença e esta fosse voando sentar ao seu lado no sofá, a única dos amigos de infância impossível de evitar. Lágrimas correram por entre as rugas que apareciam no seu rosto. Sentiu-se o último ser da terra e, assim sendo, desejou conversar. Tentou estabelecer um diálogo com quem estava mais perto:
— O que eu te fiz? Não incomodo ninguém, não faço mal pra gente nenhuma. Pago as minhas contas, cuido da minha vida. O que eu te fiz?
— Olha só, eu não tenho culpa se o teu tapete foi tecido dessa forma. Só cumpro o meu trabalho e mandaram que hoje eu viesse aqui. Escolho ninguém não, nem sabia que tu existia até pouco tempo atrás. E de verdade, nem me importo também.
Engoliu em seco:
— Tá certo, o que acontece agora?
— Você vai para a próxima página.
— Cara, eu só queria dormir.
— Ahhh, que coisa. Vamos facilitar o processo? Só segue, que acaba mais rápido.
— Beleza, pode uma última pergunta: você é a morte?
— Bom deus, essa foi uma das suposições mais ridículas que eu já ouvi. Agiliza.
QUARTA FOLHA
FOTO 1, colorida (LEGENDA ESCRITA DOÇURA)
A mulher das fotos está em frente a um matagal, acompanhada de um menino. Usa um vestido florido, o pequeno está fardado com um uniforme de futebol. Anoitece na imagem e ambos apontam para algo não enquadrado.
FOTO 2, colorida (SEM LEGENDA)
Uma imagem de Nossa Senhora cercada por velas. Há uma mulher com o rosto coberto por um véu marrom no fundo, mas não é possível identificá-la.
FOTO 3, colorida (LEGENDA ESCRITA NENÉM, 19**)
O garoto da foto anterior está deitado em um chão de gramas chamuscadas. Ele não sorri e está vestindo apenas uma cueca azul. Ao seu lado, um monte de telhas quebradas.
FOTO 4, colorida (SEM LEGENDA)
O homem e o garoto aparecem se banhando em um lago. A mulher está na margem, usando um vestido vermelho. Apenas o menino sorri.
A alergia nervosa fez com que rosas brotassem nas suas mãos. Que dó do garotinho! Mesmo sem qualquer razão lógica, aquelas imagens da criança fizeram nascer uma cachoeira de pesar no seu peito.
— Você não é ele, nunca vai chegar nem perto de ser. Seres especiais são raros. Aliás, não que seja da minha conta, mas você já se comoveu assim pela sua filha?
Preferia ter recebido um soco que fizesse o seu nariz sangrar. Qualquer vontade de conversar era passado e, por isso, não respondeu. Considerou que o mais provável é que estivesse tendo um pesadelo e, para acabar mais rápido, ia embarcar e deixar ele acontecer. Só que logo outro papel foi passado, jogado com uma destreza que fez o bilhete cair diretamente nos seus pés. Dessa vez era uma folha de ofício branca, também dobrada em quatro partes. Nela, escrita com o mesmo giz de cera, “REAL” várias vezes em letras maiúsculas. O seu choro foi interrompido por uma nova ordem:
— Não pára. Coragem, depois que terminar, vai ter silêncio.
A lembrança calorosa de Fabiana voltou em sua mente e, por isso, avançou de página sem reclamar.
QUINTA FOLHA
FOTO 1, colorida (LEGENDA ESCRITA NEVE, 19**)
O homem, a mulher e o menino estão em um local repleto de neve, é dia claro. Ninguém sorri e todos usam toucas verdes. No fundo há um boneco de neve, mas ele não tem rosto.
FOTO 2, colorida (SEM LEGENDA)
O menino parece se esconder entre uma cortina e uma árvore-de-natal. Não expressa emoções e chupa o dedo indicador da mão direita. Apenas a mão do homem aparece na imagem, como se estivesse chamando o garoto.
FOTO 3, colorida (LEGENDA ESCRITA CAÇA, 19**)
O homem e o garoto portam rifles de caça, em frente a uma caminhonete bege enquanto parece anoitecer. Somente os cabelos escuros da mulher são vistos, ela está sentada dentro do automóvel.
FOTO 4, colorida (LEGENDA ESCRITA SÓ, 19**)
A mulher aparece rezando, de joelhos, em uma igreja. Carrega uma vela acesa nas mãos e chora enquanto encara a lente. As suas mãos estão repletas de cera de vela.
Com as unhas, circulou algumas vezes o último rosto do álbum. Entendeu tudo. O mistério, o fardo. Era tão simples, tão óbvio. A estampa da sua tapeçaria clara em sua mente:
— Nossa.
— Pois é.
— Muita gente demora pra entender que não tem saída?
— A maioria.
— Posso fazer agora?
— Claro, vai dar tudo certo. Mais uma vez, não é nada pessoal. Confesso que até passei a simpatizar contigo.
— Tudo certo, de verdade.
Levantou e tomou o seu rumo. Único e inevitável, trançado desde antes da sua carne existir.
SEXTA FOLHA
FOTO 1, preto e branco (LEGENDA ESCRITA SOFÁ, 20**)
Imagem desfocada, que mostra um vulto chorando em um sofá escuro. Parece ser tarde da noite.
FOTO 2, preto e branco (SEM LEGENDA)
Um quarto com uma mochila em cima de uma cama. Algumas roupas estão jogadas no chão. Não aparecem humanos.
FOTO 3, preto e branco (LEGENDA ESCRITA PÃO, 20**)
Uma mesa com pães em um pires, uma caixa de leite e uma xícara. Há também uma pequena faca, mais distante dos outros itens.
FOTO 4, preto e branco (SEM LEGENDA)
Uma porta aberta. Não se vê nada do outro lado, apenas um corredor completamente escuro.
Janice, às 6:29 da manhã do dia seguinte, prestou queixa do desaparecimento da única pessoa que entendia como família. Dupla registrada como tal, por cartório e por DNA. Ainda era menor e não sabia o que fazer direito, malditos dezessete. Queria seguir trabalhando e ir morar com o tio que só conhecia por foto. O Canadá deve ser tão bonito. Porém, um vento roçou em suas orelhas e lhe avisou: permaneceria no apartamento.
Olá, tudo bem?
Conto sobre uma pessoa de gênero indefinido que encontra um álbum de fotos de família e passa a reviver algumas memórias através das fotos. Interessante essa “voz” falando com a pessoa, que parece carregar muitas mágoas e frustrações.
Durante todo o conto, muita coisa não é revelada, como o gênero do protagonista e isso não é problema algum para mim. Manter todo esse mistério deixa tudo mais intrigante e desperta a curiosidade do leitor. Um recurso narrativo interessante são as descrições das fotos. Esta aparente aleatoriedade das imagens e a falta de informações quem são aquelas pessoas e a relação do/da protagonista com estas, deixa tudo mais misterioso e sombrio.
O final é outro mistério, deixando para o leitor sugerir qual fim teve o protagonista. Mas como a aquela voz deu a entender que não era a “Morte”, talvez o protagonista (acredito que fosse um homem) pirou e fugiu.
Só acho que o conto passou um pouquinho longe do tema, pois não teve um “roubo” e a viagem foi citada
Boa sorte.
Um conto absolutamente diferente, que me lembrou um roteiro. A pergunta que não quer calar: Teria sido escrita por um roteirista? Se não, pelo menos por uma pessoa que consegue visualizar muito bem as cenas que descreve.
Não consegui chegar a uma conclusão, o enigma é tão grande que penso, ainda terei que ler várias vezes para chegar a uma conclusão. Lembra um quebra-cabeças que vi certa vez, na minha adolescência, e nunca consegui decifrar do que se tratava. Talvez não fosse nada além de uma imagem enigmática.
Acredito na inovação, na experiência e no desafio de criar algo diferente – e, claro – isso tem um certo risco, justamente de não ser compreendido na sua totalidade.
Revela, entretanto, um autor/autora capaz, perspicaz e com um incrível potencial. Esse conto, com certeza vou revisitar e vou lembrar por muito tempo, assim como a tal figura enigmática que me roubou alguns momentos de atenção, devaneio e pilha mental.
Parabéns e sorte no desafio!
RESUMO: Um indivíduo é guiado a olhar fotografias enquanto se questiona entre memória e realidade.
COMENTÁRIO: O regulamento nos dita que podemos resumir ou fazer uma análise técnica. Mas faço os dois porque no resumo brinco ou, melhor, exercito a síntese, arrisco palavras que tentem expressar a história lida. Aqui tive dificuldade e acredito que tenha sido intencional. Isto é, a autoria nos quis tão confusos quanto o protagonista do conto. Houve sucesso nisso, mas de um modo que eventualmente traz um demérito ao texto, pois nem a personagem encontra, de fato, uma explicação, como a leitura nos tem perdidos e, portanto, aborrecidos. Se possível, darei uma segunda leitura.
O texto é bem escrito, mas a técnica não nos dá uma compreensão maior do conteúdo e, afinal, sem isso também não se consegue apreender o tema, o que é fatal para o conto no contexto do certame.
P.S.: Uma releitura me fez compreender um pouco melhor a trama, mas acredito que o artifício de descrever fotografia por fotografia trunca o ritmo de leitura, afetando a experiência. Além do mais, não consegui ver os temas sendo abordados.
Olá, Harry. Tudo bem?
Desculpe, provavelmente minha pontuação vai sair toda zoada, culpa do meu teclado.
Seu conto é bastante curioso e diferente. Não da pra negar que se destaca dos demais, nao necessariamente por ser melhor que os outros, mas por ser extremamente diferente de todo o resto. É um daqueles contos que eu ainda vou lembrar daqui a varios desafios, e isso é uma coisa otima.
Voce é muito bom em construir tensao, expectativa, suspense. Eu passei o conto todo numa sensaçao de perigo, como se algo terrivel pudesse acontecer a qualquer momento. Me senti na pele do personagem, o que é um merito total do autor. Voce tambem é muito bom em terror e suspense, que sao meus generos favoritos. Essa sensaçao de ansiedade causada pelo conto demonstra que voce domina a area, e me da uma certa inveja! hahuauhhaua. Eu quero muito escrever esse tipo de terror no futuro, tambem.
Mas acho que nem tudo sao rosas no seu conto. Do titulo, passando pelo enredo e chegando ao desfecho, fica tudo tao subjetivo que da a impressao de um conto surrealista, pouco preocupado com explicaçoes, e mais focado em sensaçoes. Mais focado em causar angustia e medo do que em contar uma historia propriamente dita. Isso faz com que os leitores criem teorias , o que é otimo, mas pela minha experiencia particular, como nao sao dados muitos elementos para que eu formule, evolua e tire conclusoes sobre minhas teorias, mesmo que essas conclusoes nao seja certezas absolutas, acabei terminando a historia um pouco frustrado, por nao saber por quais caminhos deixar minha imaginaçao fluir. Acho que esse é um dos perigos das historias muito abertas e enigmaticas: se o leitor se perde e nao consegue mais seguir um fio narrativo criativo, nao consegue construir mentalmente teorias e caminhos para passear pelo conto, acaba ficando um gostinho amargo no final. Foi como me senti.
De todo modo, é uma escrita muito competente, e voce claramente é um escritor veterano, muito experiente. Como ja mencionei, voce domina as tecnicas de suspense e terror, o que me agrada muito, mas acho que exagerou um pouco na dose de misterio, e deixou essa sensaçao de que faltou algo. To ate sentindo dificuldade de dar notas em alguns dos quesitos que estipulei pro desafio, mas vamos lá:
Construção de personagens: 8,0 (afinal, o protagonista, os 3 personagens das fotos e ate mesmo o estranho do lado de fora sao carismaticos com poucas palavras e açoes, o que é merito do autor)
Tecnica: 10,0Enredo: 7,0Ritmo: 8,0 (a subjetividade exagerada me tirou um pouco da leitura em alguns momentos)Desfecho: 7,0
Notal final: 8,0
Parabens e boa sorte!
Na minha concepção de leitor, este conto se sobressai ante aos demais no desafio. Não que aborde os temas com certa distinção, mas porque mergulha fundo no psicológico do protagonista, algo que me atrai muito. Não é querer desmerecer os textos de escrita simples e as histórias ingênuas que pululam pelo certame, mas é que aqui há, de fato, um(a) autor(a) maduro(a), capaz de provocar, de modo inteligente, quem se dispõe a ler com a devida atenção. Não, não é um texto fácil e de assimilação imediata. Antes, é uma obra densa e que exige dos leitores uma dedicação diferenciada, pois há de refletir, no fim, experiências pessoais, digo, daquele que nele mergulha sem mecanismos de auto-preservação. É essa a grande qualidade do conto: a capacidade de conversar com o leitor e, no fim das contas, apresentar-lhe uma imagem de si mesmo. Por isso não há uma interpretação possível, mas inúmeras, quiçá infinitas.
O que vi: o personagem principal vive com a filha, fruto de um relacionamento há muito acabado, do qual restaram lembranças apagadas que, subitamente, lhe são reavivadas por meio de um velho álbum de fotografias. Nesse álbum, retratados estão momentos de uma existência melancólica, instantâneos de uma relação fadada ao fracasso, sem sorrisos, sem momentos de júbilo. Por algum motivo que não importa saber, ele deve confrontá-los, provocado que é por um ser misterioso, a morte por suposto. As recordações machucam porque ele sente-lhes o peso, mas não tem certeza de que dizem respeito a si. Talvez queiram emular o que se diz por aí, que na hora derradeira a vida toda nos passa diante dos olhos. O desaparecimento do homem, ao final, quando a filha desperta, colabora para essa interpretação, embora, como disse, seja apenas minha.
A escrita madura colabora para a criação dessa atmosfera algo onírica. As menções às fotos, digo, as descrições das cenas que retratam, são muito boas e é possível sentir aquele tipo de saudade provocada pela distância de tempo e espaço. Ora coloridas, ora em preto e branco, as imagens soam como uma música antiga, que não ouvimos há eras e que quando percebemos os acordes iniciais provocam um misto de alegria e tristeza.
Em suma, um texto de gente grande, poderoso, forte, adulto e, claro, corajoso. Agradeço a quem o escreveu por compartilhá-lo aqui.
Não que isso importe muito no fim das contas, mas não darei nota máxima por conta da ausência dos temas. Mas saiba, desde já que há tempos eu não lia algo tão instigante. Enquanto obra literária, para mim, é o melhor do certame.
Oi, bem?
Conto enigmático, passei todo o percurso da leitura formando teorias e no final simplesmente desisti de saber o que é realmente. Mas não do tipo… ”deixa pra lá” e sim…”Nem tudo precisa ser explicado’.
O álbum conta a historia desse homem, não se sabe se sobre a sua infância, sobre a vida que teve com esta mulher. Terão essas figuras do álbum perdido o menino especial? Um filho morto, um casamento desfeito. Uma outra filha pra cuidar mas sem nunca ter conseguido curar as feridas incuráveis do passado? Bom, não sei.
As passar de paginas do álbum demonstra muita dor e sofrimento, é palpável, parabenizo o autor especialmente por isso, dá pra sentir nas entrelinhas o desespero de uma vida inteira.
O que ele resolveu fazer? Pra onde ele foi? Irá a menina repetir essa sina de dores familiares não resolvidas? Também não sabemos. E é isso… a vida simplesmente acontece você sabendo vivê-la ou não.
Parabéns pelo trabalho.
Oi, Harry.
Achei interessante e original reconstituir uma história familiar pela revisitação do álbum de fotografias. Sabemos que hoje eles estão cada vez mais raros, em razão das facilidades que as tecnologias trouxeram com os smartphones. Mas também tudo hoje se tornou muito fluido e dinâmico, para citar palavras da moda.
Provavelmente o álbum de fotografias seja a metáfora das relações que passaram, que trazem lembranças, ausências, descaminhos, afetos e desafetos. Talvez por isso a leitura tenha me parecido um pouco confusa, no turbilhão de sentimentos que o personagem vive.
Boa sorte no desafio. Abraço.
OS DENTES DOEM SE VOCÊ NÃO DORME! (HARRY HANSOM)
Bom dia, boa tarde, boa noite!
Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Viagem/Roubo – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.
No mais, inspirado pelo Marco Saraiva, também optei por adotar um estilo mais explícito de avaliação, deixando um pouco mais organizado quando comparado com o último desafio. E também peguei emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente digno de destaque.
Mesmo diante de tudo isso, as notas e os comentários podem desagradar, como percebi hoje, dia 29/04/24. Como já está no meio do desafio, e eu já avaliei alguns participantes, eu vou manter o estilo de avaliação, “anunciando” a nota e tecendo minha opinião do mesmo jeito. A diferença é que essa nota é provisória e sujeita a alterações. Obviamente isso se estende aos contos já avaliados.
Outra coisa que eu percebi que deu ruído até o momento também foram os critérios. Vamos lá, para tentar esclarecer: refleti bastante sobre o assunto e a minha conclusão é a seguinte: não consigo avaliar um texto literário como um conto, dentro desses critérios, sem considerá-los como um todo. Afinal, uma técnica apurada pode beneficiar a história do mesmo jeito que o contrário pode ocorrer; um conto com a escrita não tão boa pode afetar a história, seu desenvolvimento e seu impacto e assim por diante.
Por fim, é isso! Meu critério é esse e não sofrerá mais alteração. Creio que é o mais justo entre meu jeito de avaliar, a lisura do certame e o respeito e a consideração pelo autor/pela autora.
E assim, encerro minha participação como avaliador/leitor/comentarista
AVALIAÇÃO + IMPRESSÕES INICIAIS
– Aparentemente, minha última avaliação no conto vai ser extremamente polêmica…
– Quando você termina a leitura e a releitura sem entender direito o que está se passando, é um péssimo sinal.
+ Enfim, sempre acho importante falar sobre ansiedade (mesmo que nesse caso aqui eu não tenha gostado do jeito que foi retratado)
HISTÓRIA (0,5/3)
Eu não tenho muito o que falar sobre essa história. Minha tentativa de resumo vem muito mais das respostas do autor/ da autora para outros comentaristas. O que é um sinal de desencontro entre o escritor/a escritora, que não foi tão feliz em sua missão de retratar a história do jeito que ele/ela esperava e, também numa espécie de mea culpa, a falha do leitor em interpretar a história.
“Os Dentes Doem Se Você Não Dorme” é um conto no estilo de terror psicológico. O personagem principal, Sem Nome, é assombrado pela ansiedade; não dorme, é tomado por pensamentos impulsivos e intrusivos… Grande parte do conto é focado na interação do personagem principal com um álbum de fotografias, deixado pela filha.
É nesse ponto que o conto descarrilha, na minha opinião. O álbum de fotografias, que antes é da família do personagem, vira uma especie de “panfleto” com outras famílias. Suponho que isso ocorra por uma desassociação do personagem principal (quando a pessoa “desliga” e deixa de reconhecer o ambiente no qual está presente e por vezes ate a si mesmo. Não é bem uma amnésia…), não sei se bem retratada.
O personagem principal imagina um monstro que obriga a passar pelo martírio que é revisitar as (não) memórias. Um monstro misto de ansiedade e depressão…
Ao final, o personagem some no mundo, deixando sua filha de 17 anos desamparada. E acompanhada do monstro.
Esse resumo veio muito mais da minha interpretação da 3ª leitura mais a explicação do autor sobre o conto. E aí, com todo o respeito ao autor, não tem muito o que falar, muito o que avaliar em termos de história. A impressão que tive ao reler 3, 4 vezes mais os comentários do autor é que foi extremamente focado pelo autor/ pela autora as sensações do personagem. E eu não sei se foi bem feito, pelo menos para mim. Talvez em primeira pessoa, num formato mais de digressões psicológicas, com um fio narrativo melhor definido para o leitor, com mais detalhes e conhecimento para compreendermos melhor o que gatilha o personagem.
Não se revela se, por exemplo, o personagem principal é homem ou mulher? Se as fotos que vê são, de fato, da família da personagem…
A ansiedade, que é um evento psicológico tão complexo, que nubla o jeito que vemos até a realidade, que afeta a velocidade com que raciocinamos, afeta nosso sono, afeta até mesmo a pressão arterial, na minha opinião, não foi tão bem retratada. Isso porque ela ficou oculta pelos enigmas que o autor/ a autora deixou ali para impor o ritmo de terror.
Embora a história esteja ali (depois de parcialmente revelada pelos comentários dos outros e do autor/da autora, até mesmo por respeito ao meu (polêmico) critério, a nota será baixa.
TÉCNICA (2/3)
A escrita está boa. Mal-empregada, talvez (mais uma vez, na minha opinião). O autor/ a autora tem talento, conseguiu fazer um conto no qual a gente não consegue decifrar sequer, por exemplo, o gênero do personagem. Parabéns, considerando o contexto de mistério. Contudo, teve um exagero nesse uso de mistério, ao meu ver.
No mais, não percebi erros gramaticais.
TEMA (0,25/1)
O roubo da sanidade? Quando o leitor pena bastante para identificar isso? Forçado demais, na minha opinião…
IMPACTO (0/2)
Impacto nulo, completamente. Eu sei que o terror e o suspense são gêneros que usam do mistério para cativar o leitor e prender a atenção. Aqui foi exagerado. A verdade é que foi necessário, para compreender, dar uma lida nos comentários e, se não fosse a explicação do autor/da autora nos comentários dos colegas, eu não teria conseguido compreender (e não teria sido o único). Acho que o motivo pelo desencontro entre escritor e este leitor está numa narrativa que priorizou erroneamente, na minha opinião, transformar o conto sobre ansiedade num enigma completo ao invés de um relato no qual o leitor poderia se identificar.
ORIGINALIDADE (1/1)
Não vou negar. Achei interessante a ideia de descrever as fotos que o personagem via para o leitor, foi uma boa saída. Pessoalmente, transformar ansiedade/depressão em um monstro foi também muito bom. Quem tem ansiedade entende. Contudo, não foi bem executado.
Ainda assim, original.
Trecho interessante: Expulsou aquilo das suas mãos, jogando-o no espaço vazio do colchão. Porém, se arrependeu instantaneamente e, usando as pontas dos dedos, recolheu o álbum. A inexplicável tristeza que sentiu apertou o seu peito e lhe irritou. Outra discussão se armava, pois resolveu perguntar se aquilo era mesmo da sua filha. Contudo, a visão da jovem dormindo sossegou o seu rompante. Deitada ali, a moça que começou a trabalhar no shopping e quer ir morar com o tio no estrangeiro, parecia ainda precisar dos seus braços para dar passinhos trôpegos. Saiu do quarto em silêncio, preservando aquela gota de pureza cada vez mais rara com o acumular dos dias.
Nota: 3,75 (como as regras do desafio não permitem notas com duas casas decimais, a nota será arredondada para 3,8)
Olá, Harry!
Não entendi nada do seu conto! Até dei algumas relidas em partes-chave para ver se encontrava algum fio condutor de significado, mas foi em vão. Pensei que poderia ser uma história para não fazer sentido, mas fiquei sem ter certeza nem disso.
Encontrei alguma luz nos comentários, quando você diz que queria dar uma de David Lynch. Aí tudo começa a fazer sentido…
Bom, o conto então é mais para ser sentido do que compreendido, tudo bem. Acho que ele faz isso muito bem até certo ponto. No início, você criou uma atmosfera muito boa de estranheza com a personagem acordando no meio da noite e encontrando o album de fotos bizarras. Apesar de as fotos não terem tanta coisa estranha acontecendo, o leitor é sugestionado a já enxergá-las na mente de forma sinistra, como em filmes de terror. Isso ficou muito bom!
O problema, pra mim, foi com a personagem do outro lado da porta. O jeito coloquial dela falar, como um simples entregador, pra mim colocaram um tom até de humor nos diálogos e da história. Isso, somado com os desenhos no papel, o “nananinanão”, e as lembranças de Fabiana, foram pra um bizarro mais bobo. Quebrou o clima pra mim. Cabe a você, então, decidir se o tom do texto ficou do jeito que você queria. Ou se você não liga.
O recurso da descrição das fotos é interessante, mas várias das imagens não são muito interessantes, então fiquei meio cansado das descrições frias.
Entendo o que desejou fazer aqui, mas ficou agridoce pra mim. Muitas emoções misturadas. Fora isso, cabe a você, autor(a), dizer se ficou feliz com o resultado.
(ah, gostei muito do título)
Obrigado pela contribuição, e até mais!
Os dentes podem doer se não dormir, mas com contos como o seu, a perspetiva de não dormir é imediatamente afastada. A repetição das fotos, como se um filme lento se tratasse, bem como o final quase em aberto, torna a leitura uma experiência difícil. Mesmo depois de uma segunda leitura, pouco consegui tirar do texto. Vou voltar a experimentar amanhã, com a cabeça fresca. No entanto, isto é mau sinal, porque um texto que não agarra o leitor denota fragilidades narrativas que devem ser corrigidas.
Olá. Infelizmente, a segunda leitura confirmou as fragilidades encontradas na primeira leitura.
Um texto enigmático. Percebi que o autor gosta muito de terror e de suspense. Entendi muito pouco, quase nada do conto, mas pude compreender que é uma escrita eivada de descrições lúgubres, sombrias. Tudo é descrito com ar de tristeza, de desleixo, visão depressiva. Ao longo da narrativa, há descrições tristes: couro barato, móvel murcho, azul desbotado, caligrafia tremida, folhas estivessem enferrujadas, quarto em ruínas, destruído pela ação do tempo, mau agouro, madeira vagabunda, carne crua, moscas voando ao redor, cercada por velas, véu marrom, telhas quebradas… O texto todo é sinistro. E eu fui lendo, fui lendo, fui relendo, fui relendo, mas não consegui absorver a história que o autor quis me contar. Falha minha, sei disso.
Percebi que o autor trabalhou a solidão, aquela coisa de ficar enfiado dentro de casa sem qualquer propósito, sem qualquer atividade prazerosa, e o personagem tem de lidar com a ansiedade, com “fazer o tempo passar”. A cabeça vira uma mina de desrazões, parece que nada se explica. É claro que o autor sabe detalhes de tudo que escreveu e o motivo de ter escrito, mas eu não tive a capacidade de entender.
Dor de dente é “alucinógeno”. Quem dorme com tal dor?! Não causa só insônia, causa desatino. Acho que o título seria: “você não dorme quando os dentes doem”.
Harry, a sua escrita é fluída, você escreve bem. Não posso dizer que a construção do conto foi perfeita porque não tive competência para analisar, e estou ansiosa (tal qual o personagem) para, ao final do desafio, você me explicar tim-tim por tim-tim essa história.
Parabéns, Harry!
Boa sorte no desafio!
Abraço.
O conto está bem escrito, tem fluidez, bem marcado, mas confesso que não entendi…
fFquei presa nele até o fim… e me senti burra por não entender s profundidade. Perdão por isso. Mas valeu muito a leitura, o despertar de emoções e reflexões. É um texto gostoso de ler.
Mas realmente não captei a ideia final…
Li os comentários para tentar captar o entendimento dos demais colegas, mas parece que o desentendimento foi geral.
Todavia, foi proveitoso. Assim, com outros olhos, reli o texto.
como eu tinha dito antes, e reitero, amei: é um texto gostoso de ler, fluido, bem redigido.
O que entendi: o álbum, decididamente, não era da família do protagonista, mas poderia ser sim, se fosse do passado ou do futuro?
Poderia ser a mulher das fotos, a sua filha? A ideia dela ir morar no Canadá o consumia (ela se casaria lá e explica a neve), mas seria infeliz.
Como ele poderia impedir a ida da menina, que já estava de mochila pronta? Subentende-se que ela partiria em breve… e seria infeliz lá… como resolver? Partindo. Abandonando-a. Agora ela não poderia mais sair do apartamento….
Se fosse fotos do passado, que faria mais sentido, a princípio, ele seria a criança. Mas ele se reconheceria… e ele não se reconheceu, além disso, a criatura disse que não era ele…
Então, fico com a primeira opção…
Mas ainda não entendi o título…
Aliás, fiz apenas conjecturas, nem sei se entendi de fato… é um conto que deixa margem para n interpretações… acho que nem o autor tem uma explicação fechada para tudo isso…
Mas, que coisa, gostei do conto! Mesmo sem conseguir fechar uma explicação… vou seguir pensando nas possibilidades…
Quanto ao tema, considero que a viagem está implícita tanto no álbum de viagens, quanto numa possível viagem no tempo, e, ainda, na viagem que ele fez ao deixar o apartamento e seguir, sabe-se lá pra onde….
Se puder me dar uma luz acerca desse final, e de quem eram as pessoas nas fotos, e quem estava enviando os malditos bilhetes… ficaria imensamente grata!
Queli, que gentil você reler o conto e o seu comentário é bastante interessante (adorei a sua versão de que o álbum seria o futuro de Janice, queria ter pensado nisso).
Como eu escrevi para a Priscila, esse meu conto foi um exercício de estilo sobre ansiedade. e como ela pode te levar para alguns lugares bem ruins. Ele é propositalmente vago e tá tudo bem, não escrevi um “conto ganhador”. Já assistiu Twin Peaks, Cidade dos Sonhos ou qualquer coisa do David Lynch? Esse conto foi a minha brincadeira de diretor de cinema de cabelo branco….
Sobre o título, eu explico – o/a personagem deveria estar dormindo. A frase do conto “Só que as razões para as pessoas dormirem à noite vão muito além de uma vida saudável” e a ideia de que a noite é perigosa… Sabe, nana nenê que senão a cuca vêm pegar… E é uma piada interna tbm, sobre as noites que eu acordava com dor de dente.
Enfim, eu adorei a sua hipótese. Obrigado por ter gostado do conto.
Um conto bem escrito. Percebi que foi pensado, estruturado.
Mas o enredo tem uma dinâmica difícil de captar.
De alguma forma me pegou, porque fiquei um pouco angustiado pensando que algo seria revelado a partir das descrições das fotos.
O conto tem algo de nebuloso, obscuro e triste (essa ideia aparece literalmente no conto).
Mesmo assim, fico sem entender muita coisa.
Valeu pela emoção sentida, mas o personagem atrás da porta (um espírito, uma ilusão) pareceu forçado/deslocado.
Não entendi o título.
E a viagem, qual seria? A viagem no tempo, proporciada pela memória acionada pelas fotos?
Parabéns !
Oi, Harry, tudo bem?
O conto parece abordar uma espécie de viagem no tempo (ao passado, ao futuro, ao um plano paralelo, talvez). Portanto, para mim, o tema proposto pelo desafio foi abordado.
A linguagem empregada é simples, clara, sem floreios. Não encontrei grandes falhas de revisão. Apenas aponto o uso indevido de acentuação em PARA. Na atual reforma ortográfica foi abolido o acento agudo diferencial utilizado na forma verbal para do verbo parar.
A leitura flui fácil, mas o entendimento da trama nem tanto.
Não entendi muito bem o que aconteceu com os personagens, aliás, não entendi nada. Um pai ou uma mãe (isso não ficou definido) sofrendo de privação de sono, uma adolescente de 17 anos que dorme, uma entendida atrás da porta (morte? um duplo? alguém desdobrado em outro plano?). Enfim, viajei, viajei, e não cheguei à conclusão alguma.
Sei que o álbum de fotos deve ter um significado que torne o enredo mais claro e plausível. No entanto, não consegui captar vosse mensagem, oh venerável autor(a).
O que aconteceu com o(a) progenitor(a) da garota Janice? Sumiu ou nunca esteve ali mesmo? O enigma deve ser decodificado através das fotos? As cores do vestido da mulher importam? O sorriso ou a ausência dele também? O tio do Canadá estava nas fotos? (a garota menciona que só o conhece por foto).
O título também carrega um enigma: os dentes doem quando não se dorme? Não seria o contrário? Quando os dentes doem não se dorme. Isso seria um sinal de que tudo no conto está ao contrário, um universo espelhado – a imagem virada no seu oposto? Ih, vou parar de viajar.
Enfim, desejo-lhe sorte.
Oi, Harry, tudo bem?
No meu entender, o conto aborda uma espécie de viagem no tempo – por meio das fotos do álbum misterioso – indo para o passado, ao futuro, a um mundo paralelo, talvez. Então, o tema proposto pelo desafio foi abordado.
A linguagem empregada é simples, clara, sem floreios. Não há grandes falhas de revisão. Somente gostaria de apontar que o verbo PARAR não ganha acento no Imperativo – Para! Na atual reforma ortográfica foi abolido o acento agudo diferencial.
Quanto ao enredo, confesso que não entendi o que aconteceu com os personagens – um pai ou uma mãe (não está determinado), uma adolescente que dorme (seus dentes não devem doer, portanto) e uma entidade misteriosa atrás da porta (morte? um duplo? a mãe ou o pai em outro plano, outro tempo?). Como vê, viajei, viajei e não cheguei a lugar algum.
Sei que deve haver uma explicação plausível para o álbum de fotos e o sumiço do personagem. Sei que a questão dos dentes também deve ter algum significado, mas… não captei vossa mensagem, oh, poderoso(a) autor(a).
Por que os dentes doem quando não se dorme? Sei que o contrário deve ser verdadeiro (nunca passei por isso, graças aos céus e aos cuidados odontológicos). Será que essa inversão já é um sinal de que no conto tudo está trocado, tudo está ao contrário do esperado? Sei lá…
Enfim, desejo-lhe sorte e um bom posicionamento na lista de classificação.
Olá, Harry.
Um conto bem escrito, que prende a atenção em busca de um desfecho.
Considerações, talvez impertinentes:
Toda literatura é de mistério – estou inventando isso agora -, dado que sempre o que se busca na leitura é uma revelação. No decorrer da leitura, o autor vai passando ao leitor uma série de dicas de modo a que ele, o leitor, não se sinta frustrado quando lhe for revelado o desfecho da história – qualquer história. Nenhum leitor, creio, se sente confortável com a revelação final de algo que o iludiu no decorrer do desenvolvimento da trama. A rigor, no texto, tudo deve estar ali, à mão do leitor, e o bom escritor será aquele que, tendo dado todas as dicas no decorrer do texto, não permitiu ao leitor antecipar a tal revelação. Aí está a surpresa, a revelação.
Casos clássicos de revelação final estão nos livros da Agatha Christie, que trabalhando num sistema fechado de incógnitas, deixa que o detetive resuma as dicas passadas no texto lido e revele o resultado da trama. Bem, esse sistema fechado só poderia funcionar bem numa estrutura social, onde a honra, a lealdade e a justiça são levadas à sério. Uma trama inglesa, onde o criminoso, ao saber que um detetive poderá desmascará-lo, não pega um avião e vai viver em outro país sem possibilidade de extradição. Ele fica e é descoberto e preso. E aceita bem o seu castigo. O que só funciona, óbvio, nos livros. Como se costuma dizer, os fatos da vida não requerem verossimilhança, mas não nos livros, onde é imprescindível.
Há os sistemas abertos de revelação, óbvio. Mas aí tudo é possível, o que me parece o caso do texto analisado. Embora haja sempre a expectativa da revelação, e assim sendo, frustram quando ela – a revelação – não se dá.
O texto em análise não permite uma leitura fácil. Não sob o ponto de vista textual, que está bem estruturado, mas devido ao fato de não passar ao leitor uma trilha a seguir, um objetivo a perseguir, a esperança de uma revelação. Ou ela está tão encapsulada que passa como um sopro ao ouvido.
O que dizer? Não sei. Li o texto por três vezes e estou escrevendo após essas leituras. Não quero parecer mais que tolo quando o obtuso sou eu, e não o texto. Então leio, leio de novo e penso um pouco mais. Mas o que pensar?
Persegui um objetivo e o que encontrei foi uma navegação em alto mar, onde ondas explodem no casco da minha compreensão, onde as ondas me parecem vagas como vaga é a história, que dança sobre as águas e não mergulha mais ao fundo. São linhas de emoções, e subjetivações. Tudo bem, se é isso que o autor buscou apresentar.
Fica aqui consignada a minha deficiência cognitiva em relação ao conto. Não me importo de parecer tolo por não ter uma boa compreensão, mas não gostaria de parecer esperto falando de uma compreensão que não tive.
Bem, em se tratando de uma estrutura aberta de compreensão, se for de interesse de alguém, que leia um livrinho muito legal que tenho comigo há décadas. Chama-se Antologia Mundial do Conto Abstrato, Edições Artesanato. Uma seleção de 32 contos com seleção, tradução, prefácio e notas de Diógenes Magalhães, sem data de publicação. É o que de mais interessante encontrei sobre o assunto. Está comigo há cerca de 40 anos. O triste é que nenhum dos autores parece ter sobrevivido ao tempo literário. Continuam todos profundamente desconhecidos, a despeito da qualidade dos textos.
Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.
Em primeiro lugar: durante este desafio eu não terei acesso a um teclado brasileiro, então os meus comentários serão desprovidos da maioria dos acentos. Perdão pela dor nos olhos!
Em segundo lugar: resolvi adotar um estilo mais explícito de avaliação, pegando emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente bela ou marcante.
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Avaliação
Eh disso que eu gosto! Um terror profundo, que toca nas entranhas do leitor, que causa aflicao e brinca com os sentimentos, como a apatia e a melancolia. Para mim uma das coisas mais terriveis eh a vida vivida em melancolia. Ha algo de assustador em observar pessoas completamente capazes, vivendo vidas rotineiras, agindo em gestos roboticos, vazias – sem alma.
Seu conto eh escrito com louvor! A ambientacao eh perfeita, capta bem essa sensacao de espacos liminais nas fotos. Lembrou-me dos creepypastas que amo ler… mas muito melhor. Nunca vi alguem traduzir tao bem esse tipo de horror!
A historia se perde nas sugestoes e na subjetividade do texto. Ainda bem que o conto eh tao bom que senti vontade de le-lo duas vezes. Para mim, a dica do real significado de tudo isto esta no titulo. A privacao do sono do personagem, a ansiedade de viver como pai solteiro, tentando fazer todo o possivel na vida dele para dar uma boa vida para a unica filha, a ponto de negligenciar a si mesmo. Como diz a antiga frase: “corpo sao, mente sa”. Infelizmente o personagem nao dorme ha muito tempo, o que afeta a sua mente e o seu corpo, e o impede de ser funcional. Neste aspecto, o conto lembrou-me muito de “O Maquinista”, filme que tem uma ideia parecida, apesar de uma execucao completamente diferente.
Neste conto, porem, a consequencia de negligenciar a si mesmo toma forma. Eh algo palpavel, uma entidade que o tortura atraves das imagens no album. Sao lembrancas? Sonhos? Sua antiga familia?
A porta no final, aberta para o vazio, eh a cereja do bolo. Simplesmente genial.
TÉCNICA ●●● (3/3)
Voce sabe escrever horror como ninguem. O conto pede para ser lido duas vezes, por que algumas dicas sao dadas de forma displicente, como se fossem informacoes banais. Mas eh o tipo de releitura que muda tudo. Alem disso, a ambientacao eh perfeitamente executada.
HISTÓRIA ●●◒ (2.5/3)
Apesar de eu ter admirado muito a historia e desejar dar nota maxima neste quesito, a verdade eh que ela eh aberta demais, e isso pode ser um problema.Por exemplo: ao meu ver, a porta aberta para o vazio no final pode ser literal – como se o personagem fosse sugado por uma entidade que aproveitou-se da sua fraqueza. Ou pode significar simplesmente a desistencia: ele fugiu desta vida sofrida, desistiu da filha por estar sobrecarregado por tanta coisa. As fotos podem ser interpretadas de mil formas diferentes, tambem. As emocoes invocadas pelo conto sao reais e muito profundas, mas a historia eh vaga demais. Ela anda no limiar do aceitavel para mim – eu ate gosto de contos abertos a interpretacao, mas isto deve ser feito com muito tato, e o seu conto anda ali na beira do precipicio, “quase subjetivo demais para o meu gosto”, mas ainda nem tanto a ponto de me fazer torcer o nariz.
TEMA ●◌ (1/2)
Olha, infelizmente o conto nao tem muito a ver com nenhum dos temas, nao! O que eh uma pena por que eu queria dar nota maxima para ele! Forcando a barra um “roubo” pode ser visto, ja que a entidade pode ter “roubado” o pai da adolescente… e ha uma certa alusao a “viagem” na descricao do album de fotos. A criatura eh uma criatura viajante, que bate em portas de pessoas no mundo todo, torturando-as? Ou o personagem principal que eh o viajante? Ou o casal de viajantes no album? “Viagem” eh citada no conto e esta presente de alguma forma mas nem de longe eh o tema do texto ao meu ver.
IMPACTO ● (1/1)
Ainda estou arrepiado com a leitura!
ORIGINALIDADE ● (1/1)
Sensacional. Quero mais contos como este no EC. Cheio de personalidade, bem autoral.
Trecho inspirado
“Lágrimas correram por entre as rugas que apareciam no seu rosto. Sentiu-se o último ser da terra e, assim sendo, desejou conversar.”
Eh um trecho simples, mas foi este que me pegou. Justamente o que eu sentia, ao ver as fotos. O sentimento que elas inspiram eh o de solidao, como se eu fosse o ultimo ser vivente no planeta. Um sentimento terrivel. Quando li a frase, pensei “eh isso aqui que sinto agora, e eh isso que o personagem sente tambem”. Muito bom!
Costumo avaliar os contos com base nos seguintes quesitos: Tema, valendo 1 ponto, Escrita, valendo 2, Enredo, valendo 3 e Impacto, valendo 4. Abaixo, meus comentários.
Tema
Ok, o álbum diz “minhas viagens”. Mas essa é toda viagem que vi no texto. Para mim, o tema não foi atendido.
Escrita
A escrita é excelente, bem clara, revisada, irretocável.
A tensão é bem construída. Gosto das fotos, dá aquele medinho meio inexplicável, dá para sentir a melancolia que está incomodando o personagem. É uma ambientação de terror excelente, arranja medo de lugares pouco prováveis, aterroriza sem uma gota de sangue.
Enredo
Inescrutável.
Um homem acorda com vontade de ir ao banheiro, encontra um álbum de fotos desconhecido, folheia as fotos, que o incomodam, é levado a continuar vendo as fotos por alguma presença misteriosa no corredor, tem uma epifania e some.
Impacto
Não entendi muito bem. E, muitas vezes, o conto não é feito mesmo para ser entendido. Talvez seja o caso deste conto. Um conto para ser sentido, interpretado como um sonho. Porém, até para interpretar sonhos eu preciso de algum nível de compreensão. Preciso entender o que cada elemento representa dentro da minha simbologia pessoal. Ou vou entender patavinas.
Sou bem cartesiana, mas gosto de coisas ilógicas, mergulhos em sentimentos, abstrações. Só que dentro de algum limite. Peças do Teatro do Absurdo, por exemplo, são um grande não-não para mim. Leia A Cantora Careca, do Ionesco, para ter uma ideia do que não gosto. O seu texto está bem no meu limite. Há nele um conjunto de significados, os elementos não são aleatórios, mas mesmo assim, não consegui entender coisas que eu queria muito ter entendido, a saber: quem é a presença no corredor e o que o personagem entendeu afinal. E olha que eu tentei entender, viu.
Logo no começo você faz referência à ansiedade. Pensei que fosse uma abordagem a respeito. Mas acho que me enganei. Ou não. Não sei. Bom, eu sou ansiosa, já tive crises de angústia, esse é um universo que conheço bem, infelizmente. E nada, no conto, me parece familiar com esse mundo. Diferentemente, ele me transportou para um estado mental de tristeza. Parece falar muito mais sobre luto ou depressão. Bom, não sei. Como disse, não entendi.
Enfim, todo este textão para dizer que tem textos que eu não entendo e tudo bem, vida que segue. Mas o seu conto eu queria muito ter entendido. Fico com a impressão de que havia algo grande a ser dito e eu perdi.
Olá, Harry! Tudo bem?
Vou deixar minhas impressões sobre seu conto, lembrando que é a minha opinião e não a verdade absoluta. (Obviamente)
Então… Que viagem, heim… Não entendi nada. E agora?
A escrita está muito boa, segura, bem revisada. O enredo é interessante apesar de indecifrável. Li e reli e não encontrei sentido nenhum mas fotos, nem na visita noturna, nem em nada.
Por acaso o personagem que está atrás da porta é o destino? Sei lá, o personagem principal (que parece estar descrito cuidadosamente de forma que não possamos identificar se é o pai ou a mãe da Janice) parece ter tido uma epifania e ter abandonado a filha. Por quê? Por causa do destino?
Ele (?) provavelmente viu alguma coisa que eu não vi nas fotos. E para falar a verdade, não tô afim de montar um quebra cabeça que parece ser indecifrável. Então, se puder ter a gentileza de explicar, poderá melhorar sua nota 😉
O tema apesar de estar citado no título do álbum, não parece ter sido abordado (porque não entendi nada, então, pode ter sido, né, como vou saber?) Bem .. não gosto de não entender os contos, então não gostei muito do seu conto… Uma pena mesmo.
Ah, não consegui nem desvendar o título! 🤦🏻♀️ Mas preciso dizer que achei muito legal o recurso de narrar as imagens.
Boa sorte no desafio!
Até mais!
Você percebeu que não está dito se é homem ou mulher!!! Será o pai ou a mãe?
O título tem relação com a frase “Só que as razões para as pessoas dormirem à noite vão muito além de uma vida saudável” e a ideia de que a noite é perigosa (mas admito que foi também uma piada interna, um pouco)
É engraçado ler os comentários e pensar sobre o que a gente escreve. Esse texto, na minha opinião de autor (que não vale muito, perto dos seus leitores), é muito mais um exercício sobre a ansiedade e sobre como viver em um permanente estado ansioso pode te levar (“viajar”) para lugares muito ruins… Mas admito também que foi um exercício de estilo, eu queria brincar de David Lynch….
Não deixa o comentário influenciar na nota, eu não espero vencer esse desafio – já li alguns contos bem melhor que o meu, sinceramente. Mas ah, você é a primeira pessoa que percebeu que não está dito o gênero. Sabia que, em outra bolha, vários acharam que era uma mulher. Aqui, até agora, a maioria entende como um homem…
Obrigada pela resposta! Mas não ajudou muito… Nunca fui ansiosa então não entendo o que viver nesse estado pode fazer com a gente (imagino que mexa com a sanidade mental 🤔) e não tenho ideia de quem seja David Lynch…
De qualquer forma eu queria ter entendido o conto 😢
Ah, o tema está em viagens (não precisava ser uma viagem literal). O álbum trazia viagens daquele grupo de pessoas (eram eles uma família, uma seita, quem eram?)…
Isso eu entendi, mas o que tem a ver com o resto? 😅😅😅😅
É difícil se sentir tão burra… 😢
Não entendi nada, absolutamente nada, deste conto! Mas… por algum motivo que eu não sei explicar direito, eu gostei!
ESCRITA:
O conto está com ótimas descrições, e a narração se desenvolve de forma extremamente fluida. Por ser algo do gênero do terror, ele acaba sendo mais visceral em algumas passagens, não só nos momentos tensos, mas até mesmo no início, na descrição da bexiga cheia de mijo. Gostei bastante do recurso do álbum de fotos, com as descrições de cada foto que o personagem estava visualizando. Achei esse um elemento bem diferente, mas divertido, que contribuiu para dar uma boa dinâmica na linha narrativa, apesar de eu não ter compreendido o significado de nenhuma das fotos.
TEMA:
Pera aí… talvez seja devido à minha ignorância, e pelo fato de eu não ter compreendido direito a história… mas não vi o tema por aqui! Temos dois, certo? Roubo, hmm, não vi nenhum objeto sendo roubado. Talvez a sanidade do personagem principal? Mas aí eu teria que forçar muito da minha boa vontade para enxergar esse roubo. Então que tal viagem? Tinha umas fotos de viagem nas fotos… mas poxa, SÓ ISSO?! Ao meu ver, os contos devem utilizar o tema como principal alicerce do conto, e não apenas mencionar “Ah, teve uma viagem, viu? Segui o tema, é só você olhar o álbum de fotos!”. Achei essa questão um pouco decepcionante (mas não se preocupe tanto com isso, pois eu realmente gostei da história).
ENREDO:
Aqui é a parte onde este conto brilha! No início o texto começa de forma estranha… mas aos poucos fica claro que essa estranheza é proposital, e que toda a história permeia por essa linha. O personagem principal então encontra umas fotos no sofá, e ele começa a olhar, achando que é da filha. Por algum motivo, ele se sente tão horrorizado como se estivesse vendo nudes das filha, mas na realidade são só umas fotos meio aleatórias e aparentemente sem significado. A história então segue por essa vibe, e vai ficando pouco a pouco mais misteriosa e inusitada. O terror psicológico ficou bem construído, e imaginar a figura misteriosa do cara respirando do outro lado da porta é muito divertido! Chega um determinado momento, quando o leitor está tentando adivinhar o que está acontecendo, que tudo parece indicar que essa figura é a Morte, e que ela veio buscar o personagem principal. No entanto, o autor percebeu isso, e se prontificou para não deixar pistas falsas em sua história, e deixou bastante claro que não era essa a interpretação. Pois bem… então qual é a verdadeira interpretação de tudo isso? Tem uma parte em que o cara diz “Já sei, agora entendi tudo!!”. Tá, beleza… mas o que foi que ele entendeu? Achei que, nessa parte, ele daria uma resposta ao leitor. Eu sei que tudo foi jogado aos ventos de forma proposital, para que cada um tenha a sua própria interpretação… mas… achei que faltaram um pouco mais de pistas para guiar o raciocínio do leitor. Pelo que eu entendi, o cara sumiu porque ele virou as fotos! É isso? O homem do outro lado da porta é uma entidade misteriosa que aparece na casa das pessoas, no meio da noite, e transforma a vida delas em fotos? Mas pera… por quê? Essa explicação, ou qualquer outra teoria, me parece que abre mais perguntas do que respostas. Não pude deixar de notar que o Antonio Batista interpretou umas coisas MUITO malucas… mas eu não faço ideia de como ele chegou naquela conclusão.
CONCLUSÃO:
Pontos Positivos:
– História criativa e muito divertida, que conseguiu me entreter.
– Escrita bem produzida e bastante fluida, com ótimas descrições, principalmente nas fotos.
– Elemento do álbum de fotos foi um ótimo recurso narrativo, que abrilhantou a história.
Pontos Negativos:
– Ao meu ver, o conto cagou e andou pro tema.
– Final muito confuso, que não explica nada, e deixa tudo aberto demais.
– O conto poderia ser um pouco mais longo, para dar mais pistas ao leitor, e também porque ele está gostoso de ler, e é uma pena que acabe tão cedo.
OBS: eu estava com a bexiga cheia de mijo quando li este conto. Mas descarreguei no meio de leitura, então tudo fluiu bem.
Esqueci de dizer que o cara se atirou pela janela, a pista está na frase; “Porém, um vento roçou em suas orelhas e lhe avisou: permaneceria no apartamento”. Claro que são apenas suposições, mas as pistas estão aí, ou não. É surreal!rsrs
Será? Mas a filha reportou o desaparecimento do pai… se ele tivesse se atirado da janela, não seria preciso. E o vento roçou nas orelhas da filha.
Eu gosto de Surrealismo, tanto nas artes plásticas quanto na literatura. Em desafios anteriores, tivemos bons contos surreais, alguns autores têm habilidade e inspiração para criar narrativas fora do comum, criar imagens do subconsciente, misturando sonho e realidade. As primeiras frases do conto parecem de mau gosto, mas elas revelam a realidade, mostram as funções fisiológicas do ser humano, mostram o quanto somos controlados pelas forças da Natureza, e isso é surreal. A história de um homem que mora com a filha e que em certa noite é despertado pela culpa. As fotos do álbum contam uma história terrível. O personagem atrás da porta é como aquele da história do avarento sr, Ebenezer Scrooge, de Charles Dickens, que o leva a ver todos os seus males.
A porta é como aquela linha tênue entre a realidade e o sonho. Na verdade, o personagem atrás da porta, é o seu subconsciente instigando-o a ver a verdade, que, para escapar do tormento da culpa, só há um caminho.
Então, as fotos coloridas mostram o passado do protagonista com a esposa e o filho. Parece que a foto número 3 da quinta folha, mostra o que seria momentos antes de um acidente de caça. As fotos em preto e branco são do tempo atual.
Creio que haverá muitas interpretações, como é natural em contos com figuras de linguagem. Gostei do seu conto.
Esse escritor me descreveu acordando no meio da noite para ir ao banheiro. Cara, nesse trecho, sou eu. Gostei. Esse lance de encontrar fotos duma família desconhecida no meio da noite não sou eu, ainda bem. Agora, falando do enredo, achei coerente, fluido e com os cenários bem descritos. Isso faz quem lê visualizar as cenas. O tema parece remeter a uma viagem através das fotos. E cada vez que a trama estica, o personagem vai se identificando com o que se passa nas fotos. “Atraiu-se pelo magnetismo do álbum largado no couro barato do estofado.” De onde veio esse treco?, me pergunto. Sei que esse elemento foi usado para dar um clima de suspense à trama. E deu. O final foi bom.
Um texto bem escrito, cheio de significado. Na minha opinião, atinge cada leitor de maneira diferente. Exceto pelo “trançado desde antes de sua carne existir” (entendo que deveria ser “traçado”, mas não atrapalha em nada), não vejo erros que saltem aos olhos. Uma viagem pelo tempo, pelas recordações. Seria interessante ser direto, no caso dos motivos do autor? Talvez não. Talvez a intenção fosse mesmo suscitar a dúvida na cabeça do leitor e fisgar-lhe o pensamento, fazendo-o raciocinar e remoer as palavras por algum tempo. Parabéns, permenecerei pensando. Sucesso.
Olá Vladimir. A questão do trançar é por ter pensado a vida como um tapete feito a partir do fio da vida criado pelas moiras. Mas não ficou tão claro, então o erro foi meu. Obrigado pelo comentário.