EntreContos

Detox Literário.

Diário dos dias negligenciados (Gina Eugenia)

Escrevo, pois sei que, se contar, ninguém acreditará; porque nem eu acreditei, e, mesmo agora, quase dez horas depois, ainda não entendi o que aconteceu, o porquê, ou como… e por que comigo.

Sei: é um intróito mais que confuso; creio que tem a ver também com não saber como começar a registrar o caso – e com a esperança de amanhã, ao acordar, tudo ter voltado ao normal, deixando de haver, portanto, necessidade de qualquer testemunho. Mas se for uma fantasia, um sonho, já durou demais – o problema é o ‘demais’… Em tempo: nenhum sonho pode ser tão coerente, eivado de cores, odores, suores e valores, concretos, indefectíveis, ao alcance de olho, nariz, mão e alma.

Hoje amanheceu há vinte anos. Houve uma espécie de retorno no tempo (é boa, essa, ‘retorno no tempo’, que sátira!); neste momento estou sentado à escrivaninha (material mor da fogueira junina de dois anos atrás) que ficava no canto da sala de uma casa da qual minha família mudou-se faz séculos. O calendário sobre o móvel – como o outro pendurado na parede da cozinha – marca o ano de 1983; não sei precisar dia e mês (e soaria esquisito perguntar), mas presumo que seja o dia contínuo ao de ontem – quero dizer meu ontem ‘normal’.

Quando abri os olhos pela manhã logo notei a diferença: onde o lençol de seda, ao qual me apeguei depois do fim do caso com M. (também de seda… e aço. E almíscar selvagem) e que quase fede, porque não deixo lavar com a freqüência necessária, mas deixo a diarista sem entender patavina? Onde a janela escura, absolutamente imprescindível às crises de enxaqueca? Pensei que sonhava – aquela sensação de ser surpreendido pela racionalidade bem no meio de uma fantasia. Era o contrário: a surpresa da fantasia e premência em racionalizá-la.

Mas quem já não quis voltar ao passado: reviver alegrias, aquele passeio num dia mágico, a amizade de infância, o primeiro beijo, a última ilusão? Ou corrigir enganos, acreditar no palpite de um jogo, retificar atitudes, não lançar a flecha de certeira palavra… A chance de experimentar um caminho preterido, de testar-se em outra experiência, em outra circunstância… Quem não…?

Por enquanto, oscilo entre a angústia e a euforia. Desconfio que dormirei indeciso, como quase sempre.

***

Presumi corretamente: hoje é doze de abril, e isso quer dizer: (a) ninguém se lembrou do meu aniversário; (b) se eu podia corrigir alguma coisa, comecei perdendo a oportunidade.

E tudo o que acontecer hoje já perdeu a importância diante de ontem – afinal, foi meu aniversário ou não foi? Eu não farei treze anos novamente (creio, pelo menos). Aliás, fiz treze anos apenas uma vez. Não era eu, ontem, era alguém com minha cara aos treze, a virgindade aos treze, a alma agoniada e a memória de um rato: como pude esquecer que nem minha família lembrou a data?

Complicado, mesmo, foi ver meu pai se achegar. “Desculpe, desculpe, esqueci… Você aceita parabéns atrasado?” Baixei a cabeça e ele foi se afastando, mais constrangido com minha vergonha que com a própria; corri atrás dele: “Claro, pai, antes tarde do que nunca, né?”. O pobre nem sabia que há duas décadas me devia esse carinho… Após o abraço, outra pergunta tola: “Pai, a mãe…?” A resposta recontaminou tudo de desencanto: “Você sabe como é sua mãe…” Eu sei. Ela não mudou muito. Conclui que esqueci o dia de ontem – ‘o dia em que nem eu me lembrei do meu aniversário’ – por pura necessidade.

É uma coisa estúpida perceber que se tem a mesma idade (a ‘normal’, não a de fantasia) que sua mãe teve um dia, e que ela será sempre imatura demais para entender e perdoar. E o problema é o ‘demais’.

***

Vou parar por aqui. Dormirei o resto dos meus dias; dormirei, sim – tranquilamente, sem sustos…

Recuso-me a viver essa loucura!

Só tenho que ir à escola, mas isso é moleza.

***

Volto – a memória bagunçada, a alma em sobressalto e o rabo entre as pernas…

Continuo o registro com a intenção original – e porque a turma da escola é qualquer coisa que há!

E mais: (re)conheci a pessoa que dará tom aos anos que virão. Somos amigos há tempos, sempre tivemos muito a contar e sentir, por vezes até adivinhamos o pensamento um do outro. Num período fomos apaixonados pela mesma criatura, uma loirinha sem sal do 8º ano; cúmplices jovens e adultos, quase tudo foi compartilhado. Agora, tenho um segredo. Dói.

Creio que causei uma impressão estranha, olhando-o daquela maneira, como se visse um extraterrestre, ou – pior – um ser muito humano, mesmo… Então, preciso me policiar, não posso revelar coisas fora do tempo, esconder outras; tenho que lembrar como me comportava e sentia.

***

A semana passada se arrastou, o final de semana foi uma tragicomédia e essa quarta-feira me entedia – o que é normal às quartas-feiras!

Parece que os dias estão ficando mais curtos. O tempo tem passado mais depressa, agora que me acostumei à ideia de que realmente posso aceitar ou excluir o que vivi. E acordar certa manhã, tendo que ir ao trabalho, passar no supermercado, levar carro à oficina… Drummond estava certo: ‘êta vida besta, meu Deus.’

Nem lembro se contei ao meu amigo que perdi meu cachorro. Acho que não. Às vezes ainda penso que ele vai voltar; nunca pude acreditar que estivesse morto. Vou contar isso como quem não quer nada. E não vou chorar.

***

Não posso crer que continuo a sentir a falta do Capitão Kirk. O povo todo zoava: “Parece mais com o Spock; você deveria ter mudado o nome…”

Por que será que a maioria das pessoas não entende o óbvio?

Chorei – teve jeito, não – e muito!

***

Não posso crer é que ‘levei bomba’ na prova de geografia! Afinal, eu deveria saber mais a matéria que todos os alunos juntos – se duvidar, até mesmo que o professor, que nunca saiu daqui, enquanto eu já rodei um bocado de mundo. E está sendo difícil – difícil não, desmotivante – estudar outros assuntos sem atender os objetivos de um adulto: saber e mostrar que sabe.

Mas de que adianta saber tantas coisas, ter mais experiência de vida, se me compliquei em geografia?

***

Acabei de me complicar mais ainda: vou ajudar a organizar a quermesse junina do colégio. Estupidamente levantei o braço quando a diretora perguntou, com aquela vozinha dela de taquara rachada, quem poderia ser aluno tão amigo e disponível que quisesse colaborar com nossa amada escola. Ainda bem que até o final de junho há tempo suficiente!

Ora, que tolice: como se eu pudesse pensar nesta vida de agora em termos tão circunstanciais! Mas que seria uma zorra se eu sumisse do mapa no meio do evento, levando todos os planos e bandeirolas e balangandãs dos santos, ah, isso seria!

***

Tem muita gente invejosa no mundo. E tentei me sair do engodo das festas juninas, mas fui recebido com tanta festa na Diretoria que perdi a coragem… Bom, seja o que o tempo – ou outro deus qualquer – quiser!

Meu irmão é um pé no saco, de verdade. Agora sei por que brigamos, antes desse imbróglio todo – e não foi por causa de uma reles camisa, não. Mas, comparada com as de agora, aquela será uma briga fácil de  resolver quando eu voltar. Se voltar.

E amigo é coisa pra se guardar… Irmão é pra gente dar cascudo, mesmo.

***

Feriado no domingo, que desperdício!

A mãe está com a cara mais azeda, hoje: tensão pré-menstrual ou cólica, talvez; pode ser dor no estômago, também, resultado da gastrite nervosa. Ela diz que não é fácil criar dois filhos sem a presença constante do pai; ele responde que trabalhar fora garante o sustento da casa. Havia esquecido essa arenga.

Tive vontade de oferecer a massagem que aprendi com M., então pensei na dificuldade em explicar como e quando a aprendera.

Segredos são como brincadeira com bola de neve: num belo dia surpreendem a gente pelas costas ou são jogados na cara…

Ou pode ser tensão, simplesmente. Mãe também tem segredos.

***

Mãe falou que amanhã iremos à casa de tia Júlia (a irmã mais nova dela). Há muito tempo não a vejo (nem a família ou amigos); ela foi embora meio de repente, sem ninguém saber o motivo. Não recordo bem da data, só da comoção que causou. Conhecendo titia um pouco (do que lembro, é lógico – as brincadeiras, o cabelo livre voando pelo céu, as mãos calmas), acho que não foi de propósito; amanhã observarei e procurarei indícios presentes, passados ou futuros.

Nada de novo no front da escola, além da garota mais chata da paróquia ter resolvido pegar no meu pé. Antes dos trinta estará balofa, com três guris chatinhos (será hereditário?) fazendo com ela o que ela fazia comigo (parece que está no sangue, mesmo…). E, além de pernóstica, chifruda e lerda: o marido apronta pra tudo quanto é lado e ela nem se toca.

Meninos e meninas, eu vi! (sempre quis dizer isso; ‘taí, ‘tá dito e ninguém para apreciar. A vida é mesmo uma bestice só…).

***

Tia Júlia se foi por causa do meu pai. Tenho pena da mãe, que pensa que sabe tudo…

Outra coisa ruim nessa história é que eu sempre quis ter mais um irmão – de preferência uma irmã – mas a mãe sempre disse que dois filhos são o bastante.

Tia Júlia não voltará, então não posso perder sua pista. Sei que ela sempre teve vontade de conhecer o Espírito Santo; assim que puder, procurarei por lá.

Engraçado: já viajei tanto, mas nunca fui ao Espírito Santo.

E mãe nem tem segredo, não: quem tem é tia!

***

Conheci minha ‘princesa’; é pena que beije outros sapos também. Como vingança, ‘fiquei’ com a Menina Chata da escola. Agora ela sai do meu pé.

O professor de Português perguntou se alguém já tinha ouvido falar de Clarice Lispector. Calado estava, quieto fiquei.

Perdoa, Clarice, foi covardia, sim! “… não fosse eu feito de comum argila…” Perdoa também, Oscar, que poesia aos treze pode me excluir da turma; já bastam os vendedores da loja de discos me considerando um moleque pedante, quando peço Tom, Chico ou Leila (completamente desconhecida por aqui, aí eles insistem que me enganei e oferecem Elis, que eu levo, é lógico!).

Mas eu beijei aquela sapa sonsa, e por um motivo absolutamente juvenil! Isto deveria depor a meu favor, não é?

***

A gata da vizinha pariu cinco coisinhas feias; um parece o cruzamento de uma ameba com um novelo de lã muito branca. A mãe disse (pasmem!) que eu podia escolher um – e qual eu escolhi?

Pois é, às vezes a vida nem é tão besta assim…

Bola de Neve. Bola de Gude. Floquinho. Arco-íris (ideia do meu irmão, só pra contrariar). Gostei; nunca vi gato algum com esse nome. Mas a Princesa sugeriu ‘White Wich’. Fiquei numa sinuca de bico.

E nem parei pra pensar que amanhã posso não estar mais aqui…

Êta, vida complicada, meu Deus!

***

Tudo voltou ao normal.

Meu irmão não fala comigo há mais de dois meses por causa de uma camisa cafona. Mãe, como sempre, nem quis saber quem tinha razão, apenas promulgou a sentença suprema: “Vocês são piores que crianças!” Ela não lembra que já fomos inocentes, um dia. Pai tenta nos unir, sem saber da promessa que titia carregou. Já quase nem consigo olhar para ele direito, parece até que (como ele, há muito tempo atrás) esqueci algo importante.

Um gato pequenino, branco e dengoso – que eu não lembro se tinha antes – me faz companhia e rasga minhas almofadas, sempre que convido um novo amigo; o velho amigo continua guardado, esperando vez para ‘aparecer’… Nunca mais o convidei, no entanto…

Antes dessa confusão passava boa parte da vida fabricando sonhos de qualidade duvidosa. Agora, não coleciono mais expectativas. Não sei como o dia será amanhã. Ontem passou – e é tão presente quanto os dentes alinhados pelo aparelho… Só pedi férias do trabalho, marquei passagens e reservei hotel: Espírito Santo – e tudo que há por lá – me aguarda. Ou eu o aguardo, dando tudo na mesma, ao final…

Nada contei a ninguém. Estou começando a zelar o segredo como algo de uma pessoa só – por isso é segredo. É como o caso do lençol de seda – que mandei lavar. E continuo tendo enxaqueca.

Também não escreverei mais. Cada página desse registro parece um cálculo renal; aceito anestesia, daquele tipo básico a quem aprendeu o possível e seguiu se perdoando, inclusive por não se amar o bastante. Não preciso da dor.

Na volta do escritório passarei na mercearia da esquina e comprarei queijo, macarrão instantâneo e vinho tinto barato. Proteína e carboidratos, isto é do que preciso. Um pileque, idem…

Então, talvez a vida deixe de ser normal e se torne real.

39 comentários em “Diário dos dias negligenciados (Gina Eugenia)

  1. Eugênio Avelar
    3 de novembro de 2013
    Avatar de Eugênio Avelar

    Depois de ler os vários comentários, não pude deixar de ser influenciado por alguns deles. Primeiro a parte “negativa” : a aparente falta de um conflito e um trecho – o único do texto – bastante confuso:

    onde o lençol de seda, ao qual me apeguei depois do fim do caso com M. (também de seda… e aço. E almíscar selvagem) e que quase fede, porque não deixo lavar com a freqüência necessária, mas deixo a diarista sem entender patavina?

    Tudo isso poderia ser substituído por “onde o lençol de seda”? Os demais detalhes poderiam ser acrescentados à trama, gradualmente. Agora, os “pontos positivos”, superam em muito, os “pontos negativos”: o começo é excelente, com uma completa subversão da linearidade temporal, de tal modo que poucos escritores conseguiram estruturar. E há vários conflitos não resolvidos: eu mesmo não tenho certeza se o sonho chegou ao fim, se foi apenas uma simples volta às recordações da infância. A autora insere personagens (a tia, a mãe, o gato) e não oferece pistas consistentes sobre sua solução – que fica sem fecho. Ocorre que, para mim, isso é muito mais meritório em um escritor, que o contrário. Está aí, Capitu, que não me deixa mentir. Como disse alguém: um conto muito acima da média!

  2. José Geraldo Gouvêa
    29 de outubro de 2013
    Avatar de José Geraldo Gouvêa

    Como o Sérgio escreveu. Esse conto parece não ter um conflito. Apenas um cara que revive sua adolescência a partir dos treze anos, mas parece nem conseguir fazer nada diferente. Um texto escrito com cuidado, mas sem muita paixão. O narrador é um tanto distante e o estilo “diarístico” não ajuda a dar uma aproximação. O diário parece mais algum tipo de registro náutico do que um diário de adolescente.

  3. Felipe Holloway
    29 de outubro de 2013
    Avatar de Felipe Holloway

    O legal de comentar um texto depois que muitas pessoas já o fizeram é que te poupa o trabalho de enumerar o que, também a seu ver, foi qualidade e o que foi defeito. No caso deste conto, o comentário ao qual me apego no âmbito das virtudes é o do Andrey Coutinho: há linhas de sagacidade soberba diluídas no todo da trama, que é, em si, além de minuciosamente bem escrita/narrada, cativante. Já os “deméritos” (e coloco o termo entre aspas justamente por entender que se trata de uma idiossincrasia minha, como leitor) encontram-se condensados na segunda metade do comentário da Isabella Rocha e, em certa medida, no do Sérgio Ferrari. A incredulidade inicial do protagonista nos contamina e instiga, mas, voltando-se a ela, depois de concluída a leitura, soa meio histriônica, desproporcional, justamente por não ter sido possível, a leitores como eu, internalizar as consequências do fato atribuindo-lhes a mesma gravidade que tiveram, para o personagem. As memórias revisitadas, aqui, sejam somadas ou consideradas individualmente, carecem da força lírica da de um conto como Do Lado de Fora, que também figura entre os do desafio, por exemplo.

    No entanto, sob a maioria dos ângulos pelos quais se analise, é um conto muito, muito acima da média.

  4. Bia Machado
    29 de outubro de 2013
    Avatar de Amana

    Texto bem escrito, com pitadas de humor, passa mesmo algo bem “humano”, “familiar”… Foi bom de se ler, e não senti falta de um conflito, apenas aproveitei a narrativa. Gostei!

    • Joana do Tarugo
      29 de outubro de 2013
      Avatar de Joana do Tarugo

      Bom dia, Bia! Que bom que você gostou: mais que para concorrer a algo, o texto foi feito para emocionar. Agradeço seu comentário tão gentil, tá?

  5. Juliano Gadêlha
    29 de outubro de 2013
    Avatar de Juliano Gadêlha

    Ótimo conto, muitíssimo bem escrito. Leitura agradável, enredo bacana. Tenho de concordar que faltou um problema, que poderia dar um apelo maior perante o leitor, mas dentro de sua proposta o texto está excelente. Parabéns!

    • Joana do Tarugo
      29 de outubro de 2013
      Avatar de Joana do Tarugo

      O ‘problema’ que faltou está claro para mim – mas isso nem vale porque escrevi o texto. Creio que a falha do estilo foi o narrador em primeira pessoa não onisciente. Difícil, isso… Mas agradeço demais seus comentários. Fico super feliz porque o conto agradou!

  6. Isabella Beatriz Fernandes Rocha
    28 de outubro de 2013
    Avatar de Isabella Beatriz Fernandes Rocha

    Não curti. O narrador não me inspirou compaixão, não sei se entendi muito bem o objetivo do conto…. Pelo prometido no primeiro parágrafo (de que ele mesmo não acredtiava!), esperei algo diferente.

    • Joana do Tarugo
      29 de outubro de 2013
      Avatar de Joana do Tarugo

      O objetivo de qualquer conto é contar uma história – por isso se chama ‘conto’. Se um conto não consegue mostrar a história, de fato há algo muito errado com ele. Adorei a personagem não ter inspirado compaixão: gente autocomplacente e com baixo nível de autoestima me causa tédio. O primeiro parágrafo nada promete – pois não é um conto em estilo normal, destes com introdução, desenvolvimento e finalização – apenas indica a confusão da personagem – e vamos combinar que a situação é grave, hein? Mas espero que numa próxima participação possa escrever algo que lhe agrade, pois no processo de produzir, decodificar, sentir e explicar para si mesmo a validade de um texto, o ser fundamental é leitor.

  7. Sérgio Ferrari
    28 de outubro de 2013
    Avatar de Sérgio Ferrari

    Realmente, muito bem escrito. Parabéns. Só faltou uma coisa, um problema. Não há nda demais no enredo. “Nada acontece”. Começou e terminou sem perturbações na ordem da coisa. Um conto é mais que isso. Olha…faltou pouco pra ser um conto memorável. Que pena.

    • Joana do Tarugo
      29 de outubro de 2013
      Avatar de Joana do Tarugo

      Vou me repetir: o ‘problema’ que faltou está claro para mim – mas isso nem vale, porque escrevi o texto. Mas não posso concordar: a ordem da coisa ficou irremediavelmente alterada, sim. Ficam uma ‘promessa’ – e um gato! – na vida da personagem. E outras certezas – resta saber o que o rapaz fará com elas… Mas ele é tão indeciso – fraco, mesmo! – que periga as tintas do diário desbotarem. Aí, adeus, conto.

  8. Andrey Coutinho
    28 de outubro de 2013
    Avatar de Daryen

    Esse aqui tá bem escrito demaaaaais. Destaco o uso muito eficaz de punchlines:

    “aquela sensação de ser surpreendido pela racionalidade bem no meio de uma fantasia. Era o contrário: a surpresa da fantasia e premência em racionalizá-la.”

    “E amigo é coisa pra se guardar… Irmão é pra gente dar cascudo, mesmo.”

    “Então, talvez a vida deixe de ser normal e se torne real.”

    Perscrutação psicológica da protagonista de primeira. Conto recomendadíssimo.

  9. Thata Pereira
    28 de outubro de 2013
    Avatar de Thata Pereira

    Que bonito de ler! Adorei a escrita e o conto me envolveu. Li, sem procurar pelo fim. Gostei muito!

  10. Frank
    28 de outubro de 2013
    Avatar de Frank

    Não é meu estilo predileto de narrativa, mas é uma bela viagem no tempo!

  11. Régis Messaco.
    27 de outubro de 2013
    Avatar de Régis Messaco.

    Muito bom o conto. Bem escrito, um belo e divertido jogo de palavras. Ainda que eu pense mais parecer com as folhas de um diário, tenho que reconhecer que é um belo diário. Abraços, Joana.

  12. fernandoabreude88
    25 de outubro de 2013
    Avatar de fernandoabreude88

    Gostei bastante desse conto, tive que ler mais uma vez para captar melhor essas memórias perdidas entre as linhas. Não achei um erro sequer. Bastante irônica, a verve do texto nos leva até o final com entusiasmo. Ótimo!

  13. Sandra
    24 de outubro de 2013
    Avatar de Sandra

    Senti-me leitora exclusiva. Apertei o cinto e parti para o passado da personagem através de uma lente muito próxima. Somente me senti incomodada – e sempre me sinto com este tipo de história de viagens temporais – porque qualquer mexida, mínima que seja, num passado único, num tempo linear, poderia ocasionar uma avalanche de circunstâncias que levaria a personagem presente a inúmeras outras direções, inclusive a sua ‘inexistência’. Bom, mas não foi o caso aqui. A única mexida foi o resgate do carinho ‘perdido’ do pai… Valeu a viagem.
    Muito apreciada, prazerosa.

  14. mportonet
    23 de outubro de 2013
    Avatar de mportonet

    Terminei a leitura satisfeito. Uma narrativa intima e estilosa.

    Não sei se entendi alguns pontos, tamanha a introspecção do conto.

    Fiquei um pouco decepcionado por perceber que a viagem não alterou em nada o presente do narrador. Mas quem sabe essa não seja a mensagem que ele quer passar? Que o passado é “imexível”.

    Parabéns.

  15. Gina Eugênia Girão
    23 de outubro de 2013
    Avatar de Gina Eugênia Girão

    Se é um diário, penso que teria sido melhor marcar a passagem do tempo em datas, ou, ao menos, identificando a ordem dos dias. O leitor fica por saber quanto tempo real durou essa ‘viagem’. Noto também que quase não há ligação entre um registro e outro – supondo que cada bloco de parágrafo é um dia de vida ‘anormal’ – e isso compromete o fluxo do conto. E quem é ‘Oscar’, a quem a personagem pede desculpas? Além disso, por que o tom moral ao final, como se a personagem tivesse ido ao passado especialmente para ter informações capazes de modificar o presente? Isso não me surpreendeu e gosto de ser surpreendida. De resto, escrita correta, estilo quase enxuto… mas acho que é só.

  16. Claudia Roberta Angst - C.R.Angst
    23 de outubro de 2013
    Avatar de Claudia Roberta Angst - C.R.Angst

    O título já chamou logo a minha atenção. Achei diferente, lírico. O conto é uma verdadeira viagem no tempo passando pelas estações principais da memória. O leitor viaja junto, curioso em desvendar o mundo do protagonista. O tom não pesa e sim traz uma dose de sarcasmo à linguagem. Muito bom.

  17. charlesdias
    23 de outubro de 2013
    Avatar de Charles Dias

    Acheio o conto enfadonho e um tanto confuso. Algumas construções tornam a leitura difícil e chegam a comprometer a compreensão. Talvez se fosse mais conciso ficaria melhor.

  18. Lázara Papandrea
    22 de outubro de 2013
    Avatar de Lázara Papandrea

    Tempos que se entrelaçam como se num redemoinho desgovernado tivessem…como se catássemos fragmentos do ontem no hoje e vice-versa. muito bom!

  19. cecília maria de luca
    22 de outubro de 2013
    Avatar de cecília maria de luca

    Conto pra lá de inteligente e difícil do colocar no papel. Super interessante e diferente, essa sobreposição de idades, de fatos. Achei quase surreal, mágico mesmo. A autora consegue, em estilo diferenciado, num texto limpo e bem escrito, nos envolver na trama, pressentir o segredo e acabamos por nos identificar com o personagem. Quem de nós nunca se deixou levar por recordações, flashes de vida, como se a contabilizar o que vivenciado? Quem de nós não guarda um segredo? Parabéns, Joana do Tarugo! Me deliciei com seu Diário dos dias negligenciados.

  20. baltazar gonçalves
    22 de outubro de 2013
    Avatar de baltazar gonçalves

    “e é tão presente quanto os dentes alinhados pelo aparelho”… GOSTO MUITO DA SUA PROZA, NELA O COTIDIANO E AS COISAS SIMPLES “QUE PEGAM” TODA GENTE”, MAS SUA ESCRITA APRESENTA COM LEVEZA APESAR DE “zelar o segredo como algo de uma pessoa só” FICA ENTRE AS LINHAS A SUTILEZA DAS QUESTÕES/ MOTOR DA VIDA… “na mercearia da esquina… macarrão instantâneo” A VOZ QUE NARRA É HONESTA AO DIZER QUE COMEÇA “SEM COMEÇO” E, COM ESSE ARDIL, VAI GANHANDO O TEMPO DA LEITURA NA MESMA PROPORÇÃO EM QUE PERDE A ESPERANÇA DE MUDAR O QUE FOI. ==== vc está participando de um concurso, é isso né? vejo um diferencial na sua escrita (mais um rs): como posso dizer… o que garcial marques fez em CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA talvez… um crônica do que está posto, e já no enunciado avisa: é isso.

  21. TONINHO LIMA
    22 de outubro de 2013
    Avatar de TONINHO LIMA

    Abriu mão do estilo dramático e formal, temperou com um certo humor amargo, e conseguiu um bom efeito. Gostei bastante.

  22. selma
    22 de outubro de 2013
    Avatar de selma

    gostei muito. o tom de sarcasmo é na medida, atrevido. muito bem escrito, li com prazer. parabens!

  23. Ricardo
    22 de outubro de 2013
    Avatar de Ricardo

    Um texto saudosista sem ser enfadonho. Muito pelo contrário, e isso é extremamente difícil, a forma introspectiva com que o conto é narrado transforma o leitor em personagem e isso transparece claramente pela firme condução da história.
    Que Joana me perdoe, mas esta autora tem mesmo “tarugo” pra mostrar! 🙂

  24. marcio roberto andrade
    21 de outubro de 2013
    Avatar de marcio roberto andrade

    maravilhoso!!! excelente!!! enquanto eu nao t revelar sera segredo sim…

  25. TONINHO LIMA
    21 de outubro de 2013
    Avatar de TONINHO LIMA

    Um conto que eu não deixei negligenciado. Comecei a ler, sem saber por que… gostei da pegada, do estilo, logo de cara. Muito bom.

  26. rubemcabral
    21 de outubro de 2013
    Avatar de rubemcabral

    Um conto bonito e pra lá de introspectivo… Eu gostei, embora normalmente prefira histórias mais dinâmicas.

    • Joana do Tarugo
      29 de outubro de 2013
      Avatar de Joana do Tarugo

      Agradecendo: que bom que gostou do texto!

  27. Marcellus
    20 de outubro de 2013
    Avatar de Marcellus

    Muito bom o texto. Seria impossível mudar o passado? Ou foi uma escolha? Teria mesmo acontecido uma viagem? Ou foi tudo uma “viagem”?

    Conto muito bem escrito e conduzido, mesmo! Parabéns!

    • Joana do tarugo
      29 de outubro de 2013
      Avatar de Joana do tarugo

      Suas dúvidas são as minhas, idem. Talvez a personagem pudesse nos explicar algo, mas não vai falar sobre isso com ninguém…
      Agradecendo a gentileza dos comentários: que bom que gostou do conto!

  28. Elton Menezes
    20 de outubro de 2013
    Avatar de Elton Menezes

    Sobre a história… Uma verdadeira colcha de retalhos de memórias revividas. Com um narrador personagem introspectivo e muito bem escrito, o texto ganha contornos de uma auto-ironia quase impiedosa. O personagem ri tanto de si mesmo que sequer muda seus erros do passado.
    Sobre a técnica… Ótima escrita, frases muito bem amarradas, um sarcasmo arraigado. Ortografia correta.
    Sobre o título… MUITO bom!

    • Joana do tarugo
      29 de outubro de 2013
      Avatar de Joana do tarugo

      Começando pelo início, agradeço a aprovação quanto ao título, porque (já o disse uma vez não lembro quem, mas pode ter sido Emília, em Reinações de Narizinho) ‘títulos são danados de importantes’.
      A ortografia correta é obrigação, mas fico muito feliz pelo reconhecimento. As frases ‘bem amarradas’ foram surpresa: houve momentos em que a personagem tomou de conta de tal forma do teclado que sua falta de autoconfiança e excesso de autocomplacência contaminaram teclado, texto e autor. Reconheçamos que a técnica é da personagem, então…
      Pessoas assim (sarcásticas indecisas) riem de si mesmas porque nada sabem de si… e qual auto-ironia não é impiedosa?
      Finalmente: acompanhei em outros textos sua forma de criticar e aprendi muito, pelo que agradeço, também.

  29. Gustavo Araujo
    18 de outubro de 2013
    Avatar de Gustavo Araujo

    Conto muito bem escrito. Dá para perceber claramente que o autor domina a arte de moldar as palavras levando o leitor sem traumas por uma jornada de episódios marcantes de sua vida. Não é, contudo, o tipo de leitura que me atrai, devo dizer. Tendo a preferir o estilo, digamos, clássico. A história que vai de A para B, que me leva a torcer pelo protagonista, coisas assim. De todo modo, estou certo que este texto há de agradar muita gente. Quem, afinal, nunca se viu perdido em meio a recordações, refém daquela perguntinha básica: “e se…” Por ter conseguido mergulhar nessas divagações sem parecer pedante ou sonolenta, o autor está de parabéns.

    • Joana do tarugo
      24 de outubro de 2013
      Avatar de Joana do tarugo

      Agradeço os comentários, especialmente por serem dirigidos a um tipo de conto que aprecia com restrições. Lembrou-me minha mãe falando de um alimento: “Você pode até dizer que não gosta disso, mas apenas depois que experimentar…” E ela nunca me obrigava a comer. Isso é justiça. E bom senso.

  30. fcoglaucobastos
    18 de outubro de 2013
    Avatar de fcoglaucobastos

    Muito bom o conto. O narrador nos conduz a uma viagem psicológica formada de fragmentos de vida. De momentos cotidianos, mas epifânicos. Gostei muito da frase final que estabelece a distinção entre normal e real. Parabéns!

    • Joana do tarugo
      24 de outubro de 2013
      Avatar de Joana do tarugo

      É que ‘normose’ me aborrece. Grato pelos comentários.

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Publicado às 18 de outubro de 2013 por em Viagem no Tempo e marcado .