
A multidão gritava o seu nome junto de palavras de ordem à república, à Itália e aos italianos. Diante de todo o alarido, ela sorriu, achando graça de que mesmo agora, já de sobrenome mudado e um oceano ultrapassado, ainda teve que conter o mesmo reflexo de dizer o que havia repetido incansavelmente para o marido nos seus primeiros anos juntos. É Aninha!
A aclamação era por Anita. Ao menos tinham a sensibilidade de não chamar como já havia ouvido nos campos de guerra e nas rotas de fuga, “a mulher de Garibaldi”. Desfaçatez! Era “a mulher de Garibaldi” com arma na mão, cabeça erguida no meio do fogo cruzado, olhar à linha do perigo, voz à altura do serviço? Giuseppe sabia bem. Ela era soldada! Quando estavam a sós, a chamava de amazona. Levantou um aceno para a multidão, divertindo-se com a inesperada recepção.
— Não é para você.
Virou-se para o lado de onde viera a voz. Um homem com uma caneta numa mão e um bloco de papel na outra a olhava, a alguns passos de distância. Encará-lo fez parecer que, de fato, nenhuma alma estava consciente de sua existência naquela rua, apesar de continuarem a gritar o seu nome. Mas aquele homem a via. Veio em sua direção.
— De certa forma, pelo menos. A celebração é em relação àquela na caixa.
Olhando para onde o homem apontava, distinguiu um caixote retangular sendo transportado nos ombros de homens que vestiam medalhas ou paletós entremeio ao povo em polvorosa. Um dos homens andava à frente, anunciando com vozeirão que a mãe da pátria italiana voltava para casa.
— Eu não nasci aqui.
— Eu sei.
— Quem é você?
— Uma companhia para a jornada.
— Jornada?
— Sim. — Tornou a apontar para a procissão que avançava enfileirada entre o povo.
Olhou para o caixote mais uma vez, enfim entendendo.
— Giuseppe me enterrou aqui?
— Aqui, não. O primeiro-ministro da Itália solicitou o seu corpo como heroína da pátria, mas o seu local de repouso ainda não está acabado. Resolveram te manter em Gênova por enquanto. Faz sentido, não é? Foi onde chegou primeiro.
Agora observavam da proa de um navio, Giuseppe a abraçava pela cintura, enquanto repousava a cabeça em seu peito. A turba se juntava para recebê-los no porto. Balançavam bandeiras vermelhas, vestiam vermelho, avermelhavam o porto de Gênova, compondo com as casinhas coloridas que cresciam como blocos empilhados à costa. Seu marido disse que lutariam em sua casa a luta que ele atravessara pelo Atlântico.
— O que me faltava para vencer era apenas você, meu amor.
Anita Garibaldi estava morta. Olhava para si mesma nos braços do seu homem, mas não o sentia. Não estava ali. Viu seu primogênito Menotti se aproximar carregando o pequeno Miciotti num braço e com o outro segurando Teresita pela mão. As crianças se aproximavam da Anita Garibaldi viva que chegava a Gênova para marcar história junto do esposo. Heróis de dois mundos. A Anita Garibaldi morta, arrastada pelo pescoço e enterrada em uma cova rasa, assistia à cena do lugar de impotência da morte. Seu primeiro instinto diante dessa compreensão foi pôr as mãos na barriga, protegendo o que já havia sido levado.
— Meu bebê?
O homem andou até o lado dela e negou com a cabeça, sem encontrar o seu olhar.
Anita descobriu que fantasmas não podem chorar. Concluiu que também não faria diferença agora.
— Meu Giuseppe?
O homem sorriu.
— Escapou e prometeu que voltaria para te buscar.
Foi a vez dela de sorrir.
— E você?
— Já te disse. Sou seu acompanhante nessa jornada.
Ela se aproximou da proa, o navio já era manobrado para aportarem.
— Eu não imaginava que seria recebida dessa forma, mas quando você anda ao lado dele… a altura do céu parece baixa. Também não pensava que morreria aqui… você disse que o primeiro-ministro solicitou o meu corpo… então nós conseguimos?
— De certa forma. Mas tenho certeza de que você não gostaria nem do ministro e nem da homenagem. Por sinal, os camisas pretas dele perseguiriam os seus camisas vermelhas até que morressem todos.
Anita Garibaldi havia sido perseguida por brasileiros, argentinos, austríacos e franceses. As nuances das novas doutrinas políticas daquele século não importavam para alguém que sabia sempre lutar pelo povo e contra a tirania. Então não precisou ouvir mais do que aquilo e não omitiu a irritação em sua voz.
— E onde, enfim, resolveram me enterrar?
— Vou te mostrar.
Sem que percebesse, o navio já havia aportado, Giuseppe e a Anita viva desceram com os menores no braço, o pai ficou para ajudar o mais velho, que ainda era pequenininho. A fantasma de Anita não precisou descer a escada, apenas pensar em descer a transportou ao mesmo patamar da família que havia deixado para trás. Agora, entretanto, eles seguiam para a passarela enquanto ela ficava. Ensaiou acompanhá-los, mas sem que visse, uma pesada porta dupla de madeira se materializou entre ela e a família, tão grande que impedia a visão do porto, embora a algazarra em torno da família dos heróis ainda se fizesse ouvir.
O homem ultrapassou Anita e caminhou até a porta, abrindo apenas o suficiente para que pudesse passar. Não entrou, mirando-a de onde estava.
— Vamos. Mostrarei o seu leito definitivo… bem, definitivo até agora. O presente é imprevisível.
— São quase os mesmos gritos.
— O quê?
— O povo de Gênova. Parecem gritar a mesma coisa para mim, na minha primeira chegada com Giuseppe e as crianças, que depois, quando cheguei em um caixão.
O homem sorriu um sorriso triste.
— Isto é a tragédia da memória. Eles não te conhecem, Aninha. Não mais do que se conta sobre você e assim a sua versão narrada sobrevive à sua versão vivida. Mas, sinceramente, acho que não há um espaço tão grande entre as duas. Venha, heroína.
Ela o seguiu pela porta. Do algo do monte em que estavam, conseguiam ver toda Roma. A última vez em que estivera naquela cidade, o alto de sua cabeça era tomado pelo tremular das bandeiras tricolores do país, anunciando, no meio da Praça do Povo, a ascensão da república romana. Já a última vez em que subira o Monte Janículo, onde estavam, lembrava-se do alvoroço dos camisas vermelhas em estimar a melhor posição para encontrar ou fugir das tropas francesas que subiam pelo Tibre. Uma angústia a tomou de supetão.
— Giuseppe me reencontrou?
Esqueceu a questão ao se virar para onde estava o homem. Atrás dele, um bloco de bronze marcado por cavaleiros intrépidos transportando bandeiras apoiava uma estátua de bronze ainda maior, na qual uma mulher se equilibrava em cima de um cavalo sustentado nas patas traseiras, segurando um revólver em uma mão e um bebê na outra. Como se o equilíbrio fosse também entre a violência e a ternura. A fantasma de Anita Garibaldi caiu de joelhos, abraçando a si mesma. O homem se adiantou a explicar.
— É uma referência a…
— A fuga de Mostardas. Eu vivi. E quase morri. Não preciso que me lembre.
Baixou a cabeça, fechou os olhos e respirou fundo. Levantou-se. Ao abrir os olhos, estava em um campo aberto e pantanoso. A Anita Garibaldi feita de memória cavalgava, esquálida e desajeitada, o trote do cavalo atrapalhado pelo terreno acidentado. Uma das mãos levava a rédea num aperto desesperado enquanto a outra acolhia Miciotti contra o peito. O bebê chorava, a mãe chorava e não interromperiam a sua lamúria até que a guerrilheira cessasse a sua fuga. Não estava armada, tampouco controlava tão bem o cavalo naquelas circunstâncias. Em uma das muitas vezes em que olhou para trás à procura de sinal das tropas imperiais, quase caiu da cela, o que teria a matado junto do bebê. Sentia que a própria Morte cavalgava em seu encalço.
Seu fantasma e o acompanhante a viam como se a seguissem na mesma velocidade. Ele reconheceu.
— De fato, não é a mesma imagem da estátua.
— Eu tive muito medo de que meu bebê não sobrevivesse. Eu já havia fugido antes, mas só naquele momento imaginei o que poderia acontecer se fosse pega.
— Mas não foi.
Uma porta menor estava atrás do homem, ela a reconheceu de imediato e se adiantou para abri-la, antes mesmo que ele pudesse fazê-la. Adentrou à casa dos Garibaldi, no Uruguai. Num canto, Giuseppe sofria para ensinar à esposa e ao seu filho um pouco de letramento italiano e, no outro lado, Teresita brincava com Riciotti, extraindo risadas animadas do bebezinho. A fantasma sorriu.
— Deveriam ter feito uma estátua disso!
— Talvez fosse melhor.
— Lágrimas fariam bem em existir após a vida, não acha?
— De acordo.
— Como eu morri? A última coisa de que me lembro é de estar nos braços do meu Giuseppe. Na lama… não, numa escada?
Duas portas cravavam a parede por onde tinham entrado. Sabia que eram de uma igreja. Entrou devagar, curiosa, mas só passou depois de demorar um olhar em sua família. O homem respeitou esse intervalo. Saíram juntos. Estavam do lado de fora de uma igreja, um grupo de camisas vermelhas apoiava um caixão nos ombros, sob a vigília austera do padre de Mandliore. Uma cova havia sido aberta, com uma cruz de madeira marcando o seu local de enterro. A fantasma de Anita tropeçou em algo. Uma mão pálida despontava para fora da terra, esticada como se esperasse que alguém a pegasse. Saltou com espanto. O homem sorriu o seu costumeiro sorriso triste.
— Morreu de febre, junto do bebê em sua barriga. Os austríacos te enterraram primeiro. Uma menininha te achou assim, com a mão para fora. Foi quando o padre resolveu te dar um enterro digno.
— E os camisas vermelhas retornaram para isso?
— Não. Tiveram medo que profanassem a sua cova e resolveram ser os primeiros profanadores. Esconderam o seu corpo, mas o padre os convenceu a devolver, depois de um bom sermão sobre a dignidade do descanso eterno.
Ela contou nos dedos da mão.
— Austríacos, padre, camisas vermelhas… três enterros!
— Quatro, se contar que seus legionários te enterraram antes de te devolverem de novo.
Anita riu.
— Não me deixam em paz, não é?
— Não, mesmo.
— Já chega. Onde ele está?
— Garibaldi?
— Giuseppe.
Um toque de felicidade iluminou o sorriso do homem. Não havia padre e nem camisas vermelhas. O caixão já havia sido devolvido à terra, adornado pela humilde cruzinha. Três mil poentes douraram aquela lápide, seguidos de três mil noites estreladas. Anita se virou para onde o homem olhava e suspirou. Os tinha visto tão pequenos havia apenas alguns minutos e agora ombreavam o pai, este já mais velho, gasto pelo que não era só o tempo, mas também a tristeza da memória. Ainda assim, distinguiu o sorriso em seu rosto barbudo. O quarteto de sua família remanescente avançava em sua direção. Levantou os braços para abraçá-los, ampará-los, mas eles passaram direto, detendo-se diante de sua cova já tão violada.
— Menotti… meu Deus, Menotti!
Seu menino, agora um homem, chorava. Os dois mais novos se abraçavam, olhando para a expressão desconsolada de seu Giuseppe. O pai e o primogênito eram quem melhor se lembrariam dela, com certeza. Apesar de todas as viagens e ausências. Pela luta. Ela dizia para si mesma. Por um mundo melhor para todos, para vocês.
— Menotti. — Falava Giuseppe Garibaldi, com a voz de ordem que pusera tantos homens em marcha pelos homens e na luta contra os tiranos. — Avise aos legionários que daremos um enterro digno à amazona.
A procissão agitou todas as cidades por onde passava em seu caminho para Nizza. Não só agitava como também se avolumava. Não eram poucos os que vestiam o vermelho e os seguiam na ocasião da passagem da procissão fúnebre de Anita Garibaldi. Os jornais noticiaram na Itália, na França, na Inglaterra e no Brasil o reencontro dos amantes heróis que floresceram a primavera popular.
A fantasma de Anita Garibaldi ainda não conseguia conciliar a nova realidade, vendo a sua sogra, que tanto os ajudara no cuidado com os filhos, ao lado das três mesmas crianças, mas agora muito maiores. Giuseppe estava junto deles, mas um passo à frente. Diante de milhares de homens e mulheres vestidos do vermelho da mesma cor de suas bandeiras, quando não eram do tricolor italiano. Todo o caminho havia sido barulho, mas agora escutavam o comandante em silêncio. A quietude era o bastante para ouvir o embargo de sua voz.
— Sabia que eu a avistei de uma embarcação? Assim, como quem vê uma sereia, contida nos círculos de um binóculo. Depois disso, confesso, meus irmãos e minhas irmãs, que mandei a causa pela justiça no Brasil às favas, só quis encontrar aquela beldade. E no mesmo dia a encontrei em um café. Eu não soube como me apresentar direito, mas lembro que eu disse…
Anita se virou para o lado e o viu, muitos anos mais jovem, lindo como sempre, afamado, glorioso vestido em carmesim. Via a si mesma também, ainda uma menina, ainda a Ana Maria de Jesus Ribeiro, fingindo normalidade naquele encontro que, não sabia, decidiria todos os seus improváveis rumos. A fantasma assistia como se estivesse de fora da cafeteria em questão, por entre a porta aberta.
— Tu devi essere mia.
As palavras flutuaram como se levadas por uma brisa a qual, também com suavidade, fechou a porta com um estampido surdo. Depois não estava mais lá. Voltou a prestar atenção ao discurso do viúvo, que passara da homenagem a uma inflamada condenação da opressão dos povos e exaltação dos despossuídos e da marcha que seus mil homens empreenderiam para completar a libertação da Itália. Anita sabia que choraria agora se pudesse, ao ver Menotti dar um passo à frente, vestindo uma camisa vermelha.
— Pela liberdade! Pela Itália! Por Anita!
E seu nome, à moda italiana, ressoou entre todos os presentes, a ser ouvido em toda Nizza, em toda a Itália, na Europa inteira, até no Brasil, em sua pequena e prosaica Laguna. Toda a festa e celebração não distraíram Anita Garibaldi, que ainda fixava o olhar em seu marido, reparando, como só ela poderia, no decair de seus ombros, na derrota em seu semblante, na luta constante como refúgio para as próprias dores. Avançou.
Todo um corredor de portas abriu seu caminho até ele. Cruzava uma e caminhava brevemente por algum momento de sua vida-aventura. Da primeira porta, atravessou a cerimônia triste e desajeitada de seu primeiro casamento. A menina petulante de recém-completados quatorze anos a viu e abriu um sorriso. Retribuiu com uma piscadela e passou pela porta seguinte, precisando evitar tropeçar nos dois soldados que se escondiam no porão do navio. Despertou-os com palmas.
— Vamos, irmãos, a batalha continua lá em cima!
Subir a escada a levou à tenda do comandante imperial que a aprisionara. Olhou-o nos olhos com a mesma dureza e depois de um instante de ponderação ele abriu caminho, deixando-a passar pela abertura no outro lado da tenda. Pilhas de mortos se assomavam de um lado e de outro. Mentiram para ela naquela ocasião, disseram que seu Giuseppe estava entre eles, mas não havia sido verdade e o via ali ao fim do caminho. Não olhar para os mortos os fez desaparecer. Estava na praça de Nizza novamente, a multidão dispersava para levar às festas às ruas e vielas da cidade, sua sogra e seus filhos também tinham ido, restava apenas Giuseppe Garibaldi, que a olhava diretamente.
A fantasma se aproximou do viúvo, que ergueu as mãos. Segurou-as, olhou-o nos olhos, sabendo que ele também a via, como havia visto, duas décadas e um oceano antes. Como a veria sempre, quando fechasse os próprios olhos e como tornaria a ver quando deixasse de os abrir. Ela era mesmo dele. E ele era dela. Sentiu o toque de suas mãos calejadas pela guerra enquanto os seus olhos umedeciam de amor e as lágrimas rolavam por aquele rosto de aspecto tão duro aos inimigos, mas sempre tão terno e acolhedor para a família. Beijou o seu marido. Estaria com ele em todas as suas próximas batalhas pela independência definitiva pela Itália, em seus discursos de parlamento, em suas noites insones e em seu leito de morte diante de uma janelinha que dava para o mar.
Suas mãos estavam vazias. Estava diante de mais uma porta entreaberta. Do outro lado, quase omisso na escuridão, aguardava o mesmo homem que a havia acompanhado até então.
— Mais algum enterro?
— Não. Deixei este, o que importa, para o final.
— Obrigado. Mas por quê?
Ele levantou a caneta e o bloco de papel à altura do peito.
— Registro.
— Sobre?
— Você.
— E alguém vai ler?
— Não.
— Então por quê?
— É apenas o justo que você mesma diga, ao menos do lado de cá. A morte também é um mundo. O que acha? Heroína dos três mundos?
— Acho que pode melhorar. E essa porta? Para onde leva?
— Você me diz.
Ela não disse. Deu um passo à frente, adentrando as matas de araucárias. O homem olhou ao redor, tentando reconhecer o local. Fixou o olhar no mesmo ponto para onde estava virada Anita Garibaldi. Um homem equilibrava uma menina em cima de um cavalo, orientando-a -na postura mais correta.
— Meu pai me ensinou a cavalgar. — Ela disse, finalmente. — Em pouco tempo se tornou minha atividade predileta e varei os campos, as matas, a trote. O vento… Deus, o vento fazia com que me sentisse tão livre! A cavalo, tudo o que sempre quis foi trotar adiante, sem nada à frente, sem nada atrás. Quando meu pai me disse que era assim que se sentia, eu não entendi. Mas quando eu enfim aprendi e quando ele morreu… acho que herdei a sua vontade.
O homem havia começado a escrever em seu bloco.
— Acha que viveu livre, Anita? Ah… Ana, Aninha.
Ana Maria de Jesus Ribeiro riu da atrapalhação do sujeito. Anita Garibaldi tocou seu braço para tranquilizá-lo. Aninha começou a contar sua história.
Olá, Dumas!
Outro escritor experiente, desse jeito meu pobre conto vai ficar na última posição rs. A sua escrita realmente é rica e detalhada, e transmite com clareza esses cenários históricos e emocionais. Você constrói um retrato muito bem retratado de Anita Garibaldi, alternando entre sua condição de fantasma e suas memórias vividas, enquanto insere reflexões poéticas sobre a memória e a importância do seu legado. Percebi uma incrível capacidade de entrelaçar os momentos do passado e do presente na história. A presença de figuras históricas como Giuseppe Garibaldi e os eventos históricos que marcaram a vida de Anita são habilmente utilizados para contextualizar e enriquecer ainda mais o conto.
Um exemplo claro da força da narrativa é a cena em que Anita, já como fantasma, percebe o caixote que contém seu próprio corpo sendo carregado em procissão: “Olhando para onde o homem apontava, distinguiu um caixote retangular sendo transportado nos ombros de homens que vestiam medalhas ou paletós entremeio ao povo em polvorosa. Um dos homens andava à frente, anunciando com vozeirão que a mãe da pátria italiana voltava para casa.” Esse trecho evoca não apenas a ironia de ser celebrada após a morte, mas também uma certa melancolia diante da desconexão entre a imagem histórica e a realidade vivida pela personagem. Peço desculpas pelo tamanho do comentário. De modo geral, você escreve muitíssimo bem. Gostaria muito de ler outros textos seus. Desejo tudo de bom e boa sorte no concurso!
Este conto é uma homenagem a Anita Garibaldi. Neste caso, a minha apreciação pessoal poderei dizer que é neutra. Não desgosto, mas também não posso afirmar que gosto. Excluindo o gosto pessoal, e o facto de ser uma personagem histórica que não tem o devido impacto em mim, reconheço que o texto está muito bem escrito, apesar dos erros e a falta de revisão, e que tem uma estrutura e um desenvolvimento equilibrados, com um bom ritmo de narrativa. Creio que, para quem conheça e tenha mais afinidade com a pessoa em questão, sintam mais afinidade com o texto e mais aquilo que ele pretende transmitir, o que não acontece, no meu caso. No entanto, este factor não pesa na minha pontuação a atribuir a este texto.
Arrisco dizer que o autor gosta da história de Garibaldi e da Anita.
Eu, particularmente, conhecia muito pouco. Decidi ler um artigo na wikipedia para pelo menos tentar entender um pouco das referências no texto.
A história, aliás, está bem escrita, embora eu não a tenha achado tão cativante. Os elementos fantásticos parecem existir como pretexto para a recontagem histórica e não vão muito além disso. Não que precisassem, claro, já que o foco do autor parece de fato o fundo narrativo histórico.
Embora o texto esteja bem escrito e seja um banho de conhecimento historiográfico, senti que a história não empolga tanto. De certo modo, falta conflito. Sabemos que Anita está morta e sabemos que ela sobreviverá a maior parte dos eventos… então o que fisgaria o leitor seria uma perspectiva diferenciada dos eventos históricos. “Mais realista”, vamos dizer assim. Contudo, é um risco grande, afinal é possível que o leitor não conheça ou não tenha interesse nesses personagens históricos.
No que diz respeito à escrita, contudo, nada a reclamar. Um trabalho muitíssimo competente.
Achei o conto bem interessante e diferente, por tratar de um tema histórico como a vida e a morte (e os enterros) de Anita Garibaldi.
A narrativa é fluida e temos uma verdadeira aula de história enquanto o conto se desenvolve, entre portas e explicações.
Ainda que com uma temática interessante e muito bem escrito, fiquei com a impressão de que faltou alguma coisa, mas não consigo explicar o que, para considerá-lo perfeito.
O aultor (que imagino ser uma autora) está de parabéns!
Olá, autor(a), tudo bem?
Neste desafio, usarei o sistema ◊ TÁ DITO ◊ para avaliação de cada conto.
◊ Título = SETE PORTAS – O tema está no título. Sete é número cabalístico, sete portas para onde?
◊ Adequação ao Tema = Tema proposto abordado com relativo sucesso, considerando os portais da história de Anita Garibaldi.
◊ Desenvolvimento = O conto não segue uma linha linear e as camadas de significado se intercalam, o que pode confundir um(a) leitor(a) despreparado(a). Houve evidente trabalho de pesquisa e construção de uma história bem costurada, mas não é todo mundo que entende essas genialidades. Confesso que fiquei um pouco confusa e cansada.
◊ Índice de Coerência = Talvez haja algum detalhe que fuja à verossimilhança do cenário criado. Não percebi porque estava tentando entender a história como um todo.
◊ Técnica e Revisão = O(A) autor(a) revela habilidade com as palavras, e traz uma nova abordagem do tema proposto. A linguagem pode até ser clara, mas o enredo é construído de maneira diferenciada o que pode dificultar o entendimento do(a) leitor(a).
Algumas falhas no quesito revisão:
sorriu um sorriso triste > Ficou estranho. Deu um sorriso triste, sorriu de forma triste? Mesmo triste, sorriu.
ele pudesse fazê-la > ele pudesse fazê-lo
Adentrou à casa > adentrou a casa
A fantasma > O fantasma
seu semblante, na luta constante > rima proposital?
◊ O que ficou = Uma nostalgia de uma minissérie A Casa Das Sete Mulheres, na qual Anita Garibaldi aparecia como personagem.
Parabéns pela participação e boa sorte!
Essa leitura me trouxe um sentimento inverso ao que senti em “O Cruzado e a Dama”… ali, apesar de deixar a desejar em alguns critérios do desafio e do que considero uma escrita bonita, a leitura fluiu bem e foi uma leitura prazerosa. Aqui, a escrita é belíssima se analisarmos frases de forma isolada, mas o todo resultou em um conto bem arrastado, complexo e cansativo.
Fazendo um paralelo com outro conto do desafio, do sítio do pica pau amarelo, acredito que minha experiência aqui tenha sido prejudicada por desconhecer a Anita Garibaldi histórica… mas, como costumo dizer, esse tipo de história tem que funcionar de modo isolado, ser compreensível e aprazível mesmo para quem não conhece nenhuma das referências (era o meu caso aqui). Quem captar os “easter eggs” recebe isso como bônus, de forma nenhuma devem ser um pré-requisito para a apreciação da obra.
Durante a leitura (li duas vezes, mas isso pouco acrescentou quanto ao entendimento) fiquei na dúvida se Anita estava viva ou morta… no começo pensei que era algum tipo de plano para ela se fingir de morta e poder viver em paz e as referências a fantasmas eram metáforas. No decorrer, percebi que era morta mesmo… eu acho.
MÉDIO
Ah, o pseudônimo casou com a escrita
História – um conto que usa um fundo histórico para a literatura – a vida e morte de Anita Garibaldi. Foi uma ideia interessante, atendeu ao tema e o autor mostrou conhecer a personalidade. 3.5/4
Escrita – irretocável. Uma escrita clássica e, mais uma vez, um conto com começo, meio e fim. Algo que está ficando raro. Muito bom .5/5
Imagem e título – adequados (não gosto muito de imagem gerada por IA, mas essa está bonita) 1/1
O que achei deste conto: Bem escrito, mas chato
O conto inicia com o fantasma de Anita Garibaldi. Aqui devo admitir que eu já não curti… pois não tenho conhecimento algum a respeito dessa personagem histórica, e tão pouco estou com disponibilidade para pesquisar a respeito dela… então isso, por si só, já mostra que a história não terá o mesmo impacto em mim. O texto até poderia contextualizar a trama para as pessoas que, assim como eu, não sabem que é Anita… mas o autor opta por seguir em frente, partindo do pressuposto de que o leitor possui esse conhecimento. Ou seja, esta me parece ser uma história que, para ser apreciada por inteiro, é preciso ter uma base teórica a qual eu não possuo.
Anita observa uma cerimônia na qual seu corpo, dentro de um caixão, é levado por pessoas que a celebram como uma heroína italiana. Ela acha isso estranho, pois não nasceu na Itália. Então surge um homem misterioso que acompanha ela em sua jornada. Ele serve como uma espécie de guia espiritual, fazendo com que o conto tenha uma pegada no estilo de “O Fantasma do Natal Passado”, com Anita revendo momentos de seu passado em diferente cenários… mas aqui, para se encaixar no tema do desafio, isso ocorre por meio de portas.
Ao atravessar cada porta, Anita revive momentos marcantes de sua vida, como seu envolvimento com Giuseppe Garibaldi, a luta ao lado dele, as fugas e batalhas no Brasil, no Uruguai, na Italia, o nascimento de seus filhos, as viagens, a defesa de libertárias e o risco constante da morte. Tudo isso mostra o grande conhecimento histórico do autor, mas… não acho que tenha sido escrito de forma tão atraente para o leitor. No meu caso, por exemplo, não me conquistou, apesar de eu reconhecer que o autor possui boa técnica.
E então, no final, Anita encontra a última porta. Atrás dela, ela revisita lembranças da infância, do casamento, e momentos com a familia. Ela percebe que, mesmo morta, sua história continua para o povo, pois me parece que ela foi heroína não apenas do Brasil, mas também da Itália. E então ela termina decidindo atravessar uma nova porta.
A proposta deste conto é clara, e ele é criativo. Mas sua narrativa não me prendeu em momento algum… não consegui me conectar, apesar de eu reconhecer que o autor apresentou boa habilidade tanto na escrita como em conhecimento histórico. Desejo boa sorte no desafio!
Sete Portas – (Dumas)
Resumo + Comentários gerais:
“Sete portas” é um conto que fala sobre o pós morte de Anita Garibaldi, no qual a revolucionária revisita sua história com Giuseppe Garibaldi.
É um conto que fala com a biografia de Anita (pelo menos a que está no Wikipedia), mas talvez não dialogue. Pega as partes que interessou ao autor. O que, infelizmente, foi dissonante com o final do próprio conto. Enfim, resumindo, é um trabalho competente, mas que faltou evidenciar o lado revolucionário de Anita Garibaldi, para além da esposa fiel e mãe dedicada.
Frase/Trecho de impacto:
A fantasma se aproximou do viúvo, que ergueu as mãos. Segurou-as, olhou-o nos olhos, sabendo que ele também a via, como havia visto, duas décadas e um oceano antes. Como a veria sempre, quando fechasse os próprios olhos e como tornaria a ver quando deixasse de os abrir. Ela era mesmo dele. E ele era dela. Sentiu o toque de suas mãos calejadas pela guerra enquanto os seus olhos umedeciam de amor e as lágrimas rolavam por aquele rosto de aspecto tão duro aos inimigos, mas sempre tão terno e acolhedor para a família. Beijou o seu marido. Estaria com ele em todas as suas próximas batalhas pela independência definitiva pela Itália, em seus discursos de parlamento, em suas noites insones e em seu leito de morte diante de uma janelinha que dava para o mar.
Adequação ao tema (0 a 3) – Avalio se o conto aborda o tema proposto de forma coerente, aprofundada e relevante para o Desafio: 3
Tanto porta quanto nostalgia estão aqui. Menção máxima.
Construção de Mundo e personagens (0 a 2) – Avalio a profundidade dos personagens e a ambientação, incluindo o cenário e como tudo interage para fortalecer a narrativa: 0,5
Particularmente, eu diria que o conto foi bem falho nesse aspecto. A história segue, de certa forma, um script; é uma narrativa histórica que acompanha o pós-morte de uma pessoa, acompanhando trechos de sua vida.
Embora, pelo menos para mim seja um conto interessante (por se tratar de uma figura histórica), esse pulo constante em vários momentos imaginados da Anita Garibaldi ficou pouco concatenado. A história não se desenrola direito. Quando parece que ela vai fluir, interrompe, o interlocutor de Anita intervém e muda o foco. Vai para uma outra porta.
Inclusive, essa questão das portas também foi algo que me incomodou bastante. Achei essa construção ruim; não ficou muito implícito ali no início isso. E depois, quando eu percebi no meio que cada memória dela é desbloqueada quando ela passa por uma porta, estranhei. Enfim, achei artificial demais.
Acho que seria melhor diminuir essa quantidade de cenas e se ater àqueles momentos que, de fato, são importantes para a história e para mostrar quem era Anita Garibaldi. Digo isso porque, embora seja difícil não mostrar o lado materno de Anita, e o seu lado como a fiel esposa de um líder revolucionário italiano, senti que o lado revolucionário ficou apagado, restrito somente à fuga de Anita. Esse foi outro deslize do conto: enquanto um conto histórico que, dentro do que pareceu ser o propósito da historia em retratar/idealizar sem necessariamente estar comprometido com a biografia de Anita Garibaldi, talvez fosse mais fiel à personagem ter demonstrado de uma forma mais fiel o seu lado revolucionário. A sensação que tive foi a que li uma biografia não autorizada e mais suavizada dela. O que, inclusive, constrastaria com o próprio final do conto, que apresenta ao leitor que a história escrita aqui é uma versão que a própria Anita Garibaldi teria escrito.
Ademais, diria que o mérito desse conto, no que tange a construção da história, está no esforço do autor/ da autora em ser fiel com a história de Anita Garibaldi.
Uso da linguagem (0 a 2) – Avalio a qualidade da escrita, incluindo o estilo, clareza, gramática e fluidez dos diálogos: 1,75
Eu não encontrei grandes erros gramaticais. Creio que apenas um deslize de vírgula aqui e ali. Além disso, há algumas construções bem bonitas em meio ao texto. Gostei.
Estrutura Narrativa (0 a 1,5) – Examino o fluxo do enredo, a clareza da introdução, desenvolvimento e conclusão, e se o ritmo é adequado: 1
Creio que a história está OK. Qualquer um que ler, irá entender, mesmo que a estrutura não seja linear. Ponto para a autora/o autor. Entretanto, a opção por uma escrita dividida em muitos atos tornou a leitura do conto muito fragmentada. Leitura não fluiu, infelizmente.
Impacto Emocional (0 a 1,5) – O quanto a história conseguiu me envolver emocionalmente, provocar reflexão ou cativar: 1
Ao mesmo tempo que eu gostei, eu não gostei. Pontos positivos para mim: conto histórico, que fala sobre uma personalidade histórica interessante do nosso país, Anita Garibaldi, escrita competente, alguns rompantes de cenas bem bonitas… . De negativo: leitura fragmentada, uma construção de história ruim…
Balanço final: 1
NOTA FINAL: 7,25 (como o desafio não permite notas com duas casas decimais, a nota será arredondada para 7,3)
olá!
uma visão interessante de lembranças post mortem. É poético, mas não muito. O texto por vezes é um pouco arrastado e monótono. Mas ainda é criativo. A nostalgia não é exatamente abordada. Vejo nostalgia como um sentimento positivo, as vezes distorcido romanticamente pelo passado (rose tinted glasses, em inglês) e nem todas as lembranças do texto foram boas. Maas tem portas.
boa sorte.
Esse conto foi muito difícil. Tive que reler algumas vezes para conseguir processar e fazer uma crítica adequada.
O conto é extenso demais, beira o prolixo em algumas passagens. O ritmo é truncado, causa ansiedade ao leitor. É uma leitura pesada, mas que não nos recompensa a altura, tal como histórias como Ulisses de James Joyce.
O texto também é expositivo em alguns momentos. Como a frase em que nos diz que “Anita” estava morta. Show don’t tell. O leitor atento já havia percebido. Por vezes, o conto também se arrasta demais em descrições históricas ou em explicações de detalhes que arrastam a leitura.
Como pontos positivos, aponto o trabalho de pesquisa do autor. Destaco também a criatividade na reinterpretação da história de uma figura conhecida. Os diálogos são bons, embora por vezes longos demais. A atmosfera criada é excelente. Não fosse o problema do ritmo, poderia conectar ainda mais o leitor.
Por fim, há uma poética que muito me agrada. As metáforas são bem utilizadas também. O conto é muito bem escrito, dá pra perceber que há técnica apuradíssima do autor. Mas em termos de entretenimento… O conto fala demais, em vez de nos deixar sentir.
Um conto que me dividiu.
Olá, Dumas. Há textos que nos ensinam muito, este é um deles. Antes de o ler, não sabia quem tinha sido Anita Garibaldi. Tive que me socorrer da wikipedia para obter um relato menos afectado do que o seu conto, não que esse pormenor tenha prejudicado a sua qualidade. O problema é que foi escrito para quem sabia quem tinha sido Anita. Eu, por outro lado, tenho a desvantagem de ser português. Até podem existir portugueses que conheçam a história, mas não sou um deles.
Adiante.
Gostei da forma como escreveu o conto, se bem que está algo repetitivo. Adorei o final. “Aninha começou a contar a sua história”, na última frase do texto, é um fecho interessante. É quase um “paguem para ver o resto”, ou “cenas do próximo capítulo”. Para mim, foi um motivo para ir à wikipedia e conhecer a história desta grande mulher, que nunca se conformou com os estereótipos que relegam a mulher a uma posição secundária. Ela não abdicou de nada, nem da família, nem de lutar ao lado do seu amado. A história tem ainda mais significado quando a li no dia em que se celebra o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as mulheres (Dia 25 de novembro). Anita de certeza que estaria na linha da frente nesta luta.
Anita Garibaldi, morta (chamada pelo narrador de “fantasma”), assisti a si mesma em vida e às posteriores homenagens prestadas a ela.
Um conto com temática histórica, muito bem escrito.
Em algumas passagens peca pela adjetivação excessiva. Veja: “A Anita Garibaldi feita de memória cavalgava, esquálida e desajeitada, o trote do cavalo atrapalhado pelo terreno acidentado”. Adjetivar menos deixa espaço para a imaginação do leitor. Com menos adjetivos o leitor participa do texto, preenche as lacunas e o conto fica mais rico e envolvente.
A expressão “povo em polvorosa” soou mal.
Em geral, tive a impressão de que o conto poderia ser encurtado. Tem muita explicação, o que torna mais enfadonha a leitura. De todo modo, tem criatividade. Gostei !
Parabéns !
Olá Autor! Tudo bem?
Muito interessante sua escolha de escrever um conto sobre Anita Garibaldi num tom de O fantasma do natal passado, mas com uma pegada histórica.
O tema foi muito bem utilizado, com cada porta tendo o seu papel de mostrar a Aninha sua passagem por essa vida. Não entendi direito o por quê dela precisar relembrar ou revisitar tudo… Era uma coisa que acontecia com todos os mortos ou foi por causa da vida e morte excepcional dela e de ter tido tantos enterros?
De qualquer forma é um texto com muita qualidade, principalmente histórica, mas que foi escrito de uma forma que não me prendeu na leitura, não consigo explicar por quê.
O psicológico da protagonista foi muito bem desenvolvido e aprofundado, e a percepção de agora estar morta foi escrito de forma bem verossímil (acredito eu).
Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!
Até mais!
Interessante seu conto, uma bela homenagem à Anita Garibaldi. Numa narrativa épica acompanhamos o fantasma da heroína revisitando importantes momentos de sua trajetória. A ideia para o aproveitamento do tema me pareceu muito criativa. O texto está muito bem escrito e narrado. O impacto para mim ficou um pouco prejudicado pela forma tradicional de contar a história. Mas é um ótimo conto que espero ver bem classificado ao fim do certame.
Sete Portas (Dumas)
Prezado(a) autor(a):
Para este certame, como os temas são bastante díspares, dificultando quaisquer comparações, vou concentrar mais minha avaliação em três aspectos, e restritos à MINHA PERCEPÇÃO durante a leitura: a) premissa; b) técnica; c) efeito. Mais do que crítica ou elogio, espero que minha opinião, minhas sensações como leitor, possam ajudá-lo a aprimorar a sua escrita e incentivá-lo a continuar.
Obrigado e boa sorte no desafio!
DR
A) PREMISSA: uma abordagem além da vida de Anita Garibaldi, na qual por meio de sua caminhada no limbo, o autor nos conta um pouco da história dessa heroína brasileira e, depois, italiana. O tema do desafio parece ser apenas um pano de fundo para a demonstração de pesquisa e construção da protagonista pelo autor.
B) TÉCNICA: a técnica é muito boa, ainda que em alguns momentos tendendo ao melodramático. Inegável, porém, é a paixão do autor pela história de Anita e a pesquisa que deve ter sido feita, senão para o desafio, para a construção da história.
C) EFEITO: apesar da sensação de “história de gaveta”, o texto é fluido e interessante. Não está entre meus favoritos, mas desejo sucesso no desafio!
Oi Dumas.
Um belo conto, que discorre sobre a vida de Anitta Garibaldi, figura histórica interessante por si só. A história é contada pelo fantasma de Anitta e por uma figura que toma notas (seria um historiador?).
O texto atende ao tema porta, que aparece várias vezes no conto. Cada mudança temporal ou de enfoque anunciada pelo atravessar de uma porta.
Achei triste a parte em que Giuseppe e o filho usam o funeral de Anitta como palanque. Não sei se isso foi real ou não. Imagino que sim. Pareceu, pelo texto, que Anitta não se importou, que teria mesmo aprovado. Mas eu, pessoinha que se interessa mais pela vida privada do que pelas grandes movimentações sociais, achei triste.
Por outro lado, achei lindíssimo o momento em que Anitta atravessa o último portal e volta para as matas de araucária de sua infância, para memórias de seu pai
Minha pitada de achismo: senti falta de saber mais sobre Anitta. Cria dos dias de hoje, tenho aquela desconfiança de heróis. Os da Marvel e DC não existem, mas ainda assim me parecem mais possíveis do que os da vida real. E, talvez, este cinismo meu tenha contaminado minha leitura.
Gostei ou não gostei: gostei, mas não amei. É bom e está bem escrito pacas, mas não é muito meu gênero.
Cacete. Escrever assim não é para qualquer um. Dá até vergonha de enviar conto para o EC quando tem gente que escreve assim. Parabéns mesmo, técnica impecável, o uso de palavras corretíssimo e de bom tom. Cada sentença parece que foi desenhada com paciência e carinho.
No conto acompanhamos o fantasma de Anita Garibaldi. O tema “portão” aqui se materializa nas portas que ela deve abrir na própria memória, revivendo a sua vida conturbada. Para mim a força no conto está em dois aspectos: as poderosas imagens que ele invoca ao relembrar os vários momentos da vida da heroína; e a homenagem tão bela que é feita a ela. Enquanto eu lia, sorria, como se eu mesmo estivesse também reconhecendo e homenageando Anita ao ler o conto. Na verdade, eu mal sabia muita coisa de Anita Garibaldi além do nome, mas assim que notei que o conto era sobre ela, parei de ler para pesquisar um pouco. Não foi tempo perdido.
Este é um daqueles contos que não faz o meu gosto no quesito história, mas que não há como negar que é bom. Parece que ele vive uma categoria diferente do resto, como se fosse literatura clássica. Eu realmente sinto falta de enredos em contos, mas aqui o texto se desenvolve muito bem sem uma história para contar.
Parabéns!
O conto é uma fantasia sobre a história de Ana Maria de Jesus Ribeiro, mais conhecida como Anita Garibaldi, que lutou pelos Farrapos no Brasil e revolucionários italianos na Itália, por isso chamada heroína de dois mundos. A história dela é fascinante, creio até que alguns fatos foram inventados para dar grandiloquência à sua figura. O conto é bem escrito e estruturado a narrativa insere Anita morta, ou seja, o seu fantasma, nas passagens pelos fatos mais importantes que construiu sua vida. Isso nos leva a comparar a História a com a ficção. Cada porta que o fantasma abre, dá para um trecho de sua jornada. A estrutura está bem montada e apesar dos fantasmas, se destaca mais o registro histórico do que a Fantasia, o conto. Parabéns e boa sorte.
Parece ser lugar-comum, entre os autores do EC, a repetição de ações. Acho que o errado sou eu. A frase “virou-se para o lado de onde viera a voz” poderia ser apenas “virou-se para a voz”, visto que logo depois a narrativa indica o dono da voz “a alguns passos de distância”. Ok, é estilo. Mas acho desnecessário, perdão. Achei também estranho, contrapor medalhas e paletós. Mas, excetuando-se esses pormenores que de nada servem – a não ser alisar o ego de um comentarista tolo como eu – creio que este é “o” conto. A nostalgia e as portas na justa medida, atreladas a uma gama de informações históricas e preciosas para quem nada sabe além da importância do nome de Anita Garibaldi. Após essa leitura, tenho de rever as outras notas 10 que considerei em outros contos. Ou então, tascar logo uma nota 15 para esse seu conto. Ponto.
Há quem diga que metade do trabalho está feito, quando se propõe a adaptar um fato histórico sobre nova perspectiva. Mas há adaptações e adaptações, não é? O que aconteceu aqui foi um bailado entre os fatos históricos e a criatividade. Torcerei para ser o vencedor. E viva a revolução!
Oi Dumas, tudo bem?
Tive que ler um pouco da história da Anita antes do conto, para entender melhor os acontecimentos. Não cheguei a fugir das aulas de história, mas tinha uma tendência a viajar bastante, além de me esquecer.
Esse é um conto daqueles que mostram as paixões particulares de quem escreve. Você mostra conhecer profundamente e admirar a história de Anita. Acredito que aficcionados por esses temas e por História gostariam bastante do conto, que está bem escrito, sem falhas.
A passagem que me marcou foi o fim, quando fala dos cavalos. Me pareceu a parte mais poética, quando fala da sensação, e de como ela gostava de cavalgar.
Em outros pontos, no entanto, não senti tanta conexão. Você apenas narra os acontecimentos, sem figuras de linguagem que possam despertar sensações diferentes no leitor. Não considero uma falha, mas um estilo que talvez se encaixe com o tema “Histórico” do conto. Mas, pelo menos para mim, não trouxe tanto envolvimento emocional.
De qualquer forma, foi interessante conhecer a história dessa mulher importante. Obrigado pela participação e boa sorte no desafio.
Acho sempre um risco e bastante ausado quando escritores escrevem contos aqui sobre personagens históricos. Sabia que conhecia o nome de algum lugar, então logo no começo do conto pesquisei sobre Anita Garibaldi. Achei que foi importante para mim fazer isso, se alguém não a reconhecer, pode ser que prejudique a história, a diferença entre nome e o apelido que o acompanhante lhe dá.
A única coisa que não ficou clara para mim foi que ao passar pelas portas, foram revisitados trechos da sua história, mas sempre pelo olhar de outras pessoas. E a última foi deixada para que ela mesma a contasse? Será que é isso?
Gostei do conto, da escrita, mas justamente porque foi importante para mim pesquisar sobre a personagem antes. Por isso, reforço e gosto da ousadia de escrever sobre peresonagens históricos.
Bom dia, amigo(a) escritor(a) do(a) Encontrecontos, tudo bem?
Primeiramente, parabéns por superar a nostalgia do desafio de trios e entrar no portal do novo certame! Boa sorte e bora pra sua avaliação:
Tema escolhido: nostalgia e portas
Abordagem do tema: 100%. Anita revê sua vida, relembrando os melhores momentos e as lutas. As portas também pontuam o conto, definindo sua transição entre os momentos da vida e os locais mais importantes.
Comentários gerais: conto muito bom! Anita, Aninha, Ana Maria observa e assiste sua vida no pós morte, acompanhada de um companheiro que a ajudará na transição. O(a) autor(a) desse conto manja muito de história, e relata, de forma dinâmica e emocionante, a vida da grande Anita de forma poética e bela, assim como ela merece. O começo do conto me confundiu um pouco, talvez pela escrita complexa e elaborada (o que não é um defeito, obvio). Mas no momento em que peguei o ritmo do texto, tudo fluiu de forma excelente. O conto tem alguns probleminhas de revisão, mas nada que atrapalhe a leitura, acredito que seja fruto da pressa pelo prazo. O enredo é muito bem construído, a conexão entre as cenas e acontecimentos, entrecortados pelas portas, contribui muito para a construção da narrativa. Você escreve bem pra caramba e manja muito de história. Diria que foi o Pedro Paulo quem escreveu esse.
Não tenho muito mais a falar, meu comentário nesse conto está mais curto, mas é pq não tenho nada sobre a história de Anita para acrescentar, e também não tenho reclamações a fazer. Vale ressaltar que o desfecho é particularmente bonito, me deixou emocionado e quase chorei em algum momento do final. Parabéns. Viva, Anita!
Sensação final: assisti de camarote à passagem de Anita ao próximo plano. Ao seu lado, assisti à sua grandiosa vida de lutas e dores, chorei e bradei seu heroísmo junto à massa vermelha eufórica.
O que há de mais interessante nos nossos desafios é o contato com certo tipo de literatura que, a princípio, não nos chamaria a atenção. Aqui temos um caso bem representativo disso, que é uma espécie de ficção histórica a respeito de Anita Garibaldi, personagem real a respeito de quem estudamos no ensino fundamental e médio, mas que, depois disso, esquecemos solenemente. A não ser que tenhamos nascido em Laguna, SC.
Se bem escrita, a história acaba nos despertando a curiosidade, funcionando como um bálsamo no momento em que percebemos a pessoa por trás da imagem consolidada pelos livros da escola. É o caso aqui, pelo menos para mim. Terminei a leitura ávido por saber um pouco mais sobre Anita — e por que não dizer, sobre Aninha.
O mérito do conto foi emprestar luzes não só a fatos consolidados na historiografia, mas também sobre a mulher, criando em favor dela características que soam verossímeis, reais, plausíveis. Pode até ser que a verdadeira Anita/Aninha não fosse assim, que tivesse características distintas das daqui apresentadas, mas é fato que neste texto tudo se mostra verdadeiro.
Dá para imaginar a pessoa perfeitamente e acolher a tese de saudades dos filhos, de realização tardia por eles, de admiração e felicidade pelos feitos de seu marido e companheiro, a saudade do pai e, sobretudo, de frustração por ver seus ideais solapados pelos reacionários e fascistas que se seguiram — o que me fez imaginar que ela veria o mundo atual seguramente desiludida, pensando que passados cerca de duzentos anos não evoluímos um centímetro, continuando a idolatrar imbecis autoritários.
Por produzir a centelha da curiosidade, a história cativa. Não chega a ser como uma facada no coração, eis que, em alguns momentos, flerta com certa burocracia, mas no geral, especialmente no fim, leva pontos por expor de maneira convincente os anseios e receios de alguém que, para além de guerreira, heroína e amazona, era também esposa, mãe e filha. Ficou muito bom.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Sete portas:
Resumo:
O espírito de Anita Garibaldi atravessa sete portas que levam a diferentes momentos de sua história de vida.
Comentários:
A história de Anita Garibaldi é interessante, mas a abordagem do tema foi insuficiente. As portas não têm importância para o conto, não protagonizam o enredo. Quem protagoniza o enredo é a história de vida de Anita Garibaldi. São as portas que levam Anita a diferentes momentos, mas poderia ser qualquer outro objeto.
Ademais, o desfecho não ficou claro. Há a insinuação de que o homem misterioso que acompanha Anita em sua viagem pelo Além seria seu pai, mas a revelação foi mal executada, deixando dúvidas no leitor. Além disso, a figura paterna é pouco trabalhada no conto. Só aparece no finalzinho, o que retira um pouco de relevância da revelação de que o homem misterioso seria o pai de Anita.