Os irmãos se sentem livres quando a mãe está absorvida pelo calor do ferro e a perfeição dos vincos. Desligam a TV, abrem armários, gavetas, o guarda-roupas e os objetos viram brinquedo.
– Vamos passear de tapete? – Leo propõe arrastar a passadeira sobre o chão de tacos. Um leva e o outro se deixa levar no caminho do corredor e dos quartos.
– Você é fraca, Mariana. Puxa mais forte.
– Não consigo.
– Com as duas mãos e virada pra mim.
– Assim eu caio. Quero ver o caminho.
– Não precisa. O corredor é livre.
– Então a gente não sai do corredor.
– Tá bom. A gente fica só aqui.
– É a sua vez de me puxar.
– De olho fechado. Amarre isto nos olhos – Leo entrega um lenço à irmã.
– Por que olho fechado?
– Você vai saber.
Mariana aceita e gosta da sensação de deslizar pelo corredor no escuro. Os irmãos revezam a brincadeira até Leo desviar o caminho para o quarto dos pais.
– Para, Leo. Onde estou?
– No quarto. Deixe de ser boba.
A menina tira a venda dos olhos.
– Vou ver TV. Não quero mais brincar.
– Fica aí. Vou abrir o guarda-roupa.
– O pai não quer. Vou chamar a mãe.
– Vai nada.
– Então vem me pegar.
Os dois iniciam uma correria.
– Que bagunça é essa? – a mãe percebe a agitação no andar de cima.
– Nada, mãe – Leo responde, para de correr e volta ao guarda-roupa no quarto. Mariana entra embaixo da cama. O irmão empurra os paletós, as camisas e chega à caixa fechada por uma tira elástica.
– Vou contar pra mamãe – a irmã rola no chão sob a cama, se levanta e corre.
– Mãos ao alto – ele grita.
Mariana não obedece.
A mãe deixa uma camisa queimar.
Maria Alice, vim ler de novo o seu conto e agora que eu compreendi que o menino atirou na irmã. Uma pena eu só ter sacado isso agora. O seu conto melhorou muito aos meus olhos. Abraços.
Diversão (Espinafre)
Texto delicioso. As memórias da infância passada em irmandade trazem um certo alívio às leituras desse Desafio.
Brincar de arrastar no vermelhão (verdão, amarelão ou taco) era uma delícia. Se bem que eu fazia isso só quando era dia de encerar a casa em que minha mãe biológica morava. O que, apesar de ser castigo (parentalização). não impedia que eu me divertisse. Aquelas vantagens de se ser criança e a inocência ser mais forte que as maldades alheias…
Seu conto me fez sorrir por um minuto e isso por si só já é uma maravilha.
Para mim seu conto só tem ponto positivo e a informação sobre a camisa queimada deixa entrever que as coisas não saíram bem para as personagens do texto.
Parabéns e Sucesso no Desafio.
Resumo: O conto se trata de uma narração sobre as traquinagens de dois irmãos enquanto a mãe estava ocupada passando roupa.
Pontos que gostei: Eu adorei a fluidez do texto, toda a inocência retratada como uma brincadeira.
Pontos que não gostei: Eu achei só os diálogos um pouco trancados, por mais que sempre seja possível desenvolver só por dialogo, eu acho que o limite de palavras não ajudou.
Surpreendente e sútil !!!
O ponto final (sempre) nos diálogos ocultou a dramaticidade do conto, não sei se proposital. Narrativa fluida, enxuta e bem escrita. Sem spoiler e “lendo sem parar”.
Dou nota 10.
Uau! Isso que é um final de impacto, eu diria! Gostei do final não dito, mas perfeitamente imaginado. Parabéns!
MINI – Conciso na medida certa, não falta e não sobra palavra alguma. Verdadeira musa fitness da mini literatura.
CONTO – Inteligente ao nos envolver na inocência do mundo infantil e depois dar o soco de realidade na boca do estômago.
DESTAQUE – “A mãe deixa uma camisa queimar.” Magnífica sutileza cruel.
Olá, Espinafre, o que me agradou no seu conto foi o final, muito bem construído, deixando nas entrelinhas, sem explicar. A ideia de finalizar com a mãe queimando a roupa, sem citar o tiro, foi sensacional. Já o restante do texto me pareceu fraco, desinteressante, apenas uma enrolação para se chegar ao final.
É um texto que precisaria de pouquíssimas palavras para ter o efeito desejado. Em muitos momentos houve a criação de uma expectativa de algo ocorreria, mas não acorreu.
De qualquer forma, é um bom conto.
Não entendi o pseudônimo.
se sentem – sentem-se
pelo calor do ferro e (pela) a perfeição dos vincos
Algumas pontuações nos diálogos estão equivocadas, exemplos:
– Que bagunça é essa? – a (A) mãe percebe a agitação no andar de cima.
– De olho fechado. Amarre isto nos olhos (ponto) – Leo entrega um lenço à irmã.
Acompanhei a alegria das crianças e sofri com o final trágico.
A passagem da alegria para a tristeza é súbita. Um efeito bem trabalhado. Eu ouvi o barulho do tiro junto com a mãe.
Muito bom
Resumo: Duas crianças brincam pelo interior da casa
Gramática: Nada que desabone a escrita. Embora o uso dos travessões, que não devem ser usados com aquele usado como traço. Uma coisa, é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Comentário: Um conto simples, sem muito comprometimento com um enredo. Crianças brincam causando grande balbúrdia, mas sem muito propósito. Cujo desfecho também deixa a desejar.
Diversão (Espinafre)
Comentário:
Este foi o primeiro texto que li, neste desafio. Confesso que fiquei perplexa com o desfecho. Totalmente inusitado, foi um susto, fui a nocaute.
Texto bem escrito, descrições perfeitas, o leitor caminha pela casa. A simplicidade da linguagem da infância, coloquial, real. Narrativa fluente, direta. Uma perfeição!
De início, o pano de fundo, o cenário: “Os irmãos se sentem livres quando a mãe está absorvida pelo calor do ferro e a perfeição dos vincos” – é colocado de maneira tão acolhedora que o leitor, querendo ou não, é laçado. E as brincadeiras dos irmãos desencadeiam lembranças que calam fundo. A venda nos olhos lembra a cabra-cega, e, com isso, a leitura disputa espaço com as antigas travessuras inocentes. Tudo fica muito perto.
A leveza da inocência, narrada em boa parte do conto, esconde um desfecho trágico. Final doloroso. A tragédia, que finca sofrimento, sempre carreia muita dor. E eu fiquei com essa dor por um bom tempo, depois da leitura.
Espinafre do céu, você é criativo, extremamente competente para construir um texto que prende a atenção, parabéns!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Sempre gostei narrativas que envolvam o cotidiano, ainda mais quando visto pela faceta infantil, porque né, olhar pelos olhos de criança é algo que não estamos acostumados a fazer mais (dependendo de como vivemos, né, se convivemos com elas ou não), e eu senti que no seu texto isso ficou bem genuíno, bem sutil, e o final aberto é o que mais espanta, embora eu tenha tido de ler umas duas vezes para entender exatamente do que se tratava e quais eram as implicações.
A narrativa e ambientação estão no ponto. Parabéns!
Pois bem, Espinafre:
Quando comecei a escrever eu descobri que tinha um problema que até hoje tenho dificuldade de contornar. Meus contos serviriam melhor se fossem desenvolvidos para um tamanho de romance. Eu conto uma história cheia de subtramas num espaço que não é feito para isso. Uma vez eu ouvi um áudio em que o autor dizia que um conto é a fotografia (quando muito um filminho) de algo que aconteceu ou acontece. Acho que empregou esta filosofia em seu texto. Ele mostra um dia (manhã ou tarde) em que as crianças se divertem enquanto a mãe passa as roupas.
E vc se saiu muito bem seguindo, com perfeição, esta fórmula. Todavia eu senti falta de alguma conflito. Diferentemente do que acontece na vida real, a ficção nos pede impacto, emoção, propósito, algo que nos tire da zona de conforto… Seu conto é uma história doce de dois irmãos que brincam enquanto a mãe se ocupa de tarefas domésticas. Ninguém morre, ninguém adoece ou briga, compreende o que ficou faltando na minha opinião?
O conto é bem escrito, meus parabéns.
Boa sorte no desafio.
Amei o conto.
Inicialmente ele nos leva a uma situação de brincadeira inocente entre duas crianças e joga, bem no finalzinho do conto, a um final inesperado, aterrorizante e que não fica bem claro numa leitura rápida, mas que por esse mesmo motivo, dá um impacto tão grande ao leitor.
O recurso do uso das vendas e da frase que, ainda que comum é bem aplicada no texto, “– Você vai saber.”, dá um clima de suspense e antecipa -ainda que o leitor não imagine o que virá adiante- o drama que ocorrerá com as crianças.
Outro ponto positivo do texto é o diálogo entre os irmãos, que me parece natural.
Parabéns à(ao) autor(a).
Oiiii. Um miniconto sobre dois irmãos que se divertem juntos, até que um desvio de caminho para o quarto dos pais conduz para um final inesperado. Pelo que entendi o que tinha dentro da caixa que o menino pegou era uma arma e talvez ele tenha atirado sem querer na irmã. A mãe deles ouvindo o tiro deixou a roupa queimar. A narrativa foi bem conduzida e foi interessante como o final foi construído. Parabéns pelo texto e boa sorte no desafio.
BOI (Base, Ortografia, Interesse)
B: Começa bem inocente, no tempo presente (confesso que tenho certo preconceito com esse tempo verbal), mas surpreende pelo plot-twist bem executado nas entrelinhas, justamente na frase final. Gostei de ter deixado para a mente do leitor decifrar o que aconteceu (era uma arma de verdade, certo?).
O: Não vi nada demais. A escrita flui bem. Só que os diálogos (e também peco nisso) precisam de certa notação de vez em quando. Compreendi que eram falas intercaladas, mas às vezes faz-se necessário um “disse, ela”, “exclamou ele”, depois.
I: Ainda há muita gente influenciada pela escolha dos diálogos como tema. Aqui funciona bem. Mas acho que dava pra cortar metade do texto. Tem muita cena desnecessária. Mas deixaria o meio para o final. Aqui ficou muito bom. Minicontos não precisam ter necessariamente o “punchback”, porém aqui foi bem executado.
Nota: 8
Olá, Espinafre!
Nossa, que coisa, hein! Um tiro na nossa alma o final do seu conto!
Na verdade eu já meio que esperava por isso ( parece que todo mundo resolver meter um final dramático) mas isso não tira o efeito de qualquer forma.
Gostei do conto parecer cotidiano, brincadeira de criança e no final só dá a entender o que aconteceu, não esfrega na cara do leitor.
Tudo muito bem escrito e pensado. Sem excessos ou faltas. Milimetricamente executado.
Parabéns!
Boa sorte! Até mais!
Primeiro eita do texto, sua história me fez voltar no tempo. Brincadeira entre irmão, chão de taco (os mais jovens nem sabem o que é), a mãe na lida do lar.
Segundo eita do texto, o final. Caramba, que sensação amagar e angustiante eu tive. Fechou muito bem o conto.
Quanto a estrutura do texto, na primeira frase ela é bem marcante, achei ótima. Talvez seja por isso que eu gostaria de ver mais da sua narrativa ao invés dos diálogos. Talvez seja uma preferência minha. O certo é que o conto causa impacto no final.
Olá, Espinafre!
Ah, a arma escondida no armário, o terror de todo pai. Um terror que seria facilmente resolvido se aquela arma não estivesse lá, né? Quantos casos desses, de uma criança disparando uma arma que achava escondida ocorriam até que houve aquele incentivo para a troca da arma por uma grana, promovida pelo governo uns 16, 17 anos atrás… E agora vem um louco e incentiva o povo a comprar arma de novo.
Mas, voltando ao conto. Tudo muito bem ajustado, os diálogos simples e objetivos, como seriam mesmo o de duas crianças. A brincadeira de puxar o irmão no tapete, inclusive, é algo que eu mesmo fiz quando criança, então tudo me parece muito real e bem caracterizado, fácil de visualizar, o que é um mérito grande do autor.
Meu único senão é com o final, que ficou muito aberto. Não sabemos exatamente o que houve, se a mãe conseguiu evitar o tiro, se ocorreu um tiro. Achei que isso poderia ter sido mais explorado para deixar o final mais impactante. Não sei se a intenção era exatamente essa, mas, para mim, enquanto leitor, ficou faltando uma definição maior. E com mais palavras a serem exploradas isso poderia ser ajustado.
É isso, boa sorte no desafio!
Acho que há uma diferença entre um conto e uma narração. Na minha opinião, para ser um conto, é preciso haver mais do que simplesmente listar fatos, falas ou eventos. É preciso haver um conflito, ainda que seja implícito.
Quando leio o teu texto, vejo a narrativa de duas crianças a brincar e… nada.
Metes o “A mãe deixa uma camisa queimar” para fechar o texto, mas se não estivesse ali também não faria diferença porque nada aconteceu que merecesse ser contado.
Cheguei a pensar que ia surgir um conflito com o guarda-roupa, mas não passou da promessa.
Em termos técnicos gostei muito do seu conto. Conseguiu construir bem as cenas, e acho que foi um acerto a opção por estruturá-lo praticamente todo em diálogos (o que dá uma sensação de agilidade adequada à temática de uma brincadeira entre crianças). Em termos de trama não posso dizer que me “conquistou” da mesma maneira, mas acho que no conjunto funcionou tudo muito bem. Parabéns!
Crianças travessas brincam, encontram uma arma e provocam um acidente fatal.
É um conto chocante, estarrecedor pelo contraste que provoca entre o que inicialmente encontramos (crianças brincando inocentemente) e o desfecho (uma delas morta). Não há transição. Toda mudança no estado de espírito do leitor se dá de maneira brutal. Gostei muito. Tem uma pegada realista, com a infância e a inocência muito bem retratadas. É exatamente do que gosto: leitura de entrelinhas, de vacuidades. Cada vez mais me convenço de que o escritor não deve dizer, não deve mostrar, ao contrário, deve apenas insinuar. É a inteligência do leitor que deve buscar sentidos, significados, transcendências. Note-se: o autor não diz do sentimento, do desespero dessa mãe, mas ele está lá, na roupa que queima; o autor não diz do disparo, mas ele está lá, na desobediência. Trabalho de excelência, daqueles que me constrangem ao me obrigar a descer, tanto quanto possível, a nota de todos os demais. Invejo o que acabei de ler.
Criança fora da mira e em silêncio é sinal de perigo na certa.
A narrativa parecia bem corriqueira, sem nenhuma novidade … até que… O final foi um baque, embora já previsto quando Mariana alerta o irmão que o pai não gosta que mexam no guarda-roupa. A última frase foi certeira.
Narrativa ligeira, a leitura flui que é uma beleza, agilizada pelo diálogo dos irmãos.
Um mini que pode não ser o máximo, mas teve o seu impacto.
Parabéns pela participação e boa sorte no desafio.
Espinafre,
caramba, como você faz uma coisa dessas comigo????
Fui lendo, achando bonitinho os irmãos brincando, achando que ia ser uma história levinha sobre infancia ou coisa do tipo e pá, tu me tasca um tapão na cara. E o pior, eu gostei.
Gostei da maneira como você criou uma expectativa para quebrá-la. Gostei da tensão que você criou quando Mariana fica tensa e diz que não quer mais brincar. Gostei do final, terrível.
Excelente texto, mas agora preciso dar uma parada e chorar um pouquinho.
Parabéns!