EntreContos

Detox Literário.

As Tramas Delicadas do Coração (Iolandinha Pinheiro)

Jorge acordou antes de terminar a sesta do domingo. Foi até a porta e olhou para o vasto terreno que cercava a casa. Tudo parecia normal a não ser por um barulho de crepitação não alto o suficiente para que se preocupasse, mas constante.

Estava triste. O crepúsculo sempre lhe provocava uma certa melancolia. A escuridão ocupando todos os lugares lhe trazia a sensação de finitude à espreita.

Voltou para a sala com Rex. Só sairia do sítio no dia seguinte. Havia planejado comprar ração para os cavalos ir até a capital para visitar o filho. Ainda não tivera tempo de conhecer o novo netinho.

Rodrigo havia falado que o filho se chamaria Jorge, como ele. Estava orgulhoso. Havia contado a novidade para os vizinhos e mostrara a foto do neto ainda no hospital, com a pulseirinha de identificação no braço minúsculo.

Pensou em avisar ao filho da visita, talvez tivessem algum compromisso e se atrapalhassem para recebê-lo. Ligou o celular, mas estava sem sinal. Tentou o telefone fixo, mas sequer dava linha.

Resolveu ir até a cidade. A chave da velha caminhonete girou, mas tudo o que ouviu foi um som de estalo. Olhou o motor e verificou a bateria. Pareciam perfeitos.

Voltou para casa e abriu um livro. Rex se deitou perto de seus pés. Leu alguns capítulos, e acabou dormindo na cadeira de balanço sem sequer jantar. Naquela noite, esqueceu dos amigos, da família e dos cavalos.

Acordou e já estava escuro. Imaginou que havia dormido demais e acordara no final da tarde. O barulho agora estava mais próximo, intenso. Subiu na caixa d’água e observou. Viu somente as plantas ao redor do sítio. Tinha certeza de que havia alguém morando lá perto.

Voltou para casa sentindo a angústia de quem se perde das próprias memórias.

Comeu e alimentou o cachorro. Não recordava que tinha um cão, mesmo assim gostava dele.

Antes de dormir, chorou. Quando acordou estava tudo escuro, e continuou noite por muitas horas. O barulho agora beirava o insuportável. A lua e as estrelas haviam sumido. Não conseguia mais ver a cerca ou as árvores, apenas uma espécie de camada que cobria quase tudo ao redor, uma imagem de pontinhos pretos sobre uma superfície branca.

Sentou-se no batente da casa enquanto a coisa se fechava sobre ele. O cachorrinho latiu e investiu contra aquilo que os cercava. Com um novo avanço, a coisa alcançou o bichinho. Rex olhou para o seu dono uma última vez como se implorasse por socorro. Enfim foi engolido também.

Antes de ser totalmente envolvido, Jorge viu uma outra pessoa olhando para ele, um rosto amado que não conseguia mais identificar, e então tudo acabou.

Do outro lado da tela Rodrigo usou o controle para desligar a televisão. Havia assistido o filme com as lembranças do pai pela última vez. No dia seguinte iria queimá-lo como havia feito com o corpo do pai depois de sua morte. Estava na hora de seguir em frente.

29 comentários em “As Tramas Delicadas do Coração (Iolandinha Pinheiro)

  1. Paulo Luís Ferreira
    29 de julho de 2021

    Eu também não havia lido seu conto. O seu conto impressiona por conta do inesperado e insólito desfecho dado. Que o tornou um tanto impactante. Embora a qualidade maior tenha ficado por conta da narrativa, pela forma em que você construiu o enredo, prendendo a atenção do leitor até o desfecho. Entretanto, confesso que fiquei um tanto confuso com a entrada repentina do personagem que assistia ao filme na TV, e a queima da fita por conta de destruir uma memória do pai? Para mim ficou um pouco nebuloso. Senti falta de uma fundamentação no decorrer do enredo que justificasse o desfecho. Mas, sem dúvida, um grande trabalho, como sempre tem sido suas participações nos desafios do EntreContos, parabéns

    • iolandinhapinheiro
      30 de julho de 2021

      Decerto, Paulo. Fiz este conto nas últimas horas do último dia e dispondo de apenas 500 palavras tive muita dificuldade de deixar a história tão coerente quanto eu queria. Prometo que vou arrumar e vou publicar em outra plataforma, e se você quiser ler, vou indicar o endereço para que me faça esta gentileza. Muito obrigada.

  2. Priscila Pereira
    26 de julho de 2021

    Olá, Ioiô!
    Agora que você esclareceu o enredo, li novamente e fez todo o sentido! Mas realmente não consegui chegar a essa conclusão sozinha.
    Eu fico olhando fotos e vídeos do meu pai e não me traz angústia, só uma nostalgia, fico grata de ter vivido esse tempo com ele, então não entendo a decisão do personagem de queimar as memórias do pai… Talvez ele tenha remorso por não ter dado atenção a ele quando estava vivo.. seria legal se o conto desse uma dica do motivo.
    Contudo, como tudo que vc escreve, está muito bem descrito, como um filme, e muito interessante de acompanhar.
    Um beijo!

    • iolandinhapinheiro
      27 de julho de 2021

      Obrigada, Pri. Concordo com você que o texto peca ao deixar algumas coisas bem vagas. Particularmente eu não gosto do Personagem Rodrigo. Só inventei a decisão dele de queimar a fita onde o pai dele aparecia porque eu precisava extinguir aquele “mundo”, uma vez que o texto do qual eu retirei a inspiração para fazer o meu, também se tratava de um fim, mas o fim do mundo em que vivemos. Quis fazer uma metáfora mas precisava ligar muitas pontas para que o leitor concluísse conforme eu gostaria. Lembra do texto Mechanismo? Você e a Evelyn me ajudaram muito com revisões até que tudo ficasse perfeitamente compreensível,mas, pela exigência do anonimato, eu não pude me socorrer com ninguém. Muito obrigada por vir aqui, querida. Beijos.

  3. Fernanda Caleffi Barbetta
    26 de julho de 2021

    Olá, Iolandinha, seu conto traz uma história envolvente, daquelas que eu nem respiro enquanto não acaba, Suas decrições são muito bem feitas e vão direcionando o leitor até o final, mantendo um clima de mistério.
    Fiquei confusa com o final. Jorge estava dentro da fita do filme? Quem filmou? O que era esta imagem de pontinhos pretos sobre uma superfície branca? Tenho a sensação de que foi uma ideia excelente, mas que eu perdi. Me conta por falor!!!
    A parte em que diz “queimou-o” no final, demorou umas três leituras para que eu entendesse que era à fita do filme que se referia. Talvez pq não se queima o filme, mas a fita, a mídia.
    Todas as cenas foram muito bem criadas, mas realmente não captei o desfecho. Bjs.

    • iolandinhapinheiro
      26 de julho de 2021

      Jorge era a memória de alguém que morreu. Do Jorge pai do Rodrigo. Rodrigo está assistindo um vídeo familiar e decide queimar o dvd ou fita de VHS, porque quer que estas lembranças dolorosas não possam mais ser acessadas. Rodrigo é o rosto que é visto pela lembrança de Jorge antes que tudo seja engolido por aqueles pontinhos pretos que apareciam muito nas tvs quando a programação acabava. Enfim, tentei fazer uma metáfora, dando vida, sentimentos e estranhamentos a uma lembrança que ia se desfazendo. Dei via a uma coisa incorpórea. Ainda bem que mesmo sem ter sido possível entender o final, vc tenha apreciado o caminho até chegar a ele. Gosto muito de vc e toda hora vc me dá motivo para gostar ainda mais. Beijos.

  4. Kelly Hatanaka
    24 de julho de 2021

    Ola Mnemosine!

    Um conto sobre despedida, desapego. Será que queimar o filme libertará a memória do pai, que, de dentro do filme, parece preso numa cena infinita?

    Angustiante e belo.

  5. Fabiano Sorbara
    18 de julho de 2021

    Eita que o conto vai para um lado e depois para o outro e chega no final e dá um soco no estômago.
    Gostei como você envolveu o leitor e conduziu pela trama do enredo. Aos poucos a história foi se revelando e depois de criar certa estima pelo personagem tudo se destroe com a revelação. Foi uma ótima sacada. Muito bem feita.

  6. Amarelo Carmesim
    18 de julho de 2021

    Uma forma bonita de trabalhar a morte, saudade e o que acontece quando destruímos os mementos de nossos mortos. Teu conto iniciou como uma ideia de terror cósmico para mim, achei que seria uma história de invasão ou algo se manifestando das trevas do espaço, entretanto a forma como flui para uma outra experiência foi fantástica e ão deixou a desejar.

    Não gosto de parágrafos curtos de uma única oração, mas os teus foram bem construídos e, creio, fazem parte de uma ideia estética.

    Parabéns!

  7. Natália Koren
    18 de julho de 2021

    Achei a ideia do seu conto muito interessante, usar esse recurso das memórias se repetindo em um filme mas através da perspectiva de quem está preso na película…
    Porém achei que a transição do cotidiano inicial para o confusão final, e a destruição do mundo fictício de Jorge dentro do filme não ficou muito suave, e acabou com um miolo bem confuso. Não consegui entender muito bem o que era essa “coisa” que tomou conta desse mundo de lembranças… Era o final da película? Uma queimadura pela lâmpada do projetor? Ou sempre terminava assim?
    Sei que parecem muitas questões para um limite tão curta de palavras, mas acho que a proposta começou tão bem que senti falta de algo que amarrasse melhor a história… 😉

  8. Jowilton Amaral da Costa
    18 de julho de 2021

    O conto narra momentos de um homem por uma perspectiva bastante peculiar. Foi uma sacada muito boa a de nos mostrar o que se passa na cabeça de uma pessoa que está dentro de um filme, sem saber que que está dentro de um filme. Temos uma ideia de que o mundo que ele vive não é um mundo normal, podemos até pensar que ele estivesse morto, como realmente estava, contudo, nem de longe passa por nossas cabeças que ele estaria dentro de um filme que o próprio filho estava vendo.. A parte final, com a escuridão engolindo ele e o cachorro, representou com clareza quando se desliga uma televisão, Conto muito bom! Boa sorte no desafio.

  9. mariasantino1
    17 de julho de 2021

    Oi!

    Como fórmula de avaliação utilizo os quesitos: G -gramática, F-forma e C-conteúdo, onde a nota é distribuída respectivamente em 4, 3 e 3, e ainda, há que se levar em conta minhas referências, gostos e conhecimentos adquiridos como variável para tanto (o que é sempre um puta risco para o avaliado. KKK). Vamos?

    G=4. Não vi erros quanto à grafia e uso de tempo verbal.

    F=1. Não curti muito a forma como foi conduzida a revelação. Entendo as pausas para dar tom misterioso, mas esse dorme e acorda, dorme e acorda me cansou. Outro ponto é que tudo é tão sensabor que quando vem a revelação do que se trata o barulho e o ocorrido, não há muita importância. Queria que o menininho fosse mais utilizado, pois ambos tem o mesmo nome, mas, se por acaso foi um lance do avô ressurgindo no neto (o que eu gostaria mais), realmente não ficou claro pra mim.

    C=1. O lance de vida que segue é bacana. Mesmo às duras penas o ser humano vai adiante e, ainda que todos sejamos iguais, nos sentimos especiais em nosso mundinho e queremos ser lembrados, deixar uma marca. Eu gostei do gosto agridoce final. Mas a forma não auxilia muito o conteúdo e acredito que ambos elementos devem estar na mesma sintonia, uma vez que o autor quer que o leitor avance na leitura.

    Boa sorte neste desafio.

    Média final: 6

  10. Rafael Carvalho
    17 de julho de 2021

    Então… Seria injusto escrever aqui que não gostei do texto, mas me senti assistindo um filme do David Lynche pela metade.

    Gostei muito da forma como você descreve as sensações do personagem e do clima de estranheza dado no conto, através do barulho e da confusão apresentada pelo narrador. Porém, pelo menos para mim, o desfecho não foi suficiente para o entendimento claro do restante do texto. Entendi que o som que o senhor escutava era do fogo que o cremava. Mas o restante ficou confuso, Em um momento ele trata o cachorro pelo nome e em outro ele nem sabia que tinha cachorro?

    Entendi que eles estava em um estado de passagem, entre a morte e algum outro lado, se é que existe algum, porém foram abertas muitas informações que não foram fechadas e isso me trouxa um sentimento de um conto interrompido, como se algo precisasse ser dito, mas não foi.

    Obviamente esse é uma opinião totalmente subjetiva, e com com certeza carrego parte da culpa pelo não entendimento total do texto, mas de qualquer forma gostei muito da escrita. Parabéns e boa sorte no desafio.

  11. Welington
    16 de julho de 2021

    Para mim a grande surpresa desse conto está no protagonista. Começamos a ler a história, acompanhando os movimentos de Jorge e pensamos nele, somente nele, porque achamos que entre nós e o personagem há somente o texto. No final, contudo, revela-se outra camada, a do filho. Não estávamos vendo Jorge, mas sim olhando através dos olhos do filho. Foi uma boa sacada. Se aproximando do final, quase acreditei que se revelaria um enredo de ficção científica. É um conto trágico, com uma forte carga emocional: a dor da perda de um ente querido. Isto encontra conexão com a história de vida de muitos leitores, o que faz com que muitos se enxerguem em Rodrigo e encontrem a representação de seus sentimentos no texto. Sinceramente, a única coisa que eu acho que poderia ter sido melhor é o título. Achei genérico. Havia possibilidades melhores. Mas o autor está de parabéns.

  12. Felipe Lomar
    16 de julho de 2021

    Olá,
    O seu conto traz uma trama de mistério, e consegue fazer isso muito bem. Particularmente, me lembrou bastante os livros do Stephen King. O último parágrafo não exatamente resolve o mistério, mas dá um direcionamento. Acredito que possa ser interpretado de diversas maneiras(o homem realmente foi engolido por uma coisa misteriosa, o conto retrata talvez uma saliência do próprio filme ou das memórias na cabeça de Rodrigo, ou talvez seja uma metáfora para o Alzheimer), e isso é uma coisa que, quando bem feita, gera textos realmente icônicos.

    Boa sorte

  13. Elisabeth Lorena
    15 de julho de 2021

    Mnemosine, como assim a personagem vai queimar suas memórias? Você não é a era a divindade que responsável por manter vivos os fatos e protegê-los da finitude e do esquecimento?
    Respeitarei sua ideia de não interferir, prometo!
    História triste, bem narrada. A ideia de dissolução é muito interessante, vai construindo a ideia de esquecimento e apagamento da história e há com isso a sugestão de que Jorge está perdendo a memória e o final, com o filho decidindo queimar os vídeos do pai, dá uma segunda significação para esse “desmemoriar”.
    Gostei do conto.

  14. Ana Maria Monteiro
    12 de julho de 2021

    Olá, Mnemosine.

    Que estranho este final! Está na hora de seguir em frente, logo no momento em que vai queimá-lo, tal como o morto fez com o pai dele (falta esse “ele”, lá no conto)? É muito cedo e nada indica no conto, cujo verdadeiro protagonista é o pai e não o filho, que existam factos para ter de ultrapassar após a sua morte.
    Ou seja, o final não remete ao que ficou para trás, acrescenta, mas não remete, precisaria de mais.

    E a história de Jorge, por seu lado, é que ele estava morto e levou tempo a perceber. Tudo bem, mas aplicando a vossa mania de chamar cliché a tudo o que antigamente foi feito, eu trago o conceito para mais próximo e a história de estar morto sem saber, é o clímax do cliché do século XXI, apesar de haver bastantes mais – inclusive a mania de chamar cliché a tudo. Em todo o caso, para mim, faltou algo, faltou o recheio que uniria tudo.

    Quanto à escrita e à técnica, não tenho nada a apontar.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  15. acapelli
    12 de julho de 2021

    Eu gostei do seu conto. Há um suspense que alimenta o interesse do leitor e um fecho de certa forma surpreendente. Não compreendi bem a escolha do título açucarado, que parece relacionar-se a outro texto.

    Desejo sorte no desafio. Um abraço.

  16. Fabio D'Oliveira
    11 de julho de 2021

    Olá, Mnemosine!

    Serei bem sucinto nesse desafio, avaliando com as impressões imediatas que tive do miniconto.

    BELEZA

    O campo de memórias é sempre um bom espaço para explorar a beleza das relações. Apesar da escrita confusa, um tanto crua, na minha opinião, alcançar o final e perceber que o Jorge era apenas uma sombra do que já fora, de fato, foi uma experiência interessante.

    IMPACTO

    Poderia ter sido mais eficiente com uma escrita mais madura. Mesmo assim, o visual do conto é atraente e me envolveu. O pseudônimo é certeiro, mas o título não.

    ALMA

    Criativo. Sempre imaginei como seria para os personagens dos filmes e jogos depois que desligamos os aparelhos. São vivos? Ganham consciência? Sabem que são criações fúteis? Jorge se identifica, apesar da confusão mental, da falta de lembranças concretas, e termina numa triste identificação de uma pessoa amada, mesmo sem saber de fato quem era. Gostei muito desse conto.

  17. Simone Lopes Mattos
    9 de julho de 2021

    Achei muito tocante. As descrições são bonitas e vão levando a conclusões sobre as perdas próprias do envelhecimento. O leitor vai entendendo devagar. Começa a desconfiar da morte, do fim, mas não imagina o desfecho. Achei muito criativo. Não gostei, confesso, do título, porque me parece que não combinou com o texto. Estranhei ele queimar o filme. Ele poderia guardá-lo e mesmo assim seguir em frente. Mas, enfim, foi a escolha do personagem, temos que aceitar. Acho que foi uma ponte para chegar na notícia da morte.

  18. Elisa Ribeiro
    9 de julho de 2021

    Olá autor. Como vai?

    No seu conto acompanhamos a rotina aparentemente normal de Jorge, que aos poucos vai se tornando enigmática. Seu conto foi eficaz em construir uma atmosfera de suspense que engaja o leitor. Parabéns. O fecho é simples, mas criativo e surpreendente.

    Um bom trabalho. Parabéns pela participação.

  19. alicemariazocchio
    8 de julho de 2021

    As cenas são muito bem descritas, é possível sentir um ar carregado na coisa que se aproxima e no barulho que aumenta. O final tem uma surpresa, mas acho que faltou mostrar ou sugerir o motivo pelo qual o pai foi morto. Senti falta disso.

  20. Luciana Merley
    8 de julho de 2021

    As tramas delicadas do coração

    As delicadas tramas do seu texto, eu diria (rsrs).

    Coesão – Veja! Foi bem duro entrar no seu enredo. Fiquei completamente perdida com aquele primeiro estalo solto no texto e que parecia largado lá. Após algumas re-leituras, acho que consegui compreender. O velho pai Jorge vivo nas lembranças (num filme) de seu filho Rodrigo. Vivo “literalmente” dentro da TV, é isso? Então, você cria um ambiente nostálgico, de solidão e de afeto familiar envolvendo o leitor para um cotidiano e, de repente, apresenta uma virada absolutamente inesperada em direção ao sobrenatural, ao imponderável. Construção eficiente para os que tiverem maior capacidade de abstração. Muito bom.

    Impacto – Foi, no mínimo, desafiador e eu gosto de desafios à minha curta imaginação. Não escondo de ninguém que, para textos curtíssimos, penso que o enigma não é uma boa aposta, mas, gostei da sensação do seu texto. E faz jus ao título: é bastante delicado mesmo.

    Parabéns.

  21. Angelo Rodrigues
    8 de julho de 2021

    09 – As tramas delicadas do coração (Mnemosine)

    Conto com bom desenvolvimento, um pouco lúdico, passando a ideia de uma finitude iminente do protagonista.
    Era um filme – ou me pareceu que seria um filme. Talvez um do qual não lembro o nome, onde uma bruma engolfa tudo… algo assim.
    Bem, o texto vira. Sai Jorge, o primeiro protagonista, e entra Rodrigo. Não dá pra saber se Jorge é pai de Rodrigo, se o filme mostra o pai, dado que “Havia assistido o filme com as lembranças do pai pela última vez”. Isso deixou dúvidas.
    No dia seguinte, Rodrigo iria queimá-lo. Não compreendi quem Rodrigo queimaria, embora tenha entendido que ele havia queimado o corpo do pai depois de sua morte.
    Era hora de seguir em frente.
    Infelizmente, quem não seguiu em frente foi aqui o leitor, que não foi capaz de entender exatamente quem era quem no puzzle de eventos.
    Lamento por minha impossibilidade.
    Proponho ao autor dar uma revisão no texto, clarificando-o em direção a maior possibilidade de compreensão. Ou não, dado que fui incapaz de vislumbrar a clareza do texto.
    Boa sorte no Desafio.

  22. gisellefiorinibohn
    8 de julho de 2021

    Hmm… que interessante…
    Um conto fantástico por aqui; um bem-vindo respiro. 🙂
    Muito intrigante e bem construído. A gente pensa que é só mais uma história de velhinho, e então se surpreende no final. Bem legal.
    Tecnicamente é excelente. Nada a pontuar.
    Um dos meus favoritos até agora. Parabéns e boa sorte no desafio!

  23. antoniosbatista
    6 de julho de 2021

    O conto, me pareceu a morte do ponto de vista de quem morre. Isto é, enquanto a pessoa está morrendo, no caso de um infarto, ela, a pessoa, vai se lembrando do passado. A segunda parte elucida as dúvidas da primeira. Parece meio confuso, mas não é. Deu para entender a questão dos dois pontos de vista. Interessante.

  24. Emanuel Maurin
    6 de julho de 2021

    Resumo: um homem tira um cochilo após o almoço e acontecimentos misteriosos o cercam.

    Parecer: “A escuridão ocupando todos os lugares lhe trazia a sensação de finitude à espreita.” -“Acordou e já estava escuro” – “Subiu na caixa d’água e observou. Viu somente as plantas ao redor do sítio” – Não estava escuro, como foi que ele viu as imediações? “Antes de dormir, chorou. Quando acordou estava tudo escuro” – tora hora vc repete a palavra escuro, isso na minha opinião cansa a narrativa. “A lua e as estrelas haviam sumido. Não conseguia mais ver a cerca ou as árvores, apenas uma espécie de camada que cobria quase tudo ao redor, uma imagem de pontinhos pretos sobre uma superfície branca.” Como ele sabia se ele ainda estava dentro de casa. Só depois ele se sentou no batente. Bom, fiz um breve parecer, porque achei a narrativa amarrada e descoordenada.

  25. thiagocastrosouza
    5 de julho de 2021

    Mais um mini de despedida, luto e envelhecimento. Há uma abordagem original e surpreendente em relação aos demais, que deu um brilho no final. O apelo do conto, para mim, está na noção de que nem sempre teremos todas as oportunidades de estarmos próximos de quem amamos e, quando conseguimos, é por meio das memórias ou registros. Estamos lá ao mesmo tempo que não.

    Grande abraço!

  26. Eduardo Fernandes
    5 de julho de 2021

    Lembro de um livro do James Wood, chamado “Mecânica da Ficção”, em que ele diz que um autor nunca se deve intrometer num texto. Infelizmente vejo o autor em todo o teu texto e não consigo imergir nele.

    Porque, veja bem, se o filho está a assistir o pai numa televisão, então as cenas da televisão deveriam ter sido filmadas. Agora, o Jorge vai dormir, entra no carro, acorda, etc… tudo filmado? Ou há um camera-man reality show atrás dele, ou então estamos a ver a imaginação do autor e isso é o autor a intrometer-se no texto.

    Ainda que o espírito estivesse preso à fita, tudo funcionaria muito bem com ele circunscrito a uma área filmável por um filme de família de verdade. Por exemplo, tudo poderia ter passado-se no jardim e o efeito final teria sido o mesmo, de uma forma muito mais credível. Imo, essa é uma falha que tira muito ao texto.

    De resto, não é um mau texto.

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Publicado às 5 de julho de 2021 por em Minicontos 2021, Minicontos 2021 - Grupo Chihuahua e marcado .