– Ainda não entendi por que a gente precisou vir aqui.
– Porque eu tenho uma coisa pra te falar.
– E não podia falar lá em casa?
– Não.
Ela puxou o freio de mão com força; era uma ladeira íngreme onde estacionou o carro. Descemos. O topo da colina parecia ainda distante, e eu soltei um suspiro longo e impaciente; a última coisa que eu queria fazer era subir um morro. O fim da tarde ainda estava quente, e o sol, ao menos para mim que o detesto, ainda inclemente. Ela sempre com essas ideias idiotas.
Há meia hora estávamos em casa naquela tarde de sábado, um dia perfeito para eu fazer tudo o que queria: depois de revisar alguns textos e escrever mais um capítulo do meu novo romance, eu poderia, finalmente, jogar meu videogame, talvez assistir a uma série, ler a HQ que eu estava reservando para um momento de sossego. Então ela adentrou o quarto dizendo que precisávamos sair, é importante, só desta vez, juro que depois não te atormento mais, você vai ter todo o tempo do mundo pra fazer suas coisas.
E aqui estávamos nós dois agora, estrada acima. Eu amaldiçoei a hora em que concordara em vir, minha respiração ofegante alimentada pelas frases curtas de meu pensamento cíclico e furioso: que saco, nunca mais, pra que isso, que merda, nunca mais, que ideia idiota, nunca mais, por que falei sim? Meus joelhos e meus tornozelos reclamavam também, apesar de mal termos começado a subida, e o suor – uma das coisas que mais abomino – já escorria pescoço abaixo. Uma sinfonia de desconfortos.
Ela estava calada e a velocidade dos nossos passos provava-se muito diferente. Era mais fácil para ela. Ainda que fosse pouco afeita a atividades físicas, não carregava quilos extras como eu, e de tempos em tempos se aventurava em caminhadas no parque, ao contrário de mim, que raramente saía de casa. A distância entre nós foi aumentando, bem como minha raiva por me ver naquela situação. Eu a observei parar muitos metros à frente, esperando vê-la virar-se, sorrir e zombar da minha má forma, mas ela apenas soltou os cabelos, puxou-os para cima e refez o rabo de cavalo que pouco a pouco se desmanchara com o movimento rítmico do seu caminhar. Ela nem sequer olhou na minha direção; parecia estar absorta em seus próprios pensamentos. Apertei o passo para tentar alcançá-la, em vão: ela simplesmente retomou a caminhada, agora próxima do fim, e logo vi seu corpo sumir, pouco a pouco, no horizonte acima dos meus olhos.
Quando cheguei ao topo, não a encontrei de imediato. O local não era exatamente um platô: havia pedras por toda a parte, alguns cupinzeiros, arbustos, pequenas árvores. Então a vi, de costas para mim, sentada sobre uma rocha, ainda longe, num declive. Parecia ser a descida do outro lado. Fiquei parado onde estava, mãos nas coxas, tentando recuperar o fôlego. Não queria que ela percebesse como aquele esforço tinha sido difícil para mim; estava irado demais para lidar bem com qualquer provocação.
Lentamente minha respiração foi voltando ao normal, e eu caminhei até ela. Na medida em que me aproximava, abria-se a paisagem lá embaixo. O verde queimado, escuro, típico do final do verão, ainda dominava, mas aqui e ali se via o amarelado do outono que se anunciava. Eu não sabia dizer a que altura estávamos naquela colina, mas as poucas casas, os carros nas estradas e a vegetação que eu via à distância me confirmavam que aqui era o lugar mais alto em que eu já estivera; tudo parecia minúsculo, irreal, e me veio à mente imagens de Gulliver e os Liliputianos, um de meus livros favoritos da infância. Nunca havia visto nada igual. Minha irritação foi distraída por aquela visão, e, quando me sentei ao seu lado, consegui sorrir sem precisar fingir contentamento.
– Bonito, aqui!
Ela não se mexeu. Abraçava os joelhos, dobrados, e olhava para as nuvens; no vento suave daquela tarde, elas alongavam-se no céu azul, que, para minha surpresa, nesse momento tingia-se também de laranja. Por alguns segundos, ali me perdi, observando aquela dança de cores que jamais havia presenciado. Ela interrompeu meu transe.
– Você já ouviu falar de Síndrome de Stendhal?
– Não. É alguma doença que você vai falar que eu tenho?
Ela deu um meio sorriso e virou os olhos para mim.
– Não, fui eu que tive.
– Como assim?
Ela voltou a fitar o horizonte e inspirou fundo antes de começar a falar.
– Não é consenso entre os psiquiatras; há muito tempo se discute se é real ou não. Eu só posso, claro, falar por mim.
– Do que você está falando?
– Quando alguém fica muito arrebatado por uma obra de arte, pode ter sensações físicas muito fortes. Algumas pessoas têm falta de ar, outras sentem o coração acelerar, algumas chegam a desmaiar ou ter alucinações. Eu li que um hospital em Florença sempre atende turistas que passam mal quando veem as obras de arte na Galeria Uffizi, ou as peças espalhadas pela cidade, como o David de Michelangelo. Dizem até que um homem morreu de parada cardíaca, admirando o Nascimento de Vênus, de Botticelli.
– Sério? Que louco, isso.
– Sim. Louco.
Ela esticou as pernas e virou para mim os olhos verdes, apertando-os por causa da imensa luminosidade laranja da tarde.
– Você alguma vez já sentiu algo parecido?
– Com obras de arte? Claro que não.
– Com alguma coisa?
Minha irritação voltou imediatamente.
– Que conversa é essa?
– Só estou perguntando se alguma vez na vida você se sentiu assim, tão emocionado por alguma coisa. Qualquer coisa.
Sua voz era calma, o que me irritou ainda mais.
– Você me tirou de casa, tive que subir uma ladeira suando no sol, pra sentar aqui e ter essa conversa besta?
– É importante pra mim.
– O que é importante pra você? Saber se eu já desmaiei vendo um quadro?
– Saber se você me entende, um pouco que seja.
Eu virei a cabeça para o outro lado. Não conseguia sequer olhar para ela. Sempre, sempre com essas ideias idiotas. Respirei fundo na tentativa de me acalmar.
– Não, Maya, nunca me senti tão arrebatado assim por nada. E não é porque não gosto de arte. Você sabe muito bem que isso é a coisa mais importante na minha vida. Eu amo todas as manifestações de arte; aliás, gosto muito mais do que você. Quem aqui não gosta de teatro, não entende a genialidade por trás dos videogames? Quem aqui não curte história em quadrinho, anime, fantasia, ficção científica? Qual de nós não gosta de balé, nem de música clássica, jazz, trilha sonora de filme? Quem? Quem aqui não fica extasiada com um prédio, uma arquitetura impressionante? Quem aqui é toda blasé sobre as coisas artísticas que eu adoro? Quem?
Eu quase gritava; minha voz havia ganhado intensidade entre a primeira e a última palavra.
– Sim, você tem razão.
Ficamos os dois ali, mudos, por alguns minutos. Minha impaciência ainda mantinha minha respiração curta e audível. O vento agora soprava mais forte e trazia aos meus ouvidos um barulho incômodo, como de papel celofane sendo amassado. Ela voltou a falar, devagar e escolhendo as palavras.
– Eu sempre venho aqui. Descobri este lugar há muitos, muitos anos. O meu namorado na época me trouxe; quis mostrar o pôr do sol. Esse mesmo sol que está aí agora, pintando o céu de vermelho. Ele me trouxe pela mão, sentou-se aqui, e não disse nada. Depois de uns minutos, eu quis comentar alguma coisa, uau, que lindo, o céu está tão azul, olha como as estradas parecem rabiscos, coisas assim, mas ele colocou o dedo indicador sobre minha boca, sorriu, e continuou olhando, quieto, para a paisagem. Lembro do ódio que senti: quem ele achava que era para me mandar calar a boca, ainda que só com um gesto? Quando já estava escurecendo, voltamos para o carro, sem trocar uma palavra. Terminei tudo com ele naquele dia mesmo.
Eu não tinha a menor ideia do que dizer. Ela continuou.
– Eu lembro de ter achado bonita a vista daqui de cima, mas naquela época minha cabeça estava sempre tão longe, sempre tão focada nas coisas do mundo lá embaixo, que não vi a hora de ir embora naquela primeira vez. Até que um dia, anos depois, em um momento difícil para mim, tive o impulso de vir aqui e ficar um pouco sozinha, pensar na vida. Era uma tarde parecida com esta de hoje, entre o verão e o outono; também ventava. Não gosto muito de vento, você sabe. Ah, não, você não sabe.
Ela virou-se novamente para mim e sorriu de leve. Vi que seus olhos estavam úmidos.
– Enfim, vim aqui e me sentei neste lugar. Foi então que tive essa tal Síndrome de Stendhal. Nunca havia sentido nada parecido; nem sei explicar. Só sei que fui totalmente arrebatada por uma beleza que quase me fez perder os sentidos. Engraçada, essa expressão. Na verdade, fui arrebatada por uma beleza que me fez encontrar os sentidos; sim, bem melhor. O sol estava descendo por trás daquelas montanhas ali, o céu era um ouro avermelhado, algumas nuvens dançavam feito véus. Eu senti o cheiro da terra, do mato. Vi ainda o vento batendo sobre a grama alta, bem ali, vê, como agora? O mato se movendo como ondas, fazendo esse balé, as cores mudando, olhe lá, de amarelo para verde claro para verde escuro, essas sombras. E enquanto eu estava aqui, totalmente capturada pelo vento que eu sentia nos cabelos e via sobre as plantas, no aroma do solo, nas cores que explodiam nas minhas pupilas… bem, no meio de tudo isso um pássaro bem grande passou aqui na minha frente, pertinho de mim. Soltou um grito que, naquele momento, soou como se fosse meu nome, e eu respondi, sem pensar, sem questionar se estava sendo patética, em voz alta, sim, sou eu, Maya, estou aqui. Não sei explicar o que senti: o termo que mais se aproxima é um arroubo, um êxtase que em nada parecia com o sexual, e, sim, com alguma coisa imensa, espiritual, absoluta, divina, mas ainda assim sei que minha explicação não faz jus ao que aconteceu. Tive ainda uma tontura, senti o coração disparar, uma sensação de não ser mais este corpo, mas algo muito maior, sem limitações de qualquer tipo, uma coisa só com tudo isso aqui, ao meu redor. Não sei dizer quanto tempo durou, mas foi a coisa mais forte que já havia sentido até então.
Ela parou de falar. Eu continuava sem saber como responder àquilo. Comecei a balbuciar alguma coisa, mas ela me interrompeu e prosseguiu.
– Eu… eu não…
– Voltei muitas vezes depois, sempre tentando sentir aquilo de novo. Em muitos desses dias, a paisagem estava até mais bonita, a tarde mais perfeita; o vento ainda ondulava o mato, a montanha exalava o mesmo cheiro acre. Vim também em dias de nuvens carregadas; vi raios, ouvi trovões, desci aquela estrada encharcada pela chuva. Estive aqui nas quatro estações, tentando descobrir os encantos de cada uma delas. Pedi, implorei até, mesmo com a fé pouca que tenho, que alguém ou alguma coisa que não compreendo me concedesse aquilo mais uma vez. Nada aconteceu, nunca mais. Até hoje.
– Hoje? Aqui, agora?
– Não, lá em casa.
– E o que aconteceu lá em casa?
– Eu fui arrebatada de novo, esta manhã.
– Mas…
– Você estava dormindo. Eu estava ali, deitada ao seu lado, ouvindo sua respiração, olhando cada um dos pelos grossos da sua barba, seus cílios, as pequenas manchas na sua pele. Você ali, tão lindo, tão perto de mim, e ao mesmo tempo, em outro planeta, em outra dimensão, um lugar ao qual eu não pertenço e nunca vou pertencer. O sono é como um ensaio para a morte, não é? Uma viagem solitária e sem bagagem.
Vi as lágrimas que escorriam quase imperceptíveis pelo seu rosto, mas sua voz se mantinha inalterada, baixa e lenta. Cada frase parecia ser cuidadosamente pensada.
– Eu o observava dormindo e, de repente, no ápice da minha solidão ao seu lado, senti o mesmo choque pelo corpo, o mesmo êxtase. Por um segundo pensei ser amor, juro. Pensei que é o amor que sinto por você que me fez, de novo, ver que sou muito maior do que este corpo, que esta mente, que este espírito. Mas então percebi que não, não era o amor que sinto que me fez explodir, mas o amor que tenho dentro de mim e que não consigo expressar, o amor que preciso receber e não recebo. E quando falo em amor, é algo muito maior do que você possa ao menos imaginar. E essa epifania me fez, mais uma vez, sentir o mesmo arrebatamento que senti neste lugar. E eu entendi o que havia em comum entre esses dois eventos: a beleza.
Foi a minha vez de sentir o coração disparar. À nossa frente, o sol se despedia com toda sua majestade.
– Você está querendo dizer que não me ama, Maya? Ou que eu não te amo? É isso?
– Não, não é isso o que eu quero dizer.
– E o que é, então?
– Eu preciso de beleza, Theo.
– E não há beleza na nossa vida?
– Não, não há.
– Como não? Vivemos da arte, nossa vida tem muito mais beleza do que a vida da maioria das pessoas e…
– Eu estou dizendo que preciso da beleza da vida, não da beleza da arte que imita a vida. Eu não quero a artificialidade dos palcos, dos pincéis, dos pixels, das palavras escritas. Eu quero a beleza que pulsa dentro daquela árvore, dentro deste dente-de-leão que o vento desmancha. Eu não quero a beleza da foto, do filme, do frasco de perfume. Eu quero a beleza do que é verdadeiro, do que é real, do que é correto. De tudo que nasce e vive e morre sem vaidade e sem necessidade de validação. Eu quero a beleza da aceitação das coisas como são, de mim como sou, do mistério da…
– Ah, Maya, chega, que saco, isso!
Ela se calou. O sol desaparecera agora, e não tardaria até a noite cair. Lembrei da caminhada até o carro, e não me reconfortei em imaginar que a faríamos no escuro.
– Está escurecendo, vamos embora.
Eu me levantei e busquei a direção da estrada que nos trouxera ali. Com o canto dos olhos eu a vi também erguer-se, e então me seguir, muitos metros atrás de mim. Na agitação em que me encontrava, quase corri. Cheguei ao carro um ou dois minutos antes dela, e a esperei calado e visivelmente aborrecido. Sentia um peso enorme no peito; algo me esmagava, algo que eu mesmo não entendia. No trajeto de volta para casa, não tirei os olhos do celular e tentei quebrar o silêncio com algumas observações sobre as mensagens que haviam chegado, notícias, acontecimentos nas redes sociais. Ela murmurou algumas respostas. Não tocamos mais no assunto naquele dia ou em qualquer outro. Foi como se jamais tivéssemos testemunhado juntos aquele pôr do sol.
Dois meses depois, estávamos separados. Até hoje me tortura não ter sequer tentado compreender o que ela quisera me dizer.
Autor(a), vou te falar uma coisa, não leve a mal não, é um elogio: sua fluidez narrativa lembrou muito a de Paulo Coelho! Uma história simples, bastante simbólica sobre saber ver o que é belo e na experiência e necessidade de um casal tentar compartilhar das mesmas experiências e epifanias. Na parte técnica, o que mais me agradou foi a narrativa ter sido feita pela parte menos provável do casal, aquele que não consegue ver as coisas do mesmo jeito que o outro. Não tenho reparo a fazer quanto ao resto, é um conto simples e honesto. Parabéns, estará entre os meus favoritos!
O texto narra a saída de um casal, contra a vontade do protagonista, com o propósito de uma conversa séria. O tema do diálogo, fascínio de Maya pela beleza, vai se revelando no decorrer da narrativa.
Possui diálogos intensos e a voz da personagem Maya é cheia de passagens poéticas. O ritmo dos diálogos é muito bom.
O final não traz nenhum impacto, já que o remate vai se desenhando muito antes do fim.
Parabéns e boa sorte!
Ótimo conto! Por meio de um diálogo, a oposição entre dois namorados se pronuncia em todo instante. Está presente no descontentamento egoísta e pedante do personagem cujos pensamentos nos são acessíveis e na paciência resignada de sua namorada, que antecipa toda a insatisfação e pressa do parceiro. Aliás, ter conseguido equilibrar as duas personagens é demonstrativo do domínio narrativo da autoria, como também é a escolha de nos deixar acessar as introspecções dele, mas não as de Maya, o que investe em seu monólogo um suspense muito bem-vindo para nos envolver com o texto, ao mesmo tempo em que deixa os primeiros parágrafos para conhecer melhor o escritor condescendente que é o personagem principal. É quando o diálogo começa que o tema da arte se torna nítido, explorando um dos seus elementos principais que é como uma peça artística pode ser assimilada, mas, e aí o conto tem uma ótima sacada, não é exatamente sobre arte que a personagem fala. Na verdade, em certo momento a arte é caracterizada como apenas uma imitação da vida e é justamente a admiração da beleza da vida que a personagem tenta expressar, descrevendo, para a exasperação do seu parceiro, um sentimento de arrebatamento. Que ele seja um artista é ainda mais apropriado, pois, para além do seu egoísmo, ele como um grande admirador das artes não consegue compreender o que na banalidade impressiona tanto a sua namorada… como também não consegue compreender absolutamente nada nela, desorientação que o acompanha até o final.
Além de ser bem escrito, o conto tem uma sinceridade muito evidente ao retratar a conversa entre dois namorados cuja distância é inevitável e incontornável, agora acentuada por algo que um deles consegue ver e o outro, não. Parabéns!
Antes de continuar, acho justo esclarecer como estou avaliando nesse desafio. Além de uma consideração final, guio-me por três fatores: artístico, técnico e criativo. Não estou participando dessa vez, mas decidi ajudar a movimentar os comentários!
ARTÍSTICO
Uma forma diferente de retratar a arte.
Ela quase não existe através da escrita do rapaz. Sua vida é muito pouco explorada. Mas a arte está ali, plena, na natureza. Além da expressão, arte também é comunicação. É a forma como Maya se comunica com a natureza. Uma conexão íntima com o mundo. E ela chama isso de Beleza.
O texto se torna um pouco cansativo e artificial em alguns pontos, perdendo um pouco do seu valor artístico, mas está tão bem escrito que ainda impressiona o leitor. Poderia ter explorado a liberdade de mídias, também.
TÉCNICO
Bem encaminhado.
A narrativa é fluida, o que deixa a leitura bem natural e fácil. Há um toque poético muito bonito no conto. Outra virtude que vale a pena ser explorada. Cabe melhorias, porém. Há algumas repetições de palavras que poderiam ser facilmente evitadas, como o uso constante de “ela” e “eu”. Além disso, algumas repetições de ideia também existem, como aconteceu no final do primeiro parágrafo e início do segundo parágrafo, quando você menciona que eles saíram no final da tarde e repete, em seguida, que eles estavam há meia hora em casa numa tarde de sábado. Parece bobo, mas esse tipo de repetição realmente cansa o leitor. Deixar o texto mais clean é o ideal. Pode ser longo e denso, até cansativo, por ser difícil, mas essas repetições nunca enriquecem o texto, apenas o contrário.
CRIATIVO
Bonito.
Acho que isso resume a mensagem do conto. Theo é bem construído, uma pessoa egoísta e sem muita empatia, enquanto Maya serve um propósito maior, que é transmitir a mensagem que o autor queria. Por causa disso, talvez, ela se torna um pouco artificial, ainda mais em seus diálogos. Os discursos são ensaiados demais, não parecem naturais.
Acho interessante mencionar que a abertura e a finalização do conto são fracas. O ponto alto está na metade. Mas, inicialmente, não é oferecido nada muito atraente para o leitor. E, no final, senti que faltou desenvolvimento, como se tivesse sido resumido.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conto é bom.
Ele não me conquistou, sendo sincero, apesar da mensagem muito bonita. Gostaria de vê-la executada duma forma mais natural. A escrita é boa, porém, precisa tomar cuidado na lapidação.
Parabéns pelo trabalho e boa sorte no certame!
Beleza (Stendhal)
Olá. Stendhal
Seu texto é bonito. Fala de Arte, tem artistas, explica a síndrome, mas não a exemplifica na narrativa. A beleza ali é da Natureza e depois do homem.
É uma história com sentido, com beleza, sobre as interações humanas e um ser bem estúpido esse narrador, custava nada ele ser mais solidário coma jovem. Ele dormindo era um poeta e, no fim, é mais ou menos isso que ela vê, a beleza inerte dele.
Sinceramente, lê-lo exatamente depois de “A Arte Alheia” e ainda sobre o impacto do crime do Zélio, fez-me ver nessa mulher uma vítima em potencial.
Eu não sou boa com essas pessoas que manipulam o outro, que minimizam a dor ou preocupação alheia, sabe? E o Théo é uma dessas pessoas que me tiram da minha zona de conforto, justamente porque ele é o típico agressor silencioso. São seus atos, seus olhares que ferem mais, que empurram o parceiro para baixo. Trabalhar por anos em ONG’s de proteção à mulher acabou com meus nervos de verdade. O narrador desse conto me abre mil feridas, a maioria delas nem são minhas, mas ainda assim doem. E isso é uma qualidade do texto! Não é toda história que ouço ou leio que dispara meu gatilho. Até porque violência com macho escroto nunca sofri, meu detector de canalhas é afiadíssimo.
Théo é complacente em alguns momentos, mas no geral, vê Maia como alguém inferior (capitis deminutio), prática comum do “patriarcado”, aqui o poder diminuído na relação não é o de compra, afinal, ela dirige para eles, ela decide o passeio – entretanto ela se desculpa por sugerir essa mudança na rotina: “é importante, só desta vez, juro que depois não te atormento mais, você vai ter todo o tempo do mundo pra fazer suas coisas.” E essa atitude de se desculpar por querer conversar e desejar que esse diálogo aconteça em uma área de conforto dela, também sugere medo, preocupação e traços de “submissão”.
O fato de ele não aceitar ouvi-la é uma forma de destruir a autoestima da mulher. A impaciência desmedida também é agressão. Tudo isso formula esse personagem bruto com capa de um geek do bem, que de bem não tem nada. Conhece de artes, se emociona com elas, gosta mais que a mulher das manifestações artísticas, mas não está nessa relação como dois. E isso pode ser visto na sua lista de afazeres: “um dia perfeito para EU fazer tudo o que queria: depois de revisar alguns textos e escrever mais um capítulo do meu novo romance, EU poderia, finalmente, jogar MEU videogame, talvez assistir a uma série, ler a HQ que EU estava reservando para um momento de sossego.” Todos esses desejos são indícios de individualidade. Não tem nada nessa lista para fazer a dois. O excesso de individualidade quando acarreta a negligência em relação ao outro cria o espaço perfeito para a solidão – e não uma solidão saudável. Afinal, a solidão aqui é a “é hipersensibilidade à ausente presença do outro” (Tanis, 2003, pp.108). Ao chamar para essa conversa, tirando-o de seu habitat, Maya estava gritando por socorro.
Seu modo de sentar (fetal). A lágrima que ela não esconde, o desejo de externar o sentimento é um desenho da alma dela. Théo não vê nada disso, apenas foge, insensível ao seu sofrimento.
A personagem central é Theo e ele é maior que o texto. Pronto! Falei!
O desfecho era óbvio e foi o melhor para ela, mas a fuga inicial, o poder sobre ele com ela dirigindo – e a fuga dele com a corrida até o carro pode servir de apoio à minha ideia de que ele percebeu (inconscientemente, talvez) que ela tinha tomado as rédeas de sua vida, tudo isso mapeou que ela partiria porque já se sentia abandonada. Solidão a dois é sempre a pior, sempre fere.
Beleza (Stendhal)
Comentário:
Além de ser uma delícia ocupar o tempo com as boas leituras do desafio, aqui a gente sempre aprende, é uma escola sem fim. Não conhecia essa tal síndrome. Que coisa!
Vamos ao texto! Stendhal, eu não encontrei qualquer deslize na escrita, que capricho. Escrita firme, poética, fluente, cativante. Uma história que destila sensibilidade, senti cada palavra na pele. Espírito feminino, dificílimo de ser externado. Colocar no papel o sentir é para poucos.
Interessante pensar no amor e no desamor. Os opostos se atraem?! Na-na-ni-na-não! No amor, não. Amor é caminho de duas mãos, vai e vem. E o restante? É só resto, nada mais. Amor é cuidado. Se não existir cuidado, não é amor. Que bom que cada um seguiu seu rumo. Ave Maria, que rebordosa eu tô aprontando aqui!
Seu texto é belíssimo, profundo, chega a doer quando se percebe o quão raso é Theo. Ele não é prático. É raso, rasteiro. Que peninha, né?! Perdeu… O autor criou um baita narrador, ele é tão perfeito na sua personalidade tacanha que há leitor que o odiará. Eu senti pena. E, quando personagens criam até mesmo “sentimentos primitivos” no leitor, o autor pode ter certeza de que tem a capacidade da escrita.
Está no caminho certo. Senhor autor (acho que é autora), você foi o artista do seu texto, a arte está aí.
Parabéns, Stendhal, belo trabalho!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Olá, Stendhal!
Seu conto aborda com sucesso o tema do desafio. Mais do que uma arte específica, há uma discussão sobre a capacidade de se emocionar diante de uma obra de comovente beleza.
A escrita do texto é adequada, segura e agradável para o leitor.
Estruturalmente, achei o conto muito bem resolvido. Há um arco de desenvolvimento claro, o personagem narrador surpreendido em sua rotina, o passeio misterioso e as reflexões diante do entardecer. O final aberto, que nos faz pensar no que foi a “separação” entre os dois, dá um impacto. O texto caminhava para um fim previsível, essa jogada abre um horizonte interessante, ainda que não seja surpreendente de toda forma.
A condução da narrativa também é competente em prender a atenção do autor. A gente pensa em possíveis motivos para o programa de fim de tarde do casal: pedido de casamento? fim da relação? uma machadada na cabeça diante do pôr-do-sol? Isso é importante: literatura, enquanto arte, também precisa entreter.
Alguns pontos para reflexão do autor: os diálogos não são muito naturais. Até consigo pensar que, por ser uma lembrança do narrador, ele possa estar “floreando” as falas da namorada em pequenos discursos. Mas, infelizmente, foram momentos em que a leitura travou um pouco.
Também achei um pouco estereotipado o perfil do namorado. Exagerado demais na inércia. A gente fica pensando, “como diabos essa moça sensível ama esse Zé Cueca”? Não sou mulher, mas aposto que nada seja mais brochante do que um namorado jogando videogame no sábado à noite. Nada contra videogames, evidentemente. Só acho que essa oposição entre os dois ganharia se fosse mais sútil.
Ainda assim, pouca coisa. Conto muito bom. Parabéns e boa sorte no desafio!
Olá, Stendhal, beleza? 😀
Desculpa, não resisti, rs.
Vou começar pelos aspectos que julguei negativos no texto.
O diálogo inicial não me pareceu muito natural. Nenhum problema com a conversa em si, mas é difícil imaginar que eles tivessem chegado nesse ponto do caminho sem passar por ela. Seria uma discussão que eles provavelmente teriam antes de sair de casa ou, no mais tardar, logo após sair. O diálogo parece estar aí para nos situar na história. Ou seja, ele serve ao leitor, não aos personagens. Isso é algo que sempre me incomoda.
Entendo que o narrador estava contrariado – e que ele parece um sujeito bem ranzinza de forma geral, rs -, mas me soou estranho que em momento algum ele demonstre algum tipo de carinho pela namorada, nem mesmo em seus pensamentos. Ele parece temer quando antevê a possibilidade de um término, mas esse temor nunca é justificado. O tempo inteiro ele repete o quanto ela o irrita com suas “ideias idiotas”, sem oferecer nenhum contraponto que nos faça entender que ele sente alguma afeição por ela. Isso fica ainda mais acentuado pela maneira desproporcionalmente agressiva com que ele reage às falas de Maya.
A cena que a namorada descreve, do ex-namorado a calando com o dedo e apenas sorrindo não me pareceu muito verossímil. Parece algo saído de um filme.
Aqui uma meia crítica: em alguns momentos Maya parece excessivamente eloquente, com as falas dela se aproximando mais da linguagem escrita do que da oral. Normalmente isso também me incomodaria bastante, mas como o texto é basicamente construído por diálogos com longas falas, esse efeito acaba se diluindo, e me vi mais sendo conduzido pela escrita habilidosa do autor do que implicando com a verossimilhança das falas. De todo modo, fica a observação.
Achei a última frase desnecessária. Bom, na verdade não é justo dizer que é desnecessária, já que ela traz novas informações. Mas ela é por demais expositiva e tira o impacto do final do parágrafo anterior, que tinha encerrado de uma maneira muito bonita. Gostaria que essas informações viessem de maneira mais discreta e orgânica. De repente até encaixadas anteriormente. Mas essa é apenas uma sugestão.
Ressalvas feitas, devo dizer que gostei bastante do conto. 🙂
Então agora vou listar os pontos positivos.
Como já ressaltei, a escrita é habilidosa. O texto flui facilmente e não notei grandes erros de revisão. A maneira como o pensamento de Theo se organiza – e desorganiza – foi muito bem feita.
Gostei da escolha de Theo como protagonista. O caminho mais óbvio seria fazer com que acompanhássemos a história pelos olhos de Maya, personagem que ganha com muito mais facilidade a empatia do leitor. Já Theo é um personagem antipático – um pouquinho demais, até, rs -, agressivo, resmungão; é realmente difícil torcer por ele. Escolher um personagem assim como protagonista, e ainda mais um protagonista narrador, é uma ousadia que admiro.
Achei muito interessante a abordagem do tema. Essa oposição entre a beleza artificial das artes e a beleza natural que Maya busca. Concordando ou não, é uma reflexão instigante. Também gostei da quebra da ideia de que todo artista é um ser sensível e que vive num eterno estado de graça. Aqui temos um casal de artistas em que ambos estão quebrados: ele, imerso na arte que consome, parece fechado para a beleza do mundo real; ela, ansiando por essa beleza, se exaspera e se entristece.
Por fim, gostei de como a narrativa se forma nos detalhes. A distância entre eles fica clara quando ela diz que visita o morro sozinha e que ele não sabe que ela não gosta do vento. Interessante também notar que, no caminho de ida, ela, mais enérgica e em melhor forma, vai bem à frente dele, que não consegue acompanhá-la; já na volta, desanimada e apática, ela fica muito pra trás. Lado a lado, eles nunca estão. Bastante simbólico.
Enfim, não é um conto perfeito. Vejo alguns problemas na forma, mas gosto do conteúdo. E entre forma e conteúdo, fico com o segundo: a forma é possível lapidar, já a ausência de conteúdo me aborrece profundamente. Mas essa é uma outra discussão artística, deixemos para lá, rs.
Desejo sorte no desafio.
Abraço!
Sr. Stendhal:
O tema evidentemente se aplica, mas não sei se a comparação com a síndrome de Stendhal se justifica, já que o sentimento que atinge a personagem é uma sensação de sublime ou de êxtase quase místico associada à natureza e não à arte. Não é à-toa que a síndrome de Stendhal está associada a Florença e a uma overdose estética com a Alta Renascença; não é a síndrome do Grand Canyon ou das Cataratas do Iguaçu.
A ligação do sentimento de beleza na arte com o que se sente com a natureza está longe de ter sido abordada na história. Isso não é exatamente um problema do conto, mas o fato dele entregar menos do que o título e o argumento inicial prometem, tende a reduzir uma das grandes questões da estética e da arte a uma mera DR em que evidentemente os olhos de ambos estão voltados para coisas muito diferentes.
Ela exige dele, um artista rabugento, tipo, aliás, muito comum, uma participação mística que parece proposital para criar o rompimento.
Porque esse sentimento de sublime diante da natureza deveria estar associado ao amor, ou ser um ingrediente necessário para o amor, é uma ótima pergunta.
Isso reduz o êxtase místico sentido por ela a um reles pretexto para se separar e esse vira o assunto real do texto, nem a arte, nem a experiência mística; uma história que fala sobre uma personagem que transforma uma experiência transcendental em uma pequena vingança de separação ao deixar para o rabugento o ônus de sentir algo que este não sente, não entende e não pode sentir. Isso já que nem para ela um êxtase místico é resultado de um ato de vontade.
Nesse sentido o texto é bem-executado e bem-sucedido. Parabéns pela participação e boa sorte.
Oi Stendhal!
Gostei muito desta história de desencontro.
Engraçado como o narrador, mais interessado em artes do que Maya, não consegue entender o que vai pela alma dela. Toda sua apreciação pela arte não o aproximou da subjetividade do discurso de Maya, não o tocou. E Maya, desinteressada pelas artes, desejava vivenciar a arte na vida.
Muito bonito este retrato de um momento chave do conflito entre os dois.
Parabéns!
Kelly
Olá, Stendhal!
Sabe de uma coisa interessante? Tenho uma série de quatro livros (Alles Gut!) e em um deles falo dessa sua síndrome aí! Moro na Alemanha, e talvez porque aqui tenha muitos museus e também muitas obras de arte a céu aberto, vira e mexe alguém fala nisso. Enfim, adorei a sincronicidade!
Na verdade, adorei este conto. Tecnicamente é excelente, a ambientação é bem feita e as descrições dos movimentos e dos sentimentos dos personagens são bem legais. Adorei a maneira como o cara fala da sua impaciência com o jeito da namorada (ou esposa, seja lá o que for), e das explosões. Curti ainda a forma como ela mesma sugere que houve uma evolução na maneira de ver as coisas, desde a primeira vez que ela foi lá até o momento da conversa, a linguagem dela reflete isso. Outra coisa de que gostei é do que não é dito, mas subentendido, como o lance dela também ser envolvida com arte, ou quando ela fala do vento (“Não gosto muito de vento, você sabe. Ah, não, você não sabe.”). Minha cara falar issoaê pra alfinetar o outro hahaha…
Aliás, essa personagem aí é muito parecida comigo. Eu sou bem assim, de fazer monólogo cheio de palavras bonitas, de não deixar o outro falar, de armar uma grande cena pra fazer uma declaração bombástica. Acho que por isso gostei tanto hahaha… coitado de quem convive comigo.
Mas nem tudo são flores, né? Achei um pouco forçada a relação entre a beleza arrebatadora e o amor. O primeiro evento achei bem construído (a natureza ser a “obra de arte” que causa maior êxtase), mas o segundo, não. Faltou desenvolver melhor. Tinha potencial, mas não entregou. Esse argumento foi meio uó uó uó…
Quanto à escrita, só achei um erro meio feio de revisão, que foi a concordância verbal aqui:
“… tudo parecia minúsculo, irreal, e me veio à mente imagens de Gulliver e os Liliputianos, um de meus livros favoritos da infância.”
Do final eu gostei. Se a sua intenção foi que o leitor sacasse as coisas antes do protagonista, acho que deu certo, porque a gente termina achando o cara meio burrão e se achando mais perspicaz do que ele hahaha…
Enfim, um conto bonito, lírico, que prende a atenção, narrativa bem escrita, uma temática interessante. Gostei bastante, tá no meu top 3 até agora! 😊
Parabéns e boa sorte no desafio!
Olá, Stendhal. Acho que é a primeira vez que falo com um distúrbio psicológico. Gostei deste seu conto que fala de um casal em crise – quando tinham tudo para não estarem em crise. Os dois artistas, viviam da beleza, que entendiam de forma diferente. Ela ansiava pelo arrebatamento supremo, pela beleza transcendental, ele já se habituara à sua felicidade e não entendia a necessidade de mudança. O conto fala disto, de duas pessoas felizes que se separam, numa incongruência que só não percebe quem nunca duvidou. Há uma elegância bastante grande em todo o texto, desde as descrições físicas da paisagem às descrições psicológicas. O desfecho surpreende mas é previsível, porque não havia outra forma de fechar o texto: um happy ending não deixaria o leitor satisfeito. A vida não foi feita nos estúdios da Disney, caso contrário passaríamos a nossa existência a cantar canções idiotas.
Olá, Stendhal, tudo bem?
Farei considerações sobre seu conto na forma de A-R-T-E:
A = A arte em si = O conto trata da capacidade de algumas pessoas de se deixarem arrebatar pela beleza. A arte de ver, de se preencher com o que consideram belo. Talvez, mais do que tudo, a arte de perceber o outro como é, com a sua beleza imperfeita, mas única.
R = Revisão = Não percebi falhas que tenham me saltado aos olhos. Nada que me incomodasse durante a leitura.
T =Trabalho de escrita/narrativa = Maya (do sânscrito माया, māyā) é um termo que se refere ao conceito da ilusão que constitui a natureza do universo, sendo um dos seus atributos o poder de cegar o devoto com as ilusões, mas também o de revelar-lhe a verdade. Ou seja, talvez Maya pretendesse revelar a verdade ao parceiro, a sua verdade, a necessidade de encontrar uma beleza arrebatadora no relacionamento. Há uma mescla de descrição com o fluxo de pensamento do narrador. Mesmo os diálogos são carregados de subjetividade, sendo a fala de Maya bastante extensa, talvez pela incapacidade de represar o que lhe vem à mente. O problema é que tudo pareceu surreal demais e não uma conversa de duas pessoas que se conheciam intimamente. Um tom poético, mas uma oitava acima do que seria esperado de uma discussão sobre o relacionamento e pontos de vista referentes à arte e à beleza. A imagem criada é bonita, deixando um rastro de um poema suspenso.
E = Então, autor[a] = Fiquei com a impressão de que ela nutria certa esperança de despertar no parceiro o mesmo encantamento que sentia pelo belo. No entanto, o narrador mostrou-se mais objetivo, mais pé no chão, apesar de se considerar um apreciador de arte em geral. Um final esperado, fechado, que poderia ser resumido com a conclusão do narrador: “Foi como se jamais tivéssemos testemunhado juntos aquele pôr do sol.”
Parabéns pela participação e boa sorte no desafio.
Beleza
Olá, caro autor de O vermelho e o negro (rsrs). É mesmo você?
Comento com uma baita inveja, porque eu queria esse título e esse texto para mim. Sim, eu poderia ter escrito, de tanto que gostei e me identifiquei.
Coesão – A contemplação diante da beleza é o cerne do seu texto. O efeito transcendental, espiritual que a verdadeira beleza nos causa. Um documentário do Roger Scruton (Porque a beleza importa), que eu indico para todo mundo (talvez eu tenha experimentado um Stendhal quando assisti), afirma exatamente isso, que é o cerne do seu texto: a verdadeira beleza é transformadora. Seu início é excelente, vai direto ao ponto e introduz o leitor no conflito sem enrolação. Seu final: não gostei tanto da conclusão. Acho que roubou do texto muito potencial. O fim do relacionamento já estava óbvio para o leitor, mas poderia ter sido construído de modo menos explicativo.
Ritmo – Um texto delicioso de ler. Linguagem acessível, criativa, inteligente.
Impacto – O tema em si é muito impactante. A visão da beleza natural, dos elementos que existem por si, sem nenhuma utilidade, a não ser para serem belos. Além disso, fiquei muito impressionada com seu personagem narrador. Realisticamente chato, como são a maioria das pessoas, aliás. Muitíssimo bem construído para tirar da narrativa uma possível “piegasidade” dos tradicionais textos contemplativos.
Parabéns de verdade. Honrou esse título…que eu queria para mim (rsrs)
Olá, Stendhal! Obrigado por compartilhar Beleza conosco ♥
Um conto emotivo, que explora a complexa relação de um casal, e ao mesmo tempo aborda a beleza da vida, das pequenas coisas.
Tive nuances enquanto lia seu texto. Ele começa muito bem, mas perde a força no meio.
– PONTOS POSITIVOS: O início é rápido, excelente para introduzir a trama e o contexto. Isso é um artifício que agrega muito valor a um conto, foi uma escolha inteligente.
As descrições visuais, por mais que sejam simples, são muito eficazes. As frases conseguem transportar o leitor para o cenário facilmente.
– CONSIDERAÇÕES: Os diálogos começam ótimos, mas acho que a pessoa que escreveu caiu naquele velho erro: escolheu frases descritivas para inserir nos diálogos, ao invés de colocá-las na voz do narrador.
Eu estava muito empolgado, mas no momento em que a primeira fala gigantesca que descreve as formas de arte apareceu, o texto me perdeu. Duvido muito que uma fala assim surgiria numa conversa entre um casal, pelo menos, não da maneira que está escrita aqui. Infelizmente, foi um erro grave de voz narrativa.
Não gostei muito do título. “Stendhal” seria mais rico, pois é o que realmente gera o conflito entre as personagens; é o verdadeiro o alicerce dos diálogos.
Mas é um bom conto, graças aos significados e aflições humanas inseridos nele.
Parabéns! ☮
Olá, Stendhal, o seu texto é lindo, cheguei a me emocionar durante a leitura de alguns trechos. Muito interessante ter abordado esta síndrome da qual nunca tinha ouvido falar, gostei de conhecer.
O narrador me causou muita irritação em alguns momentos, o que é um ponto positivo para você, escritor, que certamente tinha essa intenção.
O texto é bem escrito, fluido, gostoso de ler. Os diálogos são bons, mas um pouco longos demais, em alguns momentos.
Houve uma confusão quanto aos tempos verbais. No terceiro parágrafo após o diálogo, quando você retorna ao presente, após a explicação do que faziam meia hora antes, você inicia o parágrafo no presente, usando inclusiva o “aqui” e o “agora” E aqui estávamos nós dois agora, estrada acima. Eu amaldiçoei a hora em que concordara em vir”. Logo em seguida volta a usar o passado. Essa alternância volta a ocorrer em outro trecho, relatado no passado, onde você usa a palavra aqui – “aqui era o lugar mais alto”
me veio (vieram) à mente imagens de Gulliver e os Liliputianos
Só uma obs: o David de Michelangelo não está pela cidade, aquela é uma réplica, ele está na Galleria dell’Accademia.
“Vi ainda o vento batendo sobre a grama alta, bem ali, vê, como agora?” (esta frase deveria ter sido dividida em outras, para que a interrogação fizesse sentido no local correto – Vi, ainda, o vento batendo sobre a grama alta, bem ali. Vê? Como agora.)
“Ela parou de falar. Eu continuava sem saber como responder àquilo. Comecei a balbuciar alguma coisa, mas ela me interrompeu e prosseguiu.
– Eu… eu não…” – aqui, quando você termina o parágrafo com o verbo ”prosseguiu”, esperamos que venha, em seguida, a fala dela.
“Nada aconteceu, nunca mais. Até hoje.
– Hoje? Aqui, agora?” – a reação dele ficou um pouco sem sentido, exagerada, inverossímil. É comum dizermos que algo não aconteceu mais até hoje, o que não implica que hoje tenha acontecido algo, apenas deixa claro que até o momento não aconteceu mais… não sei se me fiz entender. A reação dele me pareceu descabida e eu tive que voltar no texto para ver se eu tinha perdido alguma coisa.
O texto é bom, como disse acima, muito boa a história, muito interessante a forma como abordou o tema artes, bastante verossímil (fora este trecho que citei no parágrafo acima), mas eu não gostei do final. Esperava mais. Ficou bem sem graça, pra dizer a verdade. Uma pena, pois o conto é muito bom.
Ambientação= De certa forma, no tema- Artes Plásticas.
Escrita= Boa, normal, correta.
Enredo= Médio, isto é, gostei, mas não muito.
Considerações gerais= Duas pessoas completamente diferentes, ele ranzinza e preguiçoso, ela ativa e sensível. Ele encara a Arte com uma certa frieza, insensível, não percebe a harmonia das formas, a estética. Ao contrário, ela é ativa, sensível, se sensibiliza, admira obras de arte. Isso estabelece o mote do conto/determina o término da relação do casal.
Acho que a Síndrome de Stendhal é mais o cansaço, o passeio exagerado entre obras de arte, exaustão que causa mal-estar. Mas acredito também em êxtase, um arrebatamento que acontece em pessoas que consegue ter uma comunhão com espiritual através da visão interior, já que todas as coisas inanimadas também têm espírito, inclusive obras de arte. Todo autor não coloca um pouco da alma na sua obra?
Maya teve um êxtase ao ver o marido dormindo, achou-o bonito, mas ela queria ver a beleza interior, que ele não tinha, por isso, separou-se. Bom conto. Boa sorte.
Mulher leva o companheiro a apreciar um cenário como se fosse obra de arte, com o objetivo de discutir a relação deles. Esse encontro/desencontro do casal e a referência à Síndrome de Stendhal conduzem ao tema, focando a estreita relação que se estabelece, entre beleza e arte. O valor da arte é aferido pelos efeitos que ela produz que dependem da qualidade que ela representa; e a beleza estética se assenta no equilíbrio e na simetria.
Enfim, trata-se de um texto complexo, que provoca reflexões no leitor, mas a leitura ficou meio travada com as falas extensas, explicativas e pouco naturais. Faltou a técnica ajudar à trama na hora de determinar melhor os acontecimentos e reações. Em alguns trechos, fiquei como o homem, sem entender o que acontecia.
Parabéns! Sucesso no desafio. Abraço.
Olá! Tudo bem?
Seguindo os passos da melhor revisora de todos os tempos, a dileta Claudia Roberta Angst, farei considerações sobre seu conto na forma de A-R-T-E:
A = A arte em si = A arte aparece com sucesso no conto: os protagonistas discutem sobre a forma como a arte lhes impacta.
R = Razões para ODIAR o conto (porque sou desses) = As falas da personagem mulher são longas demais. Na boa, ninguém fala tanto por tanto tempo. Isso torna o diálogo tragicamente inverossímel. Falas mais curtas, por favor! No mundo real, as pessoas interrompem umas às outras – ninguém tem paciência para um monólogo.
T = Trabalho de escrita/narrativa = A escrita é boa: está bem encaminhada.
E = Então, autor[a] = A proposta é boa. Melhor trabalhada, teria ficado muito boa. Em alguns momentos, faltou sutileza – deixar mais coisas implícitas, coisas sobre as quais os leitores poderiam refletir.
Parabéns pela participação e boa sorte no desafio!
Resumo: Casal em conflito sobe no morro para discutir a relação, além de outros temas.
Comentário:
O que mais gostei no conto foi a movimentação dos personagens no cenário, um recurso inteligente para se contar uma história; a montanha como um símbolo da relação, a subida, a descida, o sol iluminando e depois a escuridão total. O ambiente, interpretado como obra de arte, arte real, não perene, de acordo com Maya, pauta a discussão dos personagens. Isso é usar o cenário à favor da narrativa, e achei que o fez muito bem. Não sei se gostei tanto da maneira como construiu os diálogos; dentro da premissa do conto, que é denunciar que, não necessariamente quem consome e vive de arte possui sensibilidade artística, o argumento é defendido em um tom muito expositivo. A personagem solta longos monólogos, o narrador os rebate com pouca propriedade, depois ela retorna as longas explicações, ele tem um pequeno rompante de fúria, sempre rebatido com uma serenidade um tanto artificial, pois senti, na maneira que o autor conduziu o texto, que os personagens falam como se estivessem escrevendo, exagerando nas descrições, adjetivos e lirismos, como em “o vento ainda ondulava o mato”, ou “ aroma do solo, nas cores que explodiam nas minhas pupilas”, ou ainda “no ápice da minha solidão”. Por demais, ainda que sejam bonitas passagens, tiram a naturalidade da situação. É possível falar disso tudo de uma forma mais sutil, e o fato de ser um narrador em primeira pessoa, que vivenciou a situação, a reprodução tão fidedigna dessas frases completas acaba não tendo muita credibilidade.
Seria interessante experimentar o mesmo texto alterando a voz narrativa. Ora do ponto de vista de Maya, ora do seu namorado, ora com um narrador em terceira pessoa, que insere suas ideias entre as falas dos personagens.
Porém, a crítica é mais pelo formato do que pelo conteúdo, que é muito bom. O uso da síndrome de Stendhhal é ótima para construir o argumento de Maya e, trabalhado um pouco mais na exposição dessa ideia, creio que o texto seria bem-sucedido.
Me lembrou de uma professora que, certa vez, nos contou que quando viu o Código de Hamurabi no Louvre, não conseguia parar de chorar. Me fez pensar também numa das perguntas clássicas do Abujamra, no programa Provocações: “Você chora diante da Beleza”