EntreContos

Detox Literário.

Oceano (Giselle Bohn)

A professora vinha de trás, pelo lado direito, colocando uma prova sobre cada carteira, e então parou ao seu lado, segurando o papel no ar.

– Por que esse lenço aí?

– É que minha mão sua muito e eu preciso apoiar…

– Pois enxugue a mão com ele e guarde. Não quero nada aí além da prova e da caneta.

A menina colocou o lenço branco no colo, ainda dobrado no seu um dezesseis avos característico; se aberto, não resistiria àquele suadouro todo e se tornaria inútil. A professora então pôs a folha sobre a mesa, soltou um resmungo incompreensível e seguiu em frente, olhando para todos os lados enquanto caminhava pela sala. 

As mãos da criança, abertas sobre as coxas, manavam sem pausa, e o tecido da calça escurecido e umedecido pelo suor não mais ajudava; ela precisou descer até as panturrilhas para as esfregar ali, na parte da frente, de trás, nas laterais. A professora então se virou, adentrando outra fileira, e a viu com o queixo quase encostado na fórmica bege da mesa, os ombros caídos pra frente e os braços ocultos. Uma ruga funda entre os olhos empurrou para baixo as sobrancelhas da mulher de cinquenta anos.

– Posso saber o que está fazendo, Marina?

– Eu… eu tô só enxugando a minha mão na calça…

– Eu não mandei usar o lenço?

– É que…

– Senta direito aí!

A garota se empertigou. Levantou as mãos e as examinou; o M nas palmas eram a fonte daquele aguaceiro. As pequenas gotas agora se emendavam umas às outras, e o brilho cobria toda a pele fina de criança. Viu então que o lenço havia caído no chão. Começara a esticar o braço para pegá-lo de volta quando a professora gritou.

– Marina! Se eu tiver que falar mais uma vez pra você ficar quieta na cadeira, você vai direto pra sala da dona Sílvia!

Com um sobressalto, a menina sentou-se reta. Sentiu a perna esfriar com a umidade que atravessara o tecido de brim grosso da calça cor de vinho do uniforme, que de tanto ser lavada tinha virado meio que cor de rosa. Continuou esfregando as mãos nas coxas, mas a situação tinha chegado em um ponto sem volta. A hiperidrose habitual, agravada pelo nervosismo antes de provas para as quais ela nunca se sentia preparada, era agora coroada pelo medo da nova professora de ciências.  Suas ansiedades alinhavam-se em retroalimentação: o medo e a vergonha e o medo da vergonha e a vergonha do medo e o que eu faço eu vou molhar todo o papel e aí a caneta para de funcionar quando o papel fica molhado e se eu tento escrever assim mesmo aí o papel rasga e a professora vai achar que eu fiz de propósito e ela já não gosta de mim e aí vai gritar de novo o que eu faço o que eu faço o que eu faço?

Esfregava as mãos ainda sobre as pernas da calça, que tinham mudado da cor quase de rosa para a cor de quase vinho original e então para a quase cor de sangue coagulado de calça estendida pra secar. Suas palmas não paravam de verter aquele suor gelado que ela via brotar das mãos com o mesmo espanto que via a água brotar do lado de fora do copo com o refrigerante que como pode? tinha sido colocado do lado de dentro do vidro, aquele suor gelado que quando ela escrevia sentada na sala de aula escorria descendo pelo antebraço até pingar do cotovelo feito gotas de uma torneira quebrada, aquele suor que manchava o caderno especial da colega de fivela no cabelo lindo que tinha lhe pedido pra preencher seu questionário cheio de qual sua música favorita? e se você pudesse ser um animal, o que seria? a colega que arrancou o caderno especial das suas mãos quando viu que estavam molhadas e que o papel do caderno especial com desenhos de cavalos com cabelos mais bonitos do que o dela ficou enrugado no segundo em que aquelas mãos o tocaram eca que isso? você estragou a folha por que sua mão está molhada você babou aí? que nojo não te dou mais nada, aquele suor que deixava escorregadia a bola de queimada dona Cida a bola tá toda melada é a mão da Marina que faz isso não dá nem pra segurar a bola sai da quadra Marina vai lavar essa mão vocês continuam meninas vai Marina vai logo lavar essa mão, aquele suor que fez a professora de piano desistir dela sinto muito dona Helena eu sei que a senhora queria muito que a Marina aprendesse a tocar piano mas não tem condições vai acabar estragando meu piano as teclas vão acabar estufando a senhora me desculpe mas não dá, aquele suor que fazia as outras crianças sentarem bem longe dela na igreja quando tinha missa porque eles tinham que dar a mão dizendo a paz de Cristo e as outras crianças colocavam a língua pra fora e limpavam a mão na roupa e faziam uma careta, aquele suor que nesse instante vinha mais forte do que nunca, o que eu faço, o que eu faço, e agora a professora já estava na frente de sala, ajeitando os óculos, o que eu faço?

– Pronto. Podem virar a folha e começar. E silêncio!

A menina tentou pela última vez enxugar as mãos nas pernas, mas nada se seca em um pano molhado. Com as pontas do polegar e do indicador direitos, ela pinçou um dos cantos superiores do sulfite e o virou. Ali, naqueles dois centímetros onde foi tocado, ele iniciou imediatamente sua metamorfose de papel duro branco para tecido macio cinza. Olhou para suas mãos, em uma última tentativa desesperada de as controlar, na esperança de que, se lhes desse toda sua atenção, elas pudessem obedecer à sua ordem mental de parem parem por favor parem por favor. Mas elas continuavam implacáveis e agora pareciam tiradas do oceano, brilhantes e grudentas de sal. Uma gota pingou sobre a prova, e a mancha daquele pequeno círculo começou a se alastrar aos poucos, irradiando como um sol sobre a questão número 4 que mostrava uma ilustração com outro sol, nuvem, rio e mar e que exigia a explicação do ciclo da água.

Uma segunda e então uma terceira gota caíram, de seus olhos, enquanto ela, sem palavras e com soluços, implorava para as mãos abertas à sua frente que parassem por favor por favor.

– Marina! Eu avisei! Fora! 

Levantou os olhos para a professora, mas com as retinas inundadas via apenas uma silhueta com um braço estendido e o dedo apontado na direção da porta. 

– Pode ir! Agora!

A garota se levantou e caminhou devagar. Dera três passos quando se lembrou do lenço no chão. Agachou-se para pegá-lo e o apertou forte, como se agarrasse uma corda que a tiraria dali.

– Fora! Vamos! 

Marina colocou o lenço no bolso. O contato com o tecido seco do lenço por alguns segundos, porém, foi suficiente para que sua mão direita conseguisse segurar com firmeza a caneta acima da cabeça e com um só golpe atravessar sua mão esquerda, colocada sobre a carteira com a palma ainda ensopada para cima, bem no ponto onde os dois lados do M se encontravam. 

O ciclo da água não foi explicado naquele dia.

52 comentários em “Oceano (Giselle Bohn)

  1. iolandinhapinheiro
    13 de dezembro de 2020

    Olá, querida Giselle. Seu conto me deixou angustiada. O problema de Marina e a falta de traquejo da professora criaram um conflito que nos fez vestir a pele da menina. Uma situação muito difícil. Quem nunca passou vergonha por algum motivo na escola? Todo mundo tem um ou vários momentos ruins para se lembrar. A infância é muito cruel para quem não é absolutamente normal. As crianças são ruins, os adultos não querem problemas.

    Eu gostei muito. A sua personagem era tímida e envergonhada demais para reagir contra a opressão da professora. Já vi isso acontecendo várias vezes por outros motivos, comigo mesma, com amigos,parentes.

    Fiquei torcendo que ela reagisse contra a megera mas a Marina acabou ferindo a si própria, talvez na tentativa de “matar” a mão que lhe causava tanta vergonha.

    Acho que o texto estava bem dentro do tema. O emocional daquela garota estava em frangalhos. O mais legal foi você conseguir criar toda essa tensão em um texto tão curto. Parabéns, viu?

    O texto está super bem escrito. Infelizmente não dou nota por não ter participado, mas mando beijos. Tudo de bom para você.

  2. Daniel Reis
    10 de dezembro de 2020

    RESUMO: história de uma menina que sofre de hiperidrose, ou seja, suor excessivo- no caso dela, quase incontrolável – e o perrengue que enfrenta na hora da fazer uma prova na escola, com a perseguição e incompreensão da professora. Ao final, revoltada, acaba se mutilando de raiva.

    IMPRESSÕES: a situação imaginada é bem promissora e interessante, inclusive nos leva a dividir a angústia da protagonista com sua condição, dando ao leitor razões para se identificar com ela. Quem nunca passou por essa situação, mesmo sem hiperidrose? Como reparo, apenas o final da história, a meu ver exagerado na necessidade de “encaixar” uma boa história genérica no tema do desafio. Boa sorte!

  3. Fernando Dias Cyrino
    5 de dezembro de 2020

    Olá, Gabriel, aqui com dó de Marina e sua excessiva sudorese manual. Que coisa, né? Você me traz a história de uma menina com uma questão complexa: sua demais nas mãos e em tempos de maior tensão o suor ainda aumenta mais. Numa prova ela, pressionada pela professora que não percebe seu problema, termina por se mutilar. Gostei muito da sua história. Está muito bem narrada, tudo muito legal e em seu devido lugar. Só fiquei, cá com os meus botões, a me perguntar se aquela automutilação final pode se configurar como loucura mesmo, ou mera raiva? Desespero que estava sentindo pela pressão não só da prova, como também da professora. Parabéns pela sua criatividade e bela história, fica com o meu abraço.

  4. Bruno de Paula
    29 de novembro de 2020

    Conto narra o sofrimento de Marina, uma menina que sofre de hiperhidrose e se sente acuada e incompreendida durante a aplicação de uma prova, o que a leva a uma resolução extrema.

    Olá, Gabriel.

    Gostei bastante do conto. Você utilizou a difícil técnica de misturar a narração em terceira pessoa com os pensamentos da personagem de forma muito eficiente. Notei que essa transição é marcada, em alguns momentos, pela ausência de pontuação quando o texto passa para o fluxo de consciência de pensamentos acelerados de Marina. É um recurso estilístico arriscado, mas do qual gostei muito.

    Porém, em outros momentos, você o abandona. Não sei se foi algo que você deixou passar na revisão ou se foi proposital. De uma forma ou de outra, gera uma inconsistência dentro da própria narração. Destaco os trechos:

    “(…) e ela já não gosta de mim e aí vai gritar de novo o que eu faço o que eu faço o que eu faço?”

    “(…) aquele suor que nesse instante vinha mais forte do que nunca, o que eu faço, o que eu faço, e agora a professora já estava na frente de sala, ajeitando os óculos, o que eu faço?”

    No primeiro, você abandona as vírgulas; no segundo, pontua de forma correta.

    O conto, num primeiro momento, parece não se encaixar perfeitamente no tema do desafio. Só a atitude desesperada dela no final poderia ser visto como “loucura”. Mas, bom, não precisa ser louco para tomar uma atitude desesperada.

    Porém, da maneira que interpretei, o conto inteiro se passa através dos olhos da menina, que, louca num acesso incontrolável de angústia e ansiedade vê tudo distorcido. A descrição exagerada da hiperhidrose já é um sinal disso. Mas também a professora quase caricata em sua incompreensão e mesmo as lembranças dela das reações das outras crianças em eventos passados, tudo parece ser visto por uma ótica de desespero infantil, de alguém que está perdendo a cabeça. Visto por essa perspectiva, o conto mais do que se enquadra no tema proposto.

    Foram poucos os pontos que não gostei: a informação precisa da idade da professora pareceu despropositada; a já citada inconsistência na pontuação; a metáfora ” irradiando como um sol” num contexto em que a gota de suor faz justamente o contrário.

    Também me incomodei um pouco com a frase que fecha o conto. Consigo entender que ela tem dupla função: a explícita, de fazer uma conexão com a questão que o suor da Marina estragou; e uma mais sutil, sobre o ciclo da água no corpo da menina que jamais seria compreendido por ela. É uma sacada inteligente, uma boa analogia. Mas a frase simplesmente parece desconexa do parágrafo anterior, pareceu demais que você quis criar uma frase de efeito e isso me tirou um pouco do texto logo após seu momento de maior impacto.

    Mas ressalto que os aspectos positivos se sobressaem, e muito, aos negativos. Foi uma ótima leitura. Você tem domínio narrativo e escolheu uma abordagem sutil e ao mesmo tempo angustiante do tema proposto. Pensar fora da caixa é sempre bem vindo.

    Parabéns pelo texto. Abraço.

  5. Amanda Gomez
    25 de novembro de 2020

    Resumo📝 Menina em sala de aula passa por uma situação angustiante. Sua mão soa demais e ela não sabe lidar com isso nem tem a compressão de ninguém. A professora infeliz deixa tudo ainda pior.
    Gostei 😃👍Olha, temos que louvar aqui a destreza do autor em narrar essa história com tanta precisão. As descrições estão perfeitas, a tensão, a agonia o nervoso da menina passa pro leitor em uma profundidade impressionante. Me vi até esfregando minha mão na roupa enquanto lia. A raiva da professora também é palpável, como pode ser tão ordinária? Um conto muito interessante carregado de emoções. O final né deixou apreensiva, não sei se realmente entendi. Ela se machucou? Não sei se é possível fazer isso com a própria mão. Sei lá, deve ser loucura mesmo. Parabéns pelo texto!
    Não gostei 😐👎A cena final foi abrupta, não estava esperando e não sei se entendi de fato.
    O conto em emoji : ✍️😥👩🏻‍🏫

  6. Jorge Santos
    21 de novembro de 2020

    Olá Gabriel. Não creio ter compreendido completamente o seu conto, especialmente o final.
    Mas vamos por partes.
    Este conto narra a história de uma menina que sofre de uma doença que a faz suar em excesso. Mas isso é apenas um sintoma do seu verdadeiro problema: ela sofre de ansiedade. Como tal, tem dificuldade em lidar com situações stressantes como um simples teste. O conto é apenas isso: a história de um teste feito por uma menina com hiperidrose. No final do conto, ela espeta a caneta na mão para impedir que esta trema.
    O tema está bem patente, se bem que a patologia descrita não se enquadre no que se designa habitualmente por “loucura”, que pressupõe uma desconexão da realidade. Em termos linguísticos, nada assinalar.

  7. Amana
    19 de novembro de 2020

    Obs.: A nota final não se dará simplesmente pela soma da pontuação dos critérios estabelecidos aqui.
    Resumo: Garota com hiperidrose é impedida pela professora (a louca da história, na minha opinião) de usar o lenço para secar o suor da mão.
    Parágrafo inicial (1/2): Poderia ser melhor. É um pouco formal demais, não sei se essa é a palavra. A impressão que dá é que ao escrever esse parágrafo inicial você não tinha se dado conta ainda do contraste que daria com o
    Desenvolvimento (1,5/2): Já do desenvolvimento eu gostei bastante. E ser em terceira pessoa foi um diferencial, em meio a tantos textos em primeira pessoa. E foi uma boa condução, criou bastante expectativa, fiquei pensando o que é que iria acontecer, afinal? Quanto ao último parágrafo, realmente não sei dizer que ficou bom ali. Entendi que foi para quebrar a expectativa do leitor, mas após o penúltimo parágrafo, em que houve aquele ato extremo. Talvez a parte “Bem no ponto onde os dois lados do M se encontravam” funcionaria melhor como final impactante.
    Personagens (2/2): Gostei, me afligi pela Marina e detestei aquela professora, pra mim a louca é ela. Foram bem definidas as personalidades das duas.
    Revisão (1/1): Não notei nada demais. Se houve erros, foram tão poucos, ou a narração me “distraiu” bastante nesse sentido, rs.
    Gosto (3/3): Gostei bastante do conto, apesar do ato extremo foi uma história bem dosada, aparentemente uma ideia simples que pra mim funcionou bastante. Parabéns.

  8. Fil Felix
    16 de novembro de 2020

    Boa noite!

    Marina sofre de um problema que a faz suar muito. E o nervosismo só aumenta isso. No dia de uma prova, acaba tomando atitudes drásticas na tentativa de lidar com a professora e o seu suor (perfurando a mão).

    O conto possui uma narrativa muito boa e uma identidade visual também excelente, daqueles que podem marcar. Toda a problemática do suor é levada aos extremos, vemos a sala inteira ser inundada. Podemos construir algumas metáforas, como o fato dela apunhalar a mão (que possuem as linhas do destino) na tentativa de definir o seu próprio. O conto também traz uma sequência de “fluxo de pensamento”, algo que foi bastante utilizado no desafio, que acabou ajudante o leitor a entrar na mente de Marina, lotada de pensamentos ansiosos. Todo esse descritivo do conto, a maneira como ele foi se desenvolvendo, merece destaque. Um porém é em relação ao tema, senti que houve a questão da ansiedade e até mesmo de um distúrbio, podemos dizer, em relação ao exagero. Quase um surto. Uma loucura leve. Mas muito bom.

  9. Marco Aurélio Saraiva
    11 de novembro de 2020

    Resumo: Marina está cansada da mão esquerda que não pára de suar e, com uma professora nem um pouco atenciosa, acaba sofrendo muito com isso, especialmente quando nervosa durante uma prova. Em uma ação desesperada, ataca a si mesma com uma caneta, tentando parar o fluxo infinito de suor.
    Gostei da ideia e do tema. É bem diferente de tudo o que li. Faz o leitor pensar se o suor era construto da mente dela ou se era real. O conto sugere a segunda opção, trazendo lembranças de professores de piano e de aulas frustrantes de educação física, além de constrangimentos na igreja. A cena final é inesperada e traz um fechamento abrupto e interessante ao conto. Senti como se tivesse acabado de ler o nascimento de uma louca – ao menos, para todos à sua volta.
    Nisto o conto diz muito. Ninguém consegue empatizar com Marina e, por isso, ninguém nunca entenderá por quê ela perfurou a própria mão. Apenas ela entendia aquele ato desesperado – para ela, não era loucura. De certa forma, então, o louco muitas vezes é senão alguém que vê o que mais ninguém vê, ou que se incomoda com algo que todos acham normal. Muito interessante.
    O conto é bem escrito no início e no fim mas, no meio, aquele parágrafo foi sofrível. Entendi que você, como escritor, tentou emprestar um ritmo frenético, fazer o leitor sentir a angústia de Marina… mas por favor, VÍRGULAS! Foi terrível ler aquele monte de palavras emboladas umas nas outras, sem distinguir fala, descrição, diálogo, pensamento… caramba! E tenho certeza que foi de propósito, quase como um experimento, por quê o resto do conto não está escrito desta forma. Venho por meio deste comentário informar então que, ao menos para mim, o experimento não funcionou! rs rs rs
    Ainda assim, este defeito não foi o suficiente para tirar o brilho do conto e o peso da leitura. Curti!!

  10. Josemar Ferreira
    10 de novembro de 2020

    Olá, Gabriel!
    A garota vai realizar uma prova e o seu “nervosismo” se esvai por suas mãos através do suor. Gostei da problemática que se acentua com a posição truculenta da professora. Acho que a realidade da menina reflete muitas outras realidades em que ao invés de acolhimento, a postura do professor é de mais repressão diante do que o outro sente por meio de suas limitações. Não gostei muito do final, quando o sangue transborda toda a cena.
    No mais, gostei da construção das imagens e de como foram conduzidas no enredo.
    Boa sorte no desafio.

  11. Fabio D'Oliveira
    10 de novembro de 2020

    Buenas!
    Gabriel, que agonia, fiote! Acompanhar esse momento de Marina, de pura ansiedade, foi uma experiência surreal. Desde o momento de distribuição das provas, com a professora pouco se importando com o problema da menina, até o momento em que a prova está prestes a começar e, sabendo que iria estragar a prova, tudo piora. Lidei o final com tristeza. A falta de compreensão da professora, que deveria ser a pessoa mais indicada para ajudar a menina, é estarrecedor e tão verdadeiro, real, sabe? O que mais encontramos nesse mundo é isso: egoísmo.
    Não preciso falar nada do enredo. Conseguiu entregar o que queria, sem grandes pretensões, mas passando uma mensagem importante. Foi tudo bem conciso e realista.
    Você certamente sabe o que está fazendo, mas o maior destaque desse conto é a técnica utilizada para incomodar o leitor. Quando a situação começa a piorar e Marina entra em surto, você adota frases longas, com repetições de pensamento, meio obsessivos, exatamente para causar estranhamento e até gerar ansiedade no leitor. Ao mesmo tempo, você aborda alguns acontecimentos passados, onde a menina foi tratada de forma semelhante. Sem ajuda, ela afunda cada vez mais em suas ânsias, deixando-as tomar conta. Não digo que foi experimental, mas se aproximou disso. E deu certo, provavelmente pela sua perícia como escritor.
    Única coisa que me incomodou foi como você inseriu o problema da menina, um tanto explicativo demais, sem harmonizar com a naturalidade do restante do conto. Não se encaixou perfeitamente, sabe? Uma sugestão, que facilitaria sua vida, é colocar algumas informações via diálogo. A professora, sendo nova e insensível, poderia questionar o motivo dela suar tanto, um colega poderia responder, falando o problema com nome errado e dando risada em seguida, com Marina corrigindo o nome. É dinâmico e fácil de fazer. A ansiedade e o nervosismo nem precisavam ser mencionados, pois fica claro que ela sofre disso no decorrer do conto.
    Não subestime o leitor, Gabriel!
    Agora, sobre o tema, eu vejo uma loucura sutil, mas não é algo forte, sabe? Achei o conto frágil nesse quesito. A crise de ansiedade é um problema psicológico, mas podemos considerá-la uma loucura? Talvez considerá-la seja uma banalização do que seria a loucura… Não sei.
    Enfim, você fez um ótimo trabalho! Meio experimental, bem executado, tratando com sensibilidade de um problema importante. Parabéns!

  12. Andre Brizola
    9 de novembro de 2020

    Olá, Gabriel.

    Garota sofre com hiperidrose e, em um dia de prova, não consegue controlar todos os sentimentos causados pela professora intolerante. Levada ao extremo, em um momento de descontrole, acaba se apunhalando com uma caneta.

    Li esse conto assim que foi publicado, mas apenas hoje estou aqui escrevendo os comentários. Mas ele ficou na minha cabeça desde aquela primeira leitura. Ele é cativante e Marina, dentro de suas limitações, é muito carismática. Foi impossível não simpatizar com a garota. Dona de um problema razoavelmente simples, físico, mas que a leva a outro bem mais complexo, mental.

    O conto é construído de forma praticamente perfeita. Premissa lançada logo de cara, já conhecemos a heroína e sua antagonista, a professora intolerante. Então temos o background de Marina, exposto em forma de uma enxurrada (!) de pensamentos, medos, vergonhas, até voltarmos ao embate final, em que Marina perde o controle. Muito bem composto, ritmo adequado e arremate no auge da narração, sem tempo para que o leitor relaxe. Gostei bastante!

    É isso, boa sorte no desafio!

  13. Jowilton Amaral da Costa
    9 de novembro de 2020

    O conto narra a história de Marina uma menina que sofre de hiperidrose e que se desespera na sala de aula no dia da prova de ciências.

    O conto é muito bom, chega a ser claustrofóbico em alguns momentos, e a narrativa ajudou neste sentimento de aperto. Fiquei pensando porque Marina não fez a operação para se curar da doença. Uma menina que pode ter aulas de piano particular provavelmente poderia pagar uma cirurgia, mas, enfim, só um detalhe. Vi no texto muita ansiedade, angustia, mas pouco de loucura, a não ser a ação tresloucada de Marina, no final da história, trespassando a mão com a caneta. Boa sorte no desafio.

  14. Anna
    8 de novembro de 2020

    Resumo : Uma garota sofre de hiperidrose e em situações de pressão e ansiedade esse problema se agrava. A garota simplesmente não consegue realizar a prova pelo suor excessivo em suas mãos e fica se lembrando de cada momento que sua diferença dos demais lhe causou problemas e tristeza. No final do conto a garota é mandada para a diretoria e fere a própria mãos com uma caneta, como se a dor física fosse apagar sua dor emocional, como se seu sangue fosse uma forma de protesto.
    Comentário : O conto é excelente, consegui enxergar todas as cenas descritas.O sofrimento da garota é cortante e leva o leitor a refletir : Será que estou respeitando os diferentes ou excluindo ?

  15. Ana Maria Monteiro
    7 de novembro de 2020

    Resumo: Em dia de prova escrita, Marina, uma menina que sofre de hiperidrose extrema, após ser obrigada a uma situação de grande tensão, sofre um surto psicótico.

    Comentário:

    Olá, Gabriel. O seu conto está muito bem estruturado e ele transporta o leitor numa espiral de tensão, que se vai instalando e permite quase vivenciar a situação. Os pensamentos angustiantes da jovem permitem uma mais completa imersão nesse crescendo emocional. É um conto muito visual e em que nada sobra.
    O facto de que tudo é exagerado neste conto passa quase despercebido e consegue-se ler tudo sem a sensação de incómodo que normalmente provoca o inverosímil. Vejamos: é praticamente impossível que uma professora seja tão desalmada, a hiperidrose, mesmo grave, não alaga de tal forma tudo quanto a pessoa toca. Entretanto, esse agigantamento, em lugar de retirar verosimilhança ao conto, antes a justifica, é aí que reside a loucura. A menina tem um surto no final, mas esse surto não nasce subitamente ali, vem do estrago emocional provocado por anos de vivência da situação. E quando o desgaste leva ao rebentamento das comportas, o surto é uma reação natural que muitas vezes perdura, não voltando a pessoa a recuperar a sanidade mental.
    Do meu ponto de vista, Marina já estava muito próxima dessa situação ainda antes de entrar na sala de aula e a ansiedade e antecipação de prestar provas, deve ter começado a cavar terreno muito antes de entrar na sala de aula, momento em que já estaria próxima dos limites.
    Não estive atenta à gramática e ortografia, mas também nada me saltou à vista nesse domínio.
    Apenas um reparo: a frase final é impactante, mas não se relaciona com o conto, retirando-lhe até algum valor.
    Parabéns pela coragem de enviar o seu conto logo no início, quando ainda nenhum estava publicado, só isso já e merecedor de considerável respeito, o restante, você se encarregou de o criar. Parabéns e boa sorte no desafio.

    • Gabriel
      10 de novembro de 2020

      Olá, Anna!
      Muito obrigado pela leitura atenta e pelo comentário! Queria apenas abordar sua crítica sobre a frase final, porque várias pessoas, como você, não compreenderam a razão dela estar ali, talvez por uma desatenção. A frase que encerra o conto – “O ciclo da água não foi explicado naquele dia” dialoga com o seguinte trecho do conto:

      “Uma gota pingou sobre a prova, e a mancha daquele pequeno círculo começou a se alastrar aos poucos, irradiando como um sol sobre a questão número 4 que mostrava uma ilustração com outro sol, nuvem, rio e mar e que exigia a explicação do ciclo da água.”

      A intenção foi deixar implícito que o evento paralisou a rotina da classe. Por algum motivo, essa relação entre as duas frases passou despercebida para muitos leitores, e sinto que isso irá me prejudicar. Mas, se for o caso, fica a lição pra mim: deixe as coisas mais claras!

      Obrigado mais uma vez!

      • Gabriel
        10 de novembro de 2020

        Ops, digitei seu nome errado, Ana! Perdão!

  16. Gabriela
    6 de novembro de 2020

    Resumo: é um texto rápido e interessante. Traz curiosidade e prende o leitor. Gostei das descrições, são muito bem feitas, mostra conhecimento sobre o que está falando e usa uma boa linguagem. Optou pela simplicidade e fez um belo texto. Parabéns!

  17. Misael Pulhes
    6 de novembro de 2020

    Olá, “Gabriel Moreira”

    Resumo: uma estudante irritada com seu suor excessivo é levada a uma situação-limite por sua professora durante uma prova

    Comentários: no geral, eu gostei. Tem alguma técnica do fluxo de consciência, e consegue criar uma tensão crescente. Mas há muitos errinhos gramaticais. Narrativamente, é uma historinha legal, eu gosto de “situações-limite”, mas o final parece, por mais que impactante, um pouco forçado, disparatado.

    Mas tem, no mínimo, potencial. Boa sorte!!

    • Misael Pulhes
      15 de dezembro de 2020

      Retificação NECESSÁRIA de um trecho bem injustificável do comentário acima: “Mas há muitos errinhos gramaticais”? Eu devia estar lendo outra coisa quando vim aqui comentar. Reli e não encontrei um sequer. Perdão, “autora” (que eu já sei quem é, né…)!!

  18. Leandro Rodrigues dos Santos
    5 de novembro de 2020

    Garota aflita, com hiperidrose momentos antes da prova;

    Tecnicamente apresenta muitas falhas de pontuação, colocação pronominal e conjugação verbal.

    Sobre o conteúdo, dá pra ir acumulando a aflição da personagem e sua crescente raiva consigo. É algo bom do texto: a transfiguração de lugar, leitor no lugar do personagem. O texto se arrasta em repetições de cenas, isso tira a vontade da leitura.

  19. Paula Giannini
    3 de novembro de 2020

    Olá Contista,

    Tudo bem?

    Resumo: Menina atormentada por sua hiperhidrose toma atitude extrema ao ser colocada em situação de grande tensão.

    Minhas Impressões:

    Um texto excelente que eu adoraria ter escrito. Há momentos nos quais as construções frasais de fluxo de pensamento da personagem protagonista tocam a perfeição. O modo como o que há na cena e o que se desenrola no interior da personagem são expostos tem um quê de literatura contemporânea sem que o(a) autor(a) ultrapasse a perigosa fronteira do experimentalismo.

    A trama simples é um trunfo, a empatia é certeira e, mesmo quem não sofre do mesmo mal que a protagonista (se é que se pode dizer da hiperhidrose um mal), identifica-se com as situações em sala de aula, as de bullying, as de incompreensão de alguém que deveria, na verdade, apoiar a menina.

    O conto traz a impressão de literatura para jovens, e nesse sentido funcionará perfeitamente, no entanto, a leitura para públicos de qualquer faixa etária surtirá igual efeito.

    Interessante notar também a sutileza de um título muito bem escolhido.

    Se eu puder aqui deixar alguma sugestão seria a do súbito desfecho, um pouquinho abrupto para esta leitora aqui, nada porém, que não possa ser corrigido, se o(a) escritor(a) assim o desejar. Talvez isso tenha ocorrido pelo limite de palavras no desafio.

    Lembrando sempre que aqui estamos todos para aprender, peço que desconsidere minha opiniões caso não tenham sido certeiras para sua criação.

    Parabéns!

    Beijos e boa sorte no desafio.

    Paula Giannini

  20. Lara
    3 de novembro de 2020

    Resumo : Marina sofre de hiperidrose e essa piora em situações de estresse, ela é excluída e julgada por todos, até pela professora que não apresenta compaixão por seu problema, Marina acaba por alagar a prova de suor e ser chamada para a diretoria, ela acaba ferindo a própria mão com uma caneta , como se quisesse apagar com a dor física sua dor emocional, essa atitude foi feita em um momento de loucura.
    Comentário : Texto muito bem escrito, realmente viajei nas emoções de Marina e na dor que ela sentia de ser diferente, mas não pude deixar de pensar que tudo estaria resolvido se ela tivesse levado uma toalha, mas talvez a professora não permitisse o uso da toalha.

  21. Elisa Ribeiro
    31 de outubro de 2020

    Menina que sofre de hiperhidrose é assediada pela professora durante uma prova e termina por cometer um ato extremo.

    Um bom conto, eficaz na abordagem do tema. A narrativa é muito bem tensionada e a linguagem me pareceu bem eficiente na representação da espiral de ansiedade da menina, embora alternando momentos muito inspirados com outros não tanto.

    O que não gostei: achei um pouco excessiva a representação da professora assediadora e o final abrupto, embora impactante, também me soou exagerado. Explicando melhor, o efeito estético desse exagero, que para o meu gosto resvalou para o grotesco, apagou a empatia que eu havia construído pela personagem. Acredito que tenha sido intencional, mas para mim, careceu de sutileza.

    O que gostei: (muito!) da forma como o pensamento aflitivo da garota foi representado. Achei eletrizante e senti uma pontinha de inveja, o que é muito positivo.

    Parabéns pela participação e pelo ótimo conto.

  22. Fabio Monteiro
    29 de outubro de 2020

    Resumo: Tensão no momento da prova. As glândulas sudoríparas desta garota devem estar pedindo socorro. Desidrata de ver tanto suor.

    Pobre garota. Ja tive as muitas sensações descritas neste texto. Suor nas mãos, ansiedade, medo de sentir vergonha, vergonha por sentir vergonha. Amei essa parte.
    E essa professora maldita?
    Também já tive uma peste destas na minha vida.

    Texto maravilhoso e rico em detalhes. Suei enquanto o lia. Estou suando enquanto o descrevo…
    A sensação é ruim. A pior parte deve ser não poder usar o único recurso que ela tinha (o lenço). Este já sem eficácia.

    O titulo não tem nada e ao mesmo tempo tudo haver. Achei que fosse ler uma historia sobre afogamento ou algo parecido. Gosto destes cenários duvidosos.

    Parabéns. Boa Sorte.

  23. Bianca Cidreira Cammarota
    28 de outubro de 2020

    Oi, Gabriel!

    O conto relata a agoniante desventura de Marina, uma menina que sofre de um desajuste em suas glândulas sudoríparas, especialmente nas mãos. Essa situação é recorrente em sua vida, agravada em momentos de estresse, ligados diretamente, ao meu ver, com a perspectiva da protagonista em ser aceita, seja por um colega de classe, seja em uma prova. Também é explicitado a insegurança dela consigo mesma e com o mundo, sua solidão e incompreensão sobre si mesma.
    A história decorre da descrição da psiquê da personagem, da voracidade e incompreensão da professora, desbancando na expulsão da menina apenas porque ela tinha um lenço de papel para enxugar o seu suor.
    Há traços de realidade fantástica, alguns respingos, que dão um tempero interessante a uma situação dita concreta.

    A sensação que tive ao ler o texto é que foi uma experiência pessoal do autor(a) ou, talvez a de outrem próximo, ou, ainda, uma versão adaptada à ficção de situação de estresse do autor(a) em sua infância. Essa percepção desperta em mim um respeito maior pelo texto, já que, salvo engano, é uma autobiografia.

    Compreendi a agonia da protagonista e tive ímpetos de ter empatia pela mesma. Mas talvez a escrita formal e palavras mais rebuscadas para descrever o desespero em uma criança talvez tenha sido incompatível, pois tentamos entrar no universo infantil com palavras eruditas e adultas.

    Há trechos onde utiliza-se a técnica de falta de pontuação consciente para descrever um fluxo continuado de pensamentos, para que entremos na rapidez, no desespero e mundo interno da criança, mas, em mim, não funcionou. Particularmente, prefiro outras formas de chamar o leitor para o mundo interno da personagem. Digo em mim, pois não li os outros comentários e possa ser alguma reação própria minha.

    Adoro histórias onde viajamos no psicológico da personagem. Adoro descrições internas e longas, que hajam como um fio de Ariadne, até chegar no âmago. Justamente por isso, estou expondo com maiores detalhes o que senti.
    Lerei novamente o texto, mas sinto que a história é boa, interessante, e que faltou só um toque mais empático para nos levar (ou melhor, me levar) ao interior de Marina e viajar com ela no seu Oceano.

    Elogio aqui a escrita cuidadosa. Reflete uma pessoa erudita.

    Abraços!

    • Bianca Cidreira Cammarota
      28 de outubro de 2020

      Peço desculpas pelos erros de ortografia, os quais percebi na releitura do comentário. Não havia revisado antes de publicar.

  24. Rubem Cabral
    28 de outubro de 2020

    Olá, Gabriel.

    Resumo da história: acompanhamos Marina durante uma prova. A menina sofre de um distúrbio que a faz suar nas mãos abundantemente, coisa que piora com o nervosismo, num processo de retroalimentação. Depois de muito sofrer com a professora que ignorava suas dificuldades, num ato de loucura e/ou vingança, Marina fere uma mão com uma caneta.

    Avaliação do conto: é um conto muito bem escrito e com um crescente de ansiedade com a situação da menina. Foram criativas também as inserções de pensamentos na narração, o que causou um efeito de partilha/empatia com a protagonista. O final foi uma conclusão benfeita de tudo o que foi contado até então: muito bom!

    Boa sorte no desafio!

    Abraços.

  25. Alexandre Coslei (@Alex_Coslei)
    26 de outubro de 2020

    A história nos remete a uma menina que sofre de suadouros nas mãos e é oprimida por uma professora que interpreta erroneamente o seu problema, gerando um conflito psicológico que explode num desfecho impactante.

    Adorei a ideia do conto. Até aqui, me pareceu a mais criativa e mais motivadora do tema desta disputa. A contraposição entre a menina que sua descontroladamente e a professora que a reprime com absoluta insensibilidade é conduzido com grande habilidade. O primeiro parágrafo do conto começa do jeito que eu gosto, como “abertura de ópera”, como costumo definir. O primeiro parágrafo nos pega de jeito. No decorrer da narrativa, considerei alguns parágrafos longos demais, poderiam talvez ter sido quebrados na tentativa de manter a tensão de forma mais eficiente. Sempre me parece que contos que envolvem suspense ou terror não devem ser desenhados em parágrafos longos. São os parágrafos curtos ou médios que carregam o ritmo, a batida, a tensão ou o medo.

    Confesso que no desfecho fiquei com o sentimento de que o autor pesou a mão. De uma ideia tão boa, o final poderia ter sido mais elaborado, menos preguiçoso.

    Gostei muito do conto como um todo, a ideia foi brilhante. Foi um prazer fazer a leitura.

    Sorte e sucesso.

  26. José Leonardo
    24 de outubro de 2020

    Olá, autor.

    RESUMO:
    A estudante Marina, que sofre de hiperidrose habitualmente, além de não conseguir fazer sua prova é acossada por uma docente que deve ser discípula dos métodos arcaicos é hitlerosa ou então cria da Sra. Trunchbull. Como Marina não é Matilda, não consegue se desvencilhar dessa situação e acaba praticando um sepukku de mão, ou melhor, um quase homãocídio.

    COMENTÁRIO:
    É um conto praticamente redondo, e não sei por que cargas d’água me lembrei do estado do Ceará (acho que por causa da escrita, que me lembrou a caprichada Vanda Phaelante, pernambucana). A técnica de despontuar e desembestar a narrativa como se fosse um trilho de robôs-macacos falantes que aceleram cada vez mais em direção à parede da montanha é interessante, aqui. Faz-nos entrar na cabeça dessa mocinha que, além de hiperidrose, me pareceu perfeccionista e com arroubos nervosos. Aconselho, somente, usar em doses, pois pode cansar o leitor ou mesmo afastá-lo, caso não decida se entregar a essa viagem no interior da mente de Marina.

    É um daqueles que poderia ser conto-esquete, filmado por David Lynch ou Ari Aster, curto, certeiro, sem excessos.

    O último parágrafo foi anticlimático, mas não sei se me explico no exato sentido disso. Imaginemos uma grande estátua de Lênin, com seu corpo gigantesco e tentáculosao redor da boca, construída na Rússia de um planeta estranho do multiverso, mas algum engracadinho, após ver o monumento imponente, resolve decepar a mão do ilustre morto (e não apenas furá-la). Ocorre que as autoridades, para punir o engraçadinho e consertar a estátua, cortam o pé dele e colam onde havia uma mão. No outro braço se veem garras, pois Ctulhu é Ctulhu onde quer que seja. De qualquer forma, como não entendo todos os contos do mundo como se fosse meteoros, acreditando, portanto, que o impacto no leitor depende da proposta narrativa e seu desenvolvimento, isso não me incomodou.

    Entendido. Não? Tudo bem.

    Quanto à adequação ao tema, a loucura aqui tangenciou bastante, mas bastante mesmo, a ponto de me questionar se há sinais alceu-valêncicos dela por aqui. Creio que não, mas isso é opinião, não certeza, não martelo dos deuses. Hiperidrose e quase homãocídio não combinariam com algo que adentrasse o espectro.

    Mas é um texto muito bom e desejo boa sorte neste desafio.

  27. Regina Ruth Rincon Caires
    23 de outubro de 2020

    Oceano (Gabriel Moreira)

    Resumo:

    A história da aluna Marina, relato de um “surto” em sala de aula, narrativa lindamente construída no meio de uma prova aplicada por uma professora totalmente “nonsense”.

    Comentário:

    Um conto impactante, daqueles que arrebatam o leitor e grudam na memória. O autor domina toda e qualquer técnica de desenvolvimento de uma narrativa, vai direto ao ponto. O texto é denso, a expectativa é carregada em cada palavra adicionada ao narrar. Nada sobra, não há qualquer coisa escrita que possa ser retirada, tudo forma uma única ideia. A maneira de contar, a pontuação, os detalhes primorosamente descritos, tudo nos coloca dentro da sala de aula. Posso enxergar, pormenorizadamente, a professora. E, confesso, sentimentos primitivos me tomam!

    É, isso é o encanto provocado pela arte da escrita. Gabriel Moreira (que é Gabriela Moreira), eu estou prazerosamente arrebatada, fisgada pela lindeza do seu texto…

    Agora, acredito que, numa avaliação mais exigente (daquelas que procuram pelo em ovo), haverá quem não considere o texto integralmente encaixado no tema do desafio (LOUCURA). Poderá dizer que é apenas um surto, que não retrata loucura, que isso é resultante de “stress”. Sei lá… Fico matutando na loucura da vida, na loucura do julgamento, na loucura das atitudes dos “normais”. Quem é mais louco nesta história? Que loucura é a incompreensão dos “lúcidos”, né não?!

    Parabéns, Gabriel(a) Moreira! Seu texto é “FELOMENAL”!

    Boa sorte no desafio!

    Abraços…

  28. Rafael Penha
    22 de outubro de 2020

    RESUMO: Menina com problemas sudoríparos e pressionada, começa a enlouquecer na ânsia de controlar seu corpo durante uma prova dificil na escola.

    COMENTÁRIO: Um excelente conto! Poucos autores tem a ousadia e perspicácia de explorar a loucura na pele de uma criança e o autor aqui o faz com sutileza e perfeição.

    Nos identificamos com a protagonista não por sua personalidade mas por pena de suas dificuldades. O texto foi sagaz ao antagonizar e exibir a professora como uma antagonista cruel e colocar a protagonista numa espiral crescente de loucura em poucos minutos.

    Creio que o autor abusa um pouco da rima narrativa de repetir palavras aumentando sua intensidade na mesma frase, o que me incomodou um pouco, mas não chegou a perder a mão.

    A visão de criança é perfeitamente sentida e nos colocamos fielmente na pele da menina que tem um problema que aos olhos infantis realmente pode soar como uma verdadeira maldição.

    A loucura aqui não é um processo lento e torturante, é algo mais momentâneo e catártico, e mesmo assim, não falta aprofundamento, desenvolvimento e, uma das coisas que mais aprecio numa boa história: verossimilhança!

    Rápido, direto, bem escrito, bem desenvolvido e localizado, uma história empolgante e um final bombástico, em suma, adorei o conto!

  29. Jefferson Lemos
    22 de outubro de 2020

    Resumo: A história que muitas pessoas vivem no dia-a-dia, mas não percebemos. A loucura de forma sutil que é engatilhada de maneira devastadora. Uma menina em uma sala, ela tem problemas e o mais novo deles é a professora de ciências. Vergonha, uma prova e a falta de cuidados resolvidos de maneira catastrófica.

    Olá, caro autor.

    Gostei muito do que você fez aqui. A construção da narrativa, da ambientação e até mesmo da condição mental da personagem foram muito bem transpassadas, inclusive no texto quando assumiu o fluxo de pensamentos dela. Confesso que fui chegando nas últimas linhas e me decepcionando porque vi que o conto estava acabando, e ainda não tinha apresentado muita coisa, mas você conseguiu fechar a história muito bem com a reviravolta final.
    Não foi uma história muito aprofundada, mas esse recorte nos deu um lampejo da loucura em sua forma mais comum: a cotidiana. A loucura que faz parte do ser humano, que está sempre escondida em alguma parte escura de nós, e que vem à tona quando sentimos o colapso.
    Uma boa trama, bem escrito e com um final bem surpreendente. Gostei do que fez aqui!
    Boa sorte no desafio e parabéns pelo conto!

  30. Fheluany Nogueira
    22 de outubro de 2020

    Professora desconfia de que menina esteja colando na prova; mas ela sofre de hiperidrose e apenas quer secar as mãos. Ela se lembra de outros momentos em que é maltratada por causa do problema e quando a professora a expulsa, acaba por se ferir.

    História crível que remete ao cotidiano de uma sala-de-aula, apesar de que nenhum outro aluno tenha aparecido em cena. O tema está bem explorado pois a violência contra si mesmo acontece quando foge do controle lidar com a situação vivida, um meio de extravasar a carga emocional contida.

    A narrativa se enriquece com a alteração de pontuação e ponto de vista no trecho de fluxo de consciência da protagonista. Estilo e assunto se fundem.

    O título e a imagem são bastante sugestivos e remetem à frase final.

    Boa sorte no desafio. Abraço.

  31. antoniosbatista
    22 de outubro de 2020

    Resumo: Na sala de aula, num dia de prova, uma das alunas, que sofre de suores excessivos, fica angustiada quando suas mãos ficam molhadas de suor e ela não consegue escrever. Quando a professor a expulsa da sala, ela pega a caneta e fura a palma da mão.

    Comentário: Achei um conto bem original, bem escrito, com frases bem construídas e lógicas, compreensivas. O conto reflete a realidade de algumas crianças que sofrem de algum tipo de distúrbio tanto físico quanto mental. Achei um bom argumento, com início meio e fim perfeitos. O final contundente, impressiona e remete ao tema, Loucura.

  32. Luciana Merley
    22 de outubro de 2020

    OCEANO

    Olá, autor.
    Farei um resumo e em seguida deixarei minhas impressões conforme os critérios CRI (Coesão, Ritmo e Impacto). O impacto é, na maioria das vezes, o critério definidor da nota final.

    Marina é uma garota com hiperhidrose que está na escola, diante de uma prova, sendo aplicada pela intolerante professora de ciências. O conto relata os momentos de angústia crescente diante da condição de suor incontrolável, misturada com as lembranças de todas os seus constrangimentos diários, até que ela comete um ato de loucura quando a professora a manda para a sala da diretora.

    Coesão – O conto é muito bom exatamente por destrinchar o turbilhão de sentimentos daquela menina sem se desviar do foco. A angústia crescente seria esse sentimento, e todos as outras lembranças e sensações descritas, vem para corroborar isso.

    Ritmo – O ritmo da escrita foi muito bem adequado ao sentimento do conto, ou seja, repito, de angústia crescente, a ponto de o leitor também esfregar as mãos no intuito de que aquilo passasse logo. As sequências sem vírgula foram muito bem utilizadas para isso, para gerar o desconforto da falta de ar de quando se está muito nervoso por alguma situação.

    Impacto – Me senti bastante impactada e me lembrei de quando passava por situações constrangedoras na escola. Foram muitas. É exatamente isso. Um texto é poderoso quando consegue estabelecer conexões profundas com o leitor. E todos temos nossos “suores”.

    Sugestões – De acordo com o grau de experiência do leitor, alguns trechos pareceram mais explicativos do que o necessário, por ex: “se aberto, não resistiria àquele suadouro todo e se tornaria inútil”. Acredito que você poderia ter descrito com mais minúcia a forma como ela dobrava o lenço de modo que o leitor perceba a intenção de torna-lo mais adequado às situações de sudorese intensa.
    Por fim, a última frase é totalmente dispensável. Ela contém uma informação óbvia e tem o poder de matar toda a excelente impressão que o leitor constrói durante a leitura.

    Parabéns pelo excelente texto.

    • Gabriel
      10 de novembro de 2020

      Olá!

      Olá!
      Muito obrigado pela leitura atenta e pelo comentário! Queria apenas abordar sua crítica sobre a frase final, porque várias pessoas, como você, não compreenderam a razão dela estar ali, talvez por uma breve desatenção. Não sei se foi esse o motivo da sua crítica, ou se outra coisa, mas achei melhor esclarecer. A frase que encerra o conto – “O ciclo da água não foi explicado naquele dia” dialoga com o seguinte trecho:

      “Uma gota pingou sobre a prova, e a mancha daquele pequeno círculo começou a se alastrar aos poucos, irradiando como um sol sobre a questão número 4 que mostrava uma ilustração com outro sol, nuvem, rio e mar e que exigia a explicação do ciclo da água.”

      A intenção foi deixar implícito que o evento com Marina encerrou o dia para os demais alunos; foi uma maneira de trazê-los para o conto. Por algum motivo, essa relação entre as duas frases passou despercebida para muitos leitores, e sinto que isso irá me prejudicar. Mas, se for o caso, fica a lição pra mim: deixe as coisas mais claras!

      Quanto ao lenço, achei que a forma como ela usava o lenço estaria claro no seguinte trecho:

      “A menina colocou o lenço branco no colo, ainda dobrado no seu um dezesseis avos característico.” Mas, novamente, agora vejo que não.

      Obrigado mais uma vez!

  33. Thiago de Castro
    22 de outubro de 2020

    Resumo: Menina com hiperidrose entra em crise durante a prova de ciências. Não conseguindo controlar o fluxo de suor que sai das mãos, leva broncas severas da professora, o que a faz perpassar todos os traumas, frustrações e aflições que a condição lhe proporcionou até buscar uma saída trágica e violenta para seu problema.

    Conto que aproveita a consição como geradora de tensão. Devido ao recurso de não pontuar, o leitor consegue percorrer o fluxo de pensamento da personagem em todas as suas frustrações e angústias diante da sua condição: ela não é tão bonita quanto a colega de cabelo com fita, ela não é aceita na missa, na aula de educação física, pela professora de música e toda essa aflição se dá num curtíssimo período de tempo, no aguardar do início da prova. Pelo texto, se dá a impressão que a loucura faz com que uma situação cotidiana ganhe proporções abissais e a consequência trágica sempre está à espreita. Toda a simbologia da água também se apresenta de forma coerente no texto: é gotícula que vira gota, gota que vira chuva e chuva que vira enxurrada, inundando tudo, enfim.
    A loucura foi abordada aqui nos bastidores de um surto.

    Parabéns pelo texto e boa sorte!

  34. cicerochristino
    21 de outubro de 2020

    Resumo:
    Marina, a protagonista, aguardando para iniciar a resolver uma avaliação escolar, começa a se sentir nervosa, o que acarreta, diretamente, uma crise de hiperidrose, fazendo com que as palmas das mãos suem sem parar. Em surto por conta do suor que lhe escorre das mãos, bem como pelo fato de estar sem o lenço – cujo qual a professor ordenou que guardasse, Marina não consegue se controlar e, ao ser expulsa da sala de aula, toma uma atitude severa e impensada de automutilação.

    Comentário:
    O conto é impressionante! É coeso, tem o ritmo adequado ao que se propõe a transmitir e apresenta um final muito impactante. A coesão é marcada pelas manchas de suor nas roupas da protagonista, à medida que vai tentando secar o produto do nervosismo. O andamento é uma das características mais notáveis: o parágrafo em que o autor deixa de lado preocupações com a pontuação ilustra de forma criativa e surpreendente a condição da protagonista. Em princípio, faz o leitor suspeitar de erros de digitação, mas, logo em seguida, já demonstra estar esboçando a condição mental de Marina, não só naquela situação específica como em todas as outras que vão se somatizando até o momento descrito na narrativa. O impacto final é o nocaute do qual falava Julio Cortázar. Eu não esperava aquele arremate. Foi surpreendente e vibrante!
    Em contrapartida, talvez fuja alguns milímetros do tema da loucura. Entretanto, o que é a loucura, afinal? Pode muito bem ser uma reação momentânea de autocrítica.
    Muito bom o texto. Meus parabéns!
    Boa sorte no desafio!

  35. Carolina
    21 de outubro de 2020

    Resumo: Em um dia de grande tensão, uma garota com problemas de suor excessivo, se vê mais do que nunca, presa em seus pensamentos e prestes a ter um surto, por não se encaixar com os demais, durante toda sua vida.

    Comentário: O texto traz esse ambiente que é ótimo para leitura de um conto, que é essa tensão – o que para estudantes comuns já é ruim – e é pior para alguém com o problema do suor. Inclusive, a Marina, personagem principal, foi muito bem construída. É possível acompanhar os seus gestos, tentando enxugar as mãos, o que nos faz pensar, se suas mãos estavam tão molhadas mesmo, ou se era algo de sua cabeça, que deixava a garota ainda mais implicada com um suor inexistente. Aliás, desde o título, até essa sensação de molhado (suor e sem nada que o segurasse), ajudam na construção de Marina. A única coisa, é que no momento de imersão, dentro dos pensamentos da garota, onde o narrador se mistura com a personagem, poderia ter sido tomado mais cuidado com a pontuação. Percebo, que, ainda que tenha sido algo proposital, em excesso, a falta dessa pontuação causa um incômodo exagerado, forçando o leitor a parar e pontuar mentalmente o conto.

    No todo, o conto está bem escrito e dentro de uma situação bem cotidiana – o que é bem legal – e o final traz finalmente a loucura (ou um surto), cumprindo com o desafio proposto.

    *

    Parabéns, e boa sorte.

  36. angst447
    21 de outubro de 2020

    RESUMO:
    Marina sofre de hiperidrose , o que a faz passar por situações muito complicadas e inviabiliza o contato social. Durante uma prova, a menina tenta lidar com o excesso de suor nas mãos para conseguir completar a tarefa. Pressionada pela pressão interna e externa, ela surta, golpeando com uma caneta a própria mão. Talvez um processo de dissociação de imagem.

    AVALIAÇÃO:
    O título sucinto funciona muito bem. Oceano representa a hipérbole do suor nas mãos. Além disso, o nome da personagem – Marina – tem mar também.
    Protagonista bem construída com o seu fluxo de pensamento rompendo limites. A mistura do monólogo com diálogo em um só bloco deu uma boa sustentação para se constatar o estado mental da menina.
    As muitas vozes em seu pensamento, da professora em sala de aula, da professora de piano, dos colegas e de si mesma convergem para a mesma ideia de pressão interna, imaginei uma panela de pressão prestes a estourar. O crescente desconforto e perda de controle são muito bem descritos, ou melhor, bem demonstrados sem que ocorra excessos, sem tom didático. Grande habilidade com as palavras do(a) autor(a).
    A falta de pontuação e até mesmo a infração de algumas regras básicas contribuíram para que o fluxo de pensamento se tornasse ainda mais impactante, e a leitura ganha ritmo e agilidade. Uma escolha de recurso muito acertada.
    O final traz a surpresa, o surto inesperado, vindo de uma menina que parecia tão quieta e delicada. Marina se transforma, explode e se fere em um impulso primitivo. Quer eliminar o que a faz sofrer tanto. Volta-se contra si mesma, como se houvesse duas dela. Ou as mãos não fizessem parte de si mesma. Boa sacada!
    Ainda sobre o final, a última frase, embora me agrade, prejudica o impacto. Além disso não é necessária. – se era dia de prova, dificilmente haveria explicação de matéria.
    Parabéns pela loucura exposta de forma tão habilidosa.

    • Gabriel
      10 de novembro de 2020

      Olá!
      Muito obrigado pela leitura atenta e pelo comentário! Queria apenas abordar sua crítica sobre a frase final, porque várias pessoas, como você, não compreenderam a razão dela estar ali, talvez por uma breve desatenção. Realmente não haveria explicação da matéria em dia de prova; a frase em questão estava na própria prova que estava sendo aplicada. A frase que encerra o conto – “O ciclo da água não foi explicado naquele dia” dialoga com o seguinte trecho:

      “Uma gota pingou sobre a prova, e a mancha daquele pequeno círculo começou a se alastrar aos poucos, irradiando como um sol sobre a questão número 4 que mostrava uma ilustração com outro sol, nuvem, rio e mar e que exigia a explicação do ciclo da água.”

      A intenção foi deixar implícito que o evento paralisou a rotina da classe. Por algum motivo, essa relação entre as duas frases passou despercebida para muitos leitores, e sinto que isso irá me prejudicar. Mas, se for o caso, fica a lição pra mim: deixe as coisas mais claras!

      Obrigado mais uma vez!

  37. Leda Spenassatto
    21 de outubro de 2020

    Resumo
    Constrangimento e vergonha por ser diferente sem que a professora despreparada fosse capaz de compreender e tentar amenizar a ansiedade de sua aluna.

    Comentário.
    Um conto instigante e convidativo que chama o leitor a continuar .
    Porém, senti falta de pontuação em algumas frases.
    Se foi proposital me perdoe?

    • Gabriel
      10 de novembro de 2020

      Olá, Leda!
      Não precisa pedir perdão! 🙂
      Mas, sim, foi proposital, para indicar a confusão mental em que se encontrava a personagem Marina!
      Muito obrigado pela leitura e pelo comentário!

  38. Angelo Rodrigues
    21 de outubro de 2020

    Resumo:
    Menina com hiperidrose passa aperto na sala de aula. Num momento de inconsequência, ela fere a si mesma, na mão que sua. Um ato de loucura praticado contra aquilo, a sua mão, que tanto dificultava a sua vida.

    Comentários:
    Conto legal. Uma ideia sólida que nos remete à vida real.
    Tive um amigo na universidade que sofria de hiperidrose. Imagine, ainda que na universidade, onde todos eram adultos, o coitado era chamado de Mão de Lama. Durante algum tempo ele tentou nos cumprimentar, estendendo a mão, mas logo desistiu. Como éramos adultos, de constrangimento, o fato virou galhofa. Era um colega querido por todos… mas ninguém o cumprimentava esticando o braço e a mão até ele.

    Voltando ao texto.
    Bem desenvolvido, o texto segue retilíneo na forma construtiva. Um tempo curto, menor que um tempo de prova. Esse recurso, que de modo geral é bastante vitorioso, ao mesmo tempo não remete a uma forma construtiva com maior profundidade, com personagens, subtextos, histórias correlatas. Uma linha reta, fato a fato, até a sua conclusão.
    Observei que, em meio a tantos outros alunos em prova, nenhum deles teve qualquer importância construtiva. Não deram um pio, não eram importantes, quando o autor tornou-os apenas cenário que justificava a presença da menina com suas dificuldades.
    Isso não é mal, embora não propicie o enriquecimento narrativo.

    Interessante a mudança discursiva, quando o narrador transforma-se, confundindo-se com o personagem. Há um longo trecho em que o autor opta por tal escolha. Mostro uma parte:
    “…o medo e a vergonha e o medo da vergonha e a vergonha do medo e o que eu faço eu vou molhar todo o papel e aí a caneta para de funcionar quando o papel fica molhado e se eu tento escrever assim mesmo aí o papel rasga e a professora vai achar que eu fiz de propósito e ela já não gosta de mim e aí vai gritar de novo o que eu faço o que eu faço o que eu faço?…”

    Assim construindo, o autor abdica de pontuar algumas frases, particularmente quando interrompe um discurso para iniciar outro – narrador/personagem -, como se atendesse a um fluxo narrativo sem preocupações gramaticais, focado na emoção de narrar. Interessante.

    No quesito “loucura”, digamos, senti que houve uma opção tangente ao tema. Infringir a si mesma aquela dor, creio, não constitui necessariamente um ato de “loucura”, mas algo que se aproximou do desespero – e uma coisa não é outra -, como se, com o ato de ferir a sua própria mão, a menina imaginasse pôr uma tampa no aguaceiro de suas mãos, driblando a própria dor que chegava pela via da incompreensão daqueles adultos.

    Boa sorte no desafio.

  39. Anderson Do Prado Silva
    21 de outubro de 2020

    Resumo:

    O conto não é sobre a loucura entendida como um estado permanente, mas sobre um ato de loucura. Uma estudante é levada a uma situação limite, e reage a ela com um ato louco.

    Comentário:

    Gostei do conto! Ele começa com um bom ritmo, sem relegar demais o início do enredo. A forma como a loucura foi abordada (alguém sendo levado a uma situação limite) foi muito criativa.

    Os trechos de fluxo sem pontuação também são bons, mas eu tomaria cuidado para não exagerar com eles, pois podem cansar (já que exigem que o próprio leitor “pontue” o texto). Confesso que evito o fluxo sem pontuação, preferindo facilitar a leitura do meu leitor. No presente caso, a concisão do conto ajudou a conter eventuais excessos com o fluxo.

    Repito-me um pouco, mas um dos grandes méritos desse conto é a concisão. O autor (que eu sei quem é, já que hoje acordei muito foda em matéria de chutes) conseguiu desenvolver um excelente enredo sobre a Loucura em pouquíssimas linhas. Isso, excelente enredo, é o maior de todos os méritos desse conto!

    A frase que encerra o conto “O ciclo da água não foi explicado naquele dia.” é muito boa E casa perfeitamente com o título estupendo: “Oceano”.

    Apesar de meu pouco gosto pelos fluxos de texto com pontuação exótica, meu trecho favorito desse conto foi este aqui: “o medo e a vergonha e o medo da vergonha e a vergonha do medo e o que eu faço eu vou molhar todo o papel e aí a caneta para de funcionar quando o papel fica molhado e se eu tento escrever assim mesmo aí o papel rasga e a professora vai achar que eu fiz de propósito e ela já não gosta de mim e aí vai gritar de novo o que eu faço o que eu faço o que eu faço?”, o que evidencia que o emprego competente da técnica pode agradar, até mesmo, quem não gosta dela.

    Parabéns pelo conto! Parabéns por ser um dos primeiros a se inscrever! Boa sorte no desafio!

  40. opedropaulo
    21 de outubro de 2020

    RESUMO: Como muitas vezes em sua vida, as mãos de Marina não param de verter. A professora não compreende, quer sua autoridade inconteste, desimportante se passa pela frágil sanidade de Marina. A garota surta.

    COMENTÁRIO: Encaro o conto como os bastidores de um surto, na forma e no conteúdo. No que tange a técnica, o parágrafo longo e sem pontuação é imersivo quase ao ponto de ser um fluxo de consciência, com uma enxurrada de situações anteriores que por um lado nos fazem saber do histórico de Marina e, por outro, nos dão dimensão do tormento pelo qual passa a garota desesperada. A pressão da professora ganha imensidão justamente nesse parágrafo, pois assim sabemos o tamanho da parede para a qual Marina está sendo empurrada. Por isso, o clima tem impacto, parecendo verossímil e bem edificado. Não só isso, é comovente. Por isso, achei um ótimo uso da escrita imersa na mente da personagem.

    Quanto à trama, é simples, mas no sentido em que o fato que a motiva é cotidiano, enquanto a jornada dentro da menta da personagem é imensa. Aliás, como professor devo dizer que o ambiente escolar é uma imensidão de situações desse tipo. Com pessoas em formação enquanto humanas, crianças que estão se tornando adolescentes, adolescentes que estão se tornando adultos, professores que envelhecem e tem o desafio de formar as mentes mais jovens em um mundo que não é mais o mesmo… É um ambiente de extrema tensão. Então a escolha do cenário não é inocente, sendo já um contexto de conflito que é potencializado pela insensibilidade da professora. Mesmo assim, o foco não está no lugar, mas na cabeça da personagem, que é onde se encontra o principal tumulto. A abordagem do tema ficou um pouco tangencial, feita a diferenciação entre a loucura plena e o surto. Claro que se pode apontar o conto como a estória de um episódio dentre outros, talvez para a evolução de um quadro mais grave, mas o conto sendo sobre o surto, achei que não explora o tema ao máximo, ainda que eu entenda que a loucura temática não precisa ser necessariamente clínica.

    De todo modo, é um bom conto.

  41. Giselle F. Bohn
    21 de outubro de 2020

    Menina em sala de aula vive momentos de tensão por causa do suor excessivo das mãos, e sua ansiedade cresce até ela perder a sanidade e atacar a fonte de seu tormento.
    Amei este conto! A opção pelos diferentes focos narrativos deu a ele várias camadas sem que ele perdesse o ritmo e o fio condutor. Temos a voz da professora, a da menina, a das outras crianças, a da professora de piano – todas amarradas muito bem. A pontuação em alguns lugares – ou melhor, a falta dela! – não tirou nada do texto, pelo contrário: acrescentou agilidade. A maneira como o autor também narra os fatos no presente e insere aí fatos do passado foi muito bem feita. Realmente um conto muito bom, daqueles que dá vontade de ter escrito! Parabéns! 🙂

  42. Priscila Pereira
    21 de outubro de 2020

    Resumo: Marina tem um problema, suas mãos suam muito, e o conto todo é um instante antes de uma prova onde esse problema vira a última gota que faz transbordar uma avalanche na mente da menina.

    Olá, Gabriel! Muito corajoso ser um dos primeiros! Parabéns! Então, o conto é leve, curto, diferente do que a maioria espera(conto de hospício), e totalmente dentro do tema. Fiquei pensando se o problema da Marina era tão sério mesmo ou se sua mente já o aumentava. Nunca tive contato com alguém com hiperidrose tão sério, vou apostar que a mente da menina já estava perturbada, também, coitada, quem não ficaria? Seu conto mostra muito bem que a loucura pode vir aos poucos, surtos de alguém que não suporta mais um problema, e isso não faz da Marina louca, e sim uma pessoa que precisa de atenção. Só isso.
    Eu gostei bastante do seu conto, a linha de raciocínio da menina ficou muito verossimel e o conto é interessante e agradável de ler. Desejo sorte para você! Até mais

  43. Fernanda Caleffi Barbetta
    21 de outubro de 2020

    Resumo
    Conto relata o dia de prova de uma garotinha que, por sofrer de hiperidrose, passa por momentos de estresse diante da pouca habilidade da professora em lidar com a situação. Após várias tentativas de driblar a água que brota de suas mãos, a menina é obrigada a deixar a sala e ir à diretoria. Neste momento, em um ato de loucura, ela enfia uma caneta na própria mão.

    Comentário
    Adorei o seu conto, Gabriel Moreira. Deu para perceber que é um escritor maduro que tem o domínio das palavras e da técnica, além de uma excelente ideia. As cenas foram tão bem descritas que eu pude ver todo o enredo como se fosse um filme. Nenhum erro gramatical foi encontrado.
    Gostei da forma como abriu mão da pontuação em dado momento do conto, deixando as ideias fluírem como na cabeça da menina, nos levando a ler com mais ansiedade, nos levando para dentro do pensamento dela, nos levando até a sua loucura. Excelente.
    “Suas ansiedades alinhavam-se em retroalimentação: o medo e a vergonha e o medo da vergonha e a vergonha do medo” – muito bom isso.
    O penúltimo parágrafo, quando ela chega ao ato de loucura, é ótimo. Naquele momento, o tema do desafio foi atingido com louvor. Só a última frase não gostei muito. Quebrou um pouco o clima. Entendi a ideia de colocar o tema água que tem tudo a ver com a situação da menina, mas na minha opinião não teve o impacto desejado.
    Ponmto positivo também para o título e a imagem, casaram perfeitamente com o texto.
    Excelente trabalho. Parabéns.

    • Gabriel
      10 de novembro de 2020

      Olá!
      Muito obrigado pela leitura atenta e pelo comentário! Queria apenas abordar sua crítica sobre a frase final. Não sei se você fez a mesma leitura que alguns outros comentaristas, mas de qualquer maneira achei melhor esclarecer. Caso seu desconforto com a frase final tenha sido pela ausência de conexão com o resto do texto, gostaria de explicar que a frase que encerra o conto – “O ciclo da água não foi explicado naquele dia” dialoga com o seguinte trecho:
      “Uma gota pingou sobre a prova, e a mancha daquele pequeno círculo começou a se alastrar aos poucos, irradiando como um sol sobre a questão número 4 que mostrava uma ilustração com outro sol, nuvem, rio e mar e que exigia a explicação do ciclo da água.”
      A intenção foi deixar implícito que o evento paralisou a rotina da classe. Por algum motivo, essa relação entre as duas frases passou despercebida para muitos leitores, e sinto que isso irá me prejudicar. Mas, se for o caso, fica a lição pra mim: deixe as coisas mais claras!
      Obrigado mais uma vez!

      • Fernanda Caleffi Barbetta
        11 de novembro de 2020

        Oi, Gabriel. Obrigada pela resposta. Eu entendi a sua intenção com aquela última frase e logo que a li lembrei de ter me deparado com o “ciclo da água” em outro trecho do conto. Apesar disso, na minha opinião, não foi a escolha certa para finalizar o texto. Apesar de fazer referência a outro momento do enredo, pareceu um pouco fora do contexto ali naquele momento. Como se você tivesse guardado desde o início aquela frase para colocar no final, acontecesse o que acontecesse no desenvolvimento do conto. Preferiria que tivese acabado antes desta frase. Mas seu texto é maravilhoso. Parabéns.

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Publicado às 21 de outubro de 2020 por em Loucura e marcado .