Londres, Oceania, 27 de abril de 1985 (?).
A enorme teletela do Café Castanheira grasnava com voz monocórdia a lista diária de conquistas do Partido: “Boas novas, boas novas, camaradas! Nossos exércitos retomaram ontem a Península Ibérica, causando baixas de milhares de eurasianos: um passo importante na derrota total do inimigo! Economia: a ração mensal individual da Margarina Vitória foi aumentada para 150 gramas, a produção nacional de ferro-gusa aumentou em 1.750 toneladas em referência ao triênio anterior, a ração mensal individual de farinha de trigo subiu para 1 quilo, a ração de sacarina…”.
Os poucos clientes presentes ouviam e aplaudiam, com expressões otimistas muito bem estudadas, pois a teletela tudo transmitia, mas também tudo espionava e registrava. E não importava que há um par de meses a ração de margarina fosse de 200 gramas, que a de trigo fosse de 2 quilos. O Partido dizia que foram aumentadas, logo era isso a verdade, e era verdade também que há dois meses os números eram maiores, embora os exemplares dos jornais com tais informações conflitantes não existissem mais. Subiram, mas eram antes mais, se necessário fosse, ou não, se por hipótese não o fosse. Ser capaz de aceitar as afirmações conflitantes, ter alcançado tal humildade intelectual, era chamado “duplipensar”.
Sentado, diante de um tabuleiro de xadrez enquanto jogava contra si mesmo, Winston Smith – um indivíduo pálido e magro, de uns quarenta anos e com cabelos escuros e ralos – estava levemente alcoolizado e não percebia o frio incomum daquele dia de primavera, que escolhera para si uma mortalha de cinzas como disfarce, feito inverno infiltrado, que teimasse em não partir. A calefação do Café, obviamente, não funcionava.
Ele segurava um cavalo preto, indeciso quanto ao movimento, e sorveu um pouco de gim com cravos e adoçado com sacarina, apertando os olhos quando a bebida oleosa e de má qualidade desceu arranhando e queimando, fazendo-o trincar os dentes involuntariamente.
Quase a seguir à propaganda do Estado, a teletela encheu-se por completo com o rosto de um homem de uns quarenta e cinco anos, de olhos escuros e confiantes, queixo firme e maxilares proeminentes, um bigode bem aparado, que inspirava respeito. Todos ficaram de pé. Uma mulher gritou: “Meu salvador!”.
Winston tremeu e sorriu, nervoso; controlou-se para não se urinar como um cãozinho. A visão do Grande Irmão, o líder supremo, o fazia sentir-se tal qual criança miúda diante da enormidade de um pai rigoroso e sábio; todo disciplina, todo provedor, justiça e amor. Braços tão amplos que poderiam abarcar o mundo com tenacidade, voz macia como que vinda dos céus, aquelas palavras simples e certas, encaixadas: diamantes numa jóia.
GUERRA É PAZ.
LIBERDADE É ESCRAVIDÃO.
IGNORÂNCIA É FORÇA.
Aquelas verdades haviam sido rejeitadas por Winston quando ele estivera enfermo, mas o tratamento no Ministério do Amor o deixara são outra vez, clareara por fim seus pensamentos e ideias, feito os tanques de Oceania esmagando os crânios eurasianos, ou lestasianos, ou quem quer que o Partido declarasse que eles estavam a enfrentar.
Dois mais dois não são sempre quatro, e aceitar isso não lhe era mais penoso, não mais mesmo: Winston era um “recup”, como constava no verbete do Dicionário de Novilíngua: indivíduo reeducado e perdoado por crimes de pensamento, que errou sem rumo por estéreis campos de heresia e foi ajudado; novamente útil à sociedade.
O Grande Irmão discursou brevemente, cada palavra uma pérola de sabedoria. O público começou a entoar “gê-i, gê-i…” e a erguer punhos fechados. Uma fanfarra militar logo começou a tocar, o que era sinal do início da sessão de execuções televisionada todo sábado. Haviam cancelado mês passado os fuzilamentos, pois algumas pessoas eram sensíveis ao sangue nem sempre evitável nas imagens de cabeças arrebentadas por balas de rifles. O velho enforcamento, então, feito uma moda antiga de ombreiras ou mullets, voltara à voga com toda força. E era certamente método muito melhor: não tão rápido e impessoal, além de às vezes trazer a diversão extra da comicidade, da surpresa dos corpos tremelicando feito peixes em anzóis, das línguas de fora, os rostos intumescidos e tudo mais. Embora houvesse também o raro risco de ereções ou coisa pior. Por tudo isso, os homens condenados eram sempre filmados da cintura para cima. Assim, a Liga Juvenil Antissexo não teria porque ficar ofendida.
O garçom passou pelas mesas com uma garrafa e encheu o copo com Gim Vitória quase até a boca. Winston observava o espetáculo na teletela sem muito interesse e notou algo insólito naquele dia: só havia um condenado. Um homem alto e forte como um halterofilista, de cabeça calva, de rosto calmo e marcado por queimaduras. “Ah, sim, era aquele terrorista famoso por atentados a bombas, o tal de máscara branca sorridente e inclinação para discursos cheios de aliterações”, lembrou-se Winston. “Estúpido ou genial, todos os inimigos do estado têm sempre o mesmo destino, é só questão de tempo. Trair é morrer, pensar em trair é morrer”.
Houve um ruflar de tambores, alguns gritos de ódio proferidos pelo público presente e o cadafalso se abriu. O corpo despencou pesadamente e, talvez devido ao porte do homem, houve apenas um ruído desagradável de osso partido, a cabeça dele pendeu de lado, e não houve minutos a mais de diversão à plateia.
***
Winston caminhou com dificuldade de volta ao conjunto habitacional “Mansões da Vitória”. O vento levantava nuvens gélidas de poeira fina e empurrava seu corpo magro. As ruas estavam cheias de escombros e crateras de antigos bombardeios eurasianos/lestasianos. As luzes do hall do prédio decrépito piscavam e ele teve que subir as escadas, pois o elevador estava quebrado há uns três anos. “Não!”, ele repensou enquanto estapeava a própria cabeça em autocrítica, “estava funcionando ontem mesmo, e amanhã já estará trabalhando tão bem como sempre”. Ao menos, ele já se curara da úlcera varicosa de sua perna, e subir até o sétimo andar não seria tão penoso, seria até bom exercício, mesmo estando tão embriagado.
Tremeu e sorriu para cada cartaz gigante com a imagem do Grande Irmão do hall de cada andar, cujos olhos pareciam seguir-lhe. O onipresente cheiro de nabos e repolhos cozidos com carne reprocessada enlatada, de leite azedo derramado e tapetes de trapos sebosos, deixou-o enjoado. Abriu a porta do apartamento, entrou e trancou-a.
Lá dentro, a primeira coisa que chamou a atenção de Winston foi o silêncio e a escuridão: todo apartamento tinha uma teletela e era ilegal e quase impossível desligá-las. A segunda coisa foi quando o aparelho de súbito se iluminou, e um homem de uns vinte poucos anos, de rosto encovado e nariz adunco, surgiu na superfície de vidro.
— 6079 Smith W! – o homem vociferou. — Camarada, aproxime-se da teletela!
Havia chegado o momento, refletiu Winston, com tristeza. Depois de uns meses em que ficavam “livres”, vagando sem destino feito palhaços saltimbancos, exemplos vivos aos cidadãos temerosos ao Partido, os “recups”, todos eles, tinham sempre a mesma sina: passavam a seguir ao nível de “impessoas”. Desapareciam: suas fotos, seus registros, seus corpos, suas posses, suas memórias. Nunca existiram, ninguém ousaria citá-los ou sequer… sonhar com eles…
— Em função da nova política do Partido, você será reintegrado ao Ministério da Verdade, para continuar a contribuir como membro ativo e produtivo de nossa sociedade. Na próxima segunda-feira esteja às zero-setecentas pontualmente, no departamento do jornal “O Organismo”, sub-6. Esta transmissão nunca existiu, seu período de tratamento no Ministério do Amor nunca aconteceu. Sua nova alocação não deve ser compartilhada com indivíduos não autorizados.
A transmissão terminou tão abruptamente como começou, e o aparelho ficou ligado, bruxuleando sobre as paredes nuas alguma reprise daquelas novelas simplórias destinadas aos proletas. Winston estava boquiaberto: não tinha certeza se o que acabara de acontecer era a nova praxe, porém pensar demais sempre fora o caminho que levava à danação, era melhor vestir uma expressão de otimismo descerebrado para a teletela, e aparentar calma.
Tirou as dentaduras – já estava se acostumando com elas – e as pôs num copo, despiu as calças frouxas e chutou os sapatos ao chão, atirando-se à cama. O teto manchado de mofo demorou a parar de girar.
Devia passar das zero-trezentas, quando ele começou a sonhar com Júlia, como praticamente todos os dias. Ela estava nua; os seios pequenos, a pele sardenta e os cabelos muito pretos e lisos, como ele se recordava da última vez em que se encontraram no quartinho que alugavam ilegalmente dum antiquário numa parte esquecida da cidade. Ela sorria e havia muita luz no lugar, como se eles estivessem numa sala com mil holofotes acesos, porém sem calor ou ofuscamento.
“Ainda nos encontraremos no lugar onde não há escuridão”, alguém sussurrou. Winston procurou pelo dono da voz e reconheceu O’Brien – o homem do Partido Interno que se passara por colega conspirador e os traíra e torturara – transmutado num porco velho e gordo, de pé sobre os cascos fendidos e vestido como um capitalista dos antigos filmes educativos. Flutuando alto no ar, negando a gravidade talvez por meio de decreto partidário. “Quantos dedos tenho em minha mão?”, O’Brien perguntava, exibindo quatro dedos na mão aberta, e não cinco.
“Eu ainda te amo”, Winston e Júlia disseram um ao outro e abraçaram-se com ternura. Do alto, O’Brien ria e gruinha e começou a cantar desafinadamente uma velha canção de Glenn Miller, revista desde a revolução.
Sob a frondosa castanheira
Vendi você, você a mim, após:
Ali estão eles, cá estamos nós
Sob a frondosa castanheira.
“Eu te perdôo”, Winston disse, e ela ecoou. Beijaram-se enquanto O’Brien descansava então no alto de um muro e girava uma roldana do mecanismo dum enorme portão. “Às vezes atacam os olhos primeiro. Às vezes perfuram as bochechas e devoram a língua.” – ele comentava, candidamente. Os ruídos de um milhão de patinhas e do resfolegar de focinhos úmidos além do muro, de bichos ansiosos por carne tenra, aqueles guinchados febris, os pelos molhados cheirando a esgoto, fizeram Winston saltar da cama aos gritos.
***
Ao contrário da precariedade de tudo mais ao redor, os prédios da esplanada dos ministérios eram perfeitos: quatro pirâmides de ousadia arquitetônica, altíssimos, altivos. O Ministério da Verdade, de concreto alvo e brilhante, o Ministério do Amor, negro e sem janelas visíveis, e os Ministérios da Paz e o da Pujança. Seus nomes em Novilíngua: MiniVer, MinAmor, MiniPaz e MiniPuj.
De certa forma, cada um deles era responsável pelo oposto de suas denominações. O MiniVer cuidava de propaganda, entretenimento e revisionismo histórico. O MinAmor, espionagem, repressão e tortura. O MiniPaz, da guerra, pois sempre era preciso um estado de guerra permanente. E o MiniPuj, por fim, administrava a economia e, principalmente, as cotas que resultavam, enfim, em fome e subnutrição. Os quatro formavam uma bela máquina, que se alimentava de si mesma; um ouroboros governamental.
Às zero-seiscentas e cinquenta e cinco, Winston tomou o elevador e pressionou: -6. Quando as portas se abriram, já havia alguém a esperá-lo no hall. Um homem de cabelos curtos e claros, de uns trinta e tantos, terminava um cigarro até o fim – a brasa brilhava junto ao filtro – enquanto acendia outro a seguir na mesma brasa e girava com habilidade o novo cigarro à boca, descartando o filtro queimado e esmagando-o com o pé.
— Bom dia, Camarada Smith – ele disse, soprando fumaça de tabaco de boa qualidade e oferecendo a mão. — Eu sou John Moore, e serei o seu supervisor. Então, vamos até o seu posto de trabalho?
John-fumante-sequencial caminhou à frente pelo labirinto de corredores brancos até chegar a um cubículo com uma mesa com ditógrafo, microfone, uma tela retangular verde-escura e alguns tubos de vácuo. O local era limpo, os aparelhos novos, a iluminação era agradável.
— Bem, é aqui… Imagino que tenha sido promovido, Smith. Extrema competência ou alguma indicação do alto, pois pouca gente tem o privilégio de ler e retroeditar “O Organismo”. Você sabe que é o jornal do Partido Interno, não?
Winston assentiu, mentindo. O louro continuou: — Hoje, no período da manhã, somente para que você se ambiente quanto ao estilo do jornal, quero que leia algumas edições já publicadas, começando pela de ontem. Ligue a telepágina – ele mostrou como – e peça ao microfone pela data da edição; é a pesquisa-padrão. Passa pela minha sala por volta das mil e duzentas, para irmos juntos à cantina do sub-10, ou você com certeza irá se perder. Ah, sim, se tiver qualquer dúvida, por favor, não me pergunte! – e ele saiu, gargalhando fumaça azulada.
Pessoas gentis e bem humoradas eram muito raras, e Winston temeu pela segurança de seu novo supervisor; inteligente e tagarela demais para seu próprio bem.
O restante da manhã então correu rápido, como os sonhos bons dos quais Winston não tinha mais memória.
***
Smith juntou-se a John e ambos desceram até a cantina. Surpreendentemente, havia um cardápio e duas opções do dia: Torta do Pastor e Peixe Empanado e Fritas. Desconfiado, Winston escolheu a torta e notou: era carne bovina, de verdade, batatas e ervilhas, de verdade! John observava tudo com divertimento, e descaradamente fumava à mesa enquanto mordiscava batatas fritas com molho e bebericava gim de uma xícara de metal.
— Não é aquela horrível lavagem de carne reestruturada, típica das outras cantinas, não? Devagar, Smith, não vá se engasgar! Então, o que achou das suas leituras?
Winston puxou conversa sobre a execução do terrorista. John pareceu agitado e ávido em falar do assunto: — Sim, isso foi dupliplusbom! Finalmente deram cabo daquele criminoso! Quase um ano de buscas, como foi possível?! Acredita, Smith, que o lunático mascarado tinha uma coleção de raridades? Feito um corvo que junta pedras brilhantes? Livros, pinturas, bíblias, alcorões… e até um cubo, um objeto de culto de uma seita obscura chamada Ordem de Gash?
— Eu não li tais detalhes no artigo sobre a prisão.
— Porque não foram ainda publicados. Há um grupo a catalogar os artigos recolhidos aqui mesmo no sub-6… E, por favor, não faça essa cara de rato assustado, Smith. Não há teletelas ou escutas em nossos níveis porque não há crimes de pensamento aqui. Sim, em Oceania somos todos iguais, mas alguns são mais iguais que os outros! – John piscou um olho, mas Winston apenas assentiu, calado.
***
Durante a tarde, Smith sentiu-se contente pela primeira vez em mais de um ano. O trabalho novo era desafiador, mas ele se reconheceu competente e à altura. “Poderia me acostumar com isso”, refletiu, “com a comida boa, as instalações confortáveis e um supervisor gentil”.
***
Havia estranha eletricidade no ar, desde as primeiras horas do dia seguinte. Winston nunca vira tantos guardas armados, tantos controles de segurança. Depois das mil e trezentas ninguém mais tinha acesso aos elevadores, destinados – todos – ao uso de convidados. Smith então trabalhava em sua saleta, num acerto menor sobre a inauguração do novo Centro de Treinamento Infantil da Liga dos Espiões na antiga Abadia de Westminster, quando John Moore, acompanhado por dois guardas imensos, surgiu à porta. Havia quase expressão de piedade no rosto do louro, que disse: — Camarada Smith, sua presença foi solicitada no sub-15. Acompanhe-nos.
Caminharam calados através dos corredores, passaram por detectores de metais e foram gentilmente empurrados até um pequeno elevador. Desceram rapidamente e as portas de aço logo se abriram. Winston e John descobriram-se numa espécie de palco de aproximadamente quinhentos metros quadrados. As fortes luzes dos holofotes não permitiam a visão do público sentado logo abaixo, porém certamente o anfiteatro era imenso. Alguém discursava junto ao púlpito, e Winston reconheceu de imediato o timbre da voz: O’Brien!
— … e os métodos do MinAmor são fiáveis, em absoluto! Eu digo: devemos reeducar, sempre! Todos! Pois os processos de impessoalização são caros e desperdiçamos tremendo potencial humano, uma vez que os “recups” serão sempre absolutamente fiéis, absolutamente condicionados em fé e amor à pátria!
Ao sinal de O’Brien, os guardas levaram Winston até um cubo transparente de uns três metros de lado, erguido sobre o palco, e o trancaram por fora. Havia uma mesa com microfone dentro da saleta, e uma pistola sobre esta. Um curto corredor do mesmo material se estendia em frente à mesa, até outra saleta transparente e idêntica a uns dez metros, que estava às escuras. As luzes acenderam de súbito sobre a outra sala, e lá estava alguém belo e poderoso em seu uniforme militar de gala: o Grande Irmão.
— 6079 Smith W! – O’Brien falou. — Certa vez você confessou que odiava o Grande Irmão, e eu afirmei que o ensinaria a amá-lo. Caso eu tenha falhado em meus métodos, eis a sua oportunidade de vingança por tudo que passou no processo de reeducação, camarada! A pistola está carregada e eu garanto anistia para qualquer ação que você decida tomar.
Winston, absolutamente horrorizado, não sabia o que fazer. Quase sem voz, ele falou: — Eu, eu não desejo matar o Grande Irmão, camarada – o que era pura verdade.
O público, invisível em meio à escuridão, aplaudiu com gosto a coragem dos seus líderes. O’Brien, continuou: — Muito bom! Mas, e se eu trouxer um estímulo extra, por assim dizer?
Julia adentrou então a saleta onde estava o Grande Irmão e apontou uma arma para a cabeça do líder supremo. O público uivou de surpresa e Winston quase desmaiou, mas controlou-se.
O’Brien parecia estar se divertindo: — Uma maldita espiã eurasiana infiltrada! E é uma pessoa por quem você já teve enorme apreço! O que fazer agora, camarada?
Winston olhava para Julia, em busca de algum mínimo sinal; tinha que ser uma encenação, uma peça de mau gosto, mas ela realmente tinha brilho assassino no olhar. Ela começou então a contar: 10, 9, 8… Ele resolveu segurar o coldre e suas mãos estavam molhadas e trêmulas. Julia aproximava-se do 0 e Winston levantou o braço rapidamente, fez mira e atirou três vezes seguidas. Os estampidos soaram amplificados pelo microfone e pela boa acústica do local.
Na saleta oposta, Julia, com a cabeça e a blusa manchadas de tinta azul, simulou uma queda, sendo gentilmente amparada pelo Grande Irmão, que obviamente sorria.
Os aplausos trovejaram como uma catarata. Os holofotes giraram loucamente, e Winston, por alguns instantes, notou vinte ou mais Grandes Irmãos – idênticos – sentados juntos nas primeiras filas da plateia.
“Gêmeos?! Como é possível? Feito nas horríveis castas inferiores eurasianas!” – ele pensou.
O’Brien agradeceu aos aplausos e comentou ao microfone: — Agradeçamos ao Senhor Smith, e a Julia, minha esposa, pela demonstração. Ah, sim, é claro: muito obrigado ao Grande Irmão! Palmas para eles, camaradas!
John acompanhou Winston – meio catatônico – de volta ao escritório. No elevador, o louro ainda deixou escapar: — Sinto muito por isso tudo, Smith. Um circo! O Partido virou um circo!
***
Ao fim do dia, o Camarada Moore dispensou os funcionários vinte minutos antes das mil e oitocentas, para comparecerem ao sub-5 e assistirem à cerimônia de posse do novo Ministro do Amor: Eric B. O’Brien. Antes que Winston saisse, John chamou-o até seu escritório. O cinzeiro sobre a mesa transbordava filtros queimados e cinzas sobre o belo móvel.
— Não sei se você percebeu tudo o que se passou hoje, Winston – ele soprou as palavras, junto à fumaça. — O’Brien agora faz parte do Conselho Consultivo IngSoc, o clubinho VIP, o grupo dos quatro que orientam – digo – ditam as ações do Grande Irmão. A encenação de hoje certamente foi planejada há tempos, assim como sua transferência para cá. É provável que tenha começado como ideia de Julia, para salvar você de ser “impessoa”, mas também foi algo que reforçou – e muito – o prestígio do marido dela. Apesar de você parecer um caso de sucesso, exemplo vivo da eficiência de Eric, penso que, em verdade, estamos, eu, você, todos os não superortodoxos, a partir de agora sob enorme perigo, se realmente conheço bem as maquinações dele.
Winston estava abatido; e apenas então comentou, com um sorriso amargurado: — É até provável que Julia tenha feito mesmo isso. Ela sempre disse que nunca se deitaria com algum porco do Partido Interno, mas quem há de culpá-la se o fez para se salvar? Não é vergonha se segurar a uma tábua quando se está afogando, mesmo que a tábua signifique uma pequena morte diária… E se ela ainda tentou me salvar, eu só posso amá-la mais… – lágrimas traidoras brotaram – mesmo que esteja casada com aquele monstro!
Despediram-se e Winston seguiu para casa, pois não havia nada no mundo que o obrigasse a testemunhar o êxito final de O’Brien.
***
Passaram uns dois meses de rotina normal no escritório, até que certo dia John Moore não veio. Ninguém falaria mais sobre ele, ninguém nunca conheceu o tipo divertido soprador de fumaça e tagarela.
Uns quinze dias depois, quando chegou à casa, Smith descobriu que dois guardas o esperavam em seu apartamento, comendo sua comida e conversando frivolidades.
— Apenas sejam rápidos, camaradas, pois estou muito, muito atrasado – Winston pediu.
E assim eles o fizeram: com um lenço embebido em clorofórmio, e uma pistola de pressão, do tipo usada para abater animais.
“Como um cão”, Winston chorou, envergonhado, pensando derradeiramente no rosto de Julia.
O conto bebe de várias obras. Dentro do universo ficcional de 1984, é possível encontrar referências a V de vingança e admirável mundo novo.
Uma trama interessante, atual e que retrata o elemento cíclico da história.
O leitor fica preso a leitura do início ao fim. A linguagem simples, porém com elementos técnicos flui normalmente sem incomodar quem esta lendo.
No fim, é uma obra que merece atenção pela reflexão pretendida por seu autor. Um contexto que merecer ser lembrado por cada um de nós.
Nota: 5
Reconto de 1984, onde Winston já como um “recup” começa a trabalhar novamente no Ministério da Verdade. No fim, é morto dois meses após um espetáculo forjado para provar sua recuperação
Olá, George! Parabéns pelo texto! Primeiro vamos ao enredo: achei interessante o que fizera neste conto. Eu tive a sensação de estar lendo um epílogo de 1984, fato este que atesta sucesso no reconto da obra de Orwell. O início monótono é entendível, como se você estivesse apresentando a “obra original” para os possíveis leitores do desafio que não conhecem o livro; fora feliz na escolha dos detalhes apresentados (O gim, a teletela, o xadrez, o ambiente degradado). Bem, passando para o ponto alto do seu conto: o que foi aquele espetáculo cênico com O’Brian e companhia? Incrível e muito bem pensado. Ficara verossímil, acredito que essa ideia de “comprovação” da recuperação de Smith poderia muito bem ter saído da cabeça de Orwell, principalmente com Smith matando Julia. Sobre o fim, eu não entendi muito bem se ele fora morto ou não, por isso considerei o ponto fraco do texto. Sobre a narração e gramática está excelente. Boa sorte!
RESUMO:
Vivendo em uma distopia, Winston Smith é reintegrado à sociedade, após passar um período no ministério do amor, onde foi “convencido carinhosamente” a abrir mão de ideias revolucionárias. O homem é encaminhado então a outro ministério, onde passa por um experimento teatral em que precisa escolher entre proteger o grande irmão ou seu grande amor. Algum tempo depois, ele some do mapa.
COMENTÁRIO:
O texto ganha muito numa releitura. Pelo menos pra mim foi assim. A narrativa aproveita ao máximo cada palavra, tira leite de pedra do limite, conseguindo ambientar muito bem, apresentar o personagem e seus dilemas. Há algumas nuances, porém, que pra mim só ficaram claras numa terceira! leitura, evidenciando ainda mais a perícia do(a) autor(a). Aqui me refiro principalmente ao papel de O’Brien na trama, confesso que inicialmente aquela parte do sonho com os porcos havia ficado um tanto obscura, mas depois tudo se encaixou.
A cena da decisão de atirar ou não no G.I. é muito boa, recheada de uma boa dose de tensão. A única coisa que me fez “franzir o cenho” (usando a expressão em debate no EC) foi o fato de haver bebida alcoólica disponível (teria sido contrabandeada?). Não li a obra original (sim, é uma vergonha) e talvez isso se explique melhor lá, como uma ferramenta a mais pro governo manter a população entorpecida ou algo do tipo. Obviamente, nada significativo para prejudicar a apreciação e a nota desse ótimo conto.
NOTA: 5
Recuperado
Resumo
Em Oceania, a sociedade era dominada pelo Grande Irmão. Quem não se enquadrava era levado a um tratamento de reabilitação ou acabava enforcado. Winston, um rebelado que afirmou odiar o Grande Irmão, foi levado a um tratamento para ser convertido. Um tempo depois, recebe a chance de promover os lideres, demonstrando diante do público a sua rendição. Descobre que sua amada havia se casado com um dos líderes e que talvez aquela encenação fosse para salvá-lo. Mas logo em seguida ele é visitado por guardas que o matam friamente.
Comentário
Muito boa a sua fanfic de o Grande Irmão. Interessante, bem construída, com uma linguagem envolvente que prendeu minha atenção. Muito boa a forma como utilizou os elementos da obra original. Os ambientes foram muito bem descritos, fazendo com que eu me sentisse na trama. Destaque para a cena em que Winston é colocado diante da plateia para o teste da fidelidade ao Grande irmão, cena muito bem descrita e envolvente.
Apenas alguns deslizes:
retomaram ontem a (à) Península Ibérica
Houve um ruflar (rufar) de tambores
ria e gruinha (grunhia)
Recuperado (George Atwood Huxley)
Resumo: A jornada de Winston, o protagonista da história, no universo distópico de 1984 até se tornar uma impessoa (ou morrer?)
Inicialmente cumpre ressaltar que o conto cumpriu integralmente a proposta do desafio tendo por base a consagrada obra de George Orwell 1984. Nesse sentido, o autor foi muito feliz em sua ambientação trazendo inumeras caracteristicas do original, tal qual a Teletela, a Novilingua, os Ministérios, etc. Além disso, trouxe também um dos meus conceitos favoritos que é o duplipensar orwelliano. Não bastasse, ainda sobraram algumas referências do “revolução dos bichos”. Os personagens axiais estão presentes e bem caracterizados, talvez Júlia tenha tido menos destaque em razão do limite de palavras, afinal não da para abraçar o mundo.
A parte técnica é muito precisa, segura e competente. Fica evidente o trabalho do autor na construção desta versão. Destaco essa frase como exemplo de fidelidade e, ao mesmo tempo, frescor “porém pensar demais sempre fora o caminho que levava à danação, era melhor vestir uma expressão de otimismo descerebrado para a teletela, e aparentar calma.”
Parabéns e boa sorte!
RESUMO
Em uma sociedade distópica, todas as pessoas estão sob constante vigilância das autoridades, principalmente por teletelas, e a divulgação da propaganda do Estado. Winston Smith, um “recup” recebe um aviso de que será reintegrado ao Ministério da Verdade. Lá a comida é boa, as instalações são confortáveis e o seu supervisor parece ser gentil. Acontece uma encenação planejada com armadilha para Smith. É provável que tudo tenha começado como ideia de Julia para poupá-lo de se tornar uma “impessoa”. No entanto, a encenação também serve para reforçar o prestígio do marido de Julia, o monstro traidor O’Brien. Winston Smith só pode amar Julia ainda mais por tentar salvá-lo. Mesmo assim ele tem a mesma sina de outros recup: passa a seguir ao nível de “impessoa”. Desaparece. Morre como um cão, lembrando do rosto de Julia.
AVALIAÇÃO
Fanfic de “1984” (George Orwell).
O conto está bem escrito, assim como o ritmo da narrativa mantém-se linear sem atropelos ou pausas desnecessárias, o que facilita o fluxo de leitura.
A trama construída pelo(a) autor(a) prende a atenção desde o início, aumentando o envolvimento do leitor interessado no destino do protagonista. Há um clima de suspense do meio para o final da narrativa.
O fim, apesar de triste, é também poético: última imagem guardada ser o rosto da amada.
Considero o conto muito bem construído e desenvolvido com o devido ritmo, sem deixar pontas soltas.
Boa sorte nesta reta final e que o Grande Irmão desvie o olho de você.
A história se passa no ano de 1985, e trata de continuação da história de Winston, que depois de recuperado da rebeldia, pensa que terá sua vida apagada, mas ao invés disso ganha uma promoção. Depois de certo tempo, é colocado à prova: atirar no Grande Irmão, chefe totalitário da Oceania. Não o faz. Descobre que Júlia estava casada com aquele que o denunciara e justifica isto com a desculpa que ela assim salvou a própria vida e, talvez a dele, apesar de considerar que sua reeducação e todos os acontecimentos posteriores seriam uma estratégia de propaganda. Dois meses depois, o companheiro de Winston, gentil e tagarela se tornou uma “impessoa” e, em seguida, ele foi morto em sua casa, “pensando derradeiramente no rosto de Julia”.
O conto, como o livro a que se refere, traz questionamentos que perduram até os tempos atuais, como a dominação e a alienação, como a vigilância 24 horas, no intuito de influenciar o comportamento dos indivíduos, a realidade artificial, a perseguição e eliminação dos opositores.
Interessante é o pseudônimo que reúne George Orwell, Aldous Huxley, e Margaret Atwood, autores de distopias que narram um futuro não muito distante de uma sociedade que vive em sofrimento, sob o comando de um regime autoritário, sem perspectiva de um cenário melhor. Trazem para a nossa realidade, dominada por tecnologia e vigilância nas redes, histórias bem próximas ao cotidiano atual.
Gostei das referências e da maneira que o texto foi narrado, o autor é bem competente. O texto fluiu, diálogos bem objetivos. A trama apresenta-se filosófica, demonstrando dúvidas e defeitos dos personagens.
Parabéns pelo trabalho e boa sorte no desafio. Abraço.
Winston era um recuperado pelo sistema e se vê a espera se uma sentença, que ele sabia que viria. após retornar a casa ele recebe uma mensagem de que deveria de dirigir a um prédio do governo e assim o faz, tendo então uma rotina de afazeres colocada em suas mãos até o dia de um teste que teria de passar frente a líder. após o teste ele é levado de volta a sua rotina, onde, após um tempo, nota a ausência de seu companheiro de trabalho. Sua sentença não tardou a chegar, quando adentrou sua casa e deparou-se com dois guardas.
o conto é muito bem estruturado e sólido. Achei o início um pouco confuso, porém o desenvolver da história se torna mais intrigante. a escrita é boa, apesar de uma frase solta e meio confusa no início do texto. o fluxo é bom e o passo do conto constante.
O conto narra a história de Winston homem que vive num mundo distópico onde todos são vigiados pela figura do Grande Irmão.
Eu li 1984 há muito tempo, mas, me pareceu uma continuação do livro, mostrando o que aconteceu com Wiston e Julia depois que eles foram descobertos. Achei a narrativa muito boa, assim como a ambientação, tem todo um climão de distopia. Achei esse conto melhor que o outro que eu li que tem referências parecidas. Boa sorte no desafio.
🗒 Resumo: trata-se de uma continuação (ou epílogo) de 1984, de Orwell. Nela, Winston está “recuperado” e tentando viver a sua vida “normalmente” enquanto o Partido continua dominando a população e fazendo o que ele faz. Ele recebe uma nova chance no Ministério da Verdade, mas depois descobre que era só mais uma artimanha do O’Brien para ganhar prestígio no Partido. Ele, após isso, acaba se tornando desnecessário e é morto.
📜 Trama (⭐⭐⭐⭐▫): gostei de revisitar esse mundo tão cruel e tão possível de George Orwell. Em algum momento, achei que autor ia dar uma nova chance para Winston, mas ele nos trai, assim com O’Brien, e nos mostra mais uma faceta do grande manipulador, que acabou subindo ainda mais na carreira e se casando com Júlia. Gostei também da forma como o Grande Irmão foi apresentado: na verdade uma espécie de clones, por isso ele vivia para sempre e nunca envelhecia.
Enfim, uma boa continuação da história, com o mesmo gosto amargo no fim: não há como vencer o Grande Irmão.
Para não ficar só nos elogios. achei que a trama acabou um pouco espremida no fim, com a morte dele e do supervisor. Também senti falta de maior participação da Júlia, nem que fosse um olhar rápido.
📝 Técnica (⭐⭐⭐⭐▫): muito boa, uma técnica transparente, que conta a história e nos faz mergulhar nela, fazendo-nos esquecer que estamos lendo um texto e não vendo a história correr por nossos olhos.
🎯 Tema (⭐⭐): fanfic de 1984.
💡 Criatividade (⭐⭐▫): dentro do previsto para o tema do desafio.
🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫): gostei muito de ler o texto e revisitar esse mundo cruel, como disse. A reviravolta foi interessante e o fim trágico, mas não chegou a ser impactante. Um ótimo conto, porém.
Em uma sequência de “Admirável Mundo Novo”, Winston Smith, após anos de treinamento, é considerado recuperado pelo Estado. Ele volta a trabalhar para o governo, em um jornal no MiniVer. Após um tempo, ele é utilizado em uma encenação por seu algoz O’Brien para reforçar o poder do Estado na recuperação de indivíduos, deixando-os cegamente fiéis ao Grande Irmão. Por fim, ele é executado, pois não possui mais serventia para o governo.
Li “Admirável Mundo Novo” há muitos anos, mas ao longo de seu conto pude relembrar a experiência. O texto se adequa perfeitamente à obra original, como uma FanFic de continuidade. Gostei muito da forma como você introduz o leitor ao universo da distopia sem se alongar em explicações. Faz isso de forma natural, e isso é muito importante. Em um conto, com pouco espaço, alguns autores perdem parágrafos preciosos com um texto que acaba sendo enfadonho para o autor.
Desnecessário frisar o quanto é pertinente, em tempos de negacionismo e de adoração cega a certos “mitos”, retomar o livro de Huxley. É importante um conto se conectar com sua contemporaneidade.
A narrativa é bem fluída. O texto segue uma estrutura simples, mas bem coerente. Gostei bastante. Parabéns e boa sorte no desafio!
Num hipotético 1985 (começa aqui a ironia da bela distopia que você criou, logo depois do “1984”) temos uma sociedade totalitária na qual o controle vai bem além dos corpos. As pessoas que não se adaptam e nem se adequam, por ser um método mais barato do que extingui-las, são reeducadas, o que significa, aprendem a aceitar a onipresença do Grande Irmão. Assim acontece com Winston, nosso herói que é reeducado e usado para demonstrar o sucesso do serviço de “revisão de consciência”. Ao final ele é “finalizado”, deixando não só de ter vivido, mas de ter um dia estado no mundo. Caramba, que conto bonito, forte e intenso você me traz. Gostei muito. Você maneja muito bem a narrativa, prendeu-me a atenção e, ao final, deixou-me pensativo, ou seja, sua história cumpriu muito bem a que veio. Tudo muito bom. Parabéns.
Uma excelente história dentro de “Admirável Mundo Novo” e com uma breve alusão ao “Triunfo dos Porcos”, título em Portugal de “Animal Farm”. Aqui, encontramos o retrato do quotidiano de Winston, um funcionário como tantos que foi recondicionado e recuperado por O’Brien um membro do partido que sobe a um dos cargos mais elevados. A Winston é, estranhamente, oferecido um bom posto após a sua reconversão e em seguida a sua nova lealdade é posta à prova. Não lhe vale de muito pois, pouco tempo depois, o seu simpático chefe John Moore desaparece e é apagado como todos os indesejáveis e, por fim, Winston é morto.
Olá George, após o resumo, pouco mais há a acrescentar a esta fanfic tão bem elaborada e que certamente seria bem aceite por George Orwell, já com o Grande Irmão seria bem diferente, pois você passaria pelo MinAmor e terminaria seus dias pendurado. O enredo está muito bem e a história lê-se com entusiasmo e sem entraves. Não tenho conselhos a dar, a não ser que acentue “Júlia” e “saísse”. No mais, um primoroso tributo ao autor e à sua obra. Obrigada por participar e boa sorte no desafio.
Winston Smith, o protagonista de 1964, é realocado à sociedade e ganha um emprego no MinVerdade, apenas para aprender que tudo era uma grande encenação (Juila, O’brien, etc) e que logo ele seria executado.
Seu conto traz um fechamento a Winston Smith que o livro não traz, o que é interessante. Aidna assim, boa parte do conto é uma repetição de 1964; reexplorando o que livro já explorava, sem grandes novidades. O clímax – esse sim bem orquestrado – é o encontro dele com o Grande Irmão e a própria Júlia, e um palco cheio de Grandes Irmãos. É uma cena cheia de simbolismos e que mostra como Winston havia aprendido a obedecer e a “duplipensar”. Ao final, porém, vemos em uma única fala o verdadeiro Winston – um que ele havia guardado dentro de si e que explode boca afora quando fala de Júlia e de como ainda a amava. Por estas cenas, o conto fica muito bom do meio pro final e a leitura fica cada vez mais empolgante.
Sua escrita é muito boa. A leitura fluiu bem, me prendeu, não vi falhas. É um conto editado com muita atenção, que cada palavra parece ter sido colocada com esmero. Parabéns =)
O conto se baseia na obra 1984. Em um futuro distópico, onde a sociedade é toda controlada pela filosofia e persona do O Grande Irmão, existe Winston Smith, que anteriormente havia se rebelado contra as regras sociais impostas e havia sido recondicionado a elas, para retornar à comunidade. Ele foi encaminhado ao novo trabalho, em setor jornalístico,mas, na verdade foi colocado à prova de lealdade ao Grande Irmão: sua ex-amante, também anteriormente rebelde aponta uma arma para o Grande Irmão e Winston, armado, acaba por atirar nela para salvar o líder.
Tudo não passou de uma simulação, onde ele foi aprovado. Júlia, sua ex-amante, agora era integrada à sociedade e participou do teatro.
O supervisor destinado a vigiar Winston, Moore, informou-o de tudo isso, mas também o advertiu que tanto ele, Moore quanto Winston estavam na mira do Grande Irmão. Logo Moore desapareceu e chega a vez de Winston também ser eliminado, não antes, porém, da lucidez retornar ao nosso protagonista.
Texto EXCELENTE! A descrição do ambiente e fatos nos ambienta rapidamente à história e sentimos a depressão e distopia em cada palavra. Texto construído com cuidado, atraente, coerente e envolvente! Parabéns!
Resumo de Recuperado – Vivendo num regime totalitário, onde o poder de Estado controla o povo através de lavagem cerebral, o personagem Winston, um rebelde, é submetido ao processo de recuperação. Ele retorna ao trabalho, é mantido em vigilância e se torna mais um fantoche no Sistema.
Comentário – Esse é mais um conto com referência ao livro 1984 de George Orwell, também uma boa versão. Escrita excelente, narração com boa estrutura, inovando em alguns pontos em relação ao argumento original. O ambiente e as denominações enriqueceram a história. Abordou o tema com precisão. Só não entendi o final, mas me parece que Winston matou John Moore e por isso foi preso, é isso? Boa sorte.
RESUMO: Recuperado enquanto cidadão, Winston Smith ainda não escapou das maquinações de O’Brien.
COMENTÁRIO: Um conto impactante! A primeira parte é fundamental na construção do cenário opressivo e de um protagonista completamente vencido pelo sistema. Com alguns momentos por demais expositivos, essa primeira parte se arrastou um pouco, mas é inegável que a caracterização serviu à imersão no universo de Orwell. Aliás, com o risco de parecer bobo: as aliterações foram uma ótima pista. Boa mescla. Gostaria que V tivesse sido aproveitado mais amplamente. Li os quadrinhos e não li Orwell, mas confesso que V certamente conseguiria fragilizar o Partido. Mas, voltando ao conto, depois da aparição do fumante-sequencial, tudo sucede de modo mais desenrolado e a espiral de ruína psicológica do protagonista é inquietante de se assistir, ao mesmo tempo em que nos intrigamos sobre o que virá a acontecer em seguida. Por sorte, li rapidamente quem era O’Brien e Julia, então a cena do espetáculo reafirmou o interesse pessoal do malévolo algoz ao fazer de Winston uma peça cruel, reunindo todos os principais nomes da obra original. Com o desaparecimento de John, cuja posição frágil se apresentou desde a sua primeira aparição (mais um indício revelador do esmero narrativo deste conto), Smith não demora a conhecer o seu final também. A morte dele parece ser apenas a sua morte física, pois em um mundo em que dois e dois somam cinco, parece que ele já estava morto. Assim, a construção cuidadosa que o autor fez para retomar o mundo do Grande Irmão reafirma todo o seu peso, pois ao contrário do que poderia se imaginar, ao invés de mostrar um possível contra-ataque por parte do protagonista, aqui apenas se reafirma a sua derrota, agora definitiva e eterna. O Grande Irmão continua olhando para você.
Resumo: numa realidade distópica, em que o Estado tudo vê e tudo controla, Winston Smith, um ex-rebelde recuperado, tenta se reinserir na sociedade, apenas para servir como ferramenta para promoção de um dos líderes ambiciosos.
Impressões: excelente conto. O universo de 1984 está muito bem representado, com as manipulações estatais, com a edição de informações e com o controle extremo dos comportamentos. Gostei da maneira como Smith foi retratado, essa resignação dele, essa descrença em sua própria recuperação. Muito boa também a caracterização dos agentes do Estado — eles mesmos que usam a política de regeneração unicamente para se promover. Smith jamais se safaria dessa, ele próprio sabia. Assistiu a tudo só aguardando a maquinação de O’Brien. Interessante, porém, como ele, Smith, aceita fazer parte do teatro, como alimenta, quase sem querer a esperança e como sucumbe, talvez cansado daquele espetáculo de marionetes, ao confessar a John Moore que sim, tavez Julia tivesse agido de modo a protegê-lo.
Nesse ponto, cheguei a pensar que talvez ele tivesse sido ingênuo demais, abrindo-se dessa forma a Moore, mas depois percebi que Smith estava derrotado. Não havia como vencer o sistema opressor. Melhor partir de uma vez, nem que seja arrastando o simpático Moore consigo.
Creio que o grande mérito deste conto é que a narrativa coube muito bem em si. Nada parece faltar ou sobrar. Cria-se uma atmosfera verossímil, sufocante e, ao mesmo tempo um personagem que gera empatia — embora o leitor mais atento perceba, já no início, que não dá para ter muitas esperanças. Ainda que o final não surpreenda, não deixa de gerar certa epifania perceber como as peças se encaixam. Eric Blair ficaria satisfeito.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Nota: 5,0
Conto muito imaginativo, pertencente ao universo da ficção científica. Smith conseguiu a proeza de não ter o mesmo fim que todos os cidadãos daquele lugar , o de ser exterminado pelo partido opositor,quando se opõem a este. Julia , seu ex amor, o salvara daquele fim.mesmo Smith tendo sido comunicado sobre o seu fim, através da grande telletela, pois a mulher se casara com o Grand mestre somente com o objetivo de poupar a vida de Smith . No final,Smith é levado mesmo assim por guardas desconhecidos com ç umedecido um produto químico, tirando-lhe iram a consciência.Nota 40
Dentro do universo de “1984”, Winston Smith vive uma história alternativa, na qual ele é salvo temporariamente por Julia, para então sucumbir ao final.
Interessante, muito bem escrito, enxuto, narrativa ágil: excelente conto! Para quem não tem qualquer familiaridade com a obra de referência, é um pouco difícil de entender a relação entre os personagens, mas nada que uma olhadinha básica no Google não resolva. Muito bom, parabéns!
Resumo:
Homem subversivo cai nas garras de um partido totalitarista.
Avaliação:
(Autor, não leia o presente comentário como crítica literária, pois se trata apenas de uma justificativa para a nota que irei atribuir ao texto.)
Autor, você possui pleno domínio da língua e das técnicas de narração; é um escritor “pronto”. Fiquei muito impressionado! Parabéns!
Não identifiquei erros graves de revisão, ou melhor, seu texto está muito bem revisado!
Receberá nota alta!
Não conheço nem a obra, nem o escritor a que você fez referência (conheço só de já ter ouvido dizer), mas me senti motivado a conhecer a obra e o escritor.
Como eu não conheço a obra originária, o texto se tornou um pouco frustrante. Não sei exatamente o que você fez. Alterou o final? Assim, tive que abstrair o fato de se tratar de uma fanfic. Como vou avaliar se você é um bom escritor de fanfic? Você foi fiel ao texto originário? Tive a impressão de que sim, mas não posso ter certeza. Tive que avaliar seu texto abstraindo se tratar de uma fanfic. É uma história que possui início, meio e fim: o protagonista se torna um subversivo; é capturado, punido e recuperado; cai numa armadilha, é traído e executado. É isso: um conto com enredo completo. É um bom trabalho!
Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!