EntreContos

Detox Literário.

Admirável Chip Novo (Letícia Oliveira)

O chip era programado para interagir com os diversos ambientes e ocasiões em que os cidadãos se encontram no dia-a-dia.

Emanuel andava a passos largos pela avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro. Entre os altos prédios, torres espelhadas que lhe doíam o pescoço para encarar o seu cume, ele lembrava do irmão, que era engenheiro e entusiasta do Novo Partido.

Uma grande obra impactava a vida e o trabalho na cidade, as ruas estavam cheias de trabalhadores, indo de lá pra cá, descansando nos bares, almoçando nas calçadas. O barulho das máquinas que eram operadas na Saúde se faziam ouvir dali, da Igreja da Candelária, e as bombas faziam o chão estremecer de tempos em tempos.

Ao atravessar a larga Avenida Presidente Novo, recém rebatizada, uma das explosões fez o chão tremer, fazendo uma sensação percorrer todo o corpo de Emanuel. Uma sensação boa, de paz. Olhou para as pessoas que iam e voltavam na mesma faixa de pedestres que ele, todos tinham um sorriso nos lábios — todos sentiram o mesmo que ele.

Não conteve-se e teve que olhar para o antigo Morro da Providência, em sua antiga imponência, derrotado pouco a pouco pelos explosivos, carregado para longe pelos caminhões que circulavam sem parar pela cidade, deixando o trânsito um caos — mas Emanuel pensava que tal obra era um avanço importante, seu próprio irmão estava lá, coordenando o que seria a primeira das Grandes Obras da Nova Grande Reforma da Cidade do Rio de Janeiro, que englobava, Moisés tinha dito, a planificação das áreas centrais da cidade. O que englobava Centro, Zona Sul, Barra, e áreas da Zona Norte.

O projeto foi aceito de bom grado pela maioria da população, mas a oposição ainda lutava — uma minoria barulhenta. O mero pensamento fez Emanuel sentir a bile lhe subindo a garganta.

Chegou ao prédio em que trabalhava, a sede do Novo Partido no Estado, um prédio de esquina, construído na última década. Destravou a catraca que permitia acesso aos elevadores ao encostar o seu braço no sensor. Subiu até o quinquagésimo andar, o mais alto antes do terraço, onde trabalhava como Jornalista.

Bom dia — disse, sorrindo a seu colega, Raquel, uma das poucas mulheres que circulavam pelo prédio. Era uma mulher de sorriso fácil, e capaz de um ódio ainda mais natural, o que a tornava respeitável para ele.

Olá, Emanuel — Ela desviou o olhar compenetrado da tela do computador por um momento, — Paz — Ela o saudou.

Paz — Ele respondeu. — Alguma novidade?

Infelizmente, sim — Ela bufou. — A oposição entrou em conflito com as tropas do Novo Exército na baixada fluminense hoje. Sequestraram inocentes.

Emanuel sentiu o sangue ferver. 

Sentou-se em sua cadeira e ligou seu monitor. 

Apesar de ambos serem jornalistas, falavam com públicos diferentes, portanto, Emanuel deveria escrever as notícias oficiais de forma que atingisse o público. Suas mensagens eram sempre cheias de frases de efeito e figuras que representavam sentimentos ou ações. 

O chip, que os cidadãos usavam na mão ou no antebraço, recebia os estímulos que ele escolhia, ao receberem as mensagens. Eram estímulos hormonais, em sua maioria. Emanuel considerava uma grande responsabilidade, controlar as reações químicas que aconteceriam dentro de diversos membros da sociedade — aqueles que confiavam no Novo como ele, que sabiam como antes era ruim. E, para aqueles que não se lembravam, pois já haviam nascido no Novo, seu trabalho também era informá-los das duras realidades enfrentadas no passado, antes que o Novo tomasse o poder e transformasse o Brasil na maior potência mundial.

Ele mesmo possuía um chip, que era controlado por outro setor, não na sua cidade, mas na capital. Em breve iria para lá, encontrar-se com o Presidente Novo, para receber seu quinto prêmio de Melhor Jornalista.

Mas, agora, deveria se ater ao problema da oposição. 

Seu sangue ainda fervia de ódio ao pensar em suas ideias destorcidas, que eles tentavam espalhar desesperadamente antes de serem esmagados como formigas. Eles eram contra o uso do chip, buscavam ajuda internacional contra a suposta manipulação que o governo brasileiro infligia sobre sua população. Eram contra também o plano de planificação do Rio de Janeiro, falavam que o governo queria privar a população de sua identidade, de seus laços com a paisagem natural. Um bando de besteiras românticas e enganosas. O Brasil havia fechado suas fronteiras e sua comunicação com o mundo exterior por culpa de suas mentiras. 

Eles eram muito bons em enganar, pensava Emanuel.

Emanuel escreveu centenas de notícias naquele dia. Cada uma tinha em média 200 palavras. 

Elas eram enviadas em tempo real e, provavelmente, quando acabasse o expediente, ouviria as pessoas comentando sobre suas atualizações nos bares, nas lojas, no ônibus, sentiria-se orgulhoso por manter o espírito das pessoas em comunhão com os ideais do partido, com seu sonho de um Brasil livre das mentiras da oposição.

Quando o relógio chegou às 5 horas da tarde, Emanuel e sua colega pegaram o elevador juntos, conversando sobre as notícias mais relevantes do dia.

As notícias se resumiam à elogios à: reformas necessárias acontecendo em todos os setores da sociedade; comparações com tempos passados, demonstrando como o Novo era superior e estávamos, como Nação, na direção certa; divulgação das atrocidades cometidas pela oposição e seu pseudo exército contra cidadãos inocentes; piadas contadas pelo presidente que eram acompanhadas de rajadas de estímulos sensoriais através dos chips.

Às vezes, penso — disse Raquel, enquanto o elevador passava pelo vigésimo andar, — o que seria dese país sem o nosso trabalho. — Ela disse, sem sorrir, olhando para frente, e Emanuel ficou confuso com o que ela queria dizer, mas conteve-se em perguntar, porque haviam chegado ao Térreo, e um leve tremor agitou a caixa do elevador.

Dopamina foi liberada em sua corrente sanguínea e ele apenas andou em direção à saída daquele prédio, cegado pela luz do sol da tarde, laranja como uma abóbora. Raquel caminhou um direção e ele pegou a oposta, indo para o metrô da Candelária, voltando pelo caminho que fizera mais cedo.

A cidade continuava um caos. Caminhões por toda parte, barulhos agudos e graves, pessoas sujas de poeira, andando freneticamente em direção às estações de metrô, falando e rindo entre si.

Emanuel observava toda a gente, a massa que ele ajudava a controlar, enquanto andava junto dela e pegava o metrô.

Em alguns momentos, enquanto esperava ele que chegasse na estação, olhava fixamente para os trilhos — aqueles trilhos que estavam ali há tanto tempo, mesmo antes do Novo Partido florescer. Ele era apenas um menino, mas algumas memórias lhe vinham, distorcidas, embaçadas. Sentia de repente uma grande angústia, e imaginava-se pulando nos trilhos. Perguntava-se se doeria muito partir.

Mas, sempre, quando o metrô chegava, ele entrava, sentava-se e viajava até o Catete, onde morava num modesto apartamento.

Naquela noite, ao sair do metrô na estação, e, caminhar com sua lentidão característica por quinhentos metros até o seu endereço, e levantar o braço para validar o chip no sensor presente no portão, sentiu uma pressão na têmpora e então alguém agarrou seus braços para trás. Outra pessoa colocou um saco em sua cabeça e ele não pôde ver mais nada. Lutou, tentou chutar seus sequestradores.

Eu sei quem —  ele gritou, mas logo teve sua boca tampada e não pôde terminar a frase, ou pedir ajuda dos vizinhos, que estavam entretidos demais em seus apartamentos para ouvir o que se passava na rua.

Seu corpo foi arrastado para um lugar escuro — um carro, ele deduziu.

Tem certeza de que é ele? — uma voz feminina perguntou. Não parecia ser uma mulher madura, mas uma jovem.

Sim, eu segui esse por semanas, trabalha pro governo — O outro disse. A chave foi girada e o carro foi ligado. Emanuel logo notou que o carro não tinha piloto automático, como os novos carros. Até o cheiro da máquina, fedia à passado. Ele começou a suar, pensou no que poderia fazer para sair daquela situação. Suas mãos atadas, boca amordaçada e pés amarrados. Estava fudido.

Sentiu a aproximação de alguém, que o tocou e, então, uma dor pujante no braço, bem onde seu chip ficava, e então sentiu o seu sangue escorrendo por sua pele. Em vez de querer gritar, começou a perder os sentidos.

Eles voltaram, mais fortes do que antes e ele se debateu assim que acordou.

Calma, cara! Estamos tentando te ajudar! Esses chips são a razão de todo mundo estar maluco! — disse a garota. Então seu tom de voz ficou mais baixo, e ela disse para o motorista: — Isso, pega a Dutra.

Pra onde vocês estão me levando?!, Emanuel pensou, desesperado.

Ele sentia todo seu corpo banhado em suor. Em algum ponto da viagem, tiraram o saco da sua cabeça. Era a garota. Ela tinha um longo cabelo escuro e olhos verdes que brilhavam na escuridão do carro em movimento. 

Sua posição de poder sobre ele o fez estremecer, e tudo que ele queria era ter suas mãos livres para mostrar àqueles comunistas que sabia lutar.

Emanuel, acho que você já sabe quem nós somos, ou acha que sabe. Eu sei que você sabe que tudo que o Novo fala é mentira, não sabe? É tudo balela, inventada por gente como você. Você nega isso?

Ele apenas a olhou, confusão o dominando.

Balança a cabeça pra responder! — o motorista, um homem com tatuagens nos braços malhados e cabelo longo (o completo oposto de Emanuel) cuspiu as palavras.

Ele fez que não.

Ele sabia que seu trabalho era um trabalho criativo, em prol do bem maior; ele nunca havia pensado como mentira.

Você está sem chip, eu arranquei — a garota mostrou uma faca suja com o seu sangue. Ele olhou para baixo e viu a ferida, coberta com uma gaze porcamente. Quando ele olhou de novo para ela, ela segurava algo tão pequeno que parecia um grão de arroz. — Esse é o seu chip.

E então ela o jogou pela janela. 

Agora o chip de Emanuel estava caído na beira da estrada em algum ponto da Dutra, e ele nunca havia sentido emoções tão fortes em toda sua vida. Todo seu corpo suava, sua mente corria a mil. E tudo que ele sabia era que sua vida estava em perigo.

Nós não queremos te machucar. Nós só queremos que você veja a verdade, você entende? — Ela estalou a língua e olhou para o motorista. Emanuel não tirava os olhos de seu rosto, como para garantir que ela não fosse o machucar novamente.

Ele fez que sim.

Toda vez que vocês veem um programa de tv, falando bem do governo, eles liberam dopamina na corrente sanguínea. O cérebro humano fica viciado em dopamina. Eles geraram um exército de viciados em adorar o governo, basicamente. E você é parte disso, mas também é controlado, por aquele chip que nós tiramos de você.

Ele fez que sim.

Emanuel sabia de tudo aquilo, nada era novidade para ele, mas sem o chip sua percepção das coisas se tornara diferente, a realidade lhe doía cem vezes mais do que doeria se estivesse com o chip.

Quando pararam o carro, o desespero de estar longe de sua casa, de seu mundo, era mais que insuportável, mas ele fez o possível para parecer pacífico com aqueles vermes da oposição. Eles o levantaram e tiraram a mordaça, mas ele não tinha nada para dizer. Estava em algo que parecia um acampamento de guerra, no meio do nada, só o que via para todos os lados era mato e montanhas iluminadas pelo luar e o vento gelado soprava em seus ouvidos e arrepiava-o.

Naquele acampamento, ele teve contato com um grupo independente de fugitivos — todos tinham uma cicatriz no braço, onde um dia havia chips. Todos eles o olhavam com compaixão,

Estamos viajando para a base da oposição no interior de São Paulo; de lá, alguns vão para o Nordeste, — a menina começou a apresentá-lo às tendas dos rebeldes. 

Ele olhava com uma expressão vazia para aquilo, como se estivesse tendo uma experiência extracorpórea e sua mente se recusasse a acreditar.

(…)

Ele fugiu pela manhã. Enquanto os seus sequestradores dormiam, ele desatou os nós das mãos e pés e saiu correndo até a estrada, onde deu sinal desesperadamente até que um cidadão parasse e o levasse de volta à cidade.

A angústia crescia a cada momento que passava sem o chip, sem sua dopamina, mas não era só isso. Precisava voltar para sua função — mais do que nunca entendia sua importância no grande esquema das coisas. 

Disse para os policiais que havia se cortado, acidentalmente, e substituíram seu chip imediatamente por um provisório — logo um chip personalizado seria enviado pelo correio. 

O alívio que veio com a nova dose de dopamina o preencheu por completo, e ele pôde voltar no dia seguinte para o prédio do Partido com uma ótima ideia sobre as torturas que a oposição infligia em suas vítimas e sobre como o Novo era soberano.

 

P.S. Conto inspirado nas distopias 1984, de George Orwell, e na música Admirável chip novo, da banda brasileira Pitty.

17 comentários em “Admirável Chip Novo (Letícia Oliveira)

  1. Karen Salazar Cardoso
    12 de setembro de 2020

    Emanuel é um jornalista a favor do novo governo e do chip que é implantado nas pessoas. depois de um dia de trabalho ele é sequestrado pela oposição e seu chip removido. Mesmo sem o chip Emanuel mantém sua opinião sobre o chip e sobre as mudanças que ele causa na composição química do corpo do portador, ele ainda prefere ser dopado e viver em um mundo onde qualquer coisa ruim ou feita pelo governo é involucrada em componentes químicos que geram felicidade, a ponto que ele foge da “liberdade” para voltar a vida sobre o domínio do chip.
    O texto está bem escrito, apesar de alguns errinhos simples. confesso que me senti ligeiramente perdida na ambientação da história e com o enfoque na rotina do personagem, como se tivesse ficado simples de mais e faltasse algo.
    Achei genial o final da história e fiquei bastante surpresa com o fato dele ter voltado, não esperava por isso!

  2. Jowilton Amaral da Costa
    12 de setembro de 2020

    O conto narra a história de um jornalista morador da cidade do Rio de aneiro que vive num Brasil distópico.

    É um bom conto. A narrativa é boa, a leitura é feita sem entraves. Não achei a ambientação tão boa. Não senti o climão de distopia. A trama é boa. E gostei da comparação do chip como se fosse uma droga. O jornalista, depois que retiraram o chip, começou a sentir a vida como realmente ela era, e isso não o agradou em nada. Ele preferia viver sua vida de mentira do que encarar a realidade. Bem legal isso. Boa sorte no desafio.

  3. Marcelo Milani
    12 de setembro de 2020

    Marcelo Milani – Avaliação
    Conto: Admirável Chip Novo
    O conto conta a História de Emanual e de um mundo utópico onde seus cidadões são controlados por um chip social que determina a felicidade de seus habitantes. No enredo, o jornalista é capturado para se livra do chip e conhecer e verdadeira “realidade”, mas ao se deparar com ela, retornou para a sua “realidade” mais feliz e segura.

    O tema é excelente. Remete a utopia da sociedade perfeita. me lembrou com certeza o filme de Matrix e a descoberta de uma nova realidade e imaginei p personagem no quinquagésimo andar do prédio onde trabalhava.

    A gramática foi impecável.

    O personagem teve um início normal mostrando sua vida inicnado sua jornada de trabalho até o momento de seu sequestro e é aí que sento falta de colocar lenha na fogueira. O conto foi ficando monótono, a maneira come ele encontrou a verdade e interagiu com seus sequestradores ficou muito insossa. Eu esperava uma luta mais conceitual, mais racional, um embate mais épico, uma resolução mais imprevista. Ver ele voltar para casa e colocar o chip não foi uma surpresa para mim. Faltou descrever um sacrifício ideal nesse retorno, contudo é um conto que merece mais história.

    Nota:3

  4. Leo Jardim
    11 de setembro de 2020

    🗒 Resumo: num futuro próximo, o Brasil é governado por um partido Novo que colocou um chip em grande parte da população, controlando suas emoções através dele. Emanuel é sequestrado pelos opositores, tem seu chip removido, mas consegue fugir e opta por continuar vivendo seu mundo de mentiras.

    📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): gostei muito da premissa. Acredito, inclusive, que é quase uma previsão de para onde estamos indo. Ou, talvez, uma extrapolação do mundo atual, onde todos preferem a mentira reconfortante (ou agressiva) que a verdade inconveniente.

    Analisando tecnicamente a trama, ela acabou sendo um pouco linear. Já era mais ou menos previsível para onde ela andava, que haveria algum confronto com os opositores. Foi surpresa, porém, que ele tenha optado por viver na mentira ao invés de se abraçar à revolução. Foi um bom encerramento, anticlimático, mas bastante real. Só ocorreu um pouco rápido demais.

    Acredito que seria possível remover um pouco os excessos na primeira parte, muito do que aconteceu ali não acrescenta à trama. Assim, sobraria um pouco mais de espaço pra desenvolver melhor o desfecho.

    📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫): o autor, neste texto, optou por uma escrita simples e direta, sem grande floreios ou invencionices. Isso, em si, não é um defeito, mas em alguns momentos, acabou travando a leitura, seja pelos pequenos erros de revisão ou algumas construções que poderiam ser melhor desenvolvidas. Com algumas pequenas correções, tende a ser uma ótima escrita.

    ▪ disse, sorrindo a *seu* (sua) colega, Raquel

    ▪ Emanuel considerava uma grande responsabilidade *sem vírgula* controlar as reações químicas

    ▪ O Brasil havia fechado suas fronteiras e *sua* comunicação com o mundo exterior por culpa de *suas* mentiras. (Esse excesso de pronomes confunde o texto, embora esteja correto. O primeiro “sua” refere-se ao Brasil e o segundo “suas” aos opositores, dito na frase anterior. Essa confusão pode travar a leitura e o ideal é evitá-la.)

    ▪ Eles eram muito bons em enganar, pensava *Emanuel*. (…) *Emanuel* escreveu centenas de notícias naquele dia. (Repetição muito próxima da mesma palavra)

    ▪ o que seria *dese* (desse) país sem o nosso trabalho

    ▪ Raquel caminhou *um* (em uma) direção e ele pegou a oposta

    ▪ enquanto *esperava ele* que chegasse na estação (ficou truncada essa frase; talvez funcionasse melhor remover a inversão)

    ▪ Até o cheiro da máquina *sem vírgula* fedia à passado

    ▪ Estava *fudido*. (Também sou carioca e sei que é assim que falamos, mas tecnicamente o termo correto é “fodido”).

    ▪ Sentiu a aproximação de alguém, que o tocou e, então, uma dor pujante no braço, bem onde seu chip ficava, e então sentiu o seu sangue escorrendo por sua pele. (Exemplo de frase grande que poderia ser quebrada em mais de uma.)

    🎯 Tema (⭐▫): então, é um mundo interessante e assustadoramente possível, mas não é exatamente uma fanfic de uma história existente. Considerei, porém, parcialmente aderente ao tema, por conter elementos na música da Pitty e do mundo Orwell.

    💡 Criatividade (⭐⭐▫): não dá pra dizer que é um tema totalmente novo e criativo (acho que num desafio de fanfic, poucos serão), mas também não chega a ser clichê.

    🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫): foi uma leitura que me agradou bastante. Curti a ideia do conto e, como trabalho no Centro do Rio, sorri a cada referência. Gostei, também, do final, que fugiu do óbvio e ainda ampliou a mensagem. Mas tudo acabou acontecendo muito rápido desde o rapto, então não houve espaço para grandes emoções. Acredito que faltou apenas, mesmo, na minha opinião, um melhor desenvolvimento na parte final.

  5. Fernando Amâncio (@fernandoamancio)
    10 de setembro de 2020

    Resumo: O conto se passa em um futuro orwelliano, no Rio de Janeiro. Emanuel é um jornalista que trabalha para o Novo Partido, que domina a política e a mente dos brasileiros através de chips. Ele escreve notícias sobre o governo que, ao serem lidas, liberam dopamina nos leitores, forma de manter as pessoas favoráveis ao partido no poder. Mas há opositores e o grupo revolucionário sequestra Emanuel. O chip do jornalista é retirado pelos sequestradores, como forma de fazê-lo enxergar a forma violenta como o governo domina a população. Emanuel, porém, mantém-se fiel ao governo e foge.

    Um conto de ficção científica tem um desafio enorme, que é, em poucas linhas, introduzir ao leitor o universo em que ele se situa. Não é fácil, pois além de fisgar o público, a narrativa precisa ser instrutiva. Acredito que essa dificuldade tenha prejudicado o desenvolvimento do conto “Admirável Chip Novo”. A história custa a engrenar, são vários parágrafos com descrições dessa Rio de Janeiro futurista e do cenário político. 

    Deixo, portanto, essa dica para o colega Wesley B.: no princípio da história, mais do que ser didático, precisamos conquistar o coração e a mente dos leitores, como as notícias que o Emanuel escreve. Só que sem a dopamina.

    Há alguns problemas de revisão, palavras repetidas em frases consecutivas. Nada que prejudique, mas como o nível do desafio é alto, deixo a observação.Achei curioso o autor mencionar 1984 e a música da Pitty como inspirações, sendo que esta faz alusão ao romance Admirável Mundo Novo. O leitor pode ficar confuso, esperando alusões ao romance de A. Huxley.

    Em suma, gostei da ideia, achei criativo pensar o universo de 1984 no Rio de Janeiro. Mas achei que a execução poderia ser mais elaborada. Ainda assim, parabenizo o autor pelo conto e desejo sucesso no desafio!

  6. Fernando Dias Cyrino
    10 de setembro de 2020

    Olá, Wesley, você me traz uma interessante distopia baseada no Admirável Mundo Novo. Num tempo à frente, a vida acontece no nosso Brasil dentro de um modelo bastante autoritário. As pessoas carregam um microchip nos braços e por eles têm controladas as suas emoções e maneiras de pensar. Há um grupo da resistência atuando nas sombras e ele sequestra um homem do governo, um jornalista que passa para esses chips o que as pessoas devem sentir… A sua história se passa no Rio de Janeiro e foi bem legal caminhar com você pela Avenida Rio Branco distópica com as pessoas empoeiradas pela “grande obra”. Amigo, pois é. Achei que faltou algo mais no seu enredo, sabe? Ele não me gerou encantamento. Infelizmente, a minha leitura foi como que “processual”. Fui lendo, mas sem sentir que a narrativa estivesse me arrebatando. E sua ideia, o seu propósito eram grandes e por isto é que faço aqui o meu lamento. Acho também, Wesley, que poderia ter dado um tratamento mais profundo ao seu texto. Há alguns detalhes que poderiam ser melhorados/revisados. Credito isto a uma falta de tempo que deva ter havido. Em resumo, você me traz uma boa história, mas que, no meu modo de ver, ficou aquém da sua capacidade executora. Vá fundo no seu conto, amigo, e faça-o crescer. Você tem material excelente em mãos. Meu abraço.

  7. Ana Maria Monteiro
    9 de setembro de 2020

    A história de um breve lapso na vida de Emanuel, um jornalista galardoado do “Novo” regime, quando este raptado por um pequeno grupo de rebeldes e se depara com a insuportável realidade. Emanuel consegue libertar-se e logo regressa à sua vida que sabe ser falsa, mas que lhe proporciona o prazer de que necessita e pelo qual está disposto a tudo – incluindo continuar a alimentar a ilusão coletiva de que o Novo é muito melhor do que o anterior.

    Olhe, Wesley, eu achei o seu conto mais inspirado em Admirável Mundo Novo do que em 1984, pois ele está muito focado na recompensa pelo prazer e não na dor. São duas obras admiráveis e, que na época em que as li (há mais anos do que gosto de perceber que tenho), me marcaram muito. A nossa verdade atual veio a demonstrar que ambos, sendo tão antagónicos em suas previsões, acertaram em cheio, uma vez que atualmente vivemos em algo muito semelhante a uma mistura de ambas as distopias.
    Este é o primeiro conto que leio e comento, mas dei uma vista de olhos pelo geral e percebi que você diz em que se inspira e isso conta a seu favor; também parece que existem muitos participantes a escrever inspirados em filmes e BD’s e, nesses casos, não se pode avaliar se se mantêm fieis ao tom de escrita de um escritor; você não escreveu dentro do estilo de Orwell ou Huxley, mas, atendendo ao que disse antes, não levarei isso em conta. Claro está que o português PT difere muito do BR e isso incomoda bastante, mas é algo com que irei deparar-me em todos os contos – ou quase. Ainda assim, notei que a revisão não foi a 100%, mas creio que, posteriormente, você poderá alterar a quantidade de “à” indevidos pelos “a” que deveriam lá estar, independentemente da forma como pronunciam as palavras.
    Independentemente de tudo, o seu conto vale por si mesmo e isso é muito importante; ele acaba por revelar a essência acomodatícia do humano e essa é atemporal e intemporal: seja qual for a sociedade em que se vive, as pessoas optam por aceitar o que lhes é “vendido” sem grande resistência. Existem exceções, felizmente, mas são poucas e Emanuel não é uma delas. Obrigada pela leitura e boa sorte no desafio.

  8. Thiago Amaral
    7 de setembro de 2020

    Nesse conto, acompanhamos Manuel, jornalista que utiliza chips implantados nos cidadãos brasileiros para manipulá-los ao receberem as notícias. Manuel é sequestrados por membros da oposição ao governo, escapa e consegue retornar a sua vida comum no sistema.

    O conto está ok, mas faltam alguns elementos para torná-lo ainda melhor.

    Cuidado com expressões clichê (passos largos, dor pujante). Atente ao uso de vírgulas, crase e repetição de palavras. Uma leitura mais atenta de textos “profissionais” dará uma ideia de como evitar esses problemas.

    Pra mim, também faltou força no significado. A crítica é válida, tem sentido, mas me parece que poderia ser mais profunda. Talvez se entendêssemos ainda melhor a visão do protagonista. Como ele justifica todo esse controle? Como é sua visão de mundo? Os cidadãos em geral concordam com a situação? Acho que você apenas tocou levemente no potencial da história.

  9. antoniosbatista
    31 de agosto de 2020

    Resumo de Admirável Chip Novo – é a história de uma sociedade futurista, onde as pessoas usam chip implantado no braço que libera uma substância viciante, por meio dela o governo controla as pessoas. O protagonista, um repórter que faz elogios ao governo, é sequestrado por opositores ao regime. Eles arrancam o chip do braço dele no intuito de ter mais um aliado, mas o homem foge e pede para colocar um novo chip.

    Comentário- Achei que o conto está dentro do tema FanFic, pois aborda a ideia de George Orwell. A história ambientada no Rio de Janeiro ficou excelente, porém, a história ficou muito parecida com o romance. A escrita é simples, coesa e clara, permitindo uma boa leitura e compreensão dos fatos. A música da banda Pitty eu não conheço, mas a referência como título ficou legal.

  10. pedropaulosd
    28 de agosto de 2020

    RESUMO: Emanuel é um dos jornalistas do Partido Novo, carregando a imensa responsabilidade de definir a emoção de milhares de brasileiros a partir das estórias que inventa a serviço do seu país. A oposição, que sempre o enche da mais cega fúria, o sequestra e extirpa de seu chip, responsável por sua felicidade artificial. É levado para o acampamento, mas foge e recupera sua posição.

    COMENTÁRIO: Achei um conto interessante. O contexto, sobretudo, é claro e impactante, a imagem da planificação do Rio sendo talvez o que mais assustou e firmou a realidade distópica que a estória quer explorar. Ter um funcionário à frente de um veículo midiático alienante foi algo interessante, também, especialmente por nos deixar por dentro de como a falsidade é construída artificialmente dentro de um dos membros do sistema. O sequestro pareceu dar uma guinada num sentido diferente, intrigando o leitor a saber o que se dará dali e o que realmente é a oposição. Isso é outra consequência positiva da forma como o conto foi construído. Como a oposição aparece somente na perspectiva de Emanuel, sabemos que não temos a imagem verdadeira do que se trata, então estar de frente para ela cutuca essa dúvida, alimenta essa curiosidade… infelizmente, o autor optou por girar 180º e reestabelecer o personagem no mesmo lugar onde começou. Isso não é um problema. O problema mesmo é não ter havido um desenvolvimento do seu sequestro, dos motivos por detrás e do próprio universo particular daqueles que opõem o Novo Partido. Foi como se tivesse havido uma contextualização, um conflito, mas nenhuma resolução. Ao menos nenhuma que realmente satisfizesse as expectativas criadas pelo próprio conto. Achei poucos erros de português e a escrita flui bem, dando uma ideia clara do mundo em que a estória se situa.

  11. Marco Aurélio Saraiva
    27 de agosto de 2020

    Emanuel trabalha para o Novo Partido, que controla o povo através de chips, liberando dopamina e controlando os pensamentos. A oposição o sequetra e tira seu chip, mostrando a realidade, mas ele não aguenta o que sente e vê e volta
    para o partido.

    Emanuel é muito parecido com o personagem de Matrix chamado Cypher. Ele também viu a realidade e não aguentou o que viu, decidindo voltar para o seu mundo de faz de contas. A mensagem é sempre forte, por quê está em cada aspecto de nossas vidas. Acho que todos já se viram cegos propositalmente diante de um problema que não queriam encarar.

    A escrita peca um pouco pela simplicidade. Falta emoção. Esse conto tem um enredo simples; o objetivo não é uma história maravilhosa, mas sim uma questão simples e poderosa, e isso exige que o leitor se identifique com emanuel, que sinta o que ele sinta, que se coloque em sua pele enquanto lê. Senti que faltou isso aqui. Também vi alguns erros de revisão, como palavras faltando e problemas de português (nada muito grave).

    No geral um bom conto, mas que precisa de uma atenção maior nas descrições, no fraseamento e no uso das palavras.

    NOTA: Este trecho é muito destoante do resto do conto: “…pés amarrados. Estava fudido.”. Em nenhum outro lugar você xinga, mas subitamente resolve soltar um “fudido” no meio de um parágrafo. Não combina com o resto da narrativa.

  12. Claraliz Almodova Maria Edneuda
    26 de agosto de 2020

    Apesar de o conto apresentar uma temática moderna e sugestiva sobre a alienação das pessoas em relação às questões políticas, percebo q a conclusão veio antes do tempo esperar o, deixando o final desejoso de fecho mais consistente. A gramática apresenta qualidade, apesar de serem percebidos apenas 2 inadequacoes: uma de crase e outra de regência, entretanto, esse fato não causa digressões no enredo. O tema é m bastante criativo, por esse motivo, espera se um final mais emocionante. Nota 30

  13. Anderson Do Prado Silva
    25 de agosto de 2020

    Resumo:

    Em um futuro distópico, chips foram implantados nos seres humanos para manipular emoções, gerando apoiamento quase irrestrito ao governo.

    Avaliação:

    (Autor, não leia o presente comentário como crítica literária, pois se trata apenas de uma justificativa para a nota que irei atribuir ao texto.)

    Conto bem escrito e com bom domínio das técnicas de narração.

    Foi um prazer encontrar mais um clássico da literatura no desafio. Conheço o livro, mas não lembro de conhecer a música.

    Achei o enredo fantástico! Muito criativo, inspirado e contemporâneo.

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!

  14. Bianca Cidreira Cammarota
    25 de agosto de 2020

    O conto se trata de um futuro distópico em São Paulo, Brasil, onde as pessoas são controladas por um chip, que as controla e as vicia em dopamina, associando e distorcendo sua percepção dos fatos, a fim de que se aliem ao governo Novo nos moldes de ditadura. Emanoel é um jornalista inserido no sistema e satisfeito por estar nele, mesmo depois que é sequestrado pela oposição, que lhe tiram o chip e desejam que ele veja a verdade por si próprio. Emanoel decide permanecer no sistema.

    O conto é bem escrito. A frase inicial, de abertura, poderia ter sido mais chamativa ou ter ficado no segundo parágrafo, pois faltou-lhe mais impacto chamativo para o leitor.

    A velocidade da leitura é meio vagarosa na descrição do ambiente social e físico. Talvez seja assim em virtude do que o autor quis passar sobre a realidade distópica delineada.

    O conto é bom, fechado em si mesmo, ou seja, autossustentável. É interessante e aterrorizador, no tocante da possibilidade de um dia ser realidade essa ficção.

    A criatividade de basear-se na obra 1984 e na música de Pitty é uma virtude e, concomitantemente, uma deficiência. Explico. A criatividade de juntar duas inspirações e criar algo coerente, atraente é fabulosa. O autor merece parabéns! A deficiência é no tocante a não termos noção de qual obra se refere o conto, a não ser quando se chega ao final e o próprio autor explica sua inspiração em uma nota pós- texto. Entendo que uma fanfic se refere a uma obra e, na leitura, já se identifica qual universo ficcional no qual ela se baseia. Isso faltou no conto. Conheço (e aprecio) tanto 1984 e a música de Pitty e não consegui fazer a relação do conto com a fonte inspiradora.

    No entanto, o conto é ótimo. Mereceria, ao meu ver, ser desenvolvido em uma novela ou em um pequeno romance. Sugestão para o autor!

    Nota : 4

  15. Giselle F. Bohn
    25 de agosto de 2020

    Em um Brasil distópico, onde todos possuem um chip que controlam suas emoções, um jornalista que trabalha para o governo é sequestrado por rebeldes da oposição.
    O conto começa bem, afinal, o tema é interessante, ainda mais por estamos todos, de certo modo, vivendo já uma distopia! Mas do meio para o fim a trama se perde, e o final vem muito apressado e sem impacto, talvez pelas limitações de espaço.
    Tecnicamente é um texto bom, apesar de alguns pequenos erros na utilização da vírgula (separando sujeito e verbo, por exemplo), da crase (“se resumiam à elogios”) e falhas de digitação (há no texto “destorcido” e “distorcido”) e um “sentiria-se” ao invés de “sentir-se-ia”.
    Mas é um texto que prende a nossa atenção, e isso é muito positivo! Parabéns! 🙂

  16. Gustavo Araujo
    25 de agosto de 2020

    Resumo: numa realidade distópica, Emanuel trabalha como jornalista, criando notícias que ajudam a embotar os sentidos de uma população domesticada por chips. Mesmo sequestrado e livre de seu chip, ele decide, ao escapar, retornar à velha função.

    Impressões: O conto tem altos e baixos. Sucede muito bem ao emular a atmosfera opressora do romance 1984, com o Estado controlador e a ditadura das emoções. Mas creio que faltou uma história nesse ambiente, a história do Emanuel. Sabemos que ele é jornalista e que prefere a realidade criada pelo Novo do que a liberdade de pensamento, mas é só. Creio que o autor poderia ter mergulhado um pouco mais na personalidade dele, no passado dele, em sua família, em seus desejos e medos escondidos. Do jeito que está, temos somente o cenário montado e isso me frustrou um tanto, especialmente porque havia espaço para mais desenvolvimento. No geral, o conto está bem escrito, apesar de um ou outro erro de digitação. Não gostei, contudo, o termo “fudido” lá pelas tantas. Não vejo problemas em palavrões nos contos nem nada assim, mas aqui isso quebrou o ritmo quase protocolar, quase burocrático, muito bem empregado no restante do texto. Também o uso da palavra “pujante” me pareceu errado, querendo dizer “pungente”. Mas, como eu disse, são erros menores que não diminuem a boa concepção. Faltou, somente, repito, um aprofundamento do protagonista.

    Outra coisa que não curti foi a menção direta ao livro do Orwell no final. Achei desncessária essa muleta. A tua história, caro autor, se sustenta por si. Parabéns e boa sorte no desafio.

    Nota: 3

  17. britoroque
    24 de agosto de 2020

    Bom demais, cara.

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Publicado às 24 de agosto de 2020 por em FanFic, FanFic - Grupo 2 e marcado .