EntreContos

Detox Literário.

O Livro de Jonas (Iolanda Pinheiro)

Gosto de frequentar sebos. Sempre o faço às sextas-feiras, porque nestes dias o meu expediente termina mais cedo, e, trabalhando no centro da cidade, percorro os sebos que ficam a poucos quarteirões de minha repartição. Gosto do cheiro das páginas velhas, das marcas deixadas nos livros: anotações, flores ressequidas, bordas estragadas das capas mostrando o quanto de tempo e maus tratos eles já passaram. Não é nada comum encontrar preciosidades nos sebos vagabundos que frequento, mas no último dia treze, na loja do meu amigo Tobias, encontrei um livro de capa vermelha, garimpado entre tantos outros. Parecia muito antigo, e havia este singularíssimo relato manuscrito entre suas páginas, que passo a transcrever:

 

“ Relatos Náuticos (página 135)

Daniel Guimarães Pires,  Lisboa 1896 – Ano do Senhor. ”

Depois desta apresentação notei que havia várias páginas arrancadas e a história prosseguia deste ponto:

 

…A tempestade nos alcançou na segunda semana de viagem. Sob nossos pés a madeira velha do assoalho vibrava ameaçando ceder ao peso do mastro.
Eu estava de pé junto à amurada, enquanto os tripulantes corriam puxando cordas, baixando velas, tentando manter a estabilidade do navio violentamente sacudido pelas gigantescas vagas.

Olhava ora para os marinheiros assustados e ora para a água negra lá embaixo. O escuro profundo do oceano me trazia um sentimento de morte e expiação.

Sabia o que precisava fazer para acalmar aquela tormenta, mas o desejo de sobreviver mais uma vez ao meu fatídico destino tolhia a minha coragem.

Sentia que o navio poderia se despedaçar a qualquer momento. Vimos uma onda nos atingir a estibordo com força brutal, arrastando vários homens pelo convés escorregadio e tememos que algum de nós fosse lançado nas águas revoltas. Não conseguia mais ficar ali, desci à cabine com os meus demônios e culpas atormentando-me a alma e trazendo recordações de como tudo começou.

Oito anos antes eu era um jovem médico casado, morando com minha esposa no velho continente. Havia me instalado num simpático sobrado em Lisboa, e arrumara o cargo de médico auxiliar no Hospital Real de Todos os Santos.

Sendo estrangeiro, jovem e principiante, não era raro que me mandassem atender nos sítios mais distantes e pobres, pacientes com doenças infecciosas que os médicos mais antigos se recusavam a tratar.

No último dia da semana do meu terceiro mês no hospital, fui designado para visitar um velho senhor no meio da tarde. Precisamente naquele dia eu estava bastante ansioso para me desembaraçar desta tarefa pois em seguida iria partir com a minha esposa para um passeio pelo campo.

Subi à carruagem às três horas e quinze minutos. O trajeto para o destino era longo, e o trabalho, inglório.  A tarde não custaria a cair e o paciente me esperava em uma casa velha nos arrabaldes de Lisboa.  

O cocheiro, creio que também estivesse bastante vexado, pois cobria o trajeto aos solavancos, tão rápido que em pouco tempo eu já podia sentir as grandes rodas de madeira girando sobre a lama ainda fresca devido à chuva matutina. Era comum estradas sem revestimento nos caminhos que levavam às periferias. Consultava meu relógio de algibeira a todo instante, e mesmo correndo bem acima da velocidade usual, já se haviam passado três quartos de horas, quando o cocheiro partiu me deixando lá.

Cheguei um pouco antes do crepúsculo. A casa ficava nos fundos de um terreno sombrio, no alto de um morro. A terra era negra e mole, onde meus sapatos afundavam. O lugar ainda era composto por algumas lúgubres arvores ao seu redor, onde eram amarrados varais com lençóis brancos se agitando. O mato alto denunciava o descuido e se estendia até os muros rachados, com algumas trepadeiras entranhando nos corrimãos de pedra dos degraus.

Ninguém me esperava à porta. Os cômodos imundos tinham um cheiro antigo e abafado. O bafio de doença me conduzia ao catre onde o paciente agonizava. Apesar do calor naquele fim de tarde, o idoso tremia sob as cobertas. Quando cheguei perto foi que vi as bolhas estourando em seu rosto. O lençol estava manchado por pus e sangue, e as pontas dos seus dedos estavam escurecidas.

Sobre um criado-mudo um volume vermelho chamou a minha atenção.
Era um livro.

O homem estava morrendo. Sabia que não ia durar mais do que horas e teria que tomar uma decisão sobre aquele caso. Pensava em Madalena me esperando em casa. Já não achava mais prudente viajar naquele dia. Olhei a rua lá fora e não vi a carruagem. Certamente o cocheiro teria ido cuidar de algo de seu interesse.

Cheguei a pensar em por água a ferver para lhe dar um banho, mas, chegando à cozinha, nada mais existia além de telhas partidas sobre um fogão rachado. Sem trempe, ou panelas, e até mesmo um pote com água que me salvasse.

Voltando ao quarto vi que o enfermo expirava. Pelo menos assim me pareceu naquele momento.  Com a sua morte, e para evitar que a doença que lhe acometia se propagasse pela vizinhança, comecei a deixar uma ideia um tanto sinistra invadir os meus pensamentos. Uma ideia sombria e insensata.

Já havia acompanhado a incineração dos corpos de mortos por doenças contagiosas. Levavam os defuntos recolhidos pelas ruas e os jogavam em grandes fogueiras feitas nos terrenos sem vegetação. Estava convencido de que era o melhor a fazer naquele momento. Não dispondo dos recursos da municipalidade, eu mesmo me encarregaria do serviço.

Fui lá fora pegar os lençóis já enxutos e com alguns eu enrolei meus braços. Trouxe um galho firme que arranquei de uma árvore e com ele ergui os panos colados com o fluido do corpo do doente. Fui para trás da casa e queimei tudo. Deixei lá a fogueira e voltei para o interior da casa. Estendi um lençol limpo no chão, e com as mãos e braços revestidos, coloquei sobre eles o seu corpo torturado pela moléstia. Enrolei seu corpo inerte o máximo que pude e o levei até onde havia deixado a fogueira.

Todo médico faz um juramento, e por este promete fazer tudo ao meu alcance para o bem, mas aquele homem já não podia ser salvo, havia morrido. Queimando o seu corpo, poderia impedir que o mal contaminasse outras pessoas.

Eu cria, de fato cria, que o homem já havia dado o último suspiro quando o lancei sobre a fogueira, então, foi com enorme susto que vi entre estalos e crepitações, o pretendido defunto remexer-se entre os panos, querendo se erguer.

Fiquei alguns segundos petrificado, puxei-o para fora da fogueira com o galho que usara para levar os lençóis contaminados.  Apaguei as chamas jogando areia sobre os trapos. A pele estava parcialmente colada no tecido e as chagas severamente queimadas exalando um fedor pestilento que me penetrava as narinas.

Quando o desembaracei, a custo, de parte do tecido que o cobria, ele estendeu o braço deformado tentando agarrar meu tornozelo, fitou-me com os olhos vazios e balbuciou alguma coisa que eu julguei ser uma frase em latim.

– Maledicti sunt!

Larguei-o no quintal, peguei minhas coisas e parti. Deixei o homem ao lado da fogueira sem olhar para trás. Não esperei que minha carruagem retornasse. Andei até encontrar um homem com uma carroça que em troca de algumas moedas, levou-me para casa.

Cheguei completamente descomposto. Subi para a casa de banho, sem cumprimentar minha esposa que preparava o nosso jantar com as criadas. Desci já com novas roupas e embrulhei as que usara para queimá-las no dia seguinte. Não conseguia tirar a imagem do homem olhando para mim.

Meu dever era comunicar o falecimento e o risco de infestação logo que pudesse às autoridades, mas não imaginava uma forma de explicar a minha atitude infeliz e suportar as consequências do ocorrido.

No dia seguinte acordei um pouco animado e fomos, como havia sido combinado, viajar para a quinta da família de um colega com o qual havia estreitado relações. O fim de semana decorreu tranquilo e as cenas da última sexta-feira já começavam a se desvanecer na minha memória.

Quando retornei no início da semana, entretanto, a notícia que corria pelos corredores do hospital era a de um grande incêndio que destruíra o imóvel todo e se alastrara pelo mato que cercava todo o terreno, atingindo outras casas.

As novas complicações me desestimularam mais ainda a informar o caso e prestar esclarecimentos, apenas comuniquei que estivera sim, na casa do homem, e que onde o incêndio devia ter iniciado após eu ter saído de lá. Creio que fui bastante convincente, pois nada mais me foi perguntado sobre o caso.

Os dias seguintes transcorreram tranquilos, e a rotina os fazia agradavelmente idênticos. A repetição me acalmava, afinal a vida sem sobressaltos com a qual eu estava acostumado estava de novo em minhas mãos.

Se a impunidade me dava alívio, a vida de casado me trazia alegrias. Sempre gostava de levar mimos para a minha esposa, surpreendê-la, fazê-la sorrir. Madalena se agradava com qualquer coisa, então sempre que podia, passava pelo comércio e levava algum presente para casa.

Na vitrine de uma pequena livraria achei algo que ela iria apreciar: um livro sobre flores inglesas com lindas gravuras. Comprei um volume e pedi para que fizessem um embrulho caprichado. A vendedora, entretanto, me informou que só estavam com o livro de mostruário, mas, antes do anoitecer, mandaria para minha casa um livro trazido da filial. Concordei e fui à padaria comprar seus pães favoritos. Distraí-me escolhendo também biscoitos e acabei chegando um pouco mais tarde do que havia planejado.

Quando, afinal, cheguei a nossa residência, a encomenda com o presente de Madalena já havia sido entregue. Minha esposa estava sorridente, como de costume, mas me olhava com um ar intrigado e apontou para o livro sobre a mesa perguntando:

– Tem certeza que isto é para mim?

Lá estava ele. Não o livro das flores inglesas, mas um outro: o livro vermelho da casa do homem que eu havia queimado vivo. Assim que o vi não tive nenhuma dúvida. A capa vermelha desgastada nas bordas, uma imagem de estrela dourada gravada na capa. Uma mancha marrom na parte direita superior e uma fita amarela saindo de suas páginas, marcando uma específica.
Não havia uma explicação racional para aquele fato. Soubera que tudo havia se queimado naquela casa, como, então, aquele livro havia chegado até a minha casa? O mais pavoroso era que o volume havia vindo realmente dentro da embalagem com o símbolo da livraria, e havia sido deixado, conforme questionei com nosso mordomo, pelo entregador daquela loja.
Imediatamente me ocorreu que alguém havia presenciado toda a minha atividade naquela sexta-feira e teria entrado na casa logo que saí e guardado consigo o livro. Talvez esta mesma pessoa tivesse, então, ateado fogo no imóvel e nas plantas e assim, provocado o incêndio na casa do meu paciente e nas cercanias.

Estes pensamentos me provocavam sensações conflitantes, pois, estando o meu raciocínio correto, eu não era, afinal, o responsável por todas as desgraças que aconteceram naquele dia. Por outro lado, eu fora observado. Alguém conhecia meu segredo e ainda mais grave: sabia onde eu morava.
Naquela noite não dormi. No dia seguinte voltei à livraria e a moça se desculpou dizendo que havia mandado o livro errado, e que mandaria o livro encomendado logo mais. Quis devolver o tal livro vermelho, mas ela falou que ele não fazia parte do catálogo da loja, que podia ficar com ele para mim. Percebi que não adiantaria insistir, e de mais a mais, já que estava sob meu poder, iria lê-lo.

Após a ceia fui até a biblioteca e o encontrei sobre a minha escrivaninha. Estava em mau estado, especialmente na capa, as folhas, contudo, estavam consistentes e as letras bem legíveis.

Era, simplesmente, a história do Profeta Jonas e de como havia sido engolido por um peixe gigante em razão de sua desobediência. Uma passagem assustadora da Bíblia que me causara pesadelos quando era menino. O texto não era igual ao bíblico, mas o seu autor o havia romanceado e o transformado num romance completo, com várias tramas.
Enquanto folheava suas páginas, curioso, vi algo que fez disparar o coração.

A figura de Jonas, ali retratada, tinha os traços muitíssimos parecidos com os do homem que eu havia atendido e assassinado, dias atrás. Não havia dúvidas. O mesmo rosto comprido e um tanto encovado, os olhos grandes e incisivos, aquela boca de lábios finos sobre a qual caía o nariz adunco e comprido.

Muitas explicações passaram em minha cabeça, a mais coerente foi que talvez o livro tivesse sido escrito quando o homem ainda fosse jovem, e este tivesse servido de modelo para o ilustrador. E assim, após o livro ter sido publicado, o rapaz, vaidoso de ter sido pintado, tivesse querido comprar um dos exemplares. Eis aí uma boa elucidação para o ocorrido. Larguei o livro ali e fui cuidar dos meus afazeres, já mais tranquilo.

Os dias transcorreram docemente e por um tempo minha vida correu sem tristezas ou acontecimentos estranhos. Alguns meses após o ocorrido Madalena me pediu para ir comigo ao hospital pois desejava se consultar com o seu médico de hábito.

Nos encontramos na hora do almoço. Ela me pediu para irmos a uma confeitaria muito conhecida lá perto. Estava radiante. Não foi difícil adivinhar o que seus olhos brilhantes me falavam: Minha Madalena ia me dar um filho. O dia foi maravilhoso para nós. Voltei ao hospital apenas para comunicar a novidade e que ia passar aquela tarde com a minha esposa.

Os meses passavam muito rápido enquanto Madalena preparava tudo para receber nosso bebê. A felicidade a deixava ainda mais bonita e a cada dia que eu chegava do trabalho vinha me mostrar bordados, brinquedos, e móveis que havia mandado fazer na melhor marcenaria de Lisboa.

Numa destas vezes ela estava no pavimento superior na hora em que cheguei. Ouviu minha voz lá de cima e veio descendo apressada quando ao chegar nos últimos degraus parou e segurou no corrimão da escada, muito pálida. Acorri de imediato até onde estava e a levei em meus braços até o sofá.

Ficou ali, aconchegada a mim sem forças para se levantar.  Esta foi a primeira de muitas fraquezas que Madalena sentiu. Durante os eventos ficava tonta e pálida, sentia escurecimento das vistas e as pernas não a sustinham. Examinei minha esposa exaustivamente, mudei sua dieta muitas vezes e a fiz tomar fortificantes, mas tudo parecia em vão.

Observei a mulher da minha vida definhar sem que eu nada mais pudesse fazer até que perecesse às vésperas do nascimento de nossa filha, a quem dei o nome de Aurora. Antes de dar seu último suspiro, Madalena voltou-se para mim com seus grandes olhos cor de mel, agora marcados por olheiras profundas, e segurando debilmente a minha mão direita entra as dela me fez prometer que salvaria nosso filho.

Assim que fechou os olhos pela última vez peguei meu bisturi e, entre lágrimas e soluços, tirei o bebê de sua barriga, mas a menina estava muito fraca, e morreu logo depois de sua mãe.

O universo e tudo o que eu amei havia se acabado naquele instante. Era órfão de pai e mãe e meus irmãos moravam no Brasil. Não sentia vontade de encontrar ninguém. Sequer voltei ao hospital para trabalhar. Após o enterro ficava dias e noites em casa, olhando os cômodos, chorando abraçado aos vestidos da minha esposa.

Dispensei os criados, passei a usar o dinheiro da minha herança já que não trabalhava mais. Deixei a barba crescer e me limitava a manter algumas camisas e a roupa branca limpa.

No início recebia algumas visitas. Colegas, chefes, parentes de Madalena, todos vinham a minha casa na tentativa de me trazer algum ânimo. Tentativas vãs de me tirar da tristeza em que repousava meus pensamentos. Depois de um tempo até os amigos mais chegados acabaram desistindo de mim.

Passei a beber. Em pouco tempo dei cabo de todo o estoque de vinhos da minha casa. O dinheiro que serviria para a aquisição de comida, servia então para adquirir mais garrafas. Começava a me embriagar assim que acordava e prosseguia pelo dia inteiro, até que caísse exausto sobre algum dos móveis da casa.

Certa tarde, ainda segurando a terceira garrafa do vinho barato que passei a comprar, e depois de ter acendido algumas velas pela sala, julguei ter visto um vulto caminhando em direção à biblioteca, o espectro de uma mulher. Um tanto hesitante segui seus passos até aquele cômodo e entrei. Lá estava ela: Madalena! Não como costumava ser, mas apenas uma sombra alva, quase transparente, de cabeça baixa, os longos cabelos espalhando-se sobre seu rosto pálido.

Chamei seu nome, gritei para ela, mas Madalena apenas enxergava fixamente para algo sobre a mesa.

Olhei para o que ela observava e lá estava o tal livro vermelho. Tinha certeza que o havia guardado numa das prateleiras mais altas de uma das estantes. Virei o rosto para o canto onde o livro deveria estar e, no momento seguinte, Madalena havia desaparecido.

Andei até a mesa e o livro continuava ali, aberto em uma página sem gravuras e quase completamente em branco, exceto uma frase escrita nela:

– Maledicti sunt!

Meus olhos não acreditavam no que viam. Tudo o que aconteceu naquela desditosa tarde voltou de uma vez aos meus pensamentos. A lama, a casa, o homem, o fogo … Maldito seja … Afinal foram as palavras que o homem me tinha dito antes de morrer, eu havia sido amaldiçoado e para a minha maior desgraça a maldição recaíra sobre as duas pessoas as quais eu mais amava no mundo.

Pensei em jogar aquele objeto demoníaco na lareira, mas apenas debrucei-me sobre a mesa e recostei minha cabeça sobre meus braços e adormeci.

Sempre havia filas de cobradores batendo na minha porta. Quando o dinheiro da herança acabou passei a vender a preços irreais as joias de Madalena, quadros, a prataria, a porcelana inglesa, e, por fim, quase todos os móveis.

Comecei a ser visto como uma pessoa desprezível, e até das tabernas mais imundas conseguia ser expulso.

Em dois anos estava irreconhecível. Estava extremamente magro e envelhecido. Não raro arrumava brigas que sempre perdia. O fundo do poço chegou no dia em que, voltando para casa aos tropeços, descobri que havia lá um meirinho segurando um rolo de papel que eu deveria assinar. E assim descobri que o meu sobrado tão rico de boas e más lembranças iria ser leiloado.  Assinei o tal papel e gritei para que o homem fosse para a casa de satanás.

Dormi o dia inteiro e por volta das onze horas da noite havia tomado uma resolução. Iria embora para sempre. Fizessem o que lhes aprouvessem com os bens que me haviam restado.

Coloquei alguns trastes e dois livros dentro de um saco de pano e logo que amanheceu saí pelo mundo. Não ficava muito tempo em cada local, apenas o suficiente para arrumar dinheiro e viajar para mais longe. Trabalhei nos mais diversos empregos, sempre trabalhos manuais que me exigiam muito mais da força do que da inteligência. Já havia rodado por toda a Europa, uma boa parte da África e dois países da Ásia quando meti em minha cabeça a vontade de retornar ao meu país de origem.

Não fiz amigos, apenas companheiros nos alojamentos pouco higiênicos aonde conseguia dormir. Também não passei um único dia de minha vida sem lamentar o que havia feito com o homem que, involuntariamente, havia assassinado. A tragédia me perseguia por onde fosse. Em cada posto de trabalho que arranjava, deixava para trás um rastro de sangue e morte. Acidentes, incêndios, quedas, inundações, tragédias das quais eu sempre escapava milagrosamente. Com o tempo percebi que a minha maldição nunca me atingiria pessoalmente, mas a todos aqueles que de mim se afeiçoavam. Forçando-me a uma eterna solidão.

O livro vermelho estava lá entre as minhas roupas, em suas páginas a cada tragédia, iam-se desenhando os rostos daqueles condenados à morte por terem de alguma maneira convivido comigo. Sempre que abria as páginas daquela obra amaldiçoada, ia percebendo que suas páginas amareladas iam ganhando desenhos de novos rostos, o registro diabólico da sina que me pesava nas costas – a culpa indireta mas consciente por cada uma daquelas mortes.

Quando, ao fim de oito anos resolvi voltar para minha terra natal, levei o livro comigo e fiz uma promessa a Deus e a mim de que iria encerrar tudo aqui.

Usei quase todo o dinheiro que conseguira juntar ao longo deste tempo e embarquei num grande navio com destino ao Brasil. Não contava encontrar com nenhum parente vivo, não contava sequer que meus pés voltassem a pisar no solo do meu país. Em meus planos esta viagem jamais será concluída, pelo menos para mim.

Encontro-me agora em meio à terrível tempestade. Li várias vezes o Livro de Jonas e há alguns anos sei que única solução para minha vida é acabar com ela. Tenho como certo que logo que me lançar sobre a amurada, a tormenta cessará e salvarei todos estes homens. Assim como ocorreu com o Profeta Jonas, serei engolido por um monstro do mar mas não terei a chance de recomeçar que ele teve. O livro vai comigo, o tenho bem atado a minha camisa. A ideia é que ele encontre seu fim junto com o meu.

Caso você o tenha encontrado, meu amigo, saiba que este livro sempre chega às mãos de quem deveria possui-lo. De uma forma ou de outra você o mereceu, e por ele pagará o preço devido, em cada dia de sua vida sobre a Terra.

Despeço-me, afinal, e que Deus tenha piedade de minha alma.”

 

Minha vida nunca mais foi a mesma desde que li a história de Daniel. Não sei se é mera sugestão da minha mente atormentada, mas há alguns dias ouço ruídos estranhos vindos do porão de minha casa, vejo sombras furtivas e assovios sinistros do vento que entra durante a madrugada batendo as folhas das janelas. Penso em cada um dos meus pecados e pergunto por qual deles eu pagarei com a minha paz.

Deus tenha piedade de minha alma.

Amém.

84 comentários em “O Livro de Jonas (Iolanda Pinheiro)

  1. Edinaldo Garcia
    11 de novembro de 2017

    Escrita: É excelente. Qualidade literária excepcional. A narrativa tem um bom ritmo.

    Terror: É sim um conto de terror, dentro do que o autor se propôs, num terror mais velado, sutil, dramático. O final ficou muito bem feito, a misticidade do livro é um elemento excelente.

    Nível de interesse durante a leitura: O enredo é bom e interessante.

    Língua Portuguesa: É ótima. Deslizes que encontrei foi apenas em:

    pensar em por água a ferver – pôr
    a minha mão direita entra as dela – entre

    Veredito: Conto muito bom.

    • SALAMANDRA.
      11 de novembro de 2017

      Esperei muito pelo seu comentário. Não me decepcionei. Agradeço.

  2. Renata Rothstein
    11 de novembro de 2017

    Oi, Salamandra!
    Primeiro, parabéns pela sua escrita firme, ousada, criativa e por trazer um terror bastante diferente, neste desafio.
    Realmente apavorante ser perseguido por algo que desconhecemos e sabemos que está nos atingindo, e esse é o gatilho para o desenvolvimento de sua história.
    Achei ótima a descrição, os detalhes que vc criou, não senti medo ou tive impressão de ler Terror, mas gostei, e muito, do seu conto.
    Boa sorte!

    • Salamandra
      11 de novembro de 2017
    • iolandinhapinheiro
      14 de novembro de 2017

      Florzinha linda. Obrigada por sua meiguice, por ser esta pessoa sem problemas. Vc vale ouro.

  3. mariasantino1
    11 de novembro de 2017

    Olá, tudo bem?

    Seu conto tem uma narrativa firme, de outros tempos, é competente quanto à ambientação e consegue vender muito bem o personagem (me vi torcendo pelo médico, preocupada mesmo com ele).

    Não curti muito a metaficção por dois motivos. 1, por me interessar muito pela vida do médico. Entendi que ele fez um juramento e foi castigado por não cumpri-lo. Muito bom porque o universo dele foi construído com esmero. 2, porque você não dá muita pista sobre as implicações da pessoa que encontrou o livro. Se ao menos ele fosse, sei lá, um padre pedófilo. Imagino que você tenha deixado possibilidades para que a pessoa que está lendo imagine, mas, ao menos pra mim, ficou com ar de que faltou alguma coisa. (Será que eu deixei escapar algo?)

    Não tenho nada mais a dizer, só parabenizá-lo pelo trabalho.
    Boa sorte no desafio.

    • SALAMANDRA.
      11 de novembro de 2017

      Olá, Senhorita.

      Não especificar os pecados no rapaz que comprou o livro no sebo foi proposital. Veja bem: quando eu não informo quais pecados a pessoa cometeu, eu atinjo todos os leitores. Não sabendo qual qualidade de pecado traria a maldição do livro, qualquer um passa a ser alvo.

  4. Rafael Penha
    10 de novembro de 2017

    Olá autor,
    Achei o conto bastante interessante em sua descrição e narrativa. Uma escrita realmente incisiva e segura.

    Quanto ao desenvolvimento de personagem, achei fraco, infelizmente. Muito foi falado, mas a personalidade do protagonista não foi desenvolvida.

    Quanto a premissa, é o clichê do item maldito que não larga seu possuidor, é interessante e até bem explorada, traz de novo a historia de Jonas, de forma mais perturbadora.

    Grande abraço!

    • iolandinhapinheiro
      14 de novembro de 2017

      Obrigada pelo comentário, grande abraço para vc também.

  5. Pedro Paulo
    9 de novembro de 2017

    Olá, entrecontista. Para este desafio me importa que o autor consiga escrever uma boa história enquanto em bom uso dos elementos de suspense e terror. Significa dizer que, para além de estar dentro do tema, o conto tem que ser escrito em amplo domínio da língua portuguesa e em uma boa condução da narrativa. Espero que o meu comentário sirva como uma crítica construtiva. Boa sorte!

    Aqui, com uma escrita que valoriza o contexto que está inserida, o uso de primeira pessoa contribuindo para uma leitura fluía e rápida, o autor inicia um conto em que estabelece um conflito bem no começo, instaurando um suspense que é bem continuado como um contraponto à vida feliz do protagonista. No entanto, há uma certa dificuldade para manter este suspense.

    O caso do velho, dotado das descrições assombrosas de sua doença, é chocante e interessante, no que começa a tal maldição do livro. A partir daí, ficamos esperando ver como é aquilo vai voltar para o personagem, o volume vermelho chegando justamente para trazer o castigo. A mulher engravida, padece e morre, a filha dos dois indo juntos. Como está escrito em um diário, seria um pouco inverossímil uma descrição mais detalhada que contasse com diálogos e momentos mais íntimos da personagem, mas depois deste preço caríssimo, fiquei me perguntando o que mais o livro tiraria dele. Nada.

    Claro, a partir daí há toda a decadência do protagonista, mas vejo mais como um reflexo do seu luto e da sua culpa, não conferindo ao livro as consequências que vão se instalando depois. Desse modo, acaba ficando um pouco cansativo ler o abatimento do protagonista, uma vez que, além de entender como é que ele chega naquele navio, não temos mais o que esperar da tal maldição, pouco referenciada ao longo do caminho.

    O final, encerrando o relato dele para dar espaço ao novo dono do livro, acaba sendo um pouco anticlimático. Entendo a pretensão de dar força a ideia de maldição que gira em torno do livro, mas a essa altura eu estava querendo saber se ele pularia ou não do barco, ainda que não coubesse como o relato de um diário.

    • Salamandra
      9 de novembro de 2017

      Lendo o seu comentário, acredito que você não entendeu. Ele perde muita coisa sim. Perde toda e qualquer chance de felicidade, está condenado a ter uma vida cercada de tragédias, onde todos os que se relacionam com ele estão fadados a morrer. Talvez se vc conhecesse a história do Jonas da Bíblia este conto fizesse mais sentido. Culpa minha. O que está na minha cabeça, não está na do leitor. Seria muito esperar que estivesse.

      • Pedro Paulo
        14 de novembro de 2017

        Em matéria de Bíblia eu sou péssimo mesmo. No entanto, acho que em nenhum momento houve esperança de que as coisas poderiam ser boas de novo, então, talvez por não conhecer a história bíblica, não tive o senso que a maldição o impregnou com a decadência. Pensei foi um percurso natural das coisas.

      • SALAMANDRA.
        14 de novembro de 2017

        Pedro Paulo. O cara nunca mais foi feliz. Quem ficasse perto dele, morria, A maldição o enchia de culpa e solidão. Não era consequência normal da decadência. A decadência e as mortes eram consequência da maldição. No próximo desafio, quando for comentar, tente achar um equilíbrio entre as coisas positivas e as negativas do conto. Um abraço.

  6. Daniel Reis
    7 de novembro de 2017

    Estimado entrecontista: “dentro da baleia mora Mestre Jonas”. Comecei a gostar por aí. A sua escrita é bastante segura e longe de ser empolada, tem um tom sóbrio que combina com a personalidade do narrador (principalmente na leitura do livro). Quanto ao ponto que eu não gostei, foi o epílogo. Acho que ele poderia ser estruturado de forma a não “forçar” tanto a maldição. Mas essa é uma escolha do autor e eu a respeito. Grande abraço, boa sorte!

    • iolandinhapinheiro
      14 de novembro de 2017

      Obrigada pelas dicas, querido, e pelo comentário. Abraços.

  7. Fil Felix
    7 de novembro de 2017

    Boa noite! É o tipo de escrita que gosto de chamar de sóbria: muito boa, competente e séria. Legal ter trazido a história de Jonas e a Baleia, em meio a tantas ótimas descrições, como o médico embrulhando o corpo e resolvendo queimar. Seu conto também trouxe uma áurea medieval, dos médicos da renascença, que estudavam os corpos. Outro ponto foi ter utilizado o livro como objeto místico e de maldição, com a narrativa num crescente em torno dele. Só estranhei o final, acredito que não precisava ter explicado sobre o que acontece com quem fica com o livro, já tá subentendido e não me pareceu que o protagonista já tivesse essa ideia de livro/ relíquia. No mais, muito bom.

  8. Evandro Furtado
    6 de novembro de 2017

    Conto bastante consistente, sobretudo na construção em direção ao clímax. O autor faz uso da fórmula básica do conto de terror, fazendo uso de todos os elementos comuns, e eles funcionam é bem verdade. A partir do momento em que a maldição se concretiza, no entanto, aquela magia inicial se perde um pouco. Talvez a maldição devesse ser, justamente, o final do conto, com o autor desenvolvendo ainda mais o que veio antes, construindo com mais drama e terror. Acho que essa opção em destilar o texto se deu no suporte da ideia de que esse prólogo/epílogo funcionariam. Acho que é o terceiro ou quarto conto desse desafio em que isso acontece. E essa coisa de história dentro de uma história falhou em todos os casos. Se fosse detido apenas na doença da mulher e o desespero do homem em ver seu amor definhando – somado ao pavor da possível perda da criança ainda não nascida – teríamos uma obra prima. Não foi o caso aqui.

    • Iolandinha Pinheiro
      15 de novembro de 2017

      Poxa, fiquei arrasada com o comentário. Mas, tudo bem. Eu nem sempre sou legal. Ainda vou arrumar um jeito de ganhar outstanding de novo. Beijos.

      • Evandro Furtado
        17 de novembro de 2017

        Awwww, não fique. Esse Outstanding tá guardado aqui pra breve.

  9. Gustavo Araujo
    4 de novembro de 2017

    Ótimo conto. Destaco inicialmente a ambientação, o suspense crescente. Tudo nos leva a perceber para onde a história caminha – Jona dá a dica – mas mesmo assim queremos ter certeza e por isso não largamos a trama. Não há surpresas exatamente, dada a linearidade da narrativa, mas talvez por isso a história seja tão pegajosa (no melhor sentido da expressão). Gostei do protagonista também, porque é um sujeito até certo ponto bom, normal, mas também cheio de falhas, de defeitos, alguém que de repente se vê numa situação dramática, daquelas que mudam a vida, e que não sabe o que fazer. Uma coisinha que me incomodou foi o fato de ele ter escapado tão facilmente da investigação sobre o incêndio. Ele havia sido chamado para cuidar do enfermo, e também foi o último a vê-lo com vida, antes que o fogo acabasse com tudo. Numa situação normal, ele seria o principal suspeito, mas aqui, tudo se resolveu em uma linha, com ele sendo dispensado do rol de investigados sem mais nem menos… De todo modo, isso não tira o brilho da narrativa, dado o envolvimento que ela provoca. A alusão a Jonas foi muito sagaz, assim como a descrição do ambiente naval no início. Quando nos damos conta do motivo pelo qual ele, o protagonista, está no mar, há aquela mini-epifania que torna o conto merecedor do famoso rótulo que destaca os bons dos quase-bons: “foda!” É isso, caro autor, ótimo trabalho! Boa sorte!

    • iolandinhapinheiro
      14 de novembro de 2017

      Valeu, Gustavo! Saber que você gostou (uma pessoa de quem tanto admiro a escrita criativa e técnica) já vale como um êxito. Muito legal ver você dizendo que meu conto ficou “foda” no melhor sentido desta palavra. Quero sempre poder impressioná-lo positivamente. Sou sua fã. Beijos.

  10. Rose Hahn
    3 de novembro de 2017

    Salamandra, muito bom o seu conto, a escrita é muito madura, envolvente, gostei da história da maldição, a forma com que você conseguiu demonstrar o definhamento do personagem, a maldição se concretizando, também gostei da ambientação na Lisboa do século 19. Apenas percebi destoar na narrativa a doença da esposa, pois ele como médico viu a esposa definhar sem nada que pudesse fazer. A meu ver ele deveria ter tomado as providências de levá-la a um hospital, porém ficou impassível esperando a morte dela. No mais, um conto com fôlego para ocupar uma boa posição no ranking do desafio. Abçs.

    • Salamandra
      3 de novembro de 2017

      Oi, Rose. Vc tem razão, menina. Eu coloquei lá que ele viu a esposa definhar sem conseguir fazer nada, e imaginei que todos entenderiam que ele fez de tudo (sendo médico e levando a esposa ao hospital) e, mesmo assim, nada adiantou, porque a doença dela já era a maldição agindo. Ele tinha que perde tudo ao seu redor. Mulher, filha, casa, dinheiro, amigos. Quando for reescrever vou lembrar de deixar isso mais claro.

  11. iolandinhapinheiro
    1 de novembro de 2017

    Boa noite, Salamandra

    Já comecei gostando do pseudo que vc escolheu, existe um mito sobre as salamandras que diz que elas são imunes ao fogo, será que tem alguma relação com a imolação do paciente no começo do conto ou foi mera coincidência?

    O conto inicia com o sujeito que encontrou o livro vermelho em um sebo em algum tempo e lugar desconhecidos, mas a última notícia que tivemos deste livro foi que ele teria encontrado seu fim no fundo do Oceano Atlântico junto ao desafortunado Daniel. Pelo que posso deduzir, então, ou Daniel não se matou, mas retornou ao seu país e foi viver com a sua família propagando a maldição por aqui. Uma explicação razoável. Outra possibilidade é que o livro fosse sobrenatural (ele se desenhava sozinho, né?) e por isso não precisasse respeitar as leis da física para chegar às mãos de quem merecia.

    Será que estou certa? Mas o detalhe do rapaz do sebo não é tão importante assim, pelo menos por enquanto, na verdade as coisas que estão dentro do livro, os relatos de Daniel, é que são a parte interessante da história. O conto, ambientado em Lisboa no Século XIX mostra um jovem médico egoísta e meio desesperado, tomando a decisão errada. Até entendo que ele tenha se apavorado com a possibilidade de contágio pela peste negra, mas achei que ele poderia ter retornado ao hospital e avisado às autoridades sanitárias a situação do homem, mas, enfim, se ele tivesse feito as coisas certinhas o conto não iria caminhar, a maldição não ia ter passado para ele, né?

    Gostei muito da ambientação da parte que em que ele está na casa, mas não gostei da descrição do lançamento do homem ao fogo. O seu conto tem muito clima de suspense. Não há alívio algum para o leitor. A vida de Daniel cai num abismo de desgraças e acontecimentos sobrenaturais, até o seu provável fim. Adorei a utilização do Livro Bíblico de Jonas, e de vc ter colocado o Daniel na mesma situação que o profeta. Ficou assustadora esta parte.

    O seu conto tem muitos elementos que me agradam, especialmente por não apelar para monstros, ou coisas nojentas ou vísceras espalhadas pelo chão. Acho que terror é muito mais a sensação do medo do que estes expedientes que aos quais as pessoas recorrem. A fluidez é absoluta, o conto é super envolvente e os erros de pontuação não atrapalharam a leitura.

    A ameaça ostensiva no final do conto é sensacional, o leitor compreende que é melhor andar na linha ou pode ser atingido pela maldição do livro.

    Ah e muito obrigada por não ter enchido o conto de informações desnecessárias, tudo aqui se encaixa perfeitamente, e faz todo o sentido.

    Para resumir, um conto quase excelente,

    Abraços e boa sorte.

    Iolanda.

  12. Miquéias Dell'Orti
    1 de novembro de 2017

    Olá,

    Que ótima história você trouxe pra gente! Gostei particularmente do gancho inicial, da história dentro da história.

    Seu estilo tem um “quê” de formalidade, mas sem ser cansativo. Acho, particularmente, quem tem poder para fazer isso completamente sensacional. Mostra que tem talento.

    O trabalho do texto teve certa sensibilidade com os detalhes e as descrições ficaram simplesmente ótimas.

    Gostei do final, da “passagem de bastão” para “o cara que achou o livro no sebo”.

    Tirando algumas falhas ortográficas (mínimas, diga-se de passagem), eu só estranhei a forma como o a história foi apresentada para o “cara que curte um sebo”. Se o maldito livro desenhava as pessoas que ele acometia, por que diabos Daniel escrevia nele relatos náuticos? Relatos que, acredito eu, sejam um tipo de diário de bordo.

    Também existiram dois aspectos em que fiquei com uma dúvida mortal e sem um explicação sobre o porquê dessas coisas:

    1. Qual o real sentido (para a história) do Maledicti sunt? Tem algo nas entrelinhas que eu não consegui enxergar?

    2. No começo da história, o “cara que tem um amigo chamado Tobias” comenta que havia várias páginas arrancadas. Depois, não somos apresentados ao motivo real disso, ou mesmo ao conteúdo dessas páginas. Pensei até, ao chegar no final, que ele ia falar que arrancava as páginas que tinham rostos desenhados, mas isso não aconteceu. Minha dúvida: isso foi proposital? Se foi, aguardo explicações ao final do desafio rsrs.

    Parabéns e boa sorte!

    • SALAMANDRA.
      2 de novembro de 2017

      Boa noite, Miquéias.

      Respostas às suas perguntas:

      – “Maledicti Sunti” significa “Maldito Seja” em latim. O idoso falou isso para o médico amaldiçoando-o com as palavras com que ele mesmo havia sido amaldiçoado. Posteriormente, quando o médico vê as mesmas palavras no livro, ele percebe que o livro era o objeto que conduzia esta maldição. O homem queimado não devia ser boa pessoa, porque o livro estava sobre o criado-mudo do quarto dele, quando o médico chegou.

      – Arranquei as páginas para ficar mais fácil ao comprador do livro encontrar o relato onde Daniel contava tudo. Se ele fosse folhear até chegar lá demoraria a encontrar o relato, e também, confesso, por querer que o texto iniciasse por ali, não tendo que inserir detalhes irrelevantes à trama.

      Espero ter ajudado.

  13. Lolita
    28 de outubro de 2017

    A história – Um livro maldito faz os seus donos pagarem os pecados da pior maneira possível: atingindo aqueles que o desgraçado ama. Gostei do recurso da história surgir a partir do exemplar perdido em um sebo.

    A escrita – Fluída, sem erros. Salamandra arrisca ao colocar a sua história em um período histórico, mas se ocorrem anacronismos eles não atrapalharam a minha leitura.

    A impressão – Cuidar o que cai em nossas mãos, sempre! Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.

    • iolandinhapinheiro
      16 de novembro de 2017

      Obrigada pela leitura, Lolita, e parabéns pelo pódio.

  14. Pedro Teixeira
    27 de outubro de 2017

    Olá, Salamandra!
    O texto traz de forma inteligente o tema da maldição, e está bem escrito. Estranhei a rapidez com que o protagonista decide deixar o velho lá sem saber se ele tinha morrido ou não, ainda mais considerando que se trata de um médico. A narrativa tem qualidade e mantém o interesse, mas acho que ficou um pouco espremida, pede um pouco mais de espaço para desenvolvimento de personagens. Mas o saldo é positivo. Um bom conto.

  15. Jorge Santos
    26 de outubro de 2017

    Olá autor(a).
    Gostei muito do conto, da forma elegante e compassada da evolução da narrativa, que mantém a tensão. Fiquei com sérias dúvidas sobre a época em que se passava a história, nomeadamente sobre a existência de empregadas de livrarias, mas nada que diminua o interesse do texto.

    • iolandinhapinheiro
      16 de novembro de 2017

      Ê! Parabéns pelo segundo lugar. Muito bom o seu conto! Obrigada pela nota linda que me deu. Beijão.

  16. Luiz Henrique
    26 de outubro de 2017

    É de estranhar a forma de atendimento deste médico a um paciente que vive isolado, abandonado. Ninguém convivia com ele? Quem o chamou de lugar tão ermo? É um enredo cheio de contradições, e ou, explicações. Contrapondo com outras explicações, de certa forma desnecessárias, por exemplo, a citação do cocheiro em seu trajeto e a pressa para ir embora sem motivo aparente! E também o fato do médico decidir simplesmente queimar um cadáver, sem atestar sua morte é pouco estranho. Mas apesar desses pesares, é um bom conto. A escrita é fluente e bem condizente com a leitura do livro, sem atropelos gramaticais. O desfecho também surpreende bastante. A ideia do livro é bem criativa, o que foge um pouco dos velhos clichês. E o mais importante: é um texto que cativa o leitor do começo ao fim.

    • Salamandra
      26 de outubro de 2017

      Luiz Henrique, muito prazer.

      Esclarecendo algumas dúvidas que vc deixou em seu comentário:
      Durante a Baixa Idade Média, a Europa foi assolada por uma epidemia conhecida como Peste Negra, que devida às péssimas condições de higiene da época, se espalhou e acabou matando 25 milhões de pessoas. Os sintomas da Peste Negra eram os mesmos do homem que o médico encontrou na casa. Então quando ele viu o homem, ele enxergou o ressurgimento desta doença. A peste negra durou até o Século XIX. Devido ao pavor de contaminação, queimavam-se roupas, cadáveres, tudo o que pudesse servir de foco para contágio. Então o que o médico fez tomar uma medida preventiva para evitar uma nova epidemia.

      Ninguém vivia com o paciente. Ele vivia sozinho, e o hospital mandou um médico novato lá, para atender o sujeito. O médico estava com pressa, o cocheiro foi resolver algo de seu interesse e largou o médico lá. O médico estava com medo de se contaminar e fez um exame visual superficial no homem. As condições do paciente estavam tão deploráveis que ele imaginou que o homem estava morto. Como Daniel era uma pessoa egoísta e queria se livrar logo do problema, resolveu fazer o procedimento que era feito em casos de suspeita de peste negra. Claro que o ideal era ter chamado as autoridades, mas ele optou pelo caminho mais fácil. Que era se livrar de tudo de uma forma rápida.

      O cocheiro ter pressa foi um fator para o desespero do médico. Tudo no conto tem um motivo e um sentido.

      Quem chamou o médico de um lugar tão ermo? . Alguém do que seria o Ministério da Saúde da época fez um levantamento dos doentes da periferia e mandou alguns médicos para os locais. Em um conto nem tudo tem que ser extremamente explicado, há coisas que se deduz, entende? Se o médico foi designado a ir lá, é porque alguém tomou conhecimento e o mandou.

      Finalmente. Pelo menos você gostou mesmo depois de ter esbarrado em tantos problemas. Isso é bom e espero que se reflita na nota. hahaha.

      Boa noite.

  17. Luis Guilherme
    26 de outubro de 2017

    Tarrrde, amigo, cê ta bao?

    Como tenho dito, este desafio é especial para mim, uma vez que amo o gênero. Por isso, estou lendo com bastante expectativa os contos. Dito isto, vamos ao seu:

    Gostei!

    A escrita é bastante competente. Tem uma linguagem envolvente, que me deixou preso do início ao fim. O uso da linguagem é excelente, e a gramática me pareceu impecável.

    Seu conto me causou uma sensação interessante: durante a leitura, eu esqueci que se tratava de alguém lendo um livro. Me envolvi de tal forma com a história de Daniel que esqueci completamente da pessoa que lia. Assim, a história foi se desenrolando, eu super concentrado e interessado, e com aquela impressão de “ah, tem uma pegada ok de terror.”

    No fim, quando a história termina e o foco narrativo volta pro personagem-leitor, me deu um gelo na espinha! Caraca, senti na pele o que o cara deve ter sentido lendo aquilo. E foi ali a cereja no bolo! A história do Daniel em si é boa. Porém, a forma como você construiu o conto foi o que deu o tom de brilhantismo.

    Cara, imagina você ler um livro louco desses! E veio parar na sua mão. Caraca, agora você que tá ferrado.

    Enfim, esse desfecho foi a sacada de mestre, que elevou muito o nível do conto!

    Adorei. Parabéns e boa sorte!

    • iolandinhapinheiro
      17 de novembro de 2017

      Ê, garotão! Parabéns pelo conto e pelo sucesso. Obrigada pelo comentário, adorei.

  18. Vanessa Honorato
    26 de outubro de 2017

    Como adoro sebos e livros antigos, senti um certo pavor, e quando for comprar algum livro usado e procurar por sinais dos antigos donos, ficarei com a pulga atrás da orelha. Gostei muito, curti toda a trama, e acabei ficando com bastante pena do cara que adquiriu o livro, pois, ele não queimou ninguém vivo rsrsrs. Vai saber, talvez ele tenha feito algo pior…

    • iolandinhapinheiro
      16 de novembro de 2017

      Ola. Vanessa! Obrigada pelo comentário. Beijos, flor.

  19. Ricardo Gnecco Falco
    26 de outubro de 2017

    Olá! Segue abaixo o resultado da Leitura Crítica feita por mim em seu texto, com o genuíno intuito de contribuir com sua caminhada neste árduo, porém prazeroso, mundo da escrita:

    GRAMÁTICA (1,5 pts) –> Sim, escrever é a arte de cortar palavras… E sem se esquecer de cuidar das que foram poupadas! Ou seja, uma boa e atenciosa revisão é FUNDAMENTAL em um texto — e não apenas para este quesito —, ainda mais em um trabalho que estará concorrendo com os de outros escritores… E o cuidado com a Gramática e a revisão do trabalho resultante nesta obra, longe de incinerado, mostrou-se bem vivo e presente por toda a leitura. Parabéns!

    CRIATIVIDADE (2 pts) –> Este é, sem a menor sombra de dúvida, o quesito MAIS IMPORTANTE de todos (e consequentemente possuidor do maior peso em sua nota final)… Temos aqui uma boa construção, levando uma trama repleta de suspense como em um navio a flutuar por ondas de caligrafia marcante, transformando a proa em convés ao final de uma viagem repleta de simbolismos, a começar pela escolha dos nomes das personagens. Madalenas, Jonas, Daniel… Nada como buscar referência no Livro mais conhecido da face da Terra. E, creio eu, que em outros lugares também; mesmo os ais profundos deles…

    ADEQUAÇÃO ao tema “Terror” (0,5 pt) –> Como estamos em um Desafio TEMÁTICO, não tem como avaliar sua obra sem levar em consideração este “pequeno” detalhe, rs! Assim sendo, mesmo eu o tendo valorizado apenas com meio ponto, ao final do somatório isso poderá representar a presença (ou não) de seu trabalho lá no pódio. Aqui, contudo, o terror e o suspense deram as mãos e resultaram em uma obra completamente adequada ao tema proposto para o presente Certame. Pontos garantidos.

    EMOÇÃO (1 pt) –> Beleza! Gramática (e revisão!), criatividade (enredo), adequação ao tema… Tudo isso é importante para um bom texto. Mas, mesmo se todos os demais quesitos estiverem brilhantemente executados, e o conto não mexer de alguma forma com o leitor, ou seja, não emocioná-lo, o trabalho não estará perfeito… Claro que ninado por uma escrita fluida e digna de um autor que sabe como conduzir a pena, o leitor (pelo menos este aqui) acaba mareado com a história e, ao final, sente até uma pontinha de medo ao imaginar a possibilidade de esbarrar com algum livrinho de capa vermelha por aí…

    ENREDO –> O autor foi bem criativo e sagaz ao escolher a forma cíclica com a qual resolveu contar sua história, de forma a transmitir ao público a mais que desejosa sensação (em uma história de terror) de poder, a qualquer momento, dar de cara por aí com o tal livrinho e, quebrando assim uma tênue 4ª parede, transformar-se em uma involuntária continuação para a história.

    Parabéns e boa sorte no Desafio!
    Paz e Bem!

    • Ricardo Gnecco Falco
      26 de outubro de 2017

      Nota Máxima: 5,0
      Sua Nota: 1,2 + 1,5 + 0,5 + 0,7 = 3,9

      • iolandinhapinheiro
        16 de novembro de 2017

        Eita, gostei da nota não. Mas, tá valendo. Beijos.

  20. Leo Jardim
    25 de outubro de 2017

    # O Livro de Jonas (Salamandra)

    Autor(a), desculpe-me por não ter tempo para formatar o comentário melhor. Em caso de dúvida, é só perguntar.

    📜 Trama (⭐⭐⭐⭐▫):

    – apesar de se basear no clichê da maldição, gostei da forma como a história foi contada
    – essa história dento da história tem seus riscos e pode dar errado, mas nesse caso funcionou bem e senti uma boa tensão no fim qdo percebi que o narrador tava ferrado
    – algumas coisas ficaram em aberto por exemplo: como o livro chegou ao sebo?

    📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫):

    – no início achei arriscado narrar na voz de um personagem de um tempo antigo e ainda por cima português, mas acho que funcionou muito bem, não cheguei a encontrar nada que incomodasse
    – em algumas partes ficou corrida e muito contada

    – coloquei sobre eles o *seu corpo* torturado pela moléstia. Enrolei *seu corpo* inerte (repetição próxima)

    💡 Criatividade (⭐⭐▫):

    – muitos clichês de maldição e livros, mas com uma roupagem nova satisfatória

    🎯 Tema (⭐⭐):

    – o terror surgiu tarde, qdo percebemos que o livro era amaldiçoado

    🎭 Impacto (⭐⭐⭐⭐▫):

    – o texto prendeu bastante a atenção
    – no fim, quando retorna ao narrador inicial, cheguei a sentir um calafrio, muito bom para um texto de terror

    • Salamandra
      26 de outubro de 2017

      Ele era brasileiro e morava em Portugal =) Em alguns trechos isso é sutilmente informado.

  21. José paulo
    25 de outubro de 2017

    Opto sempre por comentar sobre o grau de emoção que o conto me passa… Se eh uma boa história e como ela eh transmitida… afinal, essa parceria resume o eventual talento de quem opta por contar uma história. Nesse sentido estou simplesmente encantado com o que acabo de ler aqui. Não vi até agora um trabalho tão interessante de pesquisa de ambientação, de caracterização de personagens, de conhecimentos pontuais da história… como as infestacoes de pestes que assolaram a Europa da Idade Media até o Pós Rev. Induatrial, levando a expendientes extremos… e alusões a passagens bíblicas, como a do profeta Jonas e essa licença poética tomada pelo autor para inserir seu personagem. Tudo isso eh mesmo de uma riqueza contumaz. Embora tenha me deparado com cenas impressionantes duras, a passagem por esse conto me fez lembrar do quando eu adoro coisas bem escritas. Todo mistério iniciado na loja de livros e prosseguido na ida a casa do moribundo, na aparição do livro vermelho, no sofrimento de quem se afeiçoa ao protagonista, na descoberta da maldição e no fim do médico… tudo isso eh extremamente forte e importante… Queimar uma pessoa viva, eh aterrorizantemente rico. Esse conto viraria filme fácil, fácil. “Polemiquetas” sobre o grau de terror ou toques sobre gramática, num conto desses, nem entro. Prefiro gastar o tempo tranquilizando o coração. Parabéns ao autor.

    • iolandinhapinheiro
      14 de novembro de 2017

      Também adorei o seu, um dos meus nota 5. Acho que por termos, ambos, filhos adolescentes, eu me identifiquei com a sua dor. Beijão.

  22. Eduardo Selga
    23 de outubro de 2017

    Considero produtivo fazer uma rápida comparação desse conto com o “Gênesis revisto”, outro que também usa a Bíblia como ponto de partida. Ao contrário do primeiro, esse retrabalha profundamente o episódio bíblico, não sendo apenas uma reescritura e sim reinvenção ficcional.

    Diz a Bíblia que Jonas, diante da ordem do Senhor de ir à cidade de Nínive avisar seu povo da iminente destruição da cidade, ele se recusou a cumprir a ordem porque entendia que o povo local deveria ser castigado. Para descumprir a tarefa, ela tomou um navio ou um barco para uma cidade situada em ponto geográfico oposto a Nínive.

    Pois bem. O conto, simbolicamente, substitui Nínive pelo velho moribundo. O médico, ao invés de tentar salvar a vida do doente (Jonas tentando salvar o povo da morte eminente, se obedecesse Deus), sente certo alívio por sua “morte” porque na verdade o médico queria mesmo era estar noutro lugar (Jonas indo para outra cidade, que não Nínive).

    Se há esse jogo simbólico de substituição, também temos uma passagem bíblica mais explícita. É que o personagem foge numa embarcação e em alto mar ocorre uma tempestade, da qual ele se abriga na cabine. A Bíblia diz que, para punir Jonas, Deus fez acontecer uma tempestade no mar que poderia causar naufrágio, o que ocorreu porque a tripulação atirou Jonas às águas. No conto, o personagem nas águas tem duas ligeiras mudanças: é uma decisão dele (“Tenho como certo que logo que me lançar sobre a amurada, a tormenta cessará e salvarei todos estes homens”) e não se concretiza, embora fique implícita.

    O(a) autor(a) seguiu um viés rico, do ponto e vista da narratividade: uma estória dando sequência a outra, assim como a história do Jonas bíblico originou o presente conto. Assim, o relato de Daniel Guimarães Pires de certa maneira continua com um narrador-personagem sem identificação, mas que tem em comum com Daniel a presença do espaço oculto: o porão (“[…] mas há alguns dias ouço ruídos estranhos vindos do porão de minha casa […]”) e a cabine (“[…] desci à cabine com os meus demônios e culpas atormentando […]”). No caso da narrativa principal, o espaço oculto vai além: a vida alcoolizada que o personagem leva após a morte da esposa o conduz a obscuros espaços dentro de si.

    A despeito de a narrativa ser de qualidade, a mim me pareceu um pouco forçado o fato de o médico não verificar se o velho havia de fato morrido, ainda que ele estivesse ansioso para estar junto de sua esposa, afinal se trata de um jovem médico, e jovens médicos costumam ser bem aplicados em sua tarefa. Além disso, a possibilidade de infecção epidêmica justificaria queimar o corpo? Um médico poderia tomar essa decisão unilateralmente? E os procedimentos legais post mortem? Bem, é possível que no século XIX eles não houvessem.

    • iolandinhapinheiro
      14 de novembro de 2017

      As suas interpretações vão sempre além do que eu imaginei ao escrever meus contos. Acho muito legal isso em você, esta profundidade. Abraços e obrigada pelo comentário tão rico.

  23. Antonio Stegues Batista
    23 de outubro de 2017

    ENREDO: Livro amaldiçoado que passa de mão em mão, trazendo desgraça para quem o possui. Na verdade, o livro é quem escolhe com quem quer ficar. Bom enredo.

    PERSONAGENS: Muito bons, cada um com sua maldição, excelente descrição do velho doente. Porém, não foi explicado como o livro surgiu.

    ESCRITA; Boa, frases claras, simples e lógicas. Boa estrutura, uma história dentro da história.

    TERROR: Na parte em que o medico encontra o doente e o lança na fogueira. E há um suspense desde o início, a expectativa de saber o que virá a seguir. Só não entendi o final, quando o protagonista diz que ouve ruido estranhos no porão, desde que leu i Livro de Daniel. Dá a impressão de que os Livros da Bíblia são só ferramentas da Ira Divina para castigar os pecadores!

    • iolandinhapinheiro
      14 de novembro de 2017

      O castigo era muito mais de consciência do que de uma suposta ira divina. O conto explora o sobrenatural, então não vejo necessidade de explicar como o livro se movimenta até os seus futuros donos. É uma maldição, uma coisa fora do comum, não tem a menor necessidade de ter uma lógica no fato dele aparecer para as suas vítimas. Pensei que vc, depois de tanto escrever contos de terror, jamais questionaria isso. Fiquei surpresa.

  24. Evelyn Postali
    23 de outubro de 2017

    Caro(a) Autor(a),
    Esse conto… Gostei do roteiro. Gostei de como tudo começou. Da linguagem e da forma de nos apresentar o texto. A estética sempre me chama a atenção. Roteiro bom. Não percebi incoerência na sequência. A linguagem é agradável, flui, não é simples nem simplória. Gosto de como me conduziu até o final. Não percebi erros de escrita porque me envolvi na leitura. Tem ritmo. Tem terror, está dentro do tema. Boa sorte no desafio.

    • iolandinhapinheiro
      16 de novembro de 2017

      Obrigada, florzinha do paraíso. Beijos.

  25. Rafael Soler
    22 de outubro de 2017

    Nossa, gostei muito desse conto. Achei bem interessante o modo como o terror foi abordado em trás camadas diferentes: do personagem que acha o livro, do personagem que escreve no livro e como esse último conta seu passado.
    O ritmo e estruturação ficaram impecáveis, do meu ponto de vista, assim como a gramática e a narrativa. O modo como os acontecimentos vão escalando foi sensacional.

    A única coisa que eu senti falta durante a leitura foi de algum impacto maior nas últimas cenas. Senti que as coisas foram muito bem construídas, mas uma frase arrematando tudo me fez falta.

    No geral, um excelente conto!

    😀

    • iolandinhapinheiro
      16 de novembro de 2017

      Obrigada, valeu.

  26. Anorkinda Neide
    22 de outubro de 2017

    Olá!
    Bem, é um conto clássico de terror, do livro amaldiçoado. Gostaria de saber a procedência do livro, poderia dar um toque original à trama.
    O relato do médico ficou muito longo… mas muito bem escrito. Acredito que vc tem a ‘pegada’ para escrever um livro, um romance bem grande, tua escrita está no ponto para isso.
    Dae, desenvolvendo com mais espaço, teus personagens podem crescer e com mais tempo vc vai ajustando as pontas soltas e os deslizes q sempre cometemos ao empreender uma narrativa longa.
    Achei o final corrido, gostaria de saber o que estava realmente acontecendo com o personagem, ficou muito superficial, claro deixando ao leitor, mas acho que deixou demais ao leitor.. rsrs
    Abração e boa sorte!

  27. angst447
    21 de outubro de 2017

    T (tema) – O conto está dentro do tema proposto pelo desafio.

    E (estilo) – Adorei o estilo, fluído, gostoso de ler. E olha que não estou com a melhor das disposições, mas a narrativa me prendeu. Conseguiu me distrair da gripe, obrigada por isso.

    R (revisão) – Alguns erros passaram, como os já citados pelos colegas. O que estranhei foi o médico dizer que passou a realizar “sempre trabalhos manuais”. Creio que quis dizer “trabalhos braçais” que exigiam força física.

    R (ritmo) – O ritmo do conto é uma delícia, bem cadenciado, na medida certa. Nem tem diálogos e eu já achei ótimo assim mesmo. Ponto algo do seu trabalho!

    O (óbvio ou não) – A trama segue um curso mais ou menos previsível. Claro que o começo foi um tanto exagerado, pois um médico não jogaria alguém no fogo sem se certificar que estava realmente morto. E como é um conto de terror, poderia ter se dado ao trabalho de apagar o fogo, mas o incêndio acontecer assim mesmo, inexplicavelmente.

    R (restou) – Uma peninha do médico e do leitor que pegou o livro no sebo. Todos amaldiçoados,tadinhos. Opa, peraí, então todos nós aqui também estamos sob a mesma maldição??? Medo!

    Boa sorte!

    • Salamandra
      22 de outubro de 2017

      Olá, Claudinha. Eu nem ia responder nada para ninguém, mas vc tocou num detalhe que muitos reclamaram, então eu vou explicar: Daniel trabalhava em um hospital público, e atendia às pessoas pobres, com doenças infecciosas, moradoras em periferias. Coloquei no paciente sintomas típicos da peste negra, uma doença que dizimou a Europa.

      Claro que ninguém era obrigado a saber, e eu podia ter colocado mais detalhes. O procedimento para cadáveres com esta doença era queimar mesmo, o Daniel estava na seguinte situação: com pressa, sem ninguém para ajudar, morrendo de medo de pegar a doença. Não examinou com mais cuidado por conta deste medo. Mas isso tudo está na minha cabeça, não na do leitor. É o que temos para hoje. Beijos, gata.

  28. Fheluany Nogueira
    21 de outubro de 2017

    Enredo e criatividade – Interessante essa narrativa que trabalha com simbologia bíblica, em intertexto com o episódio de Jonas. A trama é a da maldição que persegue quem a merece e do objeto amaldiçoado de que ninguém consegue livrar-se — clichê, mas, aqui com um traje elegante. O modo como o médico se torna amaldiçoado e a sua decadência física e moral pareceram, ao menos a mim, inverossímil.

    Terror e emoção – A previsibilidade quebrou o impacto em parte. Maldições sempre geram medo, sobretudo da forma como se colocou no texto.

    Escrita e revisão – Poucas falhas gramaticais, escrita sólida ao simular a linguagem de séculos atrás, de forma simples e convincente. Leitura prazerosa, enriquecedora, apenas um pouco cansativa pelo contar, contar…

    Bom trabalho. Parabéns. Abraços.

  29. Fernando.
    21 de outubro de 2017

    Meu caro Salamandra (ou seria minha cara?). Cá estou eu às voltas com a sua história de terror. Sim, às voltas com uma bela de uma história. Você a conta de uma maneira leve e fluida, fui lendo e entrando fundo na história, como se mergulhasse nesse mar abaixo do navio. As cenas são descritas com clareza e me fizeram entrar dentro delas. Também quero lhe dizer que a solução usada por você de criar o manuscrito dentro do livro funcionou bem. Bem bacana essa sua forma de recontar a história de Jonas. Ao contrário dele, que revive, os predestinados para o livro não terão essa ressurreição, pelo menos da maneira como entendi. Uns detalhes pequenos que necessitam revisão. Bacana o seu livro de Jonas. Será que foi escrito por algum companheiro lusitano? Teve horas que me pareceram que sim, em outras achei que se tratasse mesmo de um brasileiro. Bem, em breve saberei. Grande abraço.

    • iolandinhapinheiro
      17 de novembro de 2017

      E vc pensando que eu era portuguesa…=) Obrigada pelo comentário.

  30. Paulo Luís
    21 de outubro de 2017

    O fatídico livro funcionou mais uma vez como muleta dos horrores dos homens. A história é bem desenvolvida, entretanto, há alguns entraves que julguei estranhos, a forma de atendimento deste médico, por exemplo, a um paciente que vive isolado, abandonado. Ninguém convivia com ele? Quem o chamou a lugar tão ermo? Senti que faltou alguma introdução sobre: de onde veio tanta maldição? Do moribundo? Da sinistra casa? A escrita decorre de forma objetiva. No entanto, algumas descrições me incomodam um pouco, tipo: “O mesmo rosto comprido e um tanto encovado, os olhos grandes e incisivos, aquela boca de lábios finos sobre a qual caía o nariz adunco e comprido”. As caricaturas de praxe, as fisionomias cadavéricas. Existem outros grotescos mais horrendos que este. E trechos como: O cocheiro, creio que também estivesse bastante vexado, pois cobria o trajeto aos solavancos, tão rápido que em pouco tempo eu já podia sentir as grandes rodas de madeira girando sobre a lama ainda fresca devido à chuva matutina. Achei-os meio que desnecessários. Acredito que desnecessária. E também: “Não é nada comum encontrar preciosidades nos sebos vagabundos que freqüento”, tratamento estranho para o estabelecimento de amigos, não? Como é citado no primeiro parágrafo. No mais é um bom conto, atende plenamente ao concurso proposto.

  31. werneck2017
    20 de outubro de 2017

    Olá,

    Um conto de terror delicioso, contado com uma linguagem primorosa, mas não pedante e uma ambientação perfeita. A maldição funciona bem e o leitor não se prende aos detalhes de como ele foi parar na biblioteca e novamente a ele, mas eu -pessoalmente – gostaria de ter sabido o que o doente fez para merecer o castigo.
    Um ou outro erro gramatical aparece, que pode ser sanado com a revisão adequada. No mais, um belo conto de terror.

    • iolandinhapinheiro
      16 de novembro de 2017

      Sandra, acredita que muita gente pensou que A VIAGEM DE ALICE era um conto meu? Será que a gente escreve parecido? Seria uma honra para mim.

  32. Nelson Freiria
    20 de outubro de 2017

    O primeiro parágrafo foi feliz em despertar o interesse em ler o restante do conto, principalmente por se tratar de algo que, acredito, mtos dos leitores/escritores do certame o fazem com certa frequência.

    Gostei do uso do negrito para separar os narradores. Como a transcrição do livro é a maior parte do conto, foi uma boa ideia usar o negrito somente para o outro narrador-personagem cuja presença é bem menor no texto.

    A cena com o velho moribundo podia ter sido mais caprichada, com mais detalhes que trouxessem ao conto elementos de horror, pois achei-a bastante reduzida a ações protocolares (de parte médica), exceto pela fuga, é claro. Após isso, o conto cai num drama mto arrastado, tornando a leitura um tanto cansativa.
    Esse drama se estende até o parágrafo que se inicia por “Não fiz amigos…”, então há uma explicação sobre os horrores da maldição de Daniel. Acredito que se a história tivesse investido mais sobre esses relatos, ao invés do drama anterior, o conto teria um potencial maior dentro do desafio. Mas como esse apontamento surge apenas próximo do final, ele reduziu parte do impacto. Na sequência, temos apenas algo esperado, que seria a única maneira de acabar com tal maldição.

    Dei por falta de apenas uma vírgula e um acento.

    Não sei sei se foi voluntário ou não, mas ri com essa frase: “Assinei o tal papel e gritei para que o homem fosse para a casa de satanás.”

  33. Andre Brizola
    18 de outubro de 2017

    Salve, Salamandra!

    Gostei bastante do conto! O texto está devidamente equilibrado, tem alguns detalhes enriquecedores que contribuem bem para a ambientação, sem deixar cansativo (exemplo: a casa do enfermo ficou muito bem caracterizada).
    Achei o enredo bem tradicional no sentido de que se trata de uma espécie de maldição, que adere ao personagem e destrói sua vida de forma irremediável. E o tom agourento do final é bem elegante. Previsível, mas muito adequado. Qualquer outro tipo de reviravolta teria desviado o conto do rumo legal que ele seguia.
    É um dos contos que mais gostei até o momento!

    É isso! Boa sorte no desafio!

    • SALAMANDRA.
      12 de novembro de 2017

      Também gostei muito do seu conto.

  34. Lucas Maziero
    18 de outubro de 2017

    Gostei de ler este conto ramificado, digo ramificado porque nos contou a história de Daniel e a do sujeito que “comprou” o livro vermelho, história esta que ficou em aberto, mas sugerindo como se desenrolaria e terminaria.

    Um médico lambão, esse Daniel. Além de não ter se certificado de que o pobre doente continuava vivo, ainda o largou queimado e nem se deu ao trabalho de apagar a fogueira. Fica um pouco difícil de acreditar numa situação dessas, embora fosse necessária para dar sequência aos eventos. Portanto, ao meu ver, foi um argumento bem fraco e pouco criativo. Ou não. Pode ser que tudo tenha acontecido devido a também o velho doente estar amaldiçoado, pois ele possuía o livro.

    Então somos levados a pensar que, como Daniel foi a última pessoa a estar com o moribundo amaldiçoado, ele ficou como que marcado, e o livro “sempre chega às mãos de quem deveria possuí-lo”. Todavia, se assim for, quero dizer, se essa for a premissa para que o livro passe de mão em mão, como o livro foi parar nas mãos do sujeito que o comprou?, uma vez que ele nunca teve contato com Daniel? Por conta disso, considero uma falha na trama.

    Mas beleza, ignoremos essa suposta falha e prossigamos.

    A narrativa está prazerosa, leve, acompanhei com interesse a derrocada paulatina do médico lambão. Outra coisa que me incomodou é que, uma vez que Daniel descobriu que, onde quer que estivesse, mortes aconteciam; então por que ele há muito não pôs fim à sua maldição e assim evitaria tantas mortes e desgraças? Não, o lazarento quis embarcar em um navio cheio de gente… Mas ele, finalmente, resolveu dar um fim a tudo.

    Falando um pouco de gramática: eu evitaria usar tantos verbos auxiliares, substituindo-os pela forma simples; o pretérito mais que perfeito quando se tratar de um fato que aconteceu antes de outro, digamos um passado mais antigo a um passado recente. Não que seja errado usar verbos auxiliares, mas aqui os há em abundância. Quanto a erros, nada a apontar.

    Enfim, um bom conto.

    Parabéns!

    • SALAMANDRA.
      18 de outubro de 2017

      VAM

  35. Marco Aurélio Saraiva
    18 de outubro de 2017

    ====TRAMA====

    Este sim é um bom conto de terror! Aquele terror implícito, sugerido nas entrelinhas, que toma forma nos infortúnios e que tem também alguma confirmação mística, neste caso o livro de capa vermelha. Foi uma história muito original e muito bem construída. Um dos melhores que li até agora!

    Daniel é um personagem bem trabalhado, que tem uma personalidade complexa e que toma decisões racionais. Ele guia bem o leitor, fazendo-o navegar pela história de forma coerente.

    A cena mais perturbadora para mim foi quando ele queimou o homem vivo. Me arrepiei! Foi inesperado e muto bem descrito.

    O desfecho é esperado mas, ainda assim, aliviador. Livra o leitor da angústia que o conto traz, e ainda faz uma deixa para mostrar que o livro perdura até os dias de hoje. “Você pode ser o próximo, mwahahahah!”

    Só tenho elogios para esta história. Parabéns!!

    ====TÉCNICA====

    Quase impecável. Notei uma alguns problemas na pontuação do início do conto, e uma ou outra falha na digitação, mas que depois somem e só voltam a aparecer no final. Segue alguns exemplos:

    “O cocheiro, creio que também estivesse bastante vexado, pois cobria o…” – acho que o certo seria “Creio que o cocheiro também estivesse bastante vexado, pois cobria o…”

    “Todo médico faz um juramento, e por este promete fazer tudo ao meu alcance para o bem,…” – ao “seu” alcance.

    Estes são problemas bem pequenos. A sua escrita é primorosa, leve, fácil de ler. Suas descrições são excelentes; você usa as palavras corretas, sem devaneios. O nível de detalhes é o ideal. A leitura é fluida, nem um pouco cansativa.

    Novamente: parabéns!

    • iolandinhapinheiro
      16 de novembro de 2017

      Que bom te ler e vc ter me lido e termos gostado tanto dos contos um do outro. Abraços.

  36. Ana Maria Monteiro
    17 de outubro de 2017

    Olá, Salamandra. Que pena tenho do final que escolheu. Gostei do conto todo, da escrita (apanhei uma ou outra falha que não anotei por estar ocupada a ler e preferir não interromper por niquices de nada), da história, do personagem. Gostei de tudo menos do fim. As tais falhas, e aqui abro um pequeno parêntesis para agradecer ao Fábio, nosso revisor oficial aqui no desafio, que normalmente apanha as dissonâncias quase todas e, porque chega antes de mim, poupa-me o trabalho de as enumerar. E como não tenho nada de útil com que contribuir para a sua melhoria como autor, falarei do porquê da minha mágoa pessoal relativamente ao final do seu conto. Começa na primeira frase: “Minha vida nunca mais foi a mesma desde que li a história de Daniel.”, que dá a ideia de ter sido há muito tempo, quando de início referiu que foi no último dia 13 (azar, logo uma 6ª feira), então senti discordância temporal. Mas até aí, ainda vá. O pior é que a parte anterior sugere, e muito bem, que tudo irá ser horrível a partir daí: “Caso você o tenha encontrado, meu amigo, saiba que este livro sempre chega às mãos de quem deveria possui-lo. De uma forma ou de outra você o mereceu, e por ele pagará o preço devido, em cada dia de sua vida sobre a Terra.” Então eu esperava algo bem pior que a possibilidade de sugestão da mente atormentada do autor andar a escutar ruídos estranhos e a ver sombras enquanto se interroga sobre o que poderá ter feito de mal. O que poderá ter feito de mal não interessa nada, o livro já diz que se o recebeu é porque merece o que vem por aí. E o que vem por aí? Faltou isso. E o seu conto até teve tão pouco terror que essa parte, além de poder fechar com chave de ouro,foi o que faltou para se adequar totalmente ao género.
    Acabei meu lamento e, como referi antes, você fez um excelente trabalho e não encontro sugestões para lhe fazer no sentido de melhorar. E isto é um enorme elogio.
    Então, parabéns e boa sorte no desafio.

  37. Paula Giannini
    17 de outubro de 2017

    Olá, Autor(a),

    Tudo bem?

    Você nos trouxe um texto claramente inspirado nos clássicos.

    Livros são um ícone muito forte do terror. Funcionam como portais, como portadores de maldições, como alertas aos personagens.

    Não é preciso ser grande conhecedor da Bíblia, para já se ter ouvido falar em Jonas e a Baleia. “Dentro da Baleia mora o mestre Jonas…” (Sá Rodrix e Guarabyra). Uma bela lembrança, uma boa premissa.

    É interessante notar o modo como o autor utilizou-se do “mito” bíblico em pequenas pitadas de homenagem, construindo uma nova história, deixando claro no entanto, uma certa intertextualidade com a passagem do livro mais lido do mundo. Assim, Jonas é arremessado ao mar a fim de fazer a tempestade cessar, tal qual seu personagem que pensa em lançar-se, ele mesmo, ao mar. O mesmo se pode dizer de Jonas, lançado às águas após ser considerado o culpado pela tempestade. Fico aqui pensando se o personagem não se jogou de fato ao mar e, como o profeta da tradição católica, engolido e vomitado por uma baleia. Afinal, o livro chegou de algum forma ao seu leitor contemporâneo que inicia e fecha o trabalho.

    Ponto alto, ao menos para mim, nas imagens do livro se transformando nos personagens que o detém.

    Também gostei da fala que se repete “na boca” do possuidor do livro em cada uma de suas fases (Deus tenha piedade de minha alma), unindo-os em uma mesma sina, em uma mesma maldição.

    Parabéns.

    Desejo-lhe sorte no desafio.

    Beijos
    Paula Giannini

    • Iolandinha Pinheiro
      15 de novembro de 2017

      =D Beijão, flor. E parabéns pelo resultado. Teu conto estava top.

      • Paula Giannini
        16 de novembro de 2017

        E o seu também. 😉 Beijossss

  38. Fabio Baptista
    17 de outubro de 2017

    A narrativa é boa, segura, consegue ambientar usando palavras mais “sérias” sem soar pedante. Gramaticalmente encontrei poucos problemas. Apesar da fluidez, senti falta do tal “mostrar” que só deu as caras ali na hora do fogo.
    É uma peculiaridade que tenho notado nesse desafio em específico que todo mundo parece querer contar muita história (muitos eventos) e a imersão acaba sendo um pouco sacrificada quando nenhum desses muitos eventos é aprofundado, detalhando os diálogos que ocorreram ali, por exemplo.

    – Era comum estradas sem revestimento nos caminhos que levavam às periferias.
    >>> Ficou meio contraditório o narrador primeira pessoa mencionar isso, se era algo comum. Tipo… ficou na cara que era o autor contextualizando e não algo que seria digno de nota ao personagem.

    – por algumas lúgubres arvores ao seu redor
    >>> árvores

    – Todo médico faz um juramento, e por este promete fazer tudo ao meu alcance para o bem
    >>> nesse caso ele falava do juramento de forma genérica, então seria “ao seu alcance”

    – O mais pavoroso era que o volume havia vindo realmente
    >>> esse havia vindo não soou legal

    – No dia seguinte voltei à livraria e a moça se desculpou dizendo que havia mandado o livro errado
    >>> Então… toda ambientação sugere o passado. Esse trecho me fez imaginar que já tinha uma Saraiva lá na época.

    A trama segue o plot de objeto amaldiçoado (o livro, no caso) que é encontrado por acaso, perpetuando a maldição.

    Infelizmente fiquei com a sensação que não foi muito bem explorado aqui. Com a pessoa que encontra o livro na biblioteca, temos quase nenhum contato, então não nos importamos se será amaldiçoado ou não.
    A história contada dentro da história é interessante, mas o jeito que o médico contrai a maldição é pouco convincente.

    Ele diz “Eu cria, de fato cria que o homem já havia dado o último suspiro”… isso dá a entender que o cara sequer mediu os sinais vitais antes de atirar o paciente ao fogo.
    Ficaria mais verossímil, acredito, se ele tivesse deliberadamente atirado o Jonas vivo. Até para efeitos de merecer a maldição. Talvez não por maldade, mas para conter uma possível epidemia.

    Enfim… depois disso toda a decadência dele é bem narrada – os acontecimentos são claros, prendem a atenção, mas, como citei acima, faltou imersão, faltaram diálogos, faltou o “mostrar”.
    Com isso acredito que a história ganharia em emoção, encurtaria um pouco a distância.

    Mas nem tudo é emoção e a qualidade da escrita torna a leitura bem agradável e garante boa nota.

    Abraço!

    • iolandinhapinheiro
      14 de novembro de 2017

      Ainda vou entender esta diferença entre o contar e o mostrar, se for encher o conto de diálogos, lascou! Odeio diálogos. Parabéns aí pelo feito. Seu conto estava diabólico, então eu achei muito justo que ficasse no primeiro lugar. Obrigada pelo comentário cuidadoso. Beijos.

  39. Pedro Luna
    16 de outubro de 2017

    O conto poderia se chamar Um Médico Trapalhão..kkk. Que sujeito apalermado.

    Bom, eu confesso que achei tudo simples demais. A trama, a maldição (que de certo modo me lembrou o livro A Maldição do Cigano), e a situação de alguém no futuro encontrar esse item amaldiçoado e seguir o ciclo. Me foi muito familiar e não considerei a trama o forte do conto, pois ele é bem previsível.

    Porém, é sim um conto muito agradável de se ler. Mesmo sem grandes construções, ele passa bem aos olhos, mantém um suspense (principalmente para sabermos em que momento vai se passar a cena do barco no início), e os acontecimentos vem um atrás do outro, mantendo um ritmo bacana.

    Então o veredicto é esse: história mais ou menos, mas um conto bacana por ser bem escrito e prender a atenção.

    • iolandinhapinheiro
      14 de novembro de 2017

      Vou nem reclamar deste comentário disgramado e da nota sem-vergonha que tu me deu porque vi que tu tava era possuído neste desafio. Então, de boas, já pendurei a peixeira no porta – utensílios. Beijos.

  40. Regina Ruth Rincon Caires
    15 de outubro de 2017

    Que chamamento lindo! Fisgou-me! Ratazana de sebo fica ouriçada quando ouve falar de “cheiro de páginas velhas”…

    Salamandra, o seu conto é muito bonito! Primoroso! O enredo é excelente, trama bem estruturada, boa redação, linguagem fluente. Escrita boa. A história se passa num cenário antigo, e, em se tratando de terror, involuntariamente, o nosso pensamento fica mais “cinza”. O suspense está pulverizado por todo o texto, a aflição está sempre pairando. A descrição da “morte” do velho paciente, que rogou a praga, é chocante. Queimado vivo…

    Gostei muito da técnica, aliás, muito utilizada neste desafio, da inversão da estrutura do conto. O início é o final. Muito bem trabalhado.

    Parabéns, Salamandra!

    Boa sorte!

    • iolandinhapinheiro
      14 de novembro de 2017

      Obrigada, Regina! Vc é uma pessoa muito agradável, sempre. Espero te encontrar em outros desafios. Abração, querida.

  41. Olisomar Pires
    14 de outubro de 2017

    Impacto sobre o eu-leitor: alto.

    Narrativa/enredo: jovem médico é amaldiçoado por paciente a quem tentara incinerar julgando-o morto. O mote da maldição reside no estranho livro de capa vermelha sobre a história de Jonas, mas que “desenha” os infortúnios trágicos de seu proprietário.

    Escrita: muito boa. Leitura fluida e magnetizante, lúcida e firme.

    Construção: Não há como ler este conto sem se lembrar imediatamente dos mestres Lovecraft, Poe e Stevenson. Não que seja simples cópia do estilo, o que por si já seria louvável, mas nota-se a mão do autor acrescentando seu talento e modo de narração.

    A ambientação ficou excelente e essa “voz” antiga (a qual aprecio bastante) ficou tão verossímil que se acredita estar vivendo na mesma época dos personagens e não porque existam orações rebuscadas ou complexas, mas por causa da elegância da escrita.

    A tensão permeia todo o texto, desde o início despretensioso até o arremate que suga as forças do atual proprietário do livro da capa vermelha.

    Terror sutil e inteligente pois coloca cada leitor no papel de “dono” do livro:- “De uma forma ou de outra você o mereceu, e por ele pagará o preço devido, em cada dia de sua vida sobre a Terra.” – Isso é apavorante. Imaginem ser condenados em vida por seus pecados, sem chance de remissão, assistindo tudo ao seu redor ser destruído ?

    Parabéns pela belíssima criação.

    • iolandinhapinheiro
      14 de novembro de 2017

      Que comentário lindo, Olisomar. Estava no cinema quando comecei a ler, e mal pude esperar terminar o filme para ler todo. Maravilha. Amei. Comentários como este teu são um estímulo para quem acha que tem algum talento. Um beijo bem grande.

  42. Angelo Rodrigues
    14 de outubro de 2017

    Olá, Salamandra,

    gostei muito do seu conto. Tem um ritmo legal, a leitura é fácil e tem uma “voz” antiga, embora você não tenha recorrido a verbos e pronomes pessoais típicos de época – ficaria bem chato se fosse assim.
    Notei alguns deslizes na redação, mas nada que mereça destaque.
    A trama é interessante, flui, sem quebra-molas colocadas por palavras ou frases que dificultem a leitura.
    A ideia do livro que se vai escrevendo conforme os fatos vão acontecendo não é nova, mas funciona bem na medida que não é fulcro do texto.
    Deixou um enigma relativo ao que aconteceu com o homem, com a casa do homem e o ambiente onde ela estava. Senti falta de que isso fosse um pouco mais trabalhado, dado que ficou algo como “aconteceu assim e ponto”. Talvez amarrar melhor essa parte e também com o livro, por equívoco sendo remetido a ele. Mas não atrapalhou em nada a compreensão.
    Quando se gosta assim do conto, fica-se sem muito o que falar.

    Boa sorte, Salamandra, e obrigado por nos deixar conhecer seu conto.

    • iolandinhapinheiro
      14 de novembro de 2017

      Ele deixou a casa para os credores e se largou pelo mundo. Leia novamente e você vai ver isso lá. O livro “deu um jeito” de chegar às mãos dele, porque é uma maldição, não depende de ações humanas. Tanto que quando ele foi devolver, a moça da livraria recusou-se a receber porque não pertencia ao acervo da loja. Que bom que vc gostou do conto. Para mim comentários são sempre mais importantes que notas. Beijos.

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Informação

Publicado às 13 de outubro de 2017 por em Terror e marcado .